MEC, Milton Ribeiro. FOTO: Sérgio Lima/Poder360 |
“Não faça faculdade”
Luiz Azar – militante
do PCB
“De que adianta você
ter um diploma na parede? O menino faz inclusive o financiamento do FIES […],
termina o curso, mas ele fica endividado. Não consegue pagar, por quê? Porque
não tem emprego. No entanto, o Brasil precisa de mão-de-obra técnica.
Técnica-profissional”.
A declaração acima
foi dada em agosto pelo ministro da educação, Milton Ribeiro [1], causando
justa indignação entre aqueles de nós que ainda não perderam a capacidade de se
indignar com os posicionamentos públicos do governo Bolsonaro-Mourão. Dias
depois de afirmar que crianças com deficiência “atrapalham” o aprendizado dos
colegas [2], o mandatário do MEC nos “presenteava” com mais uma declaração
bastante reveladora de suas posições sobre o sistema educacional e seu papel.
Na verdade, bem mais que uma bravata tosca e preconceituosa, aquela fala do
ministro sobre o “diploma na parede” foi uma síntese quase perfeita do projeto
da direita para o Brasil, como procurarei argumentar.
Num primeiro momento,
a declaração causa certa repulsa porque parece dirigida àquele jovem
trabalhador ou trabalhadora pobre que, ao contrário de seus pais, hoje consegue
ter a ousadia de sonhar com um diploma de universidade – seja por conta da
ampliação da cobertura da rede pública ou pelo subsídio ao ingresso em
faculdades particulares por meio de programas como o próprio FIES, notadamente
a partir do governo Lula [3]. Hoje, a primeira autoridade da Educação do país
dá um recado claro: não sonhe – você pode até conseguir se formar, mas depois
vai ficar desempregado. Ponha-se no seu lugar, diz o ministro nas entrelinhas.
Essa leitura se torna ainda mais inevitável quando lembramos que, semanas
antes, o coerente Milton Ribeiro havia dito em entrevista, com todas as letras,
que “a universidade deveria ser para poucos” [4].