MEIO AMBIENTE

Mineração e morte nos rios da Amazônia
15 de outubro de 2019


Amazônia
IHU-UNISINOS
Foto: Helena Andrade
Por: João Vitor Santos | Edição: Ricardo Machado
A absoluta falta de imaginação política e de investimento em pesquisas e tecnologia industrial é a âncora que mantém o Brasil preso à exploração ambiental, mineral e a uma balança comercial baseada em venda de bens primários sem valor agregado, ou seja, commodities. Isso faz com que a região mais rica do país em termos de biodiversidade seja, sistematicamente, atacada por projetos de desenvolvimento não somente insustentáveis do ponto de vista ambiental, mas também etnocidas. “Em suma, os índios e suas terras na Amazônia estão há anos sob o cerco inclemente de três processos invasivos: a expansão do arco de desmatamento da floresta pela ação da agropecuária; a invasão e intrusão de levas de trabalhadores dos garimpos e dos enclaves de mineração; e a construção de barragens e usinas hidrelétricas”, afirma Gerôncio Rocha, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Há um vetor conjuntural que agrava, ainda mais, a situação, as políticas e as declarações de Jair Bolsonaro. “As falas do presidente da República sobre a exploração mineral e a garimpagem e suas restrições às terras indígenas têm efeito imediato e empolgam seus seguidores e eleitores na região. Ele produz e estimula dois efeitos deletérios, simultâneos: no front interno, de governo, esvazia os órgãos públicos ligados às questões indígenas e ambientais, desmoraliza e intimida os funcionários que exercem a fiscalização e, com isso, estimula os invasores; no meio político, insinua uma pauta de legalização da atividade garimpeira, abrindo as portas a projetos casuístas das empresas e dos donos de garimpos no Congresso”, destaca.
Atualmente, uma das questões mais sensíveis é o garimpo de ouro, cujo uso de mercúrio na coleta do minério produz efeitos devastadores nas comunidades locais e nos trabalhadores. Rocha classifica em três pontos os problemas relacionados à mineração com mercúrio: “a) contaminação com mercúrio vapor diretamente sobre os trabalhadores garimpeiros; b) poluição das águas e sedimentos, com a possibilidade de metilação do mercúrio e sua absorção pelos peixes, afetando a cadeia alimentar das populações locais; c) contaminação com mercúrio vapor nos numerosos pontos de venda do mercúrio, onde ele é mais uma vez queimado”, pontua.
Gerôncio Rocha é geólogo, funcionário aposentado do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo. Entre 1994 e 2003 foi assessor do Comitê da Bacia Hidro. É autor de Um copo d’água (Editora Unisinos, 2002).
Confira a entrevista.

IHU On-Line – Numa perspectiva histórica, de que forma as atividades de mineração vão se configurando uma ameaça aos povos originários?

Gerôncio Rocha – Para começo de conversa, convém fazer um breve retrospecto da exploração da Amazônia nos últimos 50 anos.
A partir de 1970, o poder central no tempo da Ditadura (governo Médici) definiu-se pela integração ao mercado internacional e passou a oferecer vantagens e atrativos aos grandes grupos econômicos, sob a forma de redução de impostos, energia elétrica subsidiada, grandes obras de infraestrutura, mão de obra barata e nenhum rigor contra a poluição. Consolidaram-se, assim, os segmentos das construtoras (rodovias, portos, barragens); da mineração e metalurgia; da agropecuária e da energia hidrelétrica. Na retaguarda, os grandes bancos nacionais e internacionais.
No chamado Plano de Integração Nacional, a exploração agroflorestal e pecuária passa a ser a frente mais ampla e extensiva na Amazônia, desestruturando o modo de produção extrativista e introduzindo um vertiginoso processo de especulação da terra, de concentração fundiária e de devastação da floresta. Os vetores do processo foram a construção da rodovia Transamazônica e a colonização induzida numa faixa de 100 quilômetros de cada lado da estrada. Simultaneamente, milhares de hectares, em vários pontos do território, foram destinados a projetos agropecuários a cargo dos grandes grupos econômicos.
A partir de 1975, o governo federal passou a reorientar sua política para a criação de “polos de desenvolvimento”, áreas preferenciais para projetos minerais, agropecuários e agrominerais.
A segunda frente de penetração na Amazônia é a exploração mineral. Desde 1967, abriu as concessões de pesquisa e lavra a empresas nacionais e internacionais indistintamente. Assim, a produção mineral segue um esquema tripartite – estatais, multinacionais e empresas nacionais – quase sempre em associação de capitais.


O lugar do Brasil no cenário internacional é o de promover a exportação de bens minerais semibeneficiados para os países desenvolvidos. A voracidade capitalista de exploração, ao lado da frente agropecuária, provocou fortes impactos sociais: a proliferação de grandes contingentes de trabalhadores rurais volantes, desempregados, atuando nos garimpos, e a violação da integridade cultural e territorial dos povos indígenas. Nesta última década, Carajás tornou-se a maior província mineral do mundo: ferro, manganês, cobre, níquel, ouro, prata e molibdênio. Mas há o contraditório: o estado do Pará, que produz toda essa riqueza, apresenta baixos índices de desenvolvimento humano, de desenvolvimento juvenil e de saneamento. Segundo o jornalista Lúcio Flávio Pinto, “o trem do progresso está passando pela estação Pará e os paraenses não estão embarcando nele”.

Agrotóxicos: milhões bebem água envenenada
11 de outubro de 2019

Coquetel de 27 agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 municípios brasileiros. Mas problema pode ser maior: amostragem aponta que mais da metade das cidades do país, ou não realizam os testes, ou escondem os dados
OutrasMídias
Por Luana Rocha e Mariana Della Barba, no Repórter Brasil
Não importa em qual parte do país você mora: pode ser difícil ou mesmo impossível saber se o copo de água que você está bebendo tem ou não agrotóxico e, pior, se a concentração do pesticida está acima do limite considerado seguro no Brasil.
O problema veio à tona após a publicação, pela Repórter Brasil e Agência Pública em parceria com a organização suíça Public Eye, da reportagem “Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios”. Nela, um mapa interativo feito com base nos dados do Ministério da Saúde, coletados entre 2014 e 2017, mostrava os pesticidas encontrados nas torneiras do país, destacando quais municípios tinham índices acima do limite considerado seguro.
O mapa, divulgado em abril deste ano, trouxe pela primeira vez os dados nacionais de forma clara, de modo que o público não especializado pudesse entender. A publicação gerou grande repercussão, com mais de 400 veículos de mídia discutindo os resultados de suas cidades. Além do grande interesse público sobre esses dados, a repercussão revelou também que há uma série de falhas no monitoramento e na responsabilização dos órgãos envolvidos.
Há cidades, como Brasília e Recife, que descumprem a legislação ao não enviarem ao Ministério da Saúde os resultados dos testes sobre agrotóxicos na água. E outras como Bauru (SP), onde nenhuma providência foi tomada pela Vigilância Ambiental mesmo depois que os dados apontaram concentração de pesticidas na água 160 vezes acima do valor permitido – o que indicaria um risco iminente à população que bebe essa água. Também há empresas de abastecimento que minam a credibilidade do banco de dados ao enviar os resultados dos testes  usando parâmetros diferentes dos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, caso de São Carlos (SP), Porto Alegre (RS), Viçosa (MG) e Balneário Camboriú (SC).
“É um ambiente de desregulação total”, afirma o procurador do Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul, Marco Antonio Delfino de Almeida, sobre a estrutura que gira em torno do  Sisagua, o sistema criado pelo Ministério da Saúde para armazenar dados sobre a água e que funciona com o preceito de que a responsabilidade de alimentá-lo corretamente é dividida entre União, estados, municípios e empresas de abastecimento.  “Deveria ser papel do poder público analisar, avaliar e trazer esses dados para população de maneira ampla, irrestrita e transparente. Mas isso não acontece.”
Almeida chama atenção para a gravidade de situações em que, mesmo quando os testes não foram enviados ou os resultados indicavam concentração perigosa à saúde humana, não houve fiscalização, cobrança por providências ou penalidades.
No escuro
Casos analisados pela reportagem, em diferentes partes do país, ilustram como uma série de omissões vem deixando a população no escuro quanto à presença de agrotóxicos na água que sai de sua torneira, colocando em risco a saúde das pessoas.
Brasília e Recife, por exemplo, representam um problema que atinge 52% dos municípios brasileiros: os resultados dos testes de 2014 a 2017 não foram enviados ao Ministério da Saúde. Isso significa que os responsáveis não realizaram os testes para medir a presença de agrotóxico na água ou, se fizeram, não enviaram os dados para o Sisagua.
“Antes mesmo da divulgação da reportagem, cobramos a inclusão dos números, mas eles não cumpriram”, explicou João Suender, da Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, explicando que a responsabilidade pela coleta e  envio dos dados ao Sisagua é da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). A Caesb confirmou que houve “inúmeras dificuldades para repassar algumas informações referentes a agrotóxicos, sobretudo devido à falta de padronização existente”.


Suender argumenta que nada pode ser feito  para punir a empresa que não envia os dados, já que a regulação do sistema é feita por uma portaria, instrumento que não teria poder de responsabilizar infratores.
Mas esse argumento é rechaçado pelo professor de Direito Administrativo da Universidade Mackenzie, Cecílio Moreira Pires. Ele explica que a portaria é vinculada à lei 6.437 de 1971, que prevê sanções para infrações. “O problema não é ausência de lei e, sim, de fiscalização e monitoramento do que fazem as empresas de abastecimento. O poder público não possui servidores suficientes e habilitados para exercer essa função”, sustenta.
A situação de Brasília se repete nas regiões Norte e Nordeste – onde o mapa publicado em abril pela reportagem revela um grande vazio de dados, já que a maioria dos municípios não envia informações sobre a presença de pesticidas da água. É o caso de Recife, capital pernambucana. A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) reconheceu o erro e afirmou “que as análises de agrotóxicos estão disponíveis somente até o ano de 2015” e que está em processo de reforma dos laboratórios.
Já a Secretaria de Saúde Municipal informou que “há uma orientação do Ministério da Saúde que elege municípios prioritários para monitoramento de agrotóxicos e Recife não entra nessa lista por ter um perfil urbano, além de não possuir manancial de água para abastecimento local que possa sofrer esse tipo de contaminação”. De fato, segundo a norma do Sisagua, a Vigilância tem a prerrogativa de priorizar em quais cidades confere os dados, mas precisa garantir que todos os municípios enviem os resultados duas vezes ao ano. A nota afirma ainda que a Vigilância Ambiental não testa os agrotóxicos na água, “a não ser que existam evidências epidemiológicas para esse monitoramento”. A secretaria, porém, não esclareceu o que seriam “evidências epidemiológicas” e se alguma vez fez algum teste.
De acordo com o Mapa da Água, porém, nenhuma cidade pernambucana enviou os testes, como prevê a portaria do Sisagua. A Secretaria de Saúde de Pernambuco, por meio de nota, reconheceu a não inserção dos dados e afirmou que eles “foram analisados e serão inseridos no sistema apesar das amostras de vigilância não terem identificado valores que ultrapassassem o limite máximo referente ao padrão [estabelecido pela legislação brasileira]”.
As omissões e o jogo de empurra de Brasília, Recife e de outras cidades que não monitoram a presença de agrotóxicos na água prejudicam o efetivo controle “porque não há uma avaliação crítica ou uma validação dos dados”. É o que sustenta a professora Gisela Umbuzeiro do departamento de toxicologia e genotoxicidade da Unicamp, que conduziu um estudo sobre o Sisagua.
“Primeiro, não faz sentido tantos municípios brasileiros não alimentarem o sistema. Depois, mesmo em cidades que armazenam os dados, não existe análise técnica aprofundada do que foi informado”, pontua. Segunda a professora, sem validar essas informações, não é possível conhecer as particularidades de cada região – o que ajudaria no monitoramento. “A depender do tipo de cultivo que é plantado numa região, é possível saber qual agrotóxico é mais utilizado e fazer testes mais específicos de acordo com a realidade local.”
O alarme soou, ninguém reagiu
Outro problema grave evidenciado após a publicação do mapa é o dos municípios que registraram concentração de agrotóxicos acima do que é considerado seguro no país. Nesses casos, ações deveriam ser tomadas para averiguar se os dados estão corretos e encaminhar medidas para resolver o problema. Mas nem mesmo nesses casos providências foram tomadas. É o que aconteceu em Bauru, no interior de São Paulo, onde os números do Sisagua indicavam que seis agrotóxicos foram detectados em concentração acima do Valor Máximo Permitido, em diferentes datas entre 2014 e 2017, sendo que dois dos pesticidas (Clorpirifós e o Aldrin) foram encontrados em dois pontos de coletas diferentes na cidade.
A reportagem entrou em contato com os órgãos responsáveis e descobriu que nenhuma ação foi tomada. Das oito irregularidades, quatro foram registradas em pontos de coleta de responsabilidade do DAE (Departamento de Água e Esgoto) e as outras quatro em locais particulares, incluindo um poço (em um instituto de pesquisa local) a cargo da Vigilância Ambiental – ligada à Secretaria Municipal de Saúde. Danielle Depicolli Chiuso, chefe de Seção de Análise de Água do DAE de  Bauru, enviou à reportagem os laudos referentes aos pontos que, no Sisagua, mostravam um nível de agrotóxico muito acima do máximo permitido. Nos documentos, no entanto, os índices eram diferentes daqueles enviados ao Sisagua e estavam dentro do autorizado. “Esses laudos mostram que a água de Bauru não estava contaminada e comprovam que apenas houve erro na hora de passar os dados no sistema do Sisagua”, afirma Chiuso.
O erro citado ficaria na conta da Vigilância, que na época era responsável por inserir no Sisagua os dados coletados pelo DAE. Roldão Puci, chefe de Ações de Meio Ambiente da Divisão de Vigilância Ambiental de Bauru, afirmou que os erros podem ter acontecido durante “um mutirão para digitação dos dados” no Sisagua, mas que não havia como confirmar.
“O Sisagua é muito pesado, complexo e demorado. Por isso, a gente prefere fazer a checagem no laudo em si. Também é mais simples fazer a conferência in loco do que no Sisagua”, afirma Puci.
Mas a Vigilância Municipal não apresentou os laudos das coletas de pontos de sua responsabilidade que mostravam água contaminada, como uma realizada em dezembro de 2017 no Instituto Lauro de Souza Lima, em que o agrotóxico Clorpirifós, cujo valor máximo permitido é de 30µg/L (micrograma por litro), mostrava um resultado de 5.000µg/L, um índice que, se fosse verdadeiro, ofereceria riscos imediatos à população de Bauru.
Quem, então, deveria vigiar a Vigilância, que não percebeu o problema ou percebeu e não foi atrás? Em qual setor das esferas públicas deveria acender um alerta para checar se esses dados altíssimos seriam erros de digitação ou se, de fato, a água estava com alto grau de contaminação?
A resposta passa pela Secretaria Estadual já que, segundo a portaria do Ministério da Saúde sobre tema, “compete às Secretarias de Saúde do Estados promover e acompanhar a vigilância da qualidade da água, em articulação com os Municípios e com os responsáveis pelo controle da qualidade da água”.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que “a responsabilidade de investigação e análise da qualidade da água é do município e das empresas responsáveis pelo abastecimento. O Estado capacita e orienta as vigilâncias municipais para que a análise de dados seja feita de forma correta.”
Metodologia fora do padrão
Um terceiro grande problema ficou visível quando a publicação do mapa abriu a “caixa-preta” dos agrotóxicos na água: nem todas as empresas seguem corretamente as orientações do Ministério da Saúde para lançar os resultados no sistema.
Um dos pontos mais delicados foi esclarecido após a divulgação da reportagem, quando algumas empresas de abastecimento reclamaram que estaria errada a interpretação feita pela reportagem – que se baseou na orientação do Ministério da Saúde. O ponto em questão era a leitura de dois códigos: o Limite de Quantificação e o Limite de Detecção. Foram tantos os questionamentos enviados pelas empresas em decorrência da publicação do mapa que, em junho, o Ministério da Saúde convocou uma reunião técnica com representantes das empresas de abastecimento, do Inmetro, dos laboratórios de saúde pública, das Secretarias de Saúde e da Anvisa para elucidar a metodologia para leitura dos dados.
Algumas empresas alegavam que ao declarar o código “Menor que o Limite de Quantificação” estavam comunicando que não foi possível detectar agrotóxico na água. Mas, segundo Thaís Araújo Cavendish, coordenadora-geral de Vigilância em Saúde Ambiental, o ministério esclareceu que esse resultado na verdade significa que  agrotóxicos foram identificados na água, mas em concentrações tão baixas que não puderam ser quantificadas.
Pode parecer uma conversa técnica de químicos, mas a compreensão correta da metodologia é fundamental para que o sistema de vigilância funcione para monitorar e garantir a qualidade da água.
Agora, com a esclarecimento da metodologia por parte do Ministério da Saúde, as empresas ou órgãos públicos que interpretavam errado precisarão corrigir os dados daqui para frente e também retroativamente. A pasta informou que deu até o fim deste mês (outubro) para essa correção acontecer.
Lista dos 27 ampliada?
Outra crítica feita ao sistema é a de que os testes buscam apenas 27 ingredientes ativos de agrotóxicos – somente em 2019, o governo aprovou a comercialização de mais de 400 novos produtos agrotóxicos. “É preciso que haja um monitoramento mais amplo, até para se verificar de fato que tipo de agrotóxicos está sendo usado em determinada região”, completa a professora Gisela Umbuzeiro, da Unicamp.
O Ministério da Saúde estuda aumentar o número de ingredientes que precisam ser testados e os valores de referência. Mas, além da lista mínima fixada em âmbito federal, cada estado deve editar normas complementares à norma nacional a fim de atender às especificidades de seus territórios. Um exemplo é a norma editada pelo Rio Grande do Sul, que estabeleceu a obrigatoriedade do monitoramento de agrotóxicos que não constam na lista nacional, mas que são muito usados nas lavouras gaúchas. Atualmente, o estado testa, além dos 27 exigidos por lei, outros 46 pesticidas na água.
Especialistas apontam ainda outros problemas que comprometem a credibilidade dos dados armazenados no Sisagua, como a falta de verificação dos dados fornecidos pelas empresas de abastecimento, que podem ser inseridos pelas próprias empresas.
“Não existe uma avaliação crítica do que é colocado. Se, por um lado, as concessionárias precisam analisar as amostras, por outro é necessário que depois exista a verificação se as normas estão sendo atendidas”, reitera Umbuzeiro.
O procurador Almeida aponta ainda um conflito de interesses neste sistema. “Como as próprias empresas que são responsáveis por alimentar o sistema vão registrar a presença de agrotóxicos na sua água?”, questiona.
Cadeia de responsabilidades e penalidades
Segundo o procurador Almeida, todos esses problemas “evidenciam como empresas e órgãos públicos nem sempre cumprem seu papel, o que, na prática, faz com que hoje o Sisagua não funcione efetivamente como ferramenta de verificação”.
Para que a complexa engrenagem funcione, a responsabilização administrativa ou judicial dos órgãos envolvidos deveria começar do local (municipal) para o nacional, segundo Marco Antonio Ghannage Barbosa, Procurador do Ministério Público Federal. Ou seja, primeiro, cobra-se das instâncias municipais (empresas de fornecimento e da vigilância sanitária); depois, das estaduais (Secretaria do Meio Ambiente) e, por fim, Ministério da Saúde e Ministério Público Federal podem atuar para cobrar os responsáveis, com sanções que podem variar de advertências a multas e ações indenizatórias.
Foi esse o caminho trilhado no Mato Grosso do Sul. O procurador Almeida, do Ministério Público, entrou com um pedido na Justiça pedindo que Estado e União garantissem a realização de testes na água de Dourados – por conta da possível relação entre a contaminação da água com o aumento dos casos de câncer na cidade.
Neste caso, o jogo de empurra está perto do fim: uma sentença determinou em agosto que o governo federal pague uma multa de R$ 90 milhões por descumprimento de uma decisão 2016 que determinava a análise da água consumida pela população. A decisão, da qual ainda cabe recurso, determina que o valor seja usado na construção de um laboratório para que, enfim, os testes sejam realizados.
Medidas como estas são fundamentais para garantir que os órgãos envolvidos cumpram seu papel, sobretudo em um cenário atual em que o Governo Federal tem ampliado e acelerado o processo de liberação de novos ingredientes ativos de agrotóxicos para uso no país. No entanto, enquanto mais da metade dos municípios brasileiros não realizar os testes definidos em lei, grande parte da população brasileira continuará no escuro sobre a real presença de agrotóxicos nas torneiras da sua cidade.


