terça-feira, 26 de outubro de 2021

Desmatamento da Amazônia em setembro é o pior em 10 anos

Yahoo Notícias - Gustavo Basso

PARA, BRAZIL, 03/09/2019 - Members of the IBAMA forest fire brigade (named Prevfogo) fight burning in the Amazon area of rural settlement PDS Nova Fronteira, in the city of Novo Progresso, Para state, northern Brazil, this Tuesday, September 3rd. Since the end of August Prevfogo has been acting with the assistance of Brazilian Army military. Bolsonaro government budget cuts since January 2019 have severely affected brigades, which have been reduced in critical regions such as the Amazon. (Photo by Gustavo Basso/NurPhoto via Getty Images)


A Amazônia perdeu em setembro deste ano 1.224 km2 de floresta, o que soma aproximadamente 69 milhões de árvores. A área desmatada no último mês, do tamanha da cidade do Rio de Janeiro, seria suficiente para produzir feijão que 5 milhões de pessoas comem em um ano. No entanto, conforme estudo recente, 90% dessa área deverá se tornar pasto. Por dia, foram mais de 4.000 campos de futebol derrubados.

Segundo a ONG Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) que acompanha por satélite em tempo real a devastação da floresta, trata-se da pior marca para setembro em 10 anos, e o sexto mês de 2021 em que a Amazônia teve a maior área destruída na década. O acumulado do ano também é o pior desde 2012: de janeiro até agora foram quase 9.000 km² de floresta derrubada, 39% a mais do que no mesmo período em 2020. Mantido este ritmo, até o final do ano caberá na área de floresta derrubada um Distrito Federal inteiro, e com folga.

Com uma redução de 24% do desmatamento em relação ao ano passado, o Pará continua campeão em área devastada, contando sozinho mais um terço de tudo que foi derrubado — sobretudo em cidades como São Félix do Xingu, Pacajá e Portel, afetando diretamente as terras indígenas Apyterewa e Trincheira/Bacajá, entre outras.

Os números do Imazon, no entanto, mostram a migração do arco do desmatamento cada vez mais para o coração da floresta. A mais recente e crítica fronteira agrária do bioma é a região conhecida como Amacro, junto às divisas de Amazonas, Acre e Rondônia. É justamente nesta região que estão os dois municípios com maior degradação: Lábrea e Porto Velho perderam juntos campos de futebol de cobertura florestal.

Histórico de agravamento

O desmatamento registrado em setembro foi apenas 1% superior do que o detectado no mesmo mês em 2020, quando a Amazônia também perdeu uma área expressiva de floresta: 1.218 km². No entanto, em comparação com 2019, a devastação em setembro deste ano é 53% maior. Já em relação à 2018, é quase três vezes superior.

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No coração da Amazônia, veias têm sido abertas, cada vez em maior escala, com exploração de madeira, desmatamentos e queimadas. Essa destruição coloca em risco o bloco da floresta amazônica até então mais preservado. O avanço da devastação no estado do Amazonas preocupa pesquisadores. Eles apontam que o momento de agir para impedir a pulverização dos danos na área é agora.

O ano de 2021 vem batendo sucessivos recordes negativos na última década. Em setembro a ONG já havia apontado que a Amazônia brasileira perdeu o equivalente a três cidades do Rio de Janeiro de floresta apenas nas unidades de conservação como áreas de proteção ambiental e terras indígenas no intervalo de um ano. De todas as áreas protegidas da Amazônia Legal, a APA (Área de Proteção Ambiental) do Tapajós, no sudoeste do Pará, foi a mais afetada, sofrendo com o avanço do garimpo clandestino de ouro. Estima-se que cerca de 40 mil garimpeiros atuam de modo irregular na região do Alto Tapajós, capital do garimpo na Amazônia, acentuado nos últimos anos com a promessa do governo Bolsonaro de regularizar a extração de ouro em terras indígenas.

As terras indígenas não escapam da pressão exercida pelo garimpo e o desmatamento. Residentes no polo garimpeiro, os Mundurukus atualmente encontram-se divididos, com uma minoria controlando órgãos que deveriam representar a população e defendem o garimpo em terras indígenas, e a população contrária à exploração nas terras da União. As terras indígenas Kayapó e Munduruku são com larga vantagem os territórios indígenas mais afetados pelo garimpo. Segundo levantamento feito pelo MapBiomas, o garimpo ilegal em terras indígenas cresceu quase 500% na última década.

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