ESTADÃO - Lauriberto Pompeu
© Gabriela Biló/
Estadão Luis Ricardo
Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde que denunciou a pressão
atípica para comprar a vacina indiana Covaxin
BRASÍLIA —
Testemunha da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) da Covid, o servidor Luis Ricardo Miranda deixou o Brasil na noite desta
quinta-feira, 28. Ele ingressou no programa de proteção a testemunhas da
Polícia Federal porque, segundo o deputado Luis Miranda, seu irmão, vinha recebendo ameaças de morte. O
parlamentar disse, ainda, que Luis Ricardo foi exonerado do cargo de chefe da
Divisão de Importação do Ministério da Saúde após prestar depoimento à CPI da
Covid, em junho.
“Por medo de
represálias meu irmão não me falou nada e já está na custódia do programa de
proteção a testemunhas", afirmou o deputado ao Estadão. No Twitter, Luis Miranda
adotou estilo mais contundente. “O Brasil não é como nos quadrinhos, onde o bem
sempre vence! Meu irmão continuou sendo atacado pelo governo, foi exonerado, por
conta das ameaças teve que entrar para o programa de proteção à testemunha e
sair do país!”, escreveu ele. E concluiu: "@jairbolsonaro cria vergonha na
cara, você sabe a verdade!”
Os dois irmãos
protagonizaram um dos momentos mais tensos da CPI da Covid há quatro meses,
quando acusaram o presidente Jair Bolsonaro de ignorar denúncia feita por eles de que
havia um esquema de corrupção no Ministério da Saúde para compra da vacina
indiana Covaxin. Em duas ocasiões, eles afirmaram à CPI que contaram tudo a
Bolsonaro em reunião no Palácio da Alvorada, no dia 20 de março. Na
conversa, o presidente teria dito que isso
seria “rolo” do deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), ex-ministro da Saúde e
líder do governo na Câmara. Um dos expoentes do Centrão, Barros negou participação no negócio.
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Os depoimentos
prestados pela dupla serviram para revelar informações importantes sobre a
empresa Precisa Medicamentos, que
intermediava a compra da Covaxin.
O contrato exigia US$ 45 milhões de pagamento antecipado em uma offshore, a
Madison Biotech, e depois se descobriu que a quantidade de doses do imunizante
era menor do que vinha sendo cobrado. Após as revelações de Luis Ricardo e de
seu irmão, o contrato foi cancelado pelo Ministério da Saúde.
A Polícia
Federal abriu inquérito para
apurar se houve prevaricação de Bolsonaro, ou seja, se ele deixou de tomar as
providências para esclarecer as suspeitas após ser informado sobre o esquema. O
caso Covaxin também é alvo de investigações do
Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU).
Responsável pelo programa de proteção a testemunhas, a Polícia Federal não comentou o caso, sob o argumento de que as informações sobre segurança dada aos colaboradores são sigilosas. O Estadão apurou que Luis Ricardo embarcou com a família para Portugal.
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