Justiça dá 48h para que governo federal contenha derramamento de óleo em Sergipe

Yahoo Notícias, 12 de outubro de 2019


Praia de Ponta dos Mangues, em Pacatuba (SE), com grandes manchas de óleo na areia. Crédito da imagem: Brenda Dantas/Divulgação

RESUMO DA NOTÍCIA
·         Justiça Federal atendeu pedido do MPF e estipulou multa de R$ 100 mil à União em caso de descumprimento.
·         Para MPF, poder público "não está empregando todos os esforços necessários para minimizar os danos causados pelo derramamento de óleo".
A Justiça Federal em Sergipe concedeu prazo de até 48 horas para que o governo federal implante medidas efetivas de proteção ao litoral sergipano.
"É fundamental proteger a cabeceira dos rios para que não haja uma maior contaminação das águas, principalmente dos rios utilizados para o consumo da população", afirmou, na decisão publicada na manhã deste sábado (12), o juiz plantonista Fábio Cordeiro de Lima.
A informação foi publicada pelo portal UOL, segundo o qual o magistrado acolheu o pedido apresentado na véspera pelo MPF (Ministério Público Federal), por meio de ação.
O magistrado concedeu a tutela e determinou que, "no prazo de 48 horas, a União Federal, junto com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis), implante barreiras de proteção nos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris e Real, com o consequente monitoramento". Em caso de descumprimento, ficou estipulada multa de R$ 100 mil.
As manchas de óleo começaram a aparecer no último dia 2 em praias da Grande Recife. Desde então, se espalharam por toda a região. Conforme o Ibama, 156 praias já registraram aparecimento de manchas em 71 municípios dos nove estados da região. Ao menos 15 pontos foram afetados em Sergipe.
Autor da ação, o procurador da República Ramiro Rockenbach afirmou que o poder público "não está empregando todos os esforços necessários para minimizar os danos causados pelo derramamento de óleo".
O alvo da ação são as áreas mais sensíveis, como unidades de conservação, pontos de captação de água, mangues e a foz do rio São Francisco.
Na avaliação do MPF, como não se sabe a causa nem as responsabilidades do acidente, cabe à União a proteção do meio ambiente e da saúde da população.
"É inafastável interesse federal. Afinal, as consequências abrangem bens ambientais que pertencem à União, uma vez que envolvem danos (concretizados ou potenciais) a rios que banham mais de um estado, ao mar territorial, a faixa de praia e a áreas compreendidas como terrenos de Marinha (zona costeira), aos recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva, bem como lesões à fauna silvestre e à flora", escreveu o procurador na ação.
O MPF pediu ainda à Justiça Federal que obrigue a União a adotar "todas as medidas necessárias de contenção e recolhimento do material poluente com foco na proteção de áreas sensíveis de Sergipe, utilizando-se do Mapeamento Ambiental para resposta de Emergência no Mar (Marem), com emprego das melhores e mais adequadas técnicas".
A Procuradoria também requereu que haja mais uso de satélites e que, no prazo de 24 horas, seja implementado os Planos Estratégicos de Proteção de Áreas Vulneráveis existentes e aprovados pelo Ibama.
O MPF pede a implementação de barreiras de proteção e o monitoramento das barreiras nos rios, ações de proteção à fauna com monitoramento, resgate e reabilitação dos animais atingidos pelo acidente ambiental.

EM TEMPO: O que nos deixa preocupado é que o governo Bolsonaro, não tem  compromisso algum com o meio ambiente. 

Desmatamento na Amazônia cresce 96% em setembro, diz INPE
 
Foto: REUTERS/Bruno Kelly
Yahoo Notícias, 11 de outubro de 2019

O desmatamento cresceu cerca de 96% em setembro na Amazônia, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O aumento é referente ao mesmo mês em 2018 e foi registrado pelo Deter, sistema que dispara alertas de desmate para embasar ações do Ibama.

Desde junho, a devastação na Amazônia tem apresentado crescimento em relação à série histórica do Inpe. Os meses de julho, agosto e setembro do primeiro ano do governo Jair Bolsonaro tiveram as maiores taxas de desmate desde o início dos registros do Deter, em 2015.
Junho teve aumento de 90% no desmate. Em julho, foram 278% de crescimento. Em agosto o salto foi de 222%, em relação ao mesmo período do ano anterior.
No mês de setembro foram devastados 1.447 km² de floresta amazônica. O Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real) não tem a função de medir precisamente a área desmatada, o que é feito pelo Prodes, divulgado anualmente apontando o desmate entre agosto de um ano e julho do seguinte. Mesmo assim, o Deter pode ser usado para apontar a tendência geral de aumento ou redução da destruição na floresta.
A explosão no desmatamento acabou levando, entre julho e agosto, a ataques sem provas do governo Bolsonaro aos dados de desmate produzidos pelo Inpe. O presidente chegou a afirmar que o então diretor do instituto, Ricardo Galvão, poderia estar a "serviço de alguma ONG". As informações de devastação também foram contestadas, sem apresentação de justificativa, pelos ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e pelo general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).
Galvão se defendeu do ataque e também fez a defesa dos dados do Inpe. O então diretor acabou exonerado pelo ministro Pontes no dia 2 de agosto.
A destruição crescente gerou alerta nos países que investem em desenvolvimento sustentável no Brasil, como a Noruega e Alemanha --através do bilionário Fundo Amazônia, que está bloqueado após Bolsonaro ter extinto os conselhos que geriam o fundo. Ambas as nações paralisaram recursos enviados.
Em meio ao desmate, cresceram também as queimadas, o que atraiu ainda mais atenção internacional ao Brasil e gerou uma crise da imagem ambiental do governo Bolsonaro.

As crises sobrepostas levaram a manifestações de preocupação da chanceler alemã Angela Merkel e do presidente francês Emmanuel Macron.
Bolsonaro, como resposta, falou que Merkel poderia usar o dinheiro bloqueado (R$ 150 milhões) que seria enviado ao Brasil para reflorestar as matas alemãs. O presidente também menosprezou o bloqueio de dinheiro norueguês para o Fundo Amazônia.
Por fim, na discussão com Macron, o presidente brasileiro chegou a ofender a primeira dama francesa. Após ser criticado, disse não ter ofendido Brigitte Macron. Bolsonaro ainda recusou US$ 20 milhões de dólares (R$ 82 milhões) do G7 para combate às queimadas e chamou a oferta de ajuda de "esmola".
Mas aceitou ajuda israelense. Inicialmente o país disse que enviaria material químico para conter o fogo, mas, no fim, enviou somente uma delegação com 11 especialistas em combate a incêndios.
A crise das queimadas, que se concentra principalmente em áreas privadas e florestas não destinadas --nas quais qualquer desmatamento e incêndio é ilegal--, levou o presidente Bolsonaro a assinar um decreto de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) que autorizava uso das Forças Armadas para combater os incêndios.
***Da Folhapress


Papa pede respeito a povos indígenas da Amazônia em início de sínodo de 3 semanas

REUTERS - Por Philip Pullella

© Reuters/REMO CASILLI Papa Francisco participa do sínodo da Amazônia no Vaticano

O papa Francisco disse nesta segunda-feira a uma assembleia de bispos convocada para debater a região da Amazônia que a sociedade moderna não deveria tentar impor suas regras aos povos indígenas, mas respeitar sua cultura e deixá-los planejar o próprio futuro.

Francisco, que é argentino, discursou na abertura da primeira sessão de trabalho de um sínodo de três semanas sobre o futuro da Igreja Católica na Amazônia, incluindo a possibilidade de ordenar padres casados. O papa disse que os povos da Amazônia não deveriam ser "abordados com um tipo de anseio empresarial que procura lhes dar programas preconcebidos que visam discipliná-los" e às suas história e cultura.

"A colonização ideológica é muito comum hoje... (vamos dizer) 'não' a esse anseio de domesticar povos originais", disse. Francisco, que já pediu perdão em nome da Igreja pelos erros de missionários europeus que acompanharam os primeiros colonizadores, disse que, durante muito tempo, muitos da Igreja tiveram uma atitude "depreciativa" em relação a povos nativos e suas culturas, e que alguns ainda têm.

"Fiquei muito triste de ouvir, bem aqui, um comentário debochado sobre aquele homem pio que trouxe oferendas com penas na cabeça", contou, falando de um nativo da Amazônia que participou de uma missa papal no domingo. "Digam-me: que diferença existe entre ter penas na cabeça e o chapéu de três pontas usado por algumas autoridades dos nossos (departamentos do Vaticano)?"

O sínodo de três semanas debaterá a disseminação da fé na Amazônia, um papel maior para as mulheres, a proteção ambiental, a mudança climática, o desmatamento, os povos indígenas e seu direito de manter suas terras e tradições. Ele acontece no momento em que a Amazônia está sob os holofotes de todo o mundo por causa dos incêndios devastadores no Brasil. Na missa de abertura de domingo, Francisco disse que os incêndios foram ateados intencionalmente por grupos de interesse.

Presente ao encontro, o cardeal brasileiro Claudio Hummes disse em seu discurso à reunião de cerca de 260 pessoas --a maioria bispos de países amazônicos-- que a Igreja tem que estar aberta à mudança.
"A Igreja não pode permanecer inativa dentro de seu próprio círculo fechado, focada em si mesma, cercada por muros de proteção, e ainda menos olhar nostalgicamente para o passado", afirmou.

Papa critica "interesses" que provocaram incêndios devastadores na Amazônia


RFI

© (Foto: Reuters)

Para o papa Francisco, incêndios como os que recentemente devastaram a Amazônia foram provocados por "interesses destrutivos". A declaração foi feita neste domingo (6) na missa de abertura do Sínodo da Amazônia, que começa oficialmente hoje no Vaticano. 

"O fogo causado por interesses destrutivos, que devastaram a Amazônia, não vem do Evangelho", disse o papa aos religiosos de nove países da região amazônica. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.” Segundo ele, “esse fogo devastador se alastra quando a intenção é apenas defender ideias próprias, constituir um grupo e queimar a diversidade para uniformizar tudo e todos", criticou o pontífice.

Entre janeiro e 19 de setembro desde ano, o Brasil registrou um aumento de 56% dos focos de incêndio florestais em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Cerca de metade deles, 47%, atingem a Amazônia. O alastramento das queimadas, que desencadeou protestos em todo o mundo, foi atribuída em parte à política do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que chegou ao poder em janeiro. Ele é acusado de facilitar a expansão das terras dedicadas à criação de gado e plantações para atividades comerciais, contribuindo desta forma ao desmatamento.

Novo colonialismo

Na sua homília, o papa reconheceu que a igreja participou ao longo da história de “várias formas de colonização violenta em nome da evangelização”, mas alertou para a o risco de um novo colonialismo. Ele também pediu aos bispos que “não sejam apenas funcionários” da igreja, e se dediquem mais à ação missionária concreta. O pontífice espera que o Sínodo, que discutirá propostas inovadoras mas controversas, “renove os caminhos da igreja na Amazônia.”

O documento de trabalho de 80 páginas da assembleia de bispos latino-americanos alerta sobre os problemas ecológicos e humanos da região, crucial para o equilíbrio do planeta. As discussões, que começam hoje, terminam no dia 27 de outubro.

STF notifica Bolsonaro por relacionar ONGs a queimadas na Amazônia

Veja.com - Da Redação


© Antonio Cruz/Agência Brasil 
O presidente Jair Bolsonaro conversa com homem de cocar de índio

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu notificar o presidente Jair Bolsonaro para que explique a declaração em que atribui a ONGs a responsabilidade por queimadas na Amazônia. A determinação ocorreu na quarta-feira, 2, e atende a pedido da Associação Civil Alternativa Terrazul, de Fortaleza. A notificação do ministro prevê que Bolsonaro responda a oito questionamentos relacionados a declarações que fez em 21 de agosto ao deixar o Palácio da Alvorada.

Na decisão, Moraes aponta que o pedido tem “pertinência” “em primeira análise”. Além disso, lembra, que esta solicitação de esclarecimentos está prevista no Código Penal e tem o objetivo de esclarecer “situações ambíguas” e “viabilizar o exercício futuro de ação penal condenatória”, “sendo cabível em qualquer das modalidades de crimes contra a honra”. Na ocasião, Bolsonaro insinuou que as queimadas estariam relacionadas à suspensão do repasses do Fundo Amazônia a projetos. “Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil”, disse na época. A fala teve repercussão negativa entre ambientalistas e também na imprensa estrangeira. O presidente nunca apresentou qualquer indício do envolvimento de ONGs com os números recorde de queimadas deste ano.

Dentre os questionamentos enviados ao presidente estão: “Quais ONGs são as supostas responsáveis pelas queimadas na Floresta Amazônica?”; “Se o interpelado tem conhecimento de quais são essas ONGs porque nenhuma medida foi tomada contra elas até o momento, levando em consideração que estas, de acordo com ele próprio, vem cometendo ato tipificado como crime?”; e “Existem provas concretas de que as ONGs que, supostamente, tiveram repasse de verbas cancelados ou reduzidos estão participando ativamente dos incêndios na floresta amazônica ou isso não passa de mera conjectura do interpelado?”

As demais questões são: “O que o interpelado quis dizer quando disse que ‘ao que tudo indica’? Isto é, existem provas que indivíduos, intencionalmente, foram até locais ‘estratégicos’ para filmar e ‘tocar’ fogo? Em caso positivo, que provas são essas e quem são esses indivíduos?”; “O que o interpelado quis dizer quando disse que ‘isso não está escrito’?”; “Quais são as ONGs que ‘pegam verbas bilionárias’ e fazem campanha contra ele?”; “O que motiva o convencimento do interpelado de que existe interesse de ONGs nas queimadas na Amazônia? Quais são essas ONGs? Se ele tem conhecimento de quais são, por que não as indicou nominalmente?”; e “Qual o motivo do Interpelado entender que existem ONGs que representam interesse estrangeiro? Quais são essas ONGs?”

Na decisão, o ministro cita um trecho do pedido da Associação Civil Alternativa Terrazul, em que ela aponta que o “interpelado e seu governo possuem absoluta aversão e promovem verdadeira cruzada não apenas contra entidades da sociedade civil, mas também o meio ambiente. Prova disso é que, desde que assumiu o cargo de presidente da República, o interpelado, reiteradamente, tomou atitudes e editou legislação com inequívoco intuito de diminuir a atuação dos entes da sociedade civil”.
(com Estadão Conteúdo)

 AGRONEGÓCIO DOMINA REGIÕES DESMATADAS E QUEIMADAS. 

ABRIL ABRIL.  Publicado em  03.10.2019

Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o fogo é usado para limpar áreas previamente desflorestadas. Ali, impõe-se o modelo predatório do agronegócio e aumentam os «conflitos no campo».
O Brasil registrou 131 327 queimadas florestais até ao mês de agosto em 2019, sendo que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só na Amazônia foram registrados 43 573 focos, destaca uma reportagem publicada no dia 30/09 pelo Jornal Brasil de Fato.
Uma nota técnica realizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) deixa em evidência a relação entre as queimadas e o desmatamento da Amazônia. Ao comparar os municípios com maior índice de desmatamento com os de maior índice de queimadas, Altamira (Pará), Porto Velho (Rondônia), São Félix do Xingu (Pará), Lábrea (Amazônia), Colniza (Mato Grosso) e Novo Progresso (Pará) estão nas duas listas.
Esta relação entre queimadas e desmatamento não é de agora, sublinha a reportagem, explicando que as queimadas «são uma prática primitiva de limpar terras desmatadas» para as tornar próprias para a prática da agropecuária. «Queimadas e desmatamento [são] práticas bem conhecidas na dinâmica da agricultura extensiva do agronegócio», lê-se no portal brasileiro.
Desflorestar, queimar e soltar o gado

Não é uma coincidência que sete dos dez municípios mais queimados do Brasil este ano estejam também na lista dos mais desmatados. «O desmatamento avança com o fogo avançando em seguida», explica Paulo Moutinho, cofundador do IPAM.

A maioria dos municípios presentes na lista elaborada pelo instituto está localizada no chamado Arco do Desmatamento – que resulta de um processo histórico de ocupação da Amazônia, entre o final da década de 1950 e início da de 1960.
«Essa ocupação deu-se principalmente pela chegada de grandes obras de infraestrutura na região amazônica. Em paralelo, com políticas de incentivo da ditadura militar, introduziu-se um modo de ocupação estimulando a migração do Sudeste, Centro-oeste e Nordeste. O resultado foi a criação de uma fronteira agrícola e pecuária que, desde então, avança anualmente sobre a floresta», explica a reportagem, acrescentando que «cerca de 30% do desmatamento acontece em terras públicas, numa prática consolidada de especulação ilegal».
Pará, Rondônia e Amazonas

O Pará é um dos estados com municípios na lista dos mais queimados – Altamira, Novo Progresso e São Félix do Xingu –, sendo que ali se verifica uma forte presença do monocultivo da soja e da pastagem dedicada à pecuária, segundo dados do Censo Agropecuário, realizado em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Brasil de Fato sublinha que, comparando as áreas de pastagem atuais com as constatadas pelo censo de 2006, houve um aumento significativo em todos estes municípios – 46% em Altamira, 49% em Novo Progresso e 64% em São Félix do Xingu.
Em declarações ao portal, Raione Lima, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frisou ainda que no trecho da rodovia BR-163 – conhecida como corredor da soja – que liga o porto de Santarém, no Pará, a Sinop, no Mato Grosso, o principal aumento do desmatamento e das queimadas em 2019 foi «provocado e organizado» e deu-se em áreas de assentamentos da Reforma Agrária.
Porto Velho, capital do estado de Rondônia, é a terceira cidade da região amazônica com maior índice de queimadas e desmatamento. Só este ano, foram ali resgistrados 3110 focos de incêndio e 280 hectares de desmatamento, segundo o Inpe.
A pressão do agronegócio na região é notória, estando contabilizados 351 534 hectares de pastos – 43% de acréscimo em relação a 2006 –, 41 575 hectares dedicados ao plantio de cana-de-açúcar e 3604 à cana-de-açúcar forrageira, utilizada para alimentação de gado.
No Sul do estado do Amazonas, os municípios de Lábrea e Apuí contam-se também entre os mais desmatados e queimados, tendo sido ali registrados 2224 e 2064 focos de incêndio, respectivamente.
Sobre as áreas desmatadas, verificam-se 170 hectares em Lábrea e 110 hectares em Apuí, até Julho deste ano. Tiago Maiká, agente da CPT Amazonas, explicou ao Brasil de Fato que existe uma cadeia de atividades que protagonizam o desmatamento na região: primeiro, entram as madeireiras; depois as fazendas de gado e a soja, ocupando essas pastagens.
«Conflitos no campo»

«O desmatamento e os incêndios não são as únicas consequências do modelo predatório do agronegócio», frisa a reportagem, acrescentando que, «com a agropecuária extensiva, os conflitos por terra tornam-se comuns e a morte de líderes camponeses uma realidade cada vez mais evidente».

De acordo com a CPT, só este ano houve 18 assassinatos em «conflitos no campo registrados no país», sete dos quais no Pará e cinco no Amazonas. Para Maiká, a intensificação dos discursos de ódio tem relação direta com o aumento nos índices de assassinatos, assim como dos crimes ambientais.
A narrativa construída pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também se caracteriza pelo ataque constante às organizações não governamentais (ONG) que atuam na preservação ambiental e aos institutos de pesquisa.
«Desde o início da repercussão do aumento no índice de queimadas, Jair Bolsonaro já acusou as ONG de estarem a atear o fogo na floresta a fim de culpabilizar o governo, mas sem provas. Além disso, contesta regularmente os dados divulgados pelo Inpe», sublinha o Brasil de Fato.
Outro incentivo à violência por parte de Bolsonaro constitui a defesa de que os fazendeiros devam armar-se legalmente. No passado dia 17, o presidente brasileiro aprovou a lei 3.715/19, que visa ampliar a posse de armas de fogo em propriedades rurais. Antes, era permitida a posse apenas na sede da propriedade – agora, toda a extensão do terreno é compreendida como propriedade.
ABRIL ABRIL
Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, o fogo é usado para limpar áreas previamente desflorestadas. Ali, impõe-se o modelo predatório do agronegócio e aumentam os «conflitos no campo».
O Brasil registrou 131 327 queimadas florestais até ao mês de agosto em 2019, sendo que, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só na Amazônia foram registrados 43 573 focos, destaca uma reportagem publicada no dia 30/09 pelo Jornal Brasil de Fato.
Uma nota técnica realizada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) deixa em evidência a relação entre as queimadas e o desmatamento da Amazônia. Ao comparar os municípios com maior índice de desmatamento com os de maior índice de queimadas, Altamira (Pará), Porto Velho (Rondônia), São Félix do Xingu (Pará), Lábrea (Amazônia), Colniza (Mato Grosso) e Novo Progresso (Pará) estão nas duas listas.
Esta relação entre queimadas e desmatamento não é de agora, sublinha a reportagem, explicando que as queimadas «são uma prática primitiva de limpar terras desmatadas» para as tornar próprias para a prática da agropecuária. «Queimadas e desmatamento [são] práticas bem conhecidas na dinâmica da agricultura extensiva do agronegócio», lê-se no portal brasileiro.
Desflorestar, queimar e soltar o gado

Não é uma coincidência que sete dos dez municípios mais queimados do Brasil este ano estejam também na lista dos mais desmatados. «O desmatamento avança com o fogo avançando em seguida», explica Paulo Moutinho, cofundador do IPAM.

A maioria dos municípios presentes na lista elaborada pelo instituto está localizada no chamado Arco do Desmatamento – que resulta de um processo histórico de ocupação da Amazônia, entre o final da década de 1950 e início da de 1960.
«Essa ocupação deu-se principalmente pela chegada de grandes obras de infraestrutura na região amazônica. Em paralelo, com políticas de incentivo da ditadura militar, introduziu-se um modo de ocupação estimulando a migração do Sudeste, Centro-oeste e Nordeste. O resultado foi a criação de uma fronteira agrícola e pecuária que, desde então, avança anualmente sobre a floresta», explica a reportagem, acrescentando que «cerca de 30% do desmatamento acontece em terras públicas, numa prática consolidada de especulação ilegal».
Pará, Rondônia e Amazonas

O Pará é um dos estados com municípios na lista dos mais queimados – Altamira, Novo Progresso e São Félix do Xingu –, sendo que ali se verifica uma forte presença do monocultivo da soja e da pastagem dedicada à pecuária, segundo dados do Censo Agropecuário, realizado em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Brasil de Fato sublinha que, comparando as áreas de pastagem atuais com as constatadas pelo censo de 2006, houve um aumento significativo em todos estes municípios – 46% em Altamira, 49% em Novo Progresso e 64% em São Félix do Xingu.
Em declarações ao portal, Raione Lima, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), frisou ainda que no trecho da rodovia BR-163 – conhecida como corredor da soja – que liga o porto de Santarém, no Pará, a Sinop, no Mato Grosso, o principal aumento do desmatamento e das queimadas em 2019 foi «provocado e organizado» e deu-se em áreas de assentamentos da Reforma Agrária.
Porto Velho, capital do estado de Rondônia, é a terceira cidade da região amazônica com maior índice de queimadas e desmatamento. Só este ano, foram ali resgistrados 3110 focos de incêndio e 280 hectares de desmatamento, segundo o Inpe.
A pressão do agronegócio na região é notória, estando contabilizados 351 534 hectares de pastos – 43% de acréscimo em relação a 2006 –, 41 575 hectares dedicados ao plantio de cana-de-açúcar e 3604 à cana-de-açúcar forrageira, utilizada para alimentação de gado.
No Sul do estado do Amazonas, os municípios de Lábrea e Apuí contam-se também entre os mais desmatados e queimados, tendo sido ali registrados 2224 e 2064 focos de incêndio, respectivamente.
Sobre as áreas desmatadas, verificam-se 170 hectares em Lábrea e 110 hectares em Apuí, até Julho deste ano. Tiago Maiká, agente da CPT Amazonas, explicou ao Brasil de Fato que existe uma cadeia de atividades que protagonizam o desmatamento na região: primeiro, entram as madeireiras; depois as fazendas de gado e a soja, ocupando essas pastagens.
«Conflitos no campo»

«O desmatamento e os incêndios não são as únicas consequências do modelo predatório do agronegócio», frisa a reportagem, acrescentando que, «com a agropecuária extensiva, os conflitos por terra tornam-se comuns e a morte de líderes camponeses uma realidade cada vez mais evidente».

De acordo com a CPT, só este ano houve 18 assassinatos em «conflitos no campo registrados no país», sete dos quais no Pará e cinco no Amazonas. Para Maiká, a intensificação dos discursos de ódio tem relação direta com o aumento nos índices de assassinatos, assim como dos crimes ambientais.
A narrativa construída pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também se caracteriza pelo ataque constante às organizações não governamentais (ONG) que atuam na preservação ambiental e aos institutos de pesquisa.
«Desde o início da repercussão do aumento no índice de queimadas, Jair Bolsonaro já acusou as ONG de estarem a atear o fogo na floresta a fim de culpabilizar o governo, mas sem provas. Além disso, contesta regularmente os dados divulgados pelo Inpe», sublinha o Brasil de Fato.
Outro incentivo à violência por parte de Bolsonaro constitui a defesa de que os fazendeiros devam armar-se legalmente. No passado dia 17, o presidente brasileiro aprovou a lei 3.715/19, que visa ampliar a posse de armas de fogo em propriedades rurais. Antes, era permitida a posse apenas na sede da propriedade – agora, toda a extensão do terreno é compreendida como propriedade.
https://www.abrilabril.pt/internacional/agronegocio-domina-regioes-desmatadas-e-queimadas-na-amazonia


Movimentos convocam Greve Ambiental Mundial
20 de setembro de 2019



OLHAR COMUNISTA

Sindicatos, organizações políticas, movimentos sociais e personalidades internacionais como Noam Chomsky estão convocando a população mundial para uma greve geral, de 20 a 27 de setembro, voltada para a denúncia da degradação ambiental e a mobilização para o enfrentamento da crise climática. 
No mesmo dia 20 de setembro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, convocou os países para a Cúpula do Clima, cujo objetivo é incentivar o aumento do comprometimento dos governos com as metas acordadas em 2015, em Paris, para a redução da emissões de gases do efeito estufa – e até para superá-las.
A continuidade da vida no planeta está seriamente ameaçada, uma vez que os sistemas naturais vêm sendo submetidos a uma imensa e crescente pressão nos níveis de poluição do ar e das águas, no desmatamento, no consumo de água, na utilização de recursos não renováveis em grande escala, como nos casos do petróleo e do carvão, principalmente para a geração de energia, precipitando o seu esgotamento. Os estoques de alguns metais já são muito baixos: 10 anos para o chumbo, por exemplo; o petróleo, se nada mudar, tem reservas para um período entre 40 e 70 anos, ou seja, um futuro bastante próximo.
O aquecimento global é um fato e vem gerando efeitos muito graves como o derretimento de geleiras, a elevação do nível dos mares, as secas, os furacões, as mudanças climáticas em geral, com consequências desastrosas para populações numerosas, principalmente aquelas dos países e regiões mais pobres. A temperatura média da Terra, que em 2018 foi a quarta mais alta registrada até hoje (0,79 graus acima da média do século XX), pode aumentar mais do que 2 graus, um limite definido na Conferência de Paris, em 2015 (sem os Estados Unidos…). Vale lembrar que, na última era glacial (há 60 milhões de anos), a queda da temperatura média do planeta foi de apenas 5 graus. 
A situação é grave: a concentração de gás carbônico e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera, como o metano, já passou do limite que o sistema Terra é capaz de suportar. O mesmo se pode dizer da perda da biodiversidade, da acidificação dos mares e outros fatores. Cabe lembrar que os fatores de impacto ambiental são cumulativos e apresentam, em geral, crescimento exponencial.
A pressão sobre o meio ambiente vem se acelerando mais e mais desde o início da revolução industrial. Empresas privadas cada vez maiores produzem bens de consumo em massa, consumem água, madeira, ferro, carvão, geram resíduos sólidos e poluição do ar e das águas em grande volume. Os oceanos são invadidos por milhões de toneladas de plásticos e outros resíduos em volume maior do que podem absorver. A produção agrícola em grande volume, mecanizada, em regime de monocultura, é sustentada com elevadas doses de agrotóxicos, sendo diretamente responsável pela ocupação de áreas florestais e pelo esgotamento e contaminação dos solos. 
No Brasil, a pecuária extensiva e a exploração ilegal e descontrolada da madeira em florestas nativas, como na Amazônia, são as causas principais do fenômeno das queimadas que se sucedem ao desmatamento, aliadas à especulação para a possível apropriação privada das áreas desmatadas.
O risco de desastre ambiental e social foi levantado pelo Clube de Roma, uma reunião de estudiosos do tema que, em 1968, após projetar para o futuro os números referentes à produção industrial e agrícola, consumo de recursos naturais, população e poluição – todos crescentes –, concluiu que, se nada fosse feito para alterar aquelas tendências, haveria um colapso na sociedade, causado pela degradação ambiental e pela escassez de recursos, levando à queda na produção industrial e agrícola e, consequentemente, à fome generalizada e à redução da população. 
A proposta que adveio do Clube de Roma, debatida na I Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, em Estocolmo, 1972, foi a do crescimento zero de todas as economias, para que tudo continuasse como estava – os países ricos seguiriam ricos e os países pobres seguiriam pobres –, ou seja, a opulência de poucos estaria garantida à custa da pobreza e da miséria de muitos. A proposta foi rejeitada tanto pelos governos dos países ricos – que queriam ser mais ricos – quanto pelos dos países pobres – que queriam sair da linha da pobreza.
A questão de fundo da crise ambiental é a lógica da acumulação capitalista, a lógica da expansão eterna dos mercados, da produção em massa, do lançamento sistemático de novos produtos, como se os recursos naturais fossem infinitos, uma lógica diretamente associada à tendência de concentração de renda, que deixa cada vez mais pessoas fora do mercado de trabalho. No Brasil, são poucos os que se beneficiam do agronegócio, são poucos os bilionários que controlam as grandes empresas industriais; no plano internacional, um exemplo da exploração de classes está nos números dos Estados Unidos, que possuem 6% da população e mais de 30% da riqueza produzida no mundo.
Assim, os recursos da natureza, transformados em mercadorias, são apropriados de forma diversa pelas diferentes classes sociais, para o benefício dos proprietários de fábricas e fazendas, para o sacrifício e a miséria dos que só dispõem de sua capacidade de trabalho para viver. Nos dias de hoje, para compensar a tendência de queda nas taxas de lucro das empresas, no longo prazo, o capitalismo assume formas cada vez mais truculentas e selvagens de exploração da natureza, com o uso de agrotóxicos mais nocivos ao solo e à saúde humana, a exploração de petróleo em regiões onde há elevado risco de contaminação ambiental, como no Alasca, na extração de óleo incrustado em rochas, por fracking, na devastação de florestas para venda da madeira e criação de gado.
Os governos representativos dos interesses burgueses, dos grandes capitalistas e bilionários que dominam a economia e o mundo das finanças, a exemplo dos Estados Unidos e seus aliados, não hesitam em realizar, sistematicamente, ações políticas e militares de ingerência, agressão e mesmo de invasão em países detentores de reservas de petróleo e outros recursos estratégicos, para que o elevado padrão de consumo interno de suas “elites” econômicas e camadas sociais associadas não se reduza, levando à manutenção do poder político atual. 
Não é por acaso que as mais recentes intervenções militares dos Estados Unidos e seus aliados tenham se dado na Líbia, no Iraque, na Síria. Pela mesma razão, além do combate ideológico a qualquer governo que enfrente o imperialismo estadunidense, se afaste do liberalismo ou implemente ações de distribuição de renda e de promoção de direitos sociais, buscam demonizar os regimes do Irã e da Venezuela.
As respostas à crise ambiental que vêm da classe burguesa se circunscrevem na chamada Economia Verde, que tem por base a economia de livre mercado, onde todos os bens ambientais são de propriedade privada e se convertem em mercadorias, com preços ditados pelas forças de mercado. Terras, rios, peixes, ar, tudo está à venda. Nesse pensamento, são propostas ações de mitigação de danos ambientais a partir de iniciativas individuais ou de empresas – que teriam de ter mais “consciência ambiental” – criando e fortalecendo a ilusão de que é possível mudar os rumos ambientais a partir de iniciativas individuais, e pondo nas pessoas a culpa pela degradação. 
O crescimento da população mundial, hoje em torno dos 7 bilhões, concentrado, principalmente, nos países mais pobres, é apontado também como culpado. Ou seja, os pobres são os culpados pela pobreza.
Mesmo quando são propostas intervenções governamentais, como na cobrança de impostos sobre a poluição gerada, ou na regulamentação da produção e do consumo, como na recente proibição da fabricação de lâmpadas incandescentes e sua substituição por outras que consomem menos energia, não é feito qualquer questionamento à lógica perversa do mercado e do capitalismo, em suas imensas escalas de utilização de recursos naturais.
Fala-se em desenvolvimento e em sustentabilidade – duas preocupações sem dúvida fundamentais – sem qualquer questionamento ao padrão de desenvolvimento predominante, hoje, no mundo, o desenvolvimento capitalista, em si mesmo insustentável e gerador de imensas desigualdades sociais, um desenvolvimento que coloca em risco a própria humanidade.
Lutar por um outro padrão desenvolvimento é mais do que necessário e urgente. Esse novo padrão a ser buscado deverá enquadrar-se nos limites físicos do planeta, na sustentabilidade, mas deverá também opor-se aos resultados do padrão atual, o padrão capitalista, cujos resultados são a degradação ambiental, a opulência de poucos e a pobreza e miséria de muitos, em todo o mundo. Será um desenvolvimento lastreado em outra concepção de sociedade, justa, fundada em valores como o altruísmo e a solidariedade, onde o poder será exercido diretamente por todos os que constroem a riqueza, por todos os trabalhadores, onde todos terão suas necessidades básicas atendidas, todos terão saúde, educação, cultura.
As lutas ambientais são de todos os que desejam construir essa nova sociedade. São lutas claramente anticapitalistas, que devem ter papel e lugar de destaque nas agendas políticas de partidos, sindicatos, organizações e movimentos sociais comprometidos com a justiça social.
O Partido Comunista Brasileiro se soma às lutas contra a destruição ambiental promovida para favorecer os interesses capitalistas e se propõe a participar diretamente de uma agenda comum de mobilização para canalizar denúncias de agressões à natureza e avançar com vistas à superação do quadro atual, pavimentando o caminho necessário para a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento e a construção revolucionária da nova sociedade, a sociedade socialista.


Organizar a classe e lutar na greve global do clima
Coordenação Nacional da Unidade Classista

Em meio aos ataques contra a classe trabalhadora, o governo Jair Bolsonaro, assim como outras potências capitalistas no mundo, vem realizando uma ofensiva contra os direitos trabalhistas, atacando a previdência social e acelerando a agressão global ao meio ambiente. Agridem os povos originários em seus territórios, queimam florestas e dizimam a biodiversidade.
Compreendemos que essa situação não está desvinculada da luta de classes. Não podemos deixar como herança para as próximas gerações um mundo com essa situação caótica. A cada ação destrutiva tomada pelas grandes corporações e governos comprometidos com o Capital, mais insustentável fica a situação no planeta, aumentando a temperatura e colocando em risco a própria sobrevivência da espécie humana.
Por isso, os militantes da Unidade Classista estarão mobilizados no dia 20 de setembro de 2019 na GREVE GLOBAL DO CLIMA. Pois só a classe trabalhadora poderá construir de forma organizada uma saída contra o Capital e sua sede de lucro, que atinge as populações mais vulneráveis pela falta de segurança alimentar, contra a poluição das águas, o aumento os preços dos gêneros alimentícios e a própria precarização das condições de subsistência.
A GREVE GLOBAL DO CLIMA deve ser organizada para combater a utilização de meios que agridam o meio ambiente, mas sendo contundente na luta anticapitalista que gera tanta destruição, desigualdade e sofrimento.
Avante camaradas!

Unidade Classista!

Futuro Socialista!



ONU veta discurso do Brasil na cúpula climática nos EUA
Foto: AP Photo/Bebeto Matthews
Yahoo Notícias, 18 de setembro de 2019

Cúpula do Clima foi convocada por Antonio Guterres, secretário-geral da ONU. 

RESUMO DA NOTÍCIA
·         Brasil está fora da lista de países que discursarão na cúpula do clima na ONU
·  Aumento das queimadas na Amazônia é uma das maiores preocupações de especialistas

O Brasil não integra a lista de países que discursarão na cúpula do clima da ONU, marcada para a próxima segunda-feira (23) em Nova York. A informação é do blog Ambiência, do jornal Folha de S. Paulo.
 “O Brasil não apresentou nenhum plano para aumentar o compromisso com o clima”, afirmou enviado especial da secretaria-geral da ONU, Luis Alfonso de Alba.
De acordo com Alba, a ONU solicitou aos países um plano para aumentar a ambição dos compromissos climáticos. Com base nos documentos enviados, foram selecionados quais países teriam direito ao discurso.
Também não devem discursar Estados Unidos, Arábia Saudita, Japão, Austrália e Coreia do Sul. A lista final de discursos possui 63 países, incluindo França, recém desafeto do Brasil na questão ambiental, e Reino unido. A relação final deve ser anunciada ainda nesta quarta-feira (18).
A cúpula do clima, agendada para a véspera da Assembleia-Geral da ONU, foi convocada por Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, com objetivo de encorajar a ambição política dos países.
Uma das grandes preocupações da Cúpula é o aumento da temperatura média do planeta. Os esforços dos signatários do Acordo de Paris não vem sendo suficientes e as metas devem ser revistas entre 2020 e 2023, de acordo com o Blog.
A grande questão é que, diante de acontecimentos como o aumento de queimadas na Amazônia, especialistas da área querem adiantar a discussão. Uma das oportunidades para isso seria a Conferência do Clima que acontecerá ainda em 2019, no Chile.

EM TEMPO: É uma vergonha para o Brasil. Enquanto a ex-presidente Dilma, faz uma palestra numa das principais universidades do mundo, SORBONNE, em Paris, na França, o presidente Bolsonaro é impedido de falar na ONU no que diz respeito a cúpula climática. De certa forma, escapamos de mais um vexame com esse Presidente discursando. 


Presidente, Jair Bolsonaro,  se tornou uma ameaça para o meio ambiente do Brasil e do mundo.


Durante a manifestação ocorrida no Largo do Machado, no bairro Flamengo, foi explicado que o aumento do desmatamento e das queimadas no Brasil pode ser considerado um crime, nacional e internacional, contra a natureza e a humanidade.

O lema deveria ser: meio ambiente acima de tudo e a estabilidade climática acima de todos", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate em 11-09-2019.

Eis o artigo. 
No mês passado participei de uma manifestação no Largo do Machado, no bairro Flamengo, no Rio de Janeiro (local tradicional de reunião e reivindicação), no âmbito das atividades preparatórias da Greve Global pelo Clima.

Uma proposta me chamou a atenção. Em decorrência do posicionamento do Governo Federal do Brasil de atuar contra o meio ambiente e os povos das florestas, diante da generalização da degradação dos ecossistemas, do avanço do desmatamento e do aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) que provocam danos ambientais irreparáveis, foi lançada para discussão a campanha: “
Impeachment de Jair Bolsonaro pelo crime de Ecocídio”.

Achei que a proposta fazia todo o sentido, mas confesso que fiquei na dúvida sobre as bases jurídicas de um 
impeachment pelo crime de ecocídio. Mas, na discussão, foi apresentado o argumento de que o Tribunal Penal Internacional (TPI) decidiu, no final de 2016, reconhecer o ecocídio (destruição em larga escala do meio ambiente) como crime contra a Humanidade. Advogados e especialistas em Direito Penal Internacional consideram o Ecocídio um delito de escopo local e global que justifica criminalizar as agressões contra o meio ambiente.

Por exemplo, os juristas franceses, 
Jessica Finelle e François Zimeray, chamavam atenção para a gravidade dos “projetos antiecológicos” de Bolsonaro e para os riscos que trazem para o Brasil e o mundo. Eles consideram que o presidente brasileiro pode ser responsabilizado por crime ecológico e por crime contra a humanidade.

O Art. 225 da Constituição Federal diz: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Inquestionavelmente, é dever dos governantes respeitar a Constituição defendendo a sustentabilidade da natureza.

“Ah! um povo que iniciasse a destruição dos marcos e deixasse intactas as florestas!“ - Henry Thoreau (1817-1862)
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A principal ameaça à humanidade e à vida na Terra é o aquecimento global que pode tornar as o Planeta inabitável. Por isto o Acordo de Paris, assinado por cerca de 200 países propõe a redução das emissões de GEE. Em 2016, o presidente Michel Temer entregou ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o documento em que o Brasil ratifica o Acordo de Paris, que trata de mudanças climáticas.

Portanto, o Brasil é signatário do 
Acordo de Paris e assumiu o compromisso de reduzir as emissões de GEE conforme as metas mencionadas na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). As metas principais são: 1) Redução de 37% nas emissões até 2025, tendo como ponto de partida as emissões de 2005; 2) Possível redução de 43% das emissões até 2030.

Para alcançar essas metas o governo precisa seguir uma série de indicações em diversos setores da gestão pública dos recursos naturais até 2030:
- Aumentar a participação da bioenergia sustentável na matriz energética para 18%;
- Fortalecer o cumprimento do 
Código Florestal;
- Restaurar 12 milhões de hectares de florestas;
- Alcançar 
desmatamento ilegal zero na Amazônia brasileira;
- Chegar a participação de 45% de energias renováveis na matriz energética;
- Obter 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico;
- Promover o uso de tecnologias limpas no setor industrial;
- Estimular medidas de eficiência e infraestrutura no transporte público e áreas urbanas.

Mas as emissões brasileiras de GEE continuam subindo especialmente devido à 
redução da cobertura vegetal e às queimadas. Em agosto, houve até “Dia do Fogo”, no desafio mais surreal promovido pelos inimigos da floresta. Segundo dados do Deter, o desmatamento em julho, foi 278% maior do que o observado em julho de 2018. De acordo com o sistema gerenciado pelo Inpe, a devastação de florestas neste período corresponde a cerca de 2.000 quilômetros quadrados, área maior do que o município de São Paulo. O desmatamento já tinha crescido 88% no mês de junho, na comparação com o mesmo mês de 2018.

Todavia, ao invés de tomar medidas para reduzir o 
desmatamento, o governo questionou os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e exonerou o Diretor Ricardo Galvão. O ministro da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes anunciou o novo presidente interino do INPE: Darcton Policarpo Damião, que declarou desconfiar da real existência do aquecimento global e questiona se, caso exista, seja realmente causado pelo ser humano. Damião destacou que todos os informes e dados sobre desmatamento da Amazônia serão encaminhados ao Palácio do Planalto e aos ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, em primeira mão.

O quadro é grave. Na avaliação de integrantes do Greenpeace, do SOS Mata Atlântica e do Observatório do Clima, há um desmonte nas políticas públicas que pode ter como impacto desde tragédias urbanas a dificuldades no comércio exterior. Como diz o Jornal El País (29/07/2019):

“Bolsonaro colocou a líder da bancada parlamentar ruralista, 
Tereza Cristina Dias, como ministra da Agricultura, não declarou novas áreas de proteção ambiental nem demarcou novas reservas de terras indígenas (e ameaça desmantelar umas e outras), pretende desvirtuar o Fundo Amazônia (um fundo milionário impulsionado e financiado principalmente pela Noruega para frear o desmatamento), pôs em dúvida os dados oficiais sobre a destruição de florestas tropicais, elaborados por órgãos do próprio Governo por meio do Inpe, e acelerou a aprovação de novos pesticidas, incluindo alguns com substâncias proibidas na União Europeia.

Uma série de medidas que fez com que os ex-ministros do Meio Ambiente ainda vivos acusassem em uníssono o Governo de desmontar todos os avanços conquistados nos últimos 25 anos”.

Portanto, o presidente Jair Bolsonaro se tornou uma ameaça para o meio ambiente do Brasil e do mundo. Assim, durante a manifestação, foi explicado que o aumento do 
desmatamento e das queimadas no Brasil pode ser considerado um crime, nacional e internacional, contra a natureza e a humanidade.

O lema deveria ser: meio ambiente acima de tudo e a estabilidade climática acima de todos. Desta forma, comecei a ler sobre o assunto e percebi que a discussão já estava avançada na mídia.

O não cumprimento das metas do Acordo de Paris – por motivos torpes – e o descumprimento da Constituição são considerados motivos suficientes para o impeachment do presidente brasileiro.

Como disse Janio de Freitas (FSP, 25/08/2019):
“Duas obviedades de dimensão amazônica em 
Jair Bolsonaro e seu governo. Uma, o descumprimento de obrigações determinadas pela Constituição, para o meio ambiente e outros fins; outra, o desrespeito a tratados internacionais. Daí resultante, a permissividade concedida à exploração ilegal da Amazônia, cerceada até a aferição científica do dano territorial, tem relação íntima com crime de responsabilidade. Ou lesa-pátria”.

De fato, como disse o Dalai Lama: “A natureza sustenta a vida universal de todos os seres”. Sem natureza não há como manter a humanidade. A ECOlogia precisa estar acima de tudo, especialmente acima do desenvolvimento e da ECOnomia. A 
destruição da Amazônia está atingindo um ponto de não retorno e vai impactar o meio ambiente do Brasil e do Mundo. É preciso salvar a Amazônia e não deixar acontecer o que aconteceu com a Mata Atlântica. Destruir as florestas é destruir o futuro. O ecocídio é também um suicídio.

Portanto, evitar o colapso ambiental requer ações imediatas. “O Ecocídio é um crime contra a humanidade e a vida na Terra” - Tribunal Penal Internacional

Auspiciosamente, começa a tomar corpo no Brasil o movimento “Rebelião da Extinção”, que inspirado nas ideias de Henry Thoreau, utiliza a resistência pacífica (não-violenta) e a desobediência civil para engajar as pessoas na luta contra o colapso climático e ambiental, evitando o holocausto ecológico e o risco de extinção da raça humana e demais espécies. O objetivo da “Rebelião da Extinção” é exercer pressão sobre os governantes e fortalecer a sociedade civil no sentido de enfrentar o caos climático e a degradação dos ecossistemas.

Evitar a ampliação do 
desmatamento e o espraiamento das queimadas é uma emergência ecológica que a sociedade brasileira precisa resolver rapidamente. Inclusive, o Brasil pode perder o título de “potência agrícola” e pode ter suas commodities agropecuárias boicotadas em todo o mundo (até o agronegócio pode sair perdendo). Não só a biodiversidade, mas a segurança alimentar está em jogo.

Segundo o site DW, diante do avanço do 
desmatamento e das queimadas na Amazônia, um grupo de juristas brasileiros prepara desde 23 de agosto uma denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro por crime ambiental contra a humanidade, a ser apresentada ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda. Os juristas argumentam que Bolsonaro pode ser responsabilizado pelo aumento dos danos na Amazônia em 2019 devido à demora da resposta contra as queimadas na região e à atual política ambiental do governo.

A ação está sendo articulada por especialistas em direitos humanos, direito ambiental e internacional. “Estudamos o caso e vemos que os danos ocorridos neste ano na Amazônia podem ser vistos como consequência de declarações irresponsáveis de Bolsonaro, assim como do desmonte de órgãos ambientais e das políticas de Estado de proteção a direitos socioambientais”, afirma a jurista Eloísa Machado, que iniciou a articulação da denúncia”.

Desta forma, a luta contra a degradação ambiental, contra a destruição das florestas e contra a aceleração das mudanças climáticas ocupará o centro das bandeiras das jornadas da 
Greve Global pelo Clima que acontecerá em todo o mundo entre 20 e 27 de setembro de 2017.

No Brasil, além das bandeiras gerais, provavelmente, a bandeira do “Impeachment de Jair Bolsonaro pelo crime de Ecocídio” será uma das propostas debatidas pelos participantes e que pode ser uma luz para este período de “fumaças” que o país vive e que precisa, urgentemente, superar. Trata-se de uma proposta a ser discutida de maneira democrática e visando o bem geral do Brasil, pois o mais importante é salvar a natureza que é a base da vida. 


“Bolsonaro e Salles transformaram o Brasil na escoria ambiental do planeta”
 Yahoo Notícias, em 13.09.2019
  
Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Sucessor de Marina Silva no comando do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Minc teve uma das gestões mais bem-sucedidas na pasta nos últimos anos com redução significativa do desmatamento e a criação do Fundo Amazônia.
Geografo, professor, economista, ambientalista e atual deputado estadual no Rio de Janeiro, Minc conversou com o Yahoo Notícias sobre a política ambiental do governo Bolsonaro e a crise diplomática provocada pela onda de queimadas na Amazônia.
Para ele, o momento é triste e o governo atual cultua o obscurantismo.
Yahoo Notícias: Quais são os principais desafios de um ministro do meio ambiente?
Carlos Minc: Eu fui ministro entre abril de 2008 e abril de 2010. A ministra que me antecedeu foi a Marina Silva que foi uma boa ministra e reduziu bastante o desmatamento, mas no último ano dela [o desmatamento aumentou] de 11 mil para 13 mil quilômetros quadrados.
Então a gente tinha vários desafios. Preparamos um decreto de crimes ambientais sancionado pelo presidente Lula criando a figura do “perdimento”. Isso permitiu apreender o boi pirata, a serraria ilegal, o trator que estivesse desmatando terras indígenas e parques. Criamos grandes operações que envolveram mais de 1000 pessoas em conjunto com o Exército, a Aeronáutica, o Ibama, o ICMBio, a Polícia Ambiental... Apreendemos 40 mil cabeças de gado que estavam sendo usados para invadir, destruir e se apossar de terras protegidas.
Esse gado foi doado para o programa Fome Zero. Mas, só repressão não basta. É preciso também induzir desenvolvimento sustentável. Então nós fizemos o Pacto da Madeira Legal, a Moratória da Soja e o Zoneamento Econômico e Ecológico da Amazônia. E o que era a moratória da soja? Os exportadores tinham que colocar a soja na Europa e nos Estados Unidos. O governo passou a ceder um selo verde e esses exportadores se comprometiam a não comprar soja de área desmatada. Isso foi cumprido em 92% e foi verificado por três satélites. Um do INPE, o satélite da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), e um satélite alugado pelo Greenpeace. A soja deixou de ser um fator relevante no desmatamento da Amazônia.
O Pacto da Madeira Legal atendeu a uma demanda do setor madeireiro que alegava que não existia madeira licenciada e nem plano de manejo. Então a madeira era toda ilegal. E se fosse proibido iriam demitir milhares de pessoas. Então o governo se comprometeu a dobrar a quantidade de madeira legalizada. E eles se comprometeram a comprar madeira só dos produtores licenciados. Isso foi cumprido em 60%. Não foi tão bom quanto a Moratória da Soja. Também trabalhamos em parceria com universidades para fazer o Zoneamento Econômico e Ecológico da Amazônia que serviu para ordenar o território.
Para sinalizar áreas protegidas, apontar áreas que já foram desmatadas e poderiam abrigar indústrias e também para identificar áreas de pasto degradado. Então a orientação do ministério era para recuperar o pasto e ao invés de colocar uma cabeça de gado por hectare colocar três. Desse modo se aumentava a produtividade e evitava o desmatamento. Em dois anos nós reduzimos pela metade o desmatamento da Amazônia. Criamos o Fundo Amazônia –que foi praticamente destruído pelo Bolsonaro e Ricardo Salles--, o Fundo Clima.
O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a adotar metas de redução de emissão de carbono. Os países desenvolvidos tinham assinado o Protocolo de Kyoto. Achávamos que isso era coisa só dos ricos. Só que a China passou a ser a maior poluidora. Índia e Brasil estavam entre os cinco maiores emissores de carbono. Então não adiantava colocar só a culpa nos ricos –o que é verdade. O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a adotar metas de emissão de carbono em 2009 e foi aclamado.
Hoje o Salles e o Bolsonaro estão transformando o Brasil na escória ambiental do planeta. Sinônimo de ameaça aos índios e destruição da floresta. De afetar o aquecimento global. É uma tristeza ver como tanta coisa boa que demorou tantos anos ser destruída.
Yahoo Notícias: Como atingir o equilíbrio entre agronegócio e a preservação do meio ambiente? É uma questão meramente financeira ou passa também por aspectos de conscientização?
Carlos Minc: É importante ter diálogo. Tivemos muito diálogo para a aprovação do Código Florestal. Tivemos lutas intensas e chegamos a um acordo. O ponto central do código era não punir, mas obrigar as áreas desmatadas e as chamadas áreas de proteção permanente que são as encostas e margens dos rios.
O senador Flávio Bolsonaro tem um projeto de acabar com a reserva legal. Isso vai implicar um desmatamento de 90 milhões de hectares não só na Amazônia, mas também no Cerrado e na Mata Atlântica. A eminência da destruição de 90 milhões de hectares corresponde a uma vez e meia toda a emissão de carbono do planeta em um ano. Estivemos eu e outros ex-ministros do meio ambiente recentemente com o Rodrigo Maia para propor uma Moratória da Amazônia.
Fomos com cientistas, a Ordem dos Advogados do Brasil e o Rodrigo Maia concordou em dar uma trava em projetos com grande impacto e discutir seriamente esses projetos. Ele parou com a tramitação de projetos como o, por exemplo, o que abriria terras indígenas para a mineração. Ele concordou que não era o momento de jogar gasolina na fogueira da Amazônia. Existe diálogo sim. Os setores mais prósperos, produtivos e conscientes do agronegócio estão aterrorizados com essa política do Salles e do Bolsonaro. Isso está prejudicando os produtos brasileiros.
O boicote já começou em vários países. Não só do couro. Os setores fortes do agronegócio afirmam que a agricultura brasileira cresceu muito nos últimos anos em produtividade. Aumentamos a produção por hectare de carne, grãos e frutas. Os grandes do agronegócio dizem que não precisam desmatar para aumentar a produção. Podemos fortalecer a Embrapa que avançou muito no combate biológico as pragas que é uma ótima alternativa aos agrotóxicos.
O Salles, o Bolsonaro e a ministra da agricultura Tereza Cristina autorizaram 247 princípios ativos de agrotóxicos dos quais 46 são proibidos na Europa por serem carcinogênicos e mutagênicos, ou seja, provocam câncer e mutação genética. Isso já está refletindo em boicote. Atendendo também a certo protecionismo dos produtores europeus. Mas, como você vai fazer uma loucura dessas tendo expertise em combate biológico a pragas, agricultura orgânica e plantio direto. A Embrapa é top de linha. Setores fortes do agronegócio estão indignados com essa posição que está destruindo a relação com mercados que a indústria brasileira conquistou.
Yahoo Notícias: Mas, excluindo os maiores setores do agronegócio, os produtores medianos ainda não se conscientizaram dos riscos da atual política ambiental...
Carlos Minc: Isso é verdade. Só que com a degradação o setor mais prejudicado será a agricultura. O Cerrado, por exemplo, é a caixa d’água do Brasil. Não existe agricultura sem água. Se você desmata fortemente áreas de preservação terá um efeito direto na agricultura.
Os setores mais atrasados do agronegócio são predatórios. Não querem ter limites. Então eles jogam contra eles próprios. Essa história de dizer que combater o desmatamento econômico é uma mentira. Reduzimos pela metade o desmatamento e crescíamos 3%,4%,5%... Agora estamos desmatando mais.
O país está com 13 milhões de desempregados e a economia patinando. Essa ideia de que combater o desmatamento prejudica a economia é uma falácia. É uma mentira. As queimadas e desmatamentos da Amazônia estão aumentando porque o Bolsonaro e o ministro Salles não acreditam no aquecimento global. Eles desmontaram o Fundo Amazônia que nós criamos. O maior doador é a Noruega. Quando assinamos o acordo, o ministro norueguês falou que eles eram um pequeno país perto da Groelândia e que seriam os primeiros a submergir quando ela derretesse. Para eles era um seguro de vida.
O fundo era gerido pelo Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) que tinha ambientalistas, empresários, índios e representantes dos governadores. Os países doadores não tinham nenhuma influência na escolha dos projetos. Nosso único compromisso era reduzir o desmatamento medido pelo Inpe. Desmontaram a maior iniciativa do mundo para desenvolvimento sustentável. Esse dinheiro era usado para ecoturismo, pesquisa, reflorestamento e apoio ao extrativismo sustentável. O Salles chegou para os noruegueses dizendo que não queria mais nada disso e queria usar o dinheiro para indenizar os proprietários de terras em áreas de preservação. Obviamente que eles não aceitaram. É uma tristeza.
Eles tolhem, esvaziam o Ibama e o ICMBio e incentivam na prática a meterem fogo na Amazônia. Só o governador do Tocantins emitiu mais de 500 licenças para desmatamento. E eles para limpar o terreno metem fogo. São os próprios governadores da base do Bolsonaro que incentivam isso. Quando estivemos com o Rodrigo Maia defendemos o remanejamento de R$ 1 bilhão recuperados da Petrobrás para o Fundo Amazônia. Só que esses governadores precisam mudar de atitude. E ele concordou. Não podemos dar recursos se eles não pararem de incentivar o desmatamento e as queimadas.
Yahoo Notícias: Uma das críticas mais contundentes que se faz ao atual ministro é a sua agenda de trabalho que privilegia sempre ruralistas. Esse governo demonstra ter algum compromisso com o meio ambiente?
Carlos Minc: Falo por mim. Na minha época de ministros eu recebia toda semana produtores rurais e empresários. Fiz acordos afinados com empresários. Mas, também recebia ongs sérias como o SOS Mata Atlântica e uma coisa não impedia a outra. Tínhamos força para negociar com o agronegócio porque tínhamos amplo diálogos com as ongs. O Fundo Amazônia foi discutido com todos.
O Bolsonaro queria acabar com o Ministério do Meio Ambiente e deixar o Acordo de Paris. Só que a pressão foi tanta que ele não conseguiu. O que ele fez? Colocou a frente do ministério uma pessoa que é contra o meio ambiente. Que é um ruralista. A Folha de S.Paulo fez uma reportagem que o Salles só recebe ruralistas e fazendeiros. Como que um ministro do Meio Ambiente não recebe ambientalistas?
O Bolsonaro conseguiu montar um ministério... Temos um Ministério do Meio Ambiente que o ministro não gosta de ecologia. Uma ministra das Mulheres que a ministra não gosta das feministas. Uma secretária da cultura que quer censurar os filmes da Ancine... Parece um anti-ministério. É um momento triste de obscurantismo.
Yahoo Notícias: Qual a importância do Inpe para coibir o desmatamento?
Carlos Minc: O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tem prestígio internacional. É uma entidade composta por cientistas. Só consegui diminuir o desmatamento quando ministro por conta do trabalho do Inpe. Não só nas pesquisas anuais como nas pesquisas semanais. Os dados do Inpe orientavam as grandes operações de combate ao desmatamento.
Quando criamos o pacto da Madeira Legal era o Inpe que fiscalizava se as metas estavam sendo cumpridas. Quando fizemos o Zoneamento Econômico e Ecológico da Amazônia o Inpe ajudou tremendamente. Não só o Inpe, mas também o Exército. Como o dado do Inpe demonstrou que o desmatamento havia aumentado o Bolsonaro quis desacreditar a entidade.
O Inpe, a Fiocruz, a Amazônia não são do Bolsonaro. Pertencem ao povo brasileiro. Esse governo vai passar e essas entidades devem perdurar. Não é admissível nessa altura do campeonato aturar que um governo desqualifique o meio ambiente, a cultura, a diversidade... Não podemos voltar para a idade média.
Yahoo Notícias: O senhor acredita que existe um aparelhamento –ou uma tentativa—dessas entidades pelo governo atual?
Carlos Minc: Claro. Eu vou te dar um exemplo. Quando fui ministro poderia indicar alguém da minha confiança para o ICMBio. Não fiz isso. Criamos um comitê de busca para identificar o melhor candidato. O que o Salles fez no ICMBio? Ele demitiu toda a direção e colocou quatro oficiais da PM de São Paulo. O pessoal até brincava que a entidade passou a se chamar “IPMBio”. Eu não tenho nada contra a PM. Pelo contrário.
Agora você ter a disposição um quadro de pessoas preparadas e escolher aparelhar uma entidade que é responsável por fiscalizar todos os parques nacionais e reservas. Não é possível é uma brincadeira. Um exemplo disso foi a tentativa de transferir o biólogo José Martins de Fernando de Noronha. O maior especialista brasileiro em golfinhos que, por ter dado um parecer contrário ao aumento de transatlânticos na área dos golfinhos, foi deslocado para o sertão pernambucano aonde não existe nenhum golfinho. Claro que ele entrou na justiça e voltou a trabalhar em Fernando de Noronha. Só que isso mostra um obscurantismo. Você pega uma autoridade internacional no estudo dos golfinhos e manda ele para o sertão? Só falta acender a fogueira da inquisição e além de queimar a Amazônia, queimar os livros, os cientistas, os gays e as bruxas feministas. Isso não é admissível.



Yahoo Notícias: Qual a importância de resguardar a ciência brasileira para preservação do meio ambiente?
Carlos Minc: Na reunião que os ex-ministros do Meio Ambiente tiveram com o Rodrigo Maia fizemos questão de levar o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o físico Ildeu de Castro Moreira. Eles vão participar das audiências da Câmara e do Senado sobre implicações ambientais de alguns projetos em tramitação. Levantamos a bola para o Congresso. Queremos mostrar que enquanto o presidente e alguns ministros desqualificam a ciência, o Congresso brasileiro recebe cientistas e conversa com eles demarcando que nem todo o Brasil reza pela cartilha obscurantista do Bolsonaro.
Yahoo Notícias: Em meio à crise das queimadas, o presidente Jair Bolsonaro chegou a insinuar que os autores do crime ambiental seriam os responsáveis pelas ONGs que atuam na região. Como era a sua relação com as ONGs quanto ministro?
Carlos Minc: Eu conheço bem as Ongs que atuam na Amazônia. Primeiro que não são muitas como o Bolsonaro tem propagado. Cada uma tem poucas pessoas. São pesquisadores. Pessoas que dedicam a vida a estudar e defender a fauna, a floresta e a estudar os princípios ativos das plantas. Muitos desses princípios ainda desconhecidos... Para você ver... Estamos incinerando um tesouro de potencialidades desconhecidas. São pessoas que dedicam a vida a preservar, conhecer, discutir questões ligadas ao bioma, ao ecossistema, as nações indígenas, a fauna, a flora, as cadeias alimentares etc. Imagina se essas pessoas vão deixar os seus laboratórios e pegar uma motocicleta para sair incendiando a floresta? Tocar fogo naquilo que eles dedicam a vida a defender?
É uma coisa tão sem sentido. O presidente ataca pessoas que dedicam a vida a defender a floresta sem nenhuma prova. De cara limpa. Isso é uma das coisas que indignou muita gente em todo o mundo. O Bolsonaro se elegeu dizendo que iria aproximar o Brasil do Ocidente. Em poucos meses ele criou crises com a França, com a Noruega, com a Alemanha... É um estelionato eleitoral. É um momento triste, mas nem por isso nós vamos nos recolher. O Congresso é um contraponto que vem derrubando várias propostas absurdas do Bolsonaro. A Justiça também tem barrado várias propostas dele... E vamos continuar resistindo.


Papa não vai omitir destruição do meio ambiente no Sínodo da Amazônia, diz Igreja

ESTADÃO - Felipe Frazão

BRASÍLIA – A Igreja Católica afirmou nesta quarta-feira, dia 11.09.2019, por meio de um representante enviado à Câmara dos Deputados, que o papa Francisco não vai omitir a destruição do meio ambiente nas orientações pastorais que fará após o Sínodo da Amazônia, a ser realizado em outubro, na Cidade do Vaticano.

Preocupado, o governo Jair Bolsonaro manifestou à Santa Sé insatisfação por ver na pauta da assembleia de bispos brechas para enfraquecer a soberania nacional e desgastar, no exterior, propostas já feitas pelo presidente. Em resposta, a Igreja disse que há interpretações “descontextualizadas, superficiais e incorretas” sobre os objetivos do sínodo.

“As orientações pastorais que possivelmente serão lançadas pós-encontro de outubro não podem jamais negligenciar o que hoje está pedindo o povo presente nessa porção do território mundial. E não pode ser omissa em relação a situações de destruição do ambiente, fonte de vida para essa e futuras gerações”, disse Leon Souza, coordenador de articulação da Rede Elesial Pan-amazônica (Repam-Brasil), entidade católica que faz parte da organização do sínodo.

“O fazemos não por opção de lado A ou B de governos, mas porque o evangelho e nossa fé nos convocam a este compromisso, que, recordo, não começa em 2018 e 2019”, afirma.
Um sínodo é uma espécie de encontro mundial de bispos, convocado de tempos em tempos pelo papa para discutir temas predeterminados por ele. O da Amazônia será a décima assembleia especial. Em 2017, dois anos depois de lançar a Encíclica do Meio Ambiente, a Laudato Si, na qual critica o modelo de desenvolvimento e o consumismo, o pontífice convocou o Sínodo da Amazônia, a pedido também dos bispos brasileiros.

“Essa assembleia sobre a Amazônia foi convocada pelo papa Francisco em 15 de outubro de 2017, portanto, um tanto distante temporalmente da atual conjuntura que a gente tem vivido, sobretudo política e ambiental, e que tem gerado discursos e interpretações descontextualizadas, superficiais e incorretas sobre a finalidade do sínodo”, afirmou Souza aos deputados.

O sínodo dura três semanas, entre os dias 6 e 27 de outubro, durante as quais assembleias de bispos e especialistas convidados pelo papa discutirão problemas e propostas feitas pela Igreja no Instrumento Laboris, o documento de trabalho que orienta o encontro. Em Roma, só os bispos terão direito a voto. No dia 27, o papa encerrará o sínodo com uma missa. Em seguida, emitirá uma “exortação apostólica”, documento com diretrizes ao conjunto da Igreja.

O documento de trabalho foi elaborado pela secretaria do sínodo, depois que religiosos fizeram um processo de escuta com mais de 87 mil pessoas nos noves países sul-americanos pelos quais a floresta se alastra.

Segundo Leon Souza, os documentos do sínodo, que causaram apreensão no governo Bolsoanro, não são fruto de uma “criação abstrata” dos especialistas que assessoram o sínodo e religiosos da Repam, mas “uma síntese difícil de fazer sobre o que hoje ecoa com mais força na Amazônia brasileira e em mais oito países”. “Podemos e devemos aprimorar tudo que está no documento, por isso e para isso a assembleia vai se reunir na Cidade do Vaticano”, explicou ele.

Conforme o coordenador da Repam, a Igreja Católica defende “outros modelos de desenvolvimento que considerem, irredutivelmente, a dignidade dos povos em e de seus territórios”.

Depois dos atritos com o governo e militares, a Igreja Católica decidiu buscar o apoio de parlamentares em defesa do sínodo.

Nesta quarta-feira, a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados promoveu uma audiência pública com o tema “Sínodo da Amazônia e a relevância da Zona Franca de Manaus para a preservação ambiental e sobrevivência dos povos da floresta”. Além da defesa do sínodo, a audiência serviu como uma forma de a bancada do Amazonas discutir mais investimentos e a manutenção da zona franca.

Convidado, o relator-geral do sínodo, cardeal d. Cláudio Hummes, não compareceu por motivos de saúde.

Na semana passada, a organização do sínodo fez um ato em defesa da floresta na Câmara. O bispo do Marajó (PA), d. Evaristo Spengler, discursou na tribuna e entregou aos deputado a Carta de Belém, texto no qual os clérigos se dizem “criminalizados” e tratados pelo governo como “inimigos da Pátria”.

EM TEMPO: Parabéns para o Papa Francisco. Afinal de contas os cristãos de todas as religiões não podem vacilar diante de um pecador que é o presidente Bolsonaro e sua turma de auxiliares e Ministros.  Sérgio Moro, por exemplo. 


Lágrimas de crocodilo não apagam fogo

 
(Foto: Sentinel Hub)
Por Pedro Marin
Revista Opera

Em 1977, em um encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Darcy Ribeiro postulou: “Nunca se viu, em outra parte, ricos tão capacitados para gerar e desfrutar riquezas, e para subjugar o povo faminto no trabalho, como os nossos senhores empresários, doutores e comandantes. […] Eles tramam e retramam, há séculos, a malha estreita dentro da qual cresce, deformado, o povo brasileiro.”
Ele continua: “A renda per capita dos escravos de Pernambuco, da Bahia e de Minas Gerais – eles duravam em média cinco anos no trabalho – mas a renda per capita dos nossos escravos era, então, a mais alta do mundo. […] O valor da exportação brasileira no século XVII foi maior que o da exportação inglesa no mesmo período. O produto mais nobre da época era o açúcar. Depois, o produto mais rendoso do mundo foi o ouro de Minas Gerais, que multiplicou várias vezes a quantidade de ouro existente no mundo. […].
O café, por sua vez, foi o produto mais importante do mercado mundial até 1913, e nós desfrutamos, por longo tempo, o monopólio dele. […] Depois, por algumas décadas, a borracha e o cacau deram também surtos invejáveis de prosperidade que enriqueceram e dignificaram as camadas proprietárias e dirigentes de diversas regiões. […] aqui no Brasil se tinha inventado ou ressuscitado uma economia especialíssima, fundada num sistema de trabalho que, compelindo o povo a produzir o que ele não consumia – produzir para exportar -, permitia gerar uma prosperidade não generosa, ainda que propensa, desde então, a uma redistribuição preterida.”
Não há como entender a cortina de fumaça que, vinda da Amazônia, toma o céu paulistano, sem entender que São Paulo, a genial e rica metrópole, é só um ponto de parada da grande malha comercial que começa no Norte, Nordeste ou no Centro-Oeste, para terminar numa fábrica norte-americana, chinesa ou holandesa. 
Malha sustentada, como foi desde sempre, por produtos primários; extraídos da terra ou nela plantados por máquinas infernais, que não são consumidos por nosso povo, mas que, por ele produzido, é negociado em importantes bolsas paulistanas, para gerar um lucro inútil, que se conforta nos bolsos de uns poucos no Brasil, assentando o progresso de outras nações e, ao mesmo tempo, reforçando nossa dependência. Em verdade, a fumaça que escureceu o céu na semana passada está lá todo o dia, apesar de tão meticulosamente escondida.
20% de nossas exportações são minerais e petróleo. 17%, produtos vegetais – com destaque para a soja, que representa 12% dessa fração. Mais 12% são alimentos, 7,4% são metais e 7,1% produtos animais. De forma que temos já 63,5% de todas as nossas exportações baseadas em fazer de nosso país um fazendão. E ainda assim, os críticos porém moderados jornalistas no rádio, criticando o presidente pela Amazônia, nos reiteram da importância do agrobusiness, que gera, dizem eles, muita riqueza para o país. É aquela riqueza da qual falou Darcy – prosperidade não generosa, prosperidade pura, livre de quaisquer comprometimentos sentimentais. É a riqueza pela qual choram os primeiros crocodilos, que entre uma bocada e outra nos dizem cuidadosamente: “não podemos criminalizar o agronegócio.”
Há depois o crocodilo francês que ocupa a cadeira presidencial, Emmanuel Macron, que tomou suas próprias lágrimas para convocar o tema da Amazônia numa reunião do G7 – o clube dos sete países mais ricos do mundo. Macron, o “moderado” que é abraçado por nossos progressistas liberais estúpidos e infantis, deixou claro que compartilha, no âmago, um pouco do espírito do professor de Harvard Stephen Walt, que na Foreign Policy, sob o título “Quem invadirá o Brasil para salvar a Amazônia?“, faz uma série de considerações “hipotéticas” e “especulativas” para fixar que “é só questão de tempo até que os grandes poderes tentem impedir a mudança climática por quaisquer meios necessários.” 
Ao mesmo tempo em que adota o termo “soberania nacional” para tratar da questão amazônica, Macron questiona se seria possível “definir um status internacional da Amazônia“, dizendo que “a importância [da Amazônia] é tão grande no plano climático que não se pode dizer que ‘é apenas meu problema’”. Pois digo, Monsieur Macron: é só nosso problema. Se a França tanto se preocupa, que trate de compensar os 1,5 bilhões que importa do fazendão do Brasil em transferência tecnológica e desenvolvimento para nosso país. Ou, melhor: que trate de pagar mais, em termos absolutos e relativos, pelo que se produz aqui.
Houve também os crocodilos fardados. O general Villas Bôas chegou a citar Ho Chi Minh para se opor ao colonialismo francês: “A questão que se coloca é de onde viria autoridade moral daquele país [França] que, como disse Ho Chi Minh, é a pátria do Iluminismo, mas quando viaja se esquece de levá-lo consigo”. O Lar dos Livres, Terra dos Bravos, os EUA, também se esquecem de levar a liberdade ou a bravura para suas novas colônias. Ao invés disso, alugam os generais locais, como foi feito em 1964, para torturar e impôr. O general Eduardo Villas Bôas, agora tão preocupado com a soberania, se cala frente a entrega da Base de Alcântara e a venda da Embraer aos norte-americanos. 
Na nova Doutrina Monroe, enche o peito frente aos franceses, mas se ajoelha aos norte-americanos; fala contra Macron mas aceita de bom grado a anunciada ajuda norte-americana e israelense. Teria ele autoridade moral para falar em soberania? O jornal Valor Econômico noticia o que já era esperado: o núcleo militar do governo se fortaleceu na briga de galo entre Bolsonaro e Macron, isolando Salles. Diz o jornal: “O socorro dos militares na crise da Amazônia, entretanto, impôs condições que o presidente deverá seguir. Com a crise internacional, Bolsonaro precisou dos militares, dois deles ex-comandantes na Amazônia com autoridade para falar sobre a floresta: o ex-comandante do Exército Eduardo Villas-Bôas e Heleno […] Foi de Heleno a ideia de convencer Bolsonaro a editar decreto que autoriza o emprego das Forças Armadas para Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia.” Os fardados não defendem a soberania do Brasil – mas sua posição como Soberano.
Por fim, há o estúpido presidente brasileiro. Primeiro, tentou colocar a culpa pelo fogo nas “ONGs”. Depois de dizer em cadeia nacional que “não gostamos do que estamos vendo” – nós não gostamos mesmo, presidente! – e de aparentemente ser enquadrado pelo Partido Fardado, voltou atrás e anunciou que investigará a denúncia de que um grupo de fazendeiros no Pará combinou um “Dia do Fogo” em apoio ao presidente. 
Como diz a matéria do jornal Valor Econômico, “Na avaliação de uma fonte do governo que acompanha o gabinete de crise […] as queimadas na floresta amazônica poderiam ter sido acudidas com a ação rotineira do Ibama em articulação com governos estaduais e forças policiais federais, como sempre acontece todos os anos.” Mas Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atacaram o Ibama e o ICMBio constantemente (este último teve o comando trocado por militares), desautorizaram multas, aplaudiram madeireiros e contingenciaram gastos. Também fazem frente única contra os chamados índios, aqueles povos que sabem ocupar a mata sem destruí-la.
Já há uma Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, que tem como membros Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Suriname, Guiana, Peru e Venezuela, e que pode muito bem tratar conjuntamente da questão das queimadas. Bolívia, Venezuela e Peru já pediram uma reunião, mas aparentemente seguem solenemente ignorados por um Brasil que busca refúgio em Trump. Não há solução para a Amazônia que não passe por uma mudança na matriz econômica brasileira. Se o mundo espera de nós um fazendão, e se nós nos ajoelhamos ao mundo, é o fazendão que avançará – inclusive sobre a floresta. 
Ou o Brasil se volta antes de tudo para si e seu povo, ou a fronteira agrícola seguirá avançando. É neste o ponto que Macron, generais, “moderados”, Bolsonaro e Trump não querem tocar – porque são todos sócios na dependência brasileira. Se choram frente às câmeras, por trás da cortina de fumaça brindam e riem enquanto movem suas peças no xadrez político e geopolítico. Os crocodilos não cabem na Amazônia; o rio Amazonas é água de jacaré. Chorando, brigando, ou ocupando-a, representam ainda um grave desequilíbrio ambiental: com cada um deles buscando um ganho, quem perde é o Brasil.
Pedro Marin
23 anos, é editor-chefe e fundador da Revista Opera. Foi correspondente na Venezuela pela mesma publicação, e articulista e correspondente internacional no Brasil pelo site Global Independent Analytics. Tem artigos publicados em sites como Truthout, Russia Insider, New Cold War, OffGuardian, Latin America Bureau, Konkret Media e Periferia Prensa. É autor de “Golpe é Guerra – Teses para enterrar 2016”.

Bolsonaro queima o Brasil para o mundo

ISTO É - Marcos Strecker


© Reprodução IRADO O presidente Jair Bolsonaro espelha Nero, o Imperador Romano. Só faltou a harpa

Ainda não é possível dimensionar a extensão do dano ambiental que a atual temporada de queimadas na Amazônia provocou. O estrago à imagem do Brasil, no entanto, já é uma realidade – tornou-se gigantesco, sem precedentes na recente história republicana. Em oito meses de gestão, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu um feito às avessas: aniquilou a reputação do País em um dos poucos setores em que brilhávamos soberanos, o da preservação das nossas florestas. Agiu como Nero, o Imperador tirano e autoritário que, para reafirmar seu poder, ordenou o incêndio criminoso em Roma no trágico 18 de julho de 64 d.C. Enquanto Roma ardia em chamas, Nero tocava sua harpa.

A chamada estação anual do fogo sempre existiu. É fato. Bolsonero sabotou, porém, todas as formas de combatê-la ao anunciar sua oposição às multas do Ibama, proibir que fossem destruídos equipamentos clandestinos na mata, questionar os dados do INPE, demitir seu diretor e romper com o Fundo Amazônia. Especialistas são unânimes em afirmar que o grau de desmatamento é inversamente proporcional à fiscalização. Quando esta diminui, o outro aumenta. É como se os desmatadores tocassem sua harpa de ouvido. Se o mandatário inclina-se à permissividade, o sinal verde está dado para a valsa fúnebre das queimadas.

Não à toa, o assunto dominou as manchetes de todos os grandes jornais e TVs. Líderes se reuniram para debater o assunto e celebridades como o ator Leonardo DiCaprio e o jogador Cristiano Ronaldo se mobilizaram. A hashtag #PrayForAmazonia (reze pela Amazônia) foi a mais compartilhada do planeta. É como se o dia 19 de agosto, quando o dia virou noite em São Paulo por causa de uma frente fria associada à fuligem, tivesse feito “cair a ficha” da comunidade internacional as queimadas desprovidas de freio, que já preocupavam pelo discurso antiambiental de Jair Bolsonaro. Para o Brasil, o episódio se revelou devastador.

A briga com Macron

O primeiro chefe de governo a denunciar a crise internacional, às vésperas do G7, foi o presidente francês Emmanuel Macron. Ele aproveitou a reunião para sensibilizar os outros chefes de Estado na cidade francesa de Biarritz. O grupo evitou criticar o presidente brasileiro diretamente e anunciou US$ 20 milhões de ajuda. Bolsonaro reagiu de forma previsível — e lamentável. Atacou o francês, descartou o problema dos incêndios, insinuou um complô externo, recusou o auxílio e deu combustível ao conflito. Apostou no confronto falando com a bolha — seus apoiadores nas redes sociais. 

A sua popularidade, já negativa no exterior, se deteriorou de vez quando ele resolveu praticar seu esporte predileto: a verborragia desenfreada. Dessa vez, no entanto, ele conseguiu ultrapassar os limites da civilidade. Sem escrúpulos de delicadeza para com uma mulher, publicou no perfil oficial do presidente no Facebook uma inefável estupidez contra a primeira-dama da França, Brigitte Macron. Na visão de um apoiador-bajulador, o entrevero entre Emmanuel Macron e o presidente brasileiro, por conta da crise ambiental, seria resultado da “inveja” do presidente francês diante da “beleza” da primeira-dama brasileira, Michelle Bolsonaro. A descortesia deveria passar despercebida, mas o presidente preferiu endossá-la. “Não humilha, cara. Kkkkkkk”, respondeu o chefe do Poder Executivo (leia mais a partir da página 28). Foi o que faltava para que todos se voltassem contra ele — e consequentemente contra o Brasil.

Os números são mais eloquentes do que o léxico adolescente daquele que está acomodado na cadeira presidencial. Foram quase 28 mil focos apenas em agosto, segundo o INPE, superando a média dos últimos 21 anos para o mês. Confrontado com a realidade, o presidente preferiu apontar o dedo para as próprias ONGs que lutam pela preservação. Depois, culpou produtores rurais, provocando mais reações. Só se mexeu depois que a crise já fugia ao controle, na sexta-feira 23. Anunciou o envio de tropas e foi à TV em rede nacional para dizer que adotaria uma política de “tolerância zero” com as queimadas ilegais. 

Convocou uma reunião de governadores da região na terça-feira 27, mas decepcionou novamente. Em vez de anunciar medidas concretas de combate ao fogo, preferiu atacar os governos passados que promoveram o aumento de reservas indígenas e o “uso político da região”. Foi lembrado pelos próprios governadores que atacar o presidente francês não resolvia o problema imediato, e que as verbas do G7 não deveriam ser desperdiçadas. Somente após esse alerta o chanceler Ernesto Araújo disse que o valor oferecido pelo britânico Boris Johnson, 10 milhões de libras, seria aceito. E a medida mais efetiva só veio na quarta-feira 28, quando Bolsonaro assinou um decreto que proíbe, por 60 dias, o emprego do fogo no País.

O presidente é movido por doutrinas ultrapassadas. Desde os anos 60 o Exército discute textos que pregam a integração do território como imperativo da segurança nacional. O slogan “integrar para não entregar” simbolizava o Plano de integração Nacional, de 1970, que previa a mobilização de garimpeiros para explorar ouro. Esse projeto só foi aposentado no governo Sarney. Essas teses fazem parte da retórica de Bolsonaro. 

Trata-se de um orgulho nacionalista antiquado que não aceita o apoio de outros países à região. Ao contrário, considera-os contrários aos interesses nacionais. “Soberania da região e suas riquezas é o que, verdadeiramente, está em jogo”, afirmou. O presidente, que estava escanteando o núcleo militar do governo, usou a oportunidade para uma reaproximação. Escalou o general Villas Bôas, assessor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para tuitar que a França estava realizando “ataques diretos à soberania brasileira”, com “ameaças de emprego do poder militar”.

Por suas ações, o governo realmente acredita que deve aumentar o desmatamento e a ocupação. “Está ficando claro que promove um modelo de desenvolvimento que não leva em conta valores ambientais, a biodiversidade e os direitos dos povos indígenas. Pelo menos é essa a imagem que a comunidade internacional está recebendo”, diz Aaron Cosbey, do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, um think tank com escritórios no Canadá, EUA e Suíça. 

A tese do “direito ao desenvolvimento”, que justificaria o desmatamento e permeia o discurso oficial, já foi superada há muito tempo. E isso ocorreu com uma ação hábil do próprio Itamaraty. A diplomacia brasileira consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável, que visa a queda nas taxas de desmatamento florestal, a expansão da energia limpa e o aumento da produção e da produtividade agrícola — as ações que o governo deveria estar implementando. Trata-se de um equívoco econômico e estratégico. As queimadas ilegais minam a riqueza potencial e comprometem a saúde das próximas gerações. 

De turismo a produtos farmacêuticos, há um mar de oportunidades na região. Fechando os olhos para a devastação, o governo na verdade coloca em risco o agronegócio, que não precisa eliminar florestas para se expandir — como afirmaram os líderes dos produtores.

A crise de imagem, por outro lado, torna o Brasil vulnerável ao protecionismo, que cresce no mundo. O tema ambiental é conveniente para quem teme o potencial econômico brasileiro. Há a pressão de lobbies agrícolas europeus, mas creditar a reação de países como a França apenas a esses interesses — como fez Bolsonaro — é uma miopia, que pode prejudicar tratados comerciais como o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, negociado por mais de 20 anos. 

Essa ameaça foi amenizada, num primeiro momento, pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo premiê britânico, Boris Johnson. E parece distante com o recém-fechado acordo de livre comércio do Mercosul com Noruega, Suíça, Liechtenstein e Islândia. Mas poderá haver consequências. A União Europeia pode suspender a importação de carne e soja do Brasil — ameaça feita pela Finlândia, que ocupa a presidência rotativa do bloco. 

Pior, há um risco de haver um movimento dos próprios consumidores contra produtos nacionais, ainda que a maior parte dos itens exportados seja formada por commodities. “Mesmo se não ocorrer um veto governamental organizado contra a carne brasileira, certamente haverá pedidos de boicote por parte de consumidores, que vão pressionar os supermercados para não comprarem itens brasileiros”, diz Aaron Cosbey.

A crise pode ter novos desdobramentos. Juristas brasileiros preparam uma denúncia contra o presidente por crime ambiental contra a humanidade, a ser apresentada ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda. Bolsonaro pode ser responsabilizado por ecocídio. Seria uma reviravolta no conceito externo do País. O Brasil até recentemente era um dos líderes na agenda ambiental, com um dos códigos florestais mais restritivos do mundo e 60% de reservas florestais preservadas. Mas o presidente parece não entender a natureza do problema. 

Tenta emular Donald Trump, que tem a seu favor o poder e influência de seu país — e foi um dos poucos líderes a lhe dar apoio. No caso brasileiro, a imitação soa ridícula. Bolsonaro age contra os interesses nacionais ao confundir progresso com destruição de patrimônio levada a cabo por uma agenda arcaica. Assim, dá razão ao jornal The New York Times, que, enquanto a Amazônia ardia, o classificou como “o menor e mais mesquinho” dos líderes mundiais. Como um dia já foi tachado Nero.


Maduro culpa Bolsonaro por incêndios na Amazônia

ESTADÃO - EFE  -  Dia 30.08.2019
 
© Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, culpou nesta quinta-feira, 29, o presidente Jair Bolsonaro pelos incêndios registrados na Amazônia e acusou o governo brasileiro de querer entregar a floresta para a "oligarquia dos fazendeiros".

"Quanto nos doeu os incêndios que Jair Bolsonaro provocou na Amazônia brasileira (...). É o fascismo destruindo os direitos sociais e ele não fica só com a destruição dos direitos sociais, mas entregou a Amazônia aos fazendeiros que estão a incendiando", disse Maduro.

Há uma semana, o governo da Venezuela ofereceu uma "modesta ajuda" para combater as chamas que afetam áreas da floresta no Brasil e na Bolívia.

Nesta quarta-feira, 28.08.2019, porém, Bolsonaro e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, articularam uma reunião de líderes dos países amazônicos sem a Venezuela, que tem parte da floresta em seu território, para debater medidas conjuntas de prevenção e combate aos incêndios.

Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia tem 7,4 milhões de quilômetros quadrados, que estão espalhados por oito países - Brasil, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Suriname e Guiana Francesa.


Libération diz que popularidade de Bolsonaro “virou fumaça”

© Fotomontagem RFI
RFI

jornal Libération desta quarta-feira (28.08.2019) traz uma matéria de página dupla sobre a queda de popularidade de Jair Bolsonaro. No título, a publicação diz que a simpatia pelo presidente brasileiro “virou fumaça”, vinculando as últimas pesquisas de opinião pública às queimadas na Amazônia.

A correspondente do Libé no Brasil, Chantal Rayes, relata que após perder total credibilidade no cenário internacional, o presidente Jair Bolsonaro passou a contar somente com o apoio de sua ala mais radical. “Ele é o chefe de Estado mais detestado no mundo. O Brasil nunca chegou a passar por uma crise de imagem tão grave, mesmo durante a ditadura”, afirma o ex-diplomata Rubens Ricupero.

A jornalista lembra que boa parte da reputação internacional do Brasil vem da proteção da maior floresta tropical do planeta, conhecida com o pulmão do mundo. “Bolsonaro acreditou, erroneamente, que a promessa de mudar as políticas do Ministério do Meio Ambiente para fortalecer o agronegócio, havia recebido o aval da maioria do povo brasileiro”, conta Chantal. “No entanto, em uma recente pesquisa, 96% dos entrevistados são a favor de regras mais duras contra o desmatamento”, ressalta.

Popularidade despencou

Com isso, a cota de popularidade de Bolsonaro nunca esteve tão baixa. Pela primeira vez, os brasileiros que julgam seu governo como ruim ou péssimo passaram a ser maioria (54% em agosto, contra 28% em fevereiro). Já o número de opiniões favoráveis passou de 57,5% à 41%. “Cada vez mais brasileiros têm vergonha de Jair Bolsonaro”, afirma o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. “Muitos se arrependem de ter votado nele”, ressalta.

Até mesmo exportadores agrícolas criticam as atitudes do presidente brasileiro. Essas empresas, que batalham há anos para desvincular suas marcas do desmatamento, fazem pressão sobre Bolsonaro para tentar levá-lo de volta à razão. Com o objetivo principal de garantir que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul não seja comprometido.

Macron sai fortalecido no cenário internacional

Os embates com o presidente francês, Emmanuel Macron, ajudaram Bolsonaro a fidelizar o seu eleitorado mais radical, “o único que o interessa”, segundo Renato Janine Ribeiro. “Mas politicamente, Bolsonaro permitiu que Macron melhorasse sua imagem internacional perante os defensores ecológicos”, afirmou.

Agora, Bolsonaro fará de tudo para deixar a França de fora de discussões sobre a preservação da Amazônia, buscando ajuda em aliados, como os Estados Unidos e Israel, “os dois únicos países que contam para ele”, conclui Renato Janine Ribeiro.


Qual o interesse de Macron, Merkel e o G7 diante do fogo bolsonarista na Amazônia?

Quais os interesses imperialistas no seio da depredação bolsonarista da Amazonia?

Por André Acier  -  Natal | @AcierAndy   

Incêndios na Amazônia, interesses dos imperialistas e do agronegócio brasileiro e a "briguinha de compadres" entre Macron versus Bolsonaro (grifo do blog)

A crise com a devastação da Amazônia pela sede predatória de Bolsonaro e dos capitalistas do agronegócio ganhou novas proporções. O tema ganhou repercussão internacional e agora envolve um choque mais direto entre o governo de extrema direita no Brasil, de um lado, e algumas potências imperialistas, em particular a França, de outro.

Emmanuel Macron, presidente de uma das mais antigas nações colonialistas da terra, buscou nestes últimos dias se apropriar, em função de seus objetivos particulares, da ira mundial desatada diante da destruição da maior floresta tropical do mundo pelo agronegócio brasileiro. Na reunião o G7 - cúpula que abriga os países líderes da espoliação mundial - Macron sugeriu tomar medidas acerca do tema. Jornais alemães como o Die Zeit sugerem que chegou o momento de aplicar sanções contra Bolsonaro.

Na fase atual do conflito,  Macron acusou Bolsonaro de mentir ao assumir compromissos em defesa do ambiente na cúpula do G20, em junho, e afirmou que isso inviabilizaria a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul (a Irlanda seguiu a mesma linha). Esse acordo comercial entre os dois blocos - um pacto de submissão do Cone Sul aos mandamentos do capitalismo europeu - prevê, em 15 anos, zerar as tarifas de importação sobre cerca de 90% do comércio bilateral, aprofundando o viés agrário-exportador do Brasil em troca da importação da manufatura e alta tecnologia.

Desde a cúpula do G20 Macron (com o beneplácito da chanceler alemã Angela Merkel) e Bolsonaro vem se engalfinhando em disputas retóricas, e lançando mão de uma verdadeira constelação de hipocrisias: o governo francês tenta se retratar como “o maior defensor da biodiversidade e da natureza”, escudado no Acordo de Paris de 2015, enquanto Bolsonaro chegou ao cúmulo de se postar  como “combatente pela soberania nacional contra a mentalidade colonial” dos europeus.

É impossível defender a biodiversidade e os recursos naturais amazônicos sem atacar profundamente os interesses dos capitalistas, tanto os nacionais quanto os estrangeiros, que fazem a Amazônia - fundamental, entre outras questões, para a regulação da temperatura na terra - arder em chamas, espremida entre o agronegócio e a voracidade imperialista.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer, como se ainda restassem dúvidas: Bolsonaro (assim como a cúpula das Forças Armadas, estruturalmente vinculadas aos EUA desde a II Guerra Mundial) não tem nenhum viés de defesa soberana dos recursos naturais brasileiros. É um capacho que se ajoelha no altar de Trump e dos Estados Unidos; um literal lambe-botas que entrega tudo o que pode, desde a base de Alcântara no Maranhão, passando pela privatização de inúmeras empresas estatais com o objetivo de entregá-las aos Estados Unidos (com a ajuda inestimável da pró-imperialista Lava Jato), até a permissão para que uma empresa privada dos EUA monitore  a Amazônia no lugar do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

As medidas reacionárias de Bolsonaro são ataques diretos aos povos indígenas e quilombolas, e aos meios de existência de toda a população em benefício do agronegócio, dos bancos e empresários.

Prova de seu capachismo  desenvolto é a própria assinatura do acordo comercial Mercosul-UE. Como dissemos, Bolsonaro e seu governo firmaram um pacto de escravização dos trabalhadores brasileiros à volúpia dos conglomerados econômicos da Alemanha, da Holanda, da Bélgica e da mesma França cuja mentalidade colonialista julga combater.

Entretanto, as frases feitas de Macron, Merkel, Boris Johnson e outros governos imperialistas sobre a “defesa da Amazônia” não passam disso: frases demagógicas, cínicas e mentirosas. França, Alemanha, Inglaterra, Estado Espanhol, Holanda, Bélgica não nutrem qualquer interesse pela preservação do meio ambiente.

São depredadores em grande escala. Sua patranha em defesa da Amazônia coloca em primeiro plano o alerta contra qualquer ilusão em que os maiores países opressores do mundo poderiam dar uma saída benéfica aos problemas ambientais causados pelo próprio sistema capitalista que comandam.

três grandes eixos de conflito que atravessam a crise amazônica, que revelam que a brutalidade de Bolsonaro não nos pode levar a cair na armadilha dos interesses vorazes do imperialismo e seus monopólios, exímios destruidores das riquezas naturais no mundo todo:

1. Guerra comercial Estados Unidos e China

Um dos principais fatores materiais que movem a crise ambiental brasileira é a postura do Brasil em meio a guerra comercial entre Donald Trump e Xi Jinping.

O agronegócio brasileiro quer aproveitar a janela de oportunidade que se abriu para a exportação de grãos para a China. Isso porque este país aplicou tarifas à soja dos EUA, prejudicando o preço desse produto norte-americano em represália às tarifas que Trump aplicou contra a China. As novas tarifas chinesas atingem o valor de U$S75 bilhões sobre a soja estadunidense. 

Como o grão norte-americano ficou mais caro, a China substituiu as compras dos EUA pelo produto do Brasil. Com isso, o Brasil se tornou o maior exportador de soja para China – e do mundo. Em 2018, o primeiro ano da guerra comercial, as exportações brasileiras para a China cresceram 35% na comparação com 2017, gerando uma balança comercial positiva para o Brasil em US$ 30 bilhões. A soja foi a maior beneficiada, com uma exportação adicional de US$ 7 bilhões para a China, na comparação com 2017.

As queimadas criminosas promovidas pelo agronegócio amigo de Bolsonaro seguem a trilha da expansão da fronteira sojeira, especialmente no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, cujo aumento exponencial, feito em base à destruição do meio ambiente, busca atender à sede de lucro dos capitalistas do agronegócio com as exportações à China.

Desde 1850, quando o chefe do Observatório Naval dos Estados Unidos, Matthew Fontaine Maury, sugeriu que seu país evitasse a Guerra Civil e continuasse expandindo sua produção de algodão com mão de obra escrava levando toda a estrutura, incluindo os escravos africanos, para a região da Amazônia brasileira (como conta Gerald Home, no livro “O Sul mais distante”), os Estados Unidos tem interesses materiais diretos na Floresta Amazônica, e não tem nada a ver com sua preservação

São dezenas de monopolios e fundos de investimento norte-americanos cuja cadeia produtiva está ligada ao desmatamento, incluindo a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, e a Capital Group, traders de grãos como Cargill e ADM, além de empresas farmacêuticas (Johnson&Johnson e Pfizer), de engenharia genética e de cosméticos que exploram as riquezas da região. Lucram com a destruição da Amazônia, muito bem monitorada pelo Pentágono e pelo Exército ianque.

Diante disso, não espanta que instituições como a NASA divulguem informações "preocupan-tes” sobre o avanço do desmatamento. Não estão preocupados com a Amazônia ou o meio ambiente, e sim com os interesses norte-americanos na maior floresta tropical do mundo, e também com a eficácia da guerra comercial de Trump.

2. Conflito entre os interesses do imperialismo europeu e o agronegócio brasileiro

Macron, assim como Trump, não tem mais interesse na Amazônia do que proteger os negócios de seus monopólios nacionais. Algumas das empresas que mais desmatam a floresta amazônica são francesas: os bancos Crédit Agricole (maior banco varejista da França) e o BNP Paribas, instituição financeira mais rica da França, estão vinculados ao desmatamento, segundo relatório da Amazon Watch. Empresas como Guillemette & Cie e Groupe Rougier  recebem regularmente toneladas de madeira da empresa brasileira Benevides Madeiras, segundo o mesmo relatório. A francesa Dreyfuss também tem altos negócios na Amazônia. Consideram-na seu quintal de exploração capitalista.

Assim como os Estados Unidos, a França e a Alemanha não desejam ver seu terreno de exploração eliminado em função do agrobusiness tupiniquim.

Como velha potência colonial, que submetia os países oprimidos a uma selvagem exploração, a França também foi responsável pela liquidação dos recursos naturais e ambientais nos quatro cantos do mundo. Basta como exemplo citar a história da colonização sangrenta da África pela França nos séculos XIX e XX. 

Os processos de descolonização entre as décadas de 1950 e 1970 representaram uma nova fase da extração predatória das riquezas nacionais africanas, junto ao brutal processo de extermínio da população de países como o Congo, Guiné, Togo, Mali, Níger, Chade, Mauritânia, e especialmente a Argélia, que vivenciou massacres sucessivos de sua população entre 1954 e 1962.

A demagogia de Macron não pode esconder que a França não tem nenhuma vocação de “respeito a biodiversidade”: é, sim, um dos países que mais devastam a Amazônia.

3. Disputa entre França e Alemanha no acordo com o Mercosul

Outro conflito inscrito na crise amazônica ocorre entre a França e a Alemanha acerca do acordo pactuado entre o Mercosul e a União Europeia. Berlim e Paris comungam do objetivo de sujeitar a classe trabalhadora latino-americana a uma exploração superior. Este acordo de submissão do Cone Sul da América Latina pelas potências européias, entretanto, não as favorece por igual. Os principais ganhadores seriam os exportadores de veículos alemães, que teriam tarifas zeradas para o escoamento da produção automotriz. 

Já a França seria consideravelmente prejudicada em seu setor agrícola, que veria a entrada sem tarifas dos produtos agrícolas brasileiros aos mercados europeus que ora domina.
A política agrícola é um dos pilares da integração da União Europeia e é fundamental para a França. São os franceses que conduzem a agricultura para o restante do continente. Além da França, a Irlanda também exigiu insistentemente no último período para que a União Europeia não fosse tão generosa no setor agrícola, especialmente o de carnes, nesse acordo. O acordo vai na contramão dessas exigências: inclui uma cota anual de 99 mil toneladas de carne com tarifas reduzidas.

Por isso o presidente francês ameaça o cancelamento do acordo, usando a crise amazônica provocada pela sede capitalista de Bolsonaro como álibi. Macron busca atender os interesses do agronegócio francês, que não deseja a entrada de produtos brasileiros com maior facilidade na Europa, sem com isso diminuir os acordos de exploração do Cone Sul. Assim também o primeiro ministro da Irlanda, Leo Varadkar, anunciou que “diante dos acontecimentos” vai bloquear a implantação do acordo.

A Alemanha, por sua vez, defende a manutenção do acordo comercial, em vista do cenário caótico de sua economia, que apresenta fortes sinais recessivos devido à retração do comércio mundial (efeito do atrito entre EUA e China), que deprime sua produção industrial, altamente dependente das exportações. O capital alemão precisa de novas zonas de escoamento de sua produção, que não pode depender tanto da China e da UE em crise.   

Este conflito ainda está em curso e não tem um final estabelecido.

Esses três elementos se imbricam na catastrófica crise ambiental do Brasil. O certo é que a sanha dos latifundiários  sojeiros  no Brasil por incrementar seus negócios chineses se choca com a necessidade dos distintos imperialistas de preservar seus próprios negócios na Amazônia, o que pode levar a que a crise saia do controle nos marcos dos perigosos indícios de uma nova recessão mundial.

Não podemos perder de vista a antipatia entre Trump e os governos da França e da Alemanha. Golpear Bolsonaro é um movimento que sugere indiretamente um ataque a Trump, que o tem como aliado central na América Latina. Tanto assim que Trump anunciou ter falado por telefone com Bolsonaro nesta sexta-feira (23), indicando que a relação entre EUA e Brasil "nunca esteve melhor".

Bolsonaro, agronegócio e G7: tirem suas mãos da Amazônia

Se é evidente que a expansão da soja e os interesses do agronegócio brasileiro - intimamente vinculados ao capital financeiro e aos bancos - são uma ameaça direta ao meio ambiente, é certo que a voracidade dos governos imperialistas e colonialistas estrangeiros não representa perigo menor. Falam da Amazônia porque a querem integralmente para seus interesses monopólicos. Ao lutar contra Bolsonaro, não podemos esquecer de exigir que as grandes potências capitalistas tirem suas mãos de nossos recursos naturais.

Em diversas partes do mundo os jovens protagonizam inúmeras manifestações contra as mudanças climáticas fruto da devastação ambiental, como as "sextas-feiras pelo futuro na Europa". No Brasil também são os jovens a linha de frente dos questionamentos às políticas devastadoras de Bolsonaro. 

Proposições: 

* É preciso um programa e uma estratégia anticapitalista ao lado da classe trabalhadora para que essa jovem geração possa lutar pelo seu futuro.

* É necessário impor a imediata suspensão de todos os repasses financeiros bilionários do plano Safra aos latifundiários e sua imediata aplicação em planos de combate ao incêndio, reflorestamento e gestão das florestas. 

* Frente aos bilhões de dólares exportados anualmente em soja, milho e carne às custas de devastação ambiental e humana, é preciso levantar uma campanha pela estatização sem indenização de todas as traders e seus bilionários recursos financeiros, logísticos e tecnológicos. A posse dessas empresas implicaria em um monopólio estatal do comércio da soja, permitindo que essas riquezas não sirvam apenas a um punhado de imperialistas e latifundiários. Uma empresa estatal, controlada pelos trabalhadores, permitiria o uso das mais modernas tecnologias, hoje empregadas para o lucro e a devastação, para o desenvolvimento humano e de outro metabolismo, orgânico com a natureza e todos povos tradicionais e originários.

* Uma reforma agrária radical, abolindo o latifúndio depredador, é uma tarefa democrática que no Brasil está indissociavelmente vinculada com a perspectiva de um governo dos trabalhadores de ruptura com o capitalismo. Os governos do PT, de conciliação com a direita e o agronegócio, apenas incrementaram os milhões de hectares em latifúndios, que passaram a representar quase 25% do PIB em 2015. O projeto de país petista, apoiado naqueles que hoje são base do bolsonarismo, não é nenhuma alternativa ao cataclismo da extrema direita.

* Elementos de um programa como este, operário e anticapitalista, seriam uma poderosa alavanca na luta para os trabalhadores de todo país tomarem em suas mãos a luta junto dos camponeses, quilombolas e povos originários para abolir essa herança colonial e escravocrata do latifúndio, e oferecer terra, crédito e tecnologias a todos que queiram trabalhar nela.

* Impulsionemos com todas as forças os atos em todo o país contra a destruição do meio ambiente pelos capitalistas, inclusive aqueles que se revestem com peles de cordeiro para melhor explorar os recursos mundiais.

Texto publicado em 23.08.2019 que ora reproduzimos

 Crime contra a humanidade

Brasil de Fato

Em nota, organização camponesa denuncia política destrutiva de Bolsonaro e exige combate aos crimes ambientais

Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST

Ambientalistas e políticos do mundo todos começaram a debater os incêndios que estão queimando a Floresta Amazônica há algumas semanas. Sendo a Amazônia um dos maiores repositórios de dióxido de carbono do planeta, imagens divulgadas pela NASA mostram a situação alarmante na qual nos encontramos.
Neste contexto, o governo Bolsonaro tem divulgado várias explicações para o número recorde de incêndios, incluindo uma teoria de que ONGs ambientais poderiam ter criado as chamas para “envergonhá-lo”.
Dados científicos e especialistas apontam que esta crise está ligada diretamente às medidas do governo Bolsonaro para área. Ao contrário do que afirma o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, 2019 não é realmente um ano de seca extrema. Se fosse esse o caso, o número de incêndios florestais seria o dobro do que estamos vendo hoje.
Diante das acusações e das mentiras deflagradas por este governo, a Via Campesina alerta sobre os riscos destas políticas destrutivas e a necessidade de ação contra os ataques às instituições e à Amazônia.
Confira abaixo a nota na íntegra:
Queimar a Amazônia é crime contra a humanidade
Nos últimos dias povos e governos de todo o mundo tem assistido às consequências dos recentes e graves crimes contra a floresta amazônica. As nuvens de fumaça que tomaram o sudeste do Brasil e, em especial, a capital São Paulo se conectam diretamente com o aumento dramático das queimadas em diversas partes da floresta e das zonas de transição com o Cerrado.
É fundamental que toda a sociedade brasileira, latino-americana e mundial tenha clareza que este não é um fenômeno isolado. Na realidade, ele é o resultado de uma série de ações do agronegócio e das mineradoras, amplamente apoiadas e incentivadas pelo Governo Bolsonaro, que tiveram início desde sua eleição. Após quase duas décadas de redução do desmatamento, o atual presidente e seu ministro de meio ambiente, Ricardo Salles, articularam um violento discurso contra a legislação e os mecanismos de conservação ambiental brasileiros, ao mesmo tempo que amentaram a perseguição e criminalização dos povos que historicamente protegeram os biomas brasileiros: famílias camponesas e povos indígenas.
Desde o governo de transição, os discursos vindos de Brasília atacaram o licenciamento ambiental e o controle e monitoramento do Estado sobre as atividades agropecuárias e minerárias – justamente elementos que poderiam ter evitado os crimes de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Ao mesmo tempo, o governo entregou o Serviço Florestal Brasileiro para representantes ruralistas, implementou uma intervenção militar no Instituto Chico Mendes (ICMBio) e proibiu ações de fiscalização pelo IBAMA, além de atacar publicamente servidores de todos esses órgãos. O quase total contingenciamento dos recursos, impostos pela política neoliberal comandada pelo ministro Paulo Guedes, tornou a situação completamente insustentável.
As denúncias começaram ainda em 2018, por meio de povos e comunidades tradicionais da região, que estão sendo perseguidas por latifundiários e policiais. As ONGs socioambientais também estão sendo criminalizadas e perseguidas por este governo. Por último, cientistas de diversas organizações, universidades e até mesmo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), internacionalmente reconhecido, também denunciaram as consequências, e foram recebidos com demissões e ordem de não divulgação de dados. A resposta de países como Noruega e Alemanha a essa mudança brutal na política governamental foi a suspensão dos repasses para o Fundo Amazônia, ao que o governo Bolsonaro respondeu com desdenho e acusações completamente infundadas.
As dimensões do crime contra a humanidade são alarmantes. Apenas esse ano são mais de 70 mil focos de incêndios, sendo que 33 mil são apenas na Amazônia, um aumento de 60% da média dos últimos três anos. Somente entre os dias 10 e 11 de agosto houve um aumento de 300%, quando o agronegócio da região declarou o “dia do Fogo”. Imagens de satélites também mostram um avanço não visto desde os anos de 1980 de garimpos ilegais, principalmente em territórios indígenas.
Essas ações, completamente apoiadas pelo atual governo brasileiro, devem ser reconhecidas como crime à humanidade e um dano irreparável ao povo e à natureza brasileira. Em tempos que o mundo se depara com as consequências das mudanças climáticas, é completamente inaceitável essa postura.
Devemos também lembrar que a Amazônia não é um território “selvagem”, mas sim uma região megadiversa em sua biodiversidade e em seus povos. Há milênios, diferentes formas de convivência com esse bioma produziram os bens comuns que hoje não se separam da floresta. Não existe floresta amazônica sem seus povos, nem tampouco nós existimos sem ela. A conservação da Amazônia só é possível com defesa dos territórios indígenas e tradicionais, agroecologia e políticas públicas de saúde, cultura e educação que tenham como sujeitos os povos da região.
Por isso, nós, organizações camponesas da Via Campesina, denunciamos os verdadeiros culpados por esse crime de proporções históricas: o agronegócio e a mineração, apoiados pelo Governo Bolsonaro. Exigimos o combate imediato aos crimes ambientais, ao mesmo tempo em que exigimos a garantia dos direitos dos povos da Amazônia, seus reais e históricos protetores. É decisivo que toda a sociedade brasileira se levante contra essa atrocidade! A Amazônia é território de vida, de alimentos, de águas, de culturas, não de destruição, morte, exploração!
Contra o avanço do capital, povos em defesa da Amazônia!
Via Campesina Brasil:
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MPA – Movimento dos Pequenos Produtores
MAM – Movimento pela Soberania Popular na Mineração
CIMI – Conselho Indigenista Missionário
CPT – Comissão Pastoral da Terra
APIP – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal
CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens
MMC – Movimentos de Mulheres Camponesas
PJR – Pastoral da Juventude Rural
ADERE – Articulação dos Assalariados Rurais
MPP – Movimento dos Pescadores e Pescadoras
https://www.brasildefato.com.br/2019/08/24/via-campesina-queimar-a-amazonia-e-crime-contra-a-humanidade/

 Quatro incêndios como este podem acabar com a Amazônia, diz cientista

CORREIO BRAZILIENSE - Cláudia Dianni


© Maurício Torres/Fapesp O biólogo e cientista norte-americano Philip Fearnside

De acordo com o biólogo e cientista norte-americano Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), é preciso se preocupar com os impactos dos incêndios na Amazônia nas mudanças climáticas já que, quando queimam, as florestas liberam gás carbônico e metano, o que contribui para o aquecimento global e novos incêndios. De acordo com o cientista, as madeiras queimadas tornam a floresta mais vulnerável a outros incêndios ainda mais intensos. Os dois fenômenos contribuem para um ciclo vicioso, que colocar a floresta em risco. 

Para ele, governo, sociedade e setor produtivo precisam tomar consciência dos serviços ambientais prestados pela Amazônia. “É muito importante que o próprio governo assuma a responsabilidade que tem, mantendo o trabalho dos agentes ambientais e as políticas. O país precisa deixar esse sentimento de que está sendo enganado, pois o interesse de preservar a floresta é do próprio país” disse, com relação à ajuda internacional. Fearnside pesquisa agro-ecossistemas tropicais, desmatamento, degradação ambiental e impactos das hidrelétricas na Amazônia. Ele  vive em Manaus há mais de vinte anos.  

Qual a gravidade dessas queimadas? É possível atribuir a causa à seca?

O que está acontecendo está completamente fora do padrão e está diretamente relacionado ao surto de desmatamento que vem ocorrendo desde maio, como mostrou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Basta ver como os focos coincidem com os municípios onde há mais desmatamento. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) divulgou análise de dados meteorológicos dos últimos anos. A seca deste ano está dentro do padrão e não há a presença do fenômeno El Ninõ, este ano, que reduz o volume das chuvas. Então, o que explica é o discurso do presidente, a falta de aplicação de multas, o aviso prévio antes de fazer ações de fiscalização. Tudo isso tem um componente simbólico que levaram fazendeiros a se organizar. 

Quais as consequências desses incêndios?  

Queimadas são diferentes dos incêndios. As queimadas são usadas para agricultura ou pastagens e precisam ser feitas de forma controlada. Incêndios podem ser provocados ou terem causa natural. Os incêndios estão escapando para a floresta, coisa que acontece mais em secas extremas, e isso é muito perigoso. Quando o fogo entra na floresta, ela fica mais vulnerável a incêndios futuros. Isso porque há um acúmulo de madeira morta. Quando tiver outra seca, o fogo entra com chamas maiores e isso cria um ciclo vicioso que vai destruir a floresta. Também tem o efeito da ação dos madeireiros, seja legal ou ilegal. Eles amarram as árvores e puxam com tratores, mas só levam os troncos valiosos, que interessam. Ficam os troncos e os galhos, além disso, quando arrastam, outras árvores são mortas, ao serem derrubadas no processo, mas ficam ali. E essa madeira  morta  favorece outros incêndios. As aberturas nas copa das floresta, onde entra o sol e o vento, vão ressecando a floresta, o que também favores incêndios. 

Além disso, as queimadas liberam gás carbônico e metano que aquecem o clima. Com quatro incêndios como este, não há mais floresta. Isso é algo muito perigoso, porque foge ao controle. E  não se trata apenas do efeito estufa, que é uma preocupação mundial, mas também da reciclagem de água, pois a Floresta é responsável pelo vapor d’água e pontos de chuvas em São Paulo, no Centro- Sul do Brasil e também em países vizinhos. Entre dezembro e fevereiro, a Floresta Amazônica é responsável por 70% da água de São Paulo. Sem a floresta, essa chuva não ocorre. Sem água, a produção agrícola está ameaçada.  Eu acho que foi muito importante esse fenômeno de São Paulo, quando a fumaça escureceu o dia. Isso é bom para que o país acorde. Governo, sociedade e setor produtivo precisam tomar consciência dos enormes serviços ambientais que a floresta presta a todos, antes que seja tarde. 
  
É possível recuperar a floresta queimada?

A recuperação pode acontecer, mas é difícil. É mais fácil recuperar áreas degradadas. A área a ser recuperada tem que ser defendida. Não podem acontecer novos incêndios, tem que monitorar, não deixar entrar para explorar madeira. Então, envolve gastos. Uma floresta pode se regenerar, mas leva muito tempo, 70 ou 80 anos para ter uma floresta secundária considerada razoável. Mas, na prática, não é isso o que acontece. Ninguém vai ficar décadas e décadas esperando recuperar a floresta. Acabam transformando em pastagens ou grilagem. 

Como o setor do agronegócio pode ajudar a conter isso, já que é parte interessada ?

Há coisas que agronegócio pode fazer, pois o presidente não ouve cientistas, mas ouve o agronegócio. Por exemplo, tem uma forte tendência a afrouxar o licenciamento ambiental e até dispensar para o agronegócio, por meio de projeto de lei. Além disso, o governo quer descentralizar o licenciamento concentrando nos estados, o que torna o licenciamento mais fácil e isso é muito perigoso. Basta lembrar Brumadinho, que teve licenciamento estadual. Nos estados, os grupos de interesse estão mais próximos dos poder público e conseguem mais influência. Isso também é uma tendência, que vem acontecendo nos últimos anos, com relação a barragens de usinas hidrelétricas.  Então, o agronegócio pode ajudar, com suas lideranças, com uma influência positiva, afinal, foi o Blairo Maggi (empresário do agronegócio e ex-ministro da Agricultura do ex-presidente Michel Temer), que convenceu o presidente Bolsonaro a não acabar com o ministério do Meio Ambiente, como ele queria, porque isso levantaria barreiras aos produtos brasileiros no comércio internacional. O problema é que há muita negação sobre as mudanças climáticas entre os produtores. Isso é algo que eles têm que enfrentar pois é do próprio  interesse deles reconhecer.

E o governo?

A primeira coisa é trocar o ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles). Não é possível manter nesse cargo uma pessoa que é contra o meio ambiente. Ele violou o acordo com a Noruega e a Alemanha  (doadores do Fundo Amazônia) e acabou com o comitê que analisa os projetos, e tentou desviar os recursos para compensar pessoas que praticam desmatamento ilegal (o ministro propôs usar recursos do fundo para indenizar proprietários rurais em unidades de conservação). 

É muito importante que o próprio governo assuma a responsabilidade que tem, mantendo o trabalho dos agentes ambientais e as políticas. O país precisa deixar esse sentimentos de que está sendo enganado, pois o interesse de preservar a floresta é do próprio Brasil. É preciso reconhecer isso antes que seja tarde, o que envolve conduzir as ações normais do meio ambiente, pesquisar, conservar, monitorar, multar e também pensar na obras que vão abrindo novas áreas de desmatamento, pois são obras que geram transformações em décadas. Tudo que é feito no governo do Bolsonaro, por exemplo, vai afetar a região durante décadas. 

O mais dramático agora é a proposta de reabertura da Rodovia BR-319, o que Bolsonaro prometeu quando esteve em Manaus (em julho). Essa rodovia, que liga Manaus ao Arco do Desmatamento  (região que apresenta maiores índices de desmatamento, onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta. São 500 mil km² do sudeste do Pará para o oeste, passando por MT, RO e AC),  o que leva todos os fatores de desmatamento para o centro da Amazônia.  E há outros projetos para outras estradas, que vão ligar grandes blocos de floresta, no oeste do estado do Amazonas, a florestas nativas. Isso gera muitas consequências e vai levando a processos que escapam do controle do governo . O governo decide fazer uma estrada, mas depois de feito, aumenta a população, são milhares de pessoas espalhadas, o que gera uma dinâmica de desmatamento que foge ao controle do governo, como se vê com as queimadas que estão acontecendo agora. 

O congelamento dos recursos do Fundo Amazônia, pela Alemanha e Noruega, gera muitas consequência? 

É uma coisa que tem várias consequências porque muitas coisas são feitas com esse dinheiro. É importante que a ajuda internacional proponha outros caminhos para continuar as atividades, destinando os recursos diretamente para organizações que vão lidar com o meio ambiente, pois o Ministério do Meio Ambiente está atuando do outro lado e isso é chave para entender o que aconteceu.

Que mensagem o senhor daria aos ambientalistas. Há muito frustração no meio?  

É muito importante não cair no pessimismo. E isso é muito comum, pois os problemas da Amazônia são tão grandes, que parece que não vai ter solução. Não pode ser fatalista. Mas esse raciocínio também se aplica ao pensamento de que tudo se resolver por si e não é preciso fazer nada. Tem que se conscientizar dos problemas e ter ação. 



Após fala de Macron sobre Amazônia, Bolsonaro recusa R$ 83 milhões do G-7
 ESTADÃO - Julia Lindner, Mateus Vargas e Mariana Haubert

Dia 26.08.2019

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto informou na noite desta segunda-feira, 26, que rejeitará a ajuda de US$ 20 milhões, equivalente a R$ 83 milhões, prometida nesta segunda pelo G-7, o grupo de países mais ricos do mundo, para auxiliar no combate a incêndios na Amazônia. A decisão foi tomada após o presidente da França, Emmanuel Macron, dizer que não descarta a possibilidade de conferir um status internacional à floresta, caso líderes da região tomem decisões prejudiciais ao planeta. 

Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro afirmam que qualquer anúncio de apoio feito sem diálogo direto com o Brasil será rejeitado. “Acreditamos que o assunto deve ser encapsulado como uma questão sul-americana, dos países amazônicos, e não como um tema global”, disse um aliado do presidente. A intenção do Planalto é recusar a ajuda capitaneada por Macron, restringindo a cooperação a países da região amazônica e aliados do presidente, como Israel e Estados Unidos.

Segundo pessoas próximas, o presidente não conversou com o presidente francês, Emmanuel Macron. Caso ele queira ajudar o Brasil, afirmam que terá de pedir para falar com Bolsonaro. Mais cedo, o titular do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chegou a dizer que a verba seria “excelente” e “bem-vinda”. Mas cobrou autonomia do País na utilização do dinheiro.

“Quem vai decidir como usar recursos para o Brasil é o povo brasileiro e o governo brasileiro”, disse, em um evento em São Paulo. O ministro ainda cobrou de países desenvolvidos um crédito de US$ 2,5 bilhões (o equivalente a R$ 10 bilhões) que o País teria, segundo ele, de acordo com os termos do Protocolo de Kyoto. “Desde 2005, o Brasil tem cerca de 200 milhões de toneladas de gás carbônico em MDL, mecanismo de desenvolvimento limpo, para receber. Pedimos para que os países desenvolvidos, incluindo o G-7, nos ajudem a quitar a fatura.”

O anúncio de recursos para a Amazônia foi feito pela manhã, na França, por Macron e pelo presidente do Chile, Sebastián Piñera – que apesar de não integrar a cúpula agiu na condição de observador. A verba seria usada principalmente para o envio de aviões para apagar o fogo na região. Além disso, o G-7 estaria elaborando um plano de ajuda a médio prazo destinado ao reflorestamento, que seria apresentado na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas no fim do mês que vem. 

Hoje, no âmbito do Acordo de Paris, o Brasil se propõe a reduzir as emissões de gás carbônico em 37% em relação a 2005, e prevê restaurar 12 milhões de hectares de florestas e alcançar desmatamento ilegal zero na Amazônia brasileira até 2030.

Soberania

A decisão do presidente francês, de trabalhar o assunto no G-7 mesmo contra a vontade do governo brasileiro, motivou desde o princípio dúvidas se não haveria um enfrentamento à soberania brasileira. “Este não é o quadro da iniciativa que estamos tomando, mas é uma questão real que se impõe, se um Estado soberano tomar medidas concretas que obviamente se opõem ao interesse de todo o planeta”, disse Macron. “As conversas entre (Sebastián) Piñera (presidente do Chile) e Bolsonaro não vão nessa direção, acho que ele está ciente desse assunto”. “Em qualquer caso, quero viver com essa esperança.”

Há dúvidas sobre qual seria o grau de interferência sugerido. Em francês, a palavra “statut” é utilizada tanto para definir status como estatuto (no caso uma regulamentação). A questão também não é nova: em 1983, a premiê britânica Margaret Thatcher sugeriu que “os países subdesenvolvidos que não pudessem pagar suas dívidas vendessem seus territórios”. Já o ex-presidente Francês François Miterrand sugeriu que o Brasil admitisse “soberania relativa” sobre a área. Em 2000, o americano Al Gore, famoso pela ação ambientalista, chegou a dizer que a Amazônia “pertence a todos”.

Macron se limitou a dizer agora que essa intervenção internacional “é um caminho que permanece aberto e continuará a florescer nos próximos meses e anos”. “A questão é tal no plano climático que não podemos dizer ‘este é um problema só meu’. É o mesmo para aqueles que têm espaços glaciais em seu território ou que afetam o mundo inteiro.” Ele garantiu, no entanto, que construiu a iniciativa que será proposta às Nações Unidas “para respeitar a soberania de cada país”.

A fala do francês veio após o presidente Bolsonaro acusá-lo de ter uma “mentalidade colonialista” por exigir ação internacional a respeito da região. À noite, o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, rebateu as declarações. “Sobre a Amazônia falam brasileiros e as Forças Armadas.”

Nos bastidores, o governo brasileiro se mantém em oposição ao francês e tenta impedir que Macron ganhe algum lucro político com o episódio. A avaliação é de que Macron fracassou na reunião de países do G-7 ao tentar responsabilizar Bolsonaro pelas queimadas na região amazônica e discutir o tema sem a presença dos principais atores envolvidos. Um dos sinais disso é a declaração final do encontro, que não incluiu a Amazônia, mostrando que não houve consenso sobre o tema entre os líderes de Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha, Japão, Itália e Canadá.

No Twitter, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, disse que “o bom senso e o respeito à soberania brasileira prevaleceram”. Mais cedo, Bolsonaro voltou a questionar o interesse de alguns países por trás do apoio ao Brasil. “Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, sem retorno? O que ele está de olho na Amazônia?”, indagou Bolsonaro em conversa com jornalistas, no Palácio da Alvorada.

Nesta quarta-feira, 28, o presidente prometeu fazer uma gravação online da reunião que terá com governadores da região amazônica para contar “a verdade sobre o que os outros querem com essa rica região”. Ele fez o anúncio ao compartilhar a notícia de que Macron afirmou que espera que os brasileiros “tenham logo um presidente à altura do cargo”. Um interlocutor de Bolsonaro diz que ele tentará mostrar amanhã que o presidente francês está “descolado da realidade” e “não faz ideia do que é a Amazônia”.

Outras doações

O governo brasileiro não se pronunciou sobre outras promessas de verbas. Houve anúncios pontuais de envio de recursos para o combate às queimadas. O presidente do grupo francês LVMH, Davide Marcovitch, afirmou que o conglomerado doará cerca de R$ 50 milhões para isso. Trata-se de praticamente o mesmo valor prometido pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson. Há ainda iniciativas particulares, como a da fundação do ator Leonardo DiCaprio, que prometeu um aporte de cerca de R$ 21 milhões, e da Apple, que ainda não divulgou valores.

EM TEMPO: É muito fingimento. O presidente Bolsonaro e alguns  militares de pijama fingem que defendem nosso patrimônio, quando na realidade eles querem ceder a base Militar de Alcântara, no Maranhão, e vender as Estatais, incluindo a Petrobrás. Evidentemente que se a ajuda tivesse partido do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Bolsonaro teria aceito de imediato.


Ministros de FHC, Lula, Dilma e Temer vão ao Congresso apelar contra leis que ameaçam  meio ambiente
MÔNICA BERGAMO
Folhapress26 de agosto de 2019

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pelo menos sete ex-ministros que comandaram a pasta do Meio Ambiente assinaram um texto em que pedem ao Congresso a “suspensão imediata da tramitação de todas as matérias legislativas que possam, de forma direta ou indireta, agravar a situação ambiental no país”.
No manifesto, eles defendem a “moratória ambiental para projetos de leis e outras iniciativas legislativas que ameacem a Amazônia, povos indígenas e biodiversidade”. E propõe a realização de audiências públicas para que o tema possa ser discutido “em caráter de urgência”.
A iniciativa é apoiada também pela OAB e pela SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
O documento será entregue na quarta (28) aos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Os ex-ministros ocuparam os cargos nos governos de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Devem ir ao Congresso, em Brasília os ex-ministros Rubens Ricupero (governo Itamar Franco), Sarney Filho, Gustavo Krause e José Carlos Carvalho (governo FHC), Marina Silva e Carlos Minc (governo Lula), Izabela Teixeira (governo Dilma) e Edson Duarte (governo Temer).
A ideia é entregar o documento pessoalmente a Maia e Alcolumbre.
“O Brasil vive uma emergência ambiental”, afirmam eles no texto. “O desmatamento da Amazônia, que atingiu 7.900 km2 entre agosto de 2017 a julho de 2018, está em crescimento acelerado conforme demonstram as projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, corroboradas por diversas instituições de pesquisa nacionais e internacionais”, justificam.
E seguem: “Os focos de incêndio aumentaram 83% em todo o país e 140% na Amazônia com tendência de elevação ainda maiores nos próximos anos, principalmente devido aos retrocessos na política socioambiental brasileira e da campanha ostensiva de representantes do poder executivo federal em favor de um modelo de desenvolvimento totalmente ultrapassado para a Amazônia e demais biomas do país”.
Os ex-ministros detalham as críticas afirmando que “o desmonte das instituições federais (Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e ICMBio), como também das políticas e programas de proteção ao meio ambiente e do Fundo Amazônia que vêm sendo promovidos pelo governo federal, além de provocar inaceitável degradação do patrimônio natural e da qualidade ambiental do país, está colocando em risco a segurança de populações indígenas e comunidades tradicionais e afetando diretamente a saúde pública, fato tão bem evidenciado com a chuva negra que caiu sobre São Paulo recentemente”.
“A comoção mundial é de tal ordem”, afirmam, “que ameaças de boicote às exportações brasileiras surgem em diversos países, pondo em risco a própria balança comercial do País”.
Os ex-comandantes da política ambiental dizem que o parlamento tem o dever histórico de atuar como moderador “e oferecer um canal de diálogo com a sociedade, única forma de reverter essa assustadora realidade”.


Vozes pela Amazônia: “Se a floresta tombar, nós vamos juntos”, diz ecólogo
Exame.com - Vanessa Barbosa
Dia 25.08.2019

© iStock/Thinkstock Amazônia: floresta presta serviço ambiental inestimável.











São Paulo – O cientista norte-americano Philip Fearnside conhece a Amazônia como poucos. Ele fincou os pés na região no final dos anos 1970 e chegou a viver a beira da Transamazônica em experiência de campo para seu doutorado. Não à toa, tornou-se um dos nomes mais respeitados internacionalmente quanto o assunto é a maior floresta tropical do mundo. Em 2007, o ecólogo recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

Fearnside é pesquisador titular há mais de quatro décadas no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), um dos mais importantes centros de pesquisa sobre o bioma, que estuda desde o impacto da perda de floresta sobe os regimes de chuvas até o desenvolvimento de produtos a partir da biodiversidade amazônica.

Em entrevista para o site EXAME, o cientista critica as decisões do governo federal para a pasta ambiental e destaca o papel central que a Amazônia desempenha no equilíbrio do clima planetário.

Segundo ele, a morte da floresta emitiria mais gases de efeito estufa para a atmosfera do que a humanidade tem emitido através de suas atividades, como queima de combustível fóssil para geração de energia e uso da terra. Isso iniciaria um processo incontrolável de aquecimento global, com graves consequências para as sociedades humanas.

“O fato de termos um governo que deliberadamente ataca o meio ambiente é muito grave e estimula um estado de impunidade e o aumento do desmatamento que estamos vendo. Não dá para esperar três anos e meio para o fim do mandato atual para começarmos a fazer nossa parte no combate às mudanças climáticas, precisamos de ações imediatas, que passam pelo combate ao desmatamento e reconhecimento do aquecimento global”, diz o ecólogo.

Confira a entrevista na íntegra a seguir:

EXAME: O governo anunciou cortes nos orçamentos para pesquisa no Brasil. Como isso afeta o trabalho dos cientistas e institutos que estudam meio ambiente, incluindo o Inpa?

Fearnside: Há limitações claras aí, como a falta de dinheiro, que afeta os investimentos em pesquisa e a falta de pessoas, já que não estão contratando gente, não tem editais, não tem concursos para substituir quem está indo embora. Os centros de pesquisas estão encolhendo. É uma situação que tem se agravado ao longo dos anos, mas se torna ainda mais crítica sob o atual governo, que deixou o país sem concursos para contratação de pessoal. Isso é terrível. Por exemplo, quase metade das pessoas que trabalham no Inpa terão direito de se aposentar dentro de um ano. Além disso, nem dinheiro para bolsa de pesquisas tem. Por conta dos cortes, o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] suspendeu a concessão de novas bolsas de pesquisa e talvez nem haja dinheiro suficiente para pagar as bolsas existentes depois de setembro.

EXAME: Recentemente, Noruega e Alemanha suspenderam as doações de recursos ao Fundo Amazônia, principal ferramenta para preservação da floresta. Em resposta, o governo federal “desdenhou” dos milhões de dólares já doados. Como o sr. avalia esses eventos?

Fearnside: No caso do Fundo Amazônia, os recursos ajudam no trabalho de preservação da floresta. Tanto na parte de monitoramento que o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais] realiza quanto nas ações de fiscalização a cargo do Ibama, além de muitas outras iniciativas de Ongs, governos estaduais e demais entidades. Infelizmente, com a alta de desmatamento na floresta, esses países doadores suspenderam os repasses, mas isso faz parte do acordo, já que as doações são atreladas à redução do desmatamento. É um quadro gravíssimo. E é evidente que o atual ministro do Meio Ambiente e o presidente se empenharam em desacreditar o programa, criando uma ideia de que há corrupção no processo do Fundo. Também tentaram usar verba das doações para indenizar proprietários rurais. Há muito sinais ruins surgindo do atual governo. Inclusive, essa seria a razão para o aumento do desmatamento, a retórica do governo cria um ambiente de impunidade.

EXAME: Em 2007, ao em que o sr. recebeu o Nobel da Paz pelo IPCC, o Brasil coibia fortemente o desmatamento na Amazônia. Já passaram 12 anos desde então. Como o sr. recebeu a notícia de que o desmatamento aumentou mais de 40% entre julho de 2018 e agosto deste ano, conforme indicaram os dados do sistema de monitoramento Deter, do Inpe?

Fearnside: Sem surpresas. Eu já imaginava que isso fosse acontecer devido ao discurso e às ações que o governo vem adotando desde o começo do ano. Mas o que me surpreendeu foram as acusações contra o Inpe. A ideia aventada pelo presidente de que os dados sobre desmatamento são manipulados com ajuda de ONGs é totalmente falsa, pura fantasia. Agora, me preocupa o que vai acontecer com o Inpe, que tem um novo diretor [o militar Darcton Policarpo Damião] que, pelo o que li a respeito, diz não estar convencido da comprovação do aquecimento global.

Uma pessoa que diz isso não tem qualificação para assumir o Inpe, é como dizer que o homem não pisou na lua. Atualmente até o próprio presidente nega isso e já indicou dois ministros que também negam esse fenômeno. Não temos mais como esperar três anos e meio para o fim do mandato do atual governo para começar a fazer nossa parte no combate às mudanças climáticas, precisamos de ações imediatas, que passam pelo combate ao desmatamento.

EXAME: No Acordo de Paris, o Brasil se compromete a reduzir 43% das emissões nacionais até 2030 comparado a 2005. Na situação atual, como é possível esse objetivo? E qual o papel da Amazônia nesse processo?

Fearnside: O primeiro ponto mais importante é combater o desmatamento. Claro, que também precisamos reduzir o uso de combustível fóssil, mas no caso do Brasil, diferentemente de outros países que não têm tanto desmatamento, a perda de floresta acaba sendo muito importante aqui. As áreas preservadas na Amazônia representam um enorme potencial de emissão de carbono se forem desmatadas. Quando Bolsonaro esteve aqui em Manaus no final de julho, ele prometeu asfaltar a rodovia BR-319, que liga Manaus, no Amazonas, a Porto Velho, e também falou de planos para abrir novas estradas. Isso tem enormes impactos para o desmatamento no futuro.

Ao abrir grandes blocos de floresta a oeste do rio Amazonas, você gera mudanças na geografia do desmatamento que implicam em grandes emissões de gases efeito estufa, além de todos os outros impactos que a perda da floresta causa, como perda biodiversidade e todo potencial de pesquisa e desenvolvimento de soluções a partir dela, e também a reciclagem de água. A floresta amazônica é essencial para manter as chuvas em SP e em outros lugares no sudeste do Brasil e garantir água para a sobrevivência de grandes centros de população.

Durante o período chuvoso, em dezembro, janeiro e fevereiro, quase 70% da chuva no Sudeste vem da Amazônia, e não do oceano Atlântico. Isso é grave para a agricultura e suprimento de alimentos, de água e geração de hidroelétricas, já que os reservatórios são abastecidos pelos ciclos de chuvas. Se atualmente, a situação dos reservatórios preocupa, a ponto de já termos usado volume morto, imagina se perdermos toda a água que vem da Amazônia. A floresta nos presta um serviço ambiental inestimável.

EXAME: Qual será o impacto sobre o clima do Brasil e do mundo se a Amazônia tombar?

Fearnside: O Brasil é um ponto chave no equilíbrio climático, por conta da quantidade de carbono estocada na floresta amazônica, tanto nas árvores quanto no solo. Não podemos ultrapassar os chamados tipping point, os pontos de inflexão, em que a floresta entraria num ciclo irreversível de perda de árvores, queimadas e liberação de gás de efeito estufa,  que consequentemente pioraria as mudanças climáticas. Esse é um dos pontos para o equilíbrio ambiental. A morte da floresta emitiria mais gases de efeito estufa para a atmosfera do que a humanidade tem emitido através de suas atividades, como queima de combustível fóssil para geração de energia e uso da terra, e iniciaria um processo incontrolável de aquecimento global.

E aí precisamos lembrar que grandes problemas ambientais, como o aquecimento global, têm enormes impactos sobre as populações, especialmente as mais pobres. Lembra dos relatórios que a Dilma Rousseff tentou suprimir em 2015? Mais de 300 pesquisadores produziram o estudo [Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, PBMC], que traça mudanças climáticas em curso no Brasil e seus impactos até o ano de 2040. O agravamento da seca em regiões que já vivem em situação limítrofe, como o Nordeste do Brasil, seria um desastre, que criaria dezenas de milhares de refugiados ambientais.

O fato de termos um governo que deliberadamente ataca o meio ambiente é muito grave e estimula esse estado de impunidade e aumento do desmatamento que estamos vendo. Mais grave ainda é negar o aquecimento global. Não temos tempo para não agir sobre esse assunto, é uma coisa com consequências fatais, pessoas vão morrer e cidades vão colapsar. É verdade que os problema ambientais também existiam em governos anteriores, mas o quadro geral piorou muito com o atual governo.

EXAME: O sr. publicou um artigo recentemente na revista Environmental Conservation em parceria com o pesquisador Lucas Ferrante, também do Inpa, que critica a chamada “agenda de morte” do governo para o meio ambiente. O que seria essa agenda?

Fearnside: Como o próprio título do artigo sugere, o novo presidente do brasil ameaça o meio ambiente, povos locais e o clima global. Há todo um conjunto de propostas legislativas da bancada ruralista para reduzir áreas indígenas, unidades de conservação, limitar a fiscalização e basicamente acabar com o licenciamento ambiental, que é uma ferramenta para evitar grandes impactos, além da liberação de agrotóxicos. É uma coisa gravíssima. Tem muito argumento de que os Estados Unidos derrubaram florestas e agora são um país rico.

Isso não se sustenta. Quando você tira floresta, você empobrece os solos para a agricultura. As regiões americanas que mais tinham florestas hoje são bolsões  de pobreza, a população vive com ajuda do governo. Há exceções? Sim, o Paraná no Brasil devastou florestas para expansão agrícola, mas tem o solo muito bom, é uma característica local. Este não é o caso da floresta amazônica, o solo é diferente lá. É mito achar que destruir floresta vai ser bom para o desenvolvimento do país.

É o mesmo discurso de que abrir tudo para a mineração é o caminho para o progresso. Existe uma “maldição dos recursos naturais”, que explica a ironia presente no fato de que os países mais ricos em minérios são os mais miseráveis, veja o Congo e a Bolívia, por exemplo. Há toda uma literatura explicando porque esse tipo de riqueza não leva a melhoria de um país. Começou com a chamada doença holandesa. Nos anos 60, a Holanda descobriu gás e petróleo no mar do norte e todo mundo imaginou que isso melhoria o país, mas de repente todos os níveis de bem estar humano caíram, houve um impacto inverso ao esperado, dada a concentração de recursos em uma só atividade.

É o mesmo caso da mineração e muitos países, que cria um custo social muito grande. Essa mesma lógica ameaça a Amazônia, com o projeto para liberar mineração lá. Outra proposta perigosa é a do Flávio Bolsonaro, para acabar com o conceito de Reserva Legal. Mas Reserva Legal é o que existe em termos de regulamento para restringir desmatamento dentro de propriedade privadas e é essencial para manter os serviços ambientais da floresta.

EXAME: Qual o melhor caminho para garantir o desenvolvimento social, econômico e ambiental da Amazônia?

Fearnside: Tem diferentes problemas aí. Tem problemas urbanos das cidades amazônicas, os problemas de sustentar as pessoas que moram no interior em regiões de floresta e o problema das áreas já desmatada para pastagens. No caso das cidades, há o desafio de criar empregos suficientes para sustentar as populações urbanas e ter recursos para investir da infraestrutura da cidade, principalmente em saneamento básico. Para as populações que moram na floresta, defendo os serviços ambientais. Para isso, precisamos mudar a base da economia, que hoje gira em torno da destruição da floresta, você desmata, vende madeira, depois transforma em pastagem e por aí vai. Temos que mudar para um modelo baseado na manutenção da floresta de pé.

Preservar a biodiversidade, garantir a reciclagem da água e evitar o aquecimento global valem mais do que desmatamento. Áreas desmatadas ocupadas por pastagem não sustentam a população na Amazônia, pois é uma atividade com demanda mínima de mão de obra. O agropecuarista pode ficar rico, mas sozinho. Devemos, portanto, desencorajar esse tipo de desenvolvimento. Hoje, temos muitas populações em assentamentos sustentadas pelo governo, através de programas como o Bolsa Família. As áreas ainda protegidas do desmatamento precisam ser alvo desse tipo de arranjo, de pagamento por serviço ambiental. Mas é importante que as pessoas que recebam benefício por conta da floresta, tenham consciência da importância da floresta de pé.

EXAME: Os incêndios na Amazônia chamaram atenção mundial, que motivou toda uma pressão internacional sobre o governo agora. Isso pode ser bom para a floresta?

Fearnside: O governo presta atenção às pressões internacionais. Acredito que foi por isso justamente que o presidente Bolsonaro não acabou de vez com Ministério do Meio Ambiente, como prometeu na campanha. Houve uma preocupação quanto aos efeitos sobre as exportações de produtos agropecuários brasileiros. Mesmo assim, o governo conseguiu desestabilizar a pasta sem desfazê-la abertamente. A parte de fiscalização praticamente acabou, agora o Ibama tem que avisar quando e onde vai fiscalizar. Mas esse exemplo mostrou que, sim, o país presta atenção ao risco de boicote aos produtos brasileiros. Evidentemente, o governo não escuta cientistas, mas ele não é surdo, alguma coisa, ele escuta.

EXAME: O que todo brasileiro deveria saber sobre a floresta amazônica?

Fearnside: A medida que a população fica mais consciente sobre o que está acontecendo, também pode influenciar as decisões políticas. É muito importante que os sistemas democráticos funcionem. É importante as pessoas se informarem mais sobre a Amazônia, mas também ter a experiência de estar na floresta. Mesmo em Manaus, o grosso da população nunca esteve dentro da floresta, vive no asfalto a vida inteira.

Também é fundamental entender que por trás do desmatamento há dois vetores fortes, que são a criação de pastagem e área de plantio de soja, que será usada para produzir ração animal para bois e porcos. São atividades que demandam mais recursos do que a população brasileira consome. Cada hectare a mais desmatado na Amazônia é para produzir para exportação, não para alimentar a população brasileira. E, claro, é importante que as pessoas saibam que o aquecimento global é um problema real que desencadeia uma série de reações desastrosas para vida e que a Amazônia tem papel central na manutenção do equilíbrio.


Urgente: Defender a Amazônia contra Bolsonaro
Incêndio em Rondônia CBM/RO



No dia 19 de agosto, a população da cidade de São Paulo, região mais populosa do país e de todo o continente, viu a tarde se transformar em noite num estranho fenômeno que causou susto e apreensão. Uma espessa nuvem negra se abateu sobre a região e, em algumas localidades, uma chuva escura chegou a cair.

Pouco depois, institutos como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) confirmavam que a fumaça tinha origem nas queimadas em diversos pontos da América do Sul, como na tríplice fronteira entre Bolívia, Paraguai e Brasil, pegando parte do Pantanal, além da Amazônia. As queimadas, junto a uma frente de ar fria, teriam causado a repentina escuridão. Em outras cidades do interior do estado, o céu ficou laranja.
O caso chamou a atenção para o cenário infernal que ocorre na região amazônica, em que as florestas localizadas no Amazonas, no Acre e em Rondônia ardem há meses. Se é verdade que esse período é tradicionalmente uma época de queimadas, é fato que os focos de incêndio são os maiores desde 2013 e que, numa época em que já deveriam estar terminando, multiplicam-se.
A verdade é que estamos vivendo uma verdadeira hecatombe ambiental. Ruralistas e madeireiros desmatam e queimam florestas para fazer pastos; garimpeiros e mineradoras invadem reservas indígenas.
O governo Bolsonaro não só fecha os olhos para essa tragédia. É antes uma política do governo de promover, literalmente, terra arrasada no meio ambiente para favorecer ruralistas, mineradoras e garimpo. Desde as eleições, Bolsonaro promete acabar com qualquer tipo de proteção ao meio ambiente, acabar com reservas indígenas e quilombolas. Uma vez no governo, implementa esse projeto sem meios termos.
Bolsonaro e o seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desmontam o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), órgão responsável pela execução de políticas ambientais. Trocaram a diretoria do ICMBio, instituto que fiscaliza as unidades de conservação, colocando em sua presidência um coronel da Polícia Militar de São Paulo. O ápice da perseguição aos órgãos ambientais e de pesquisa foi a demissão do presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão. Bolsonaro contestou os dados do reconhecido órgão de pesquisa sobre o alarmante avanço do desmatamento no Brasil e acusou seus cientistas de estarem ligados a ONGs.
Primeiro, Bolsonaro negou que houvesse desmatamento e contestou os dados dos institutos de pesquisa. Agora, não podendo mais esconder os fatos e de forma constrangedora, acusa as ONGs de estarem incendiando a Amazônia. O ministro Salles, por sua vez, responsabiliza a população do estado pelas queimadas, gente pobre que mais sofre com esse inferno causado pelos madeireiros e ruralistas. Ricardo Salles, inclusive, já foi condenado por favorecer empresas de mineração quando fazia parte do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
A barbárie ambiental que estamos presenciando faz parte dessa política do governo Bolsonaro, que incentiva o avanço do desmatamento, do garimpo e das queimadas com seu discurso, com a perseguição a cientistas e aos órgãos ambientais e com o desmonte de todo o serviço público voltado à área. Para isso, persegue indígenas e quilombolas e, recentemente, acabou de aprovar uma lei permitindo o porte de armas em propriedades rurais. É uma política de extermínio da floresta e do povo que dela depende.
Essa política está ligada ao seu projeto de entrega do patrimônio nacional para o capital estrangeiro, incluindo a Amazônia e seus recursos às grandes mineradoras internacionais.
É preciso tomar as ruas e defender a floresta contra esse governo entreguista. Defender o meio ambiente e a população indígena, ribeirinha e quilombola desse massacre.
Fora Salles, já!  Amazônia fica, Bolsonaro sai!
Fonte:  Redação do sítio do PSTU, 22/08/2019

Protesto em SP decreta: “Bolsonaro cai. Amazônia fica”
Yahoo Notícias, 23 de agosto de 2019


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Protesto reuniu milhares de pessoas em São Paulo. Foto: Giorgia Cavicchioli/Yahoo

Por volta das 18h desta sexta-feira (23) já era possível ouvir vozes de milhares de pessoas ecoando gritos a favor da Amazônia no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na avenida Paulista. “Fora Bolsonaro, fora Salles”, “Queima o Bolsonaro” e alguns xingamentos voltados ao presidente eram ouvidos o tempo todo. Porém, um grito unia todos os presentes: “Bolsonaro cai. Amazônia fica”.
Era possível ver uma São Paulo que antes era polarizada entre esquerda e direita, mas que agora parecia se unir em prol de algo muito maior do que ideologias políticas. Há tempos não víamos tantas pessoas diferentes em um mesmo protesto. Idosos, crianças, famílias com bebês, cachorros, jovens, ativistas… para onde se olhava, era possível ver que o grupo era totalmente heterogêneo.

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Crianças com bichinhos de pelúcia e cartazes pediam pela preservação da Amazônia. Foto: Giorgia Cavicchioli/Yahoo

Esse foi um dos fatores que saltou aos olhos do ativista vegano Yoichi Takase, 44 anos. De acordo com o manifestante, as queimadas que estão acontecendo na Amazônia durante essa semana vão prejudicar todos os brasileiros. “As pessoas têm que acordar e isso independe de direita e esquerda. Não tem mais essa polarização. Existiu, ainda existe. Mas essa é uma necessidade. O bicho vai pegar pra todo mundo”, afirmou à reportagem.
As amigas Julia Cintra e Carolina Gomes, ambas de 17 anos e estudantes, pensam que não dá mais para esperar para começar a agir. “A Amazônia é um patrimônio do mundo. Sobrou muito pouca coisa por conta do desmatamento e da agropecuária”, afirmou Julia. “É importante preservar o que sobrou. Nunca vamos conseguir recuperar o que foi. Mas dá pra tentar acabar com isso o mais rápido possível”, continuou Carolina.
Essa angústia por rápidos resultados era visível até para a saída do ato do vão livre do Masp para a via da avenida. Por volta das 18h30 já era possível ouvir pessoas pedindo para que a manifestação saísse em passeata. Alguns decidiram sair antes por conta própria e caminharam em pequenos grupos em direção à rua da Consolação. Os menos ansiosos continuaram a esperar e a gritar.


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Bolsonaro foi alvo de protesto. Foto: Giorgia Cavicchioli/Yahoo

Durante essa espera para a saída da passeata, um jovem que passava de bicicleta pela região foi detido pela GCM (Guarda Civil Metropolitana). De acordo com testemunhas, ele passou pelo local onde as viaturas estavam paradas e criticou o governo em voz alta. Em seguida, um dos guardas teria puxado ele pelo casaco e dito que ele estava detido.
Outras pessoas afirmaram que o cabelo rastafari do jovem teria esbarrado no rosto de um dos guardas enquanto ele passava pelo local, o que o agente teria interpretado como uma provocação. Quando o jovem já estava algemado e dentro da viatura, a reportagem perguntou aos guardas qual era a acusação. Nenhum deles soube responder.
O jovem, no entanto, fez questão de responder dizendo que ele não tinha feito nada. Chorando, ele foi levado para o 78 DP (Distrito Policial) e liberado por volta das 21h30. Ele irá responder por desacato.
Pouco tempo depois da detenção do jovem, a manifestação saiu em caminhada sentido Consolação. Por volta das 19h30, os manifestantes seguiram pela rua Augusta. Com seus cartazes, faixas e bandeiras, o pedido era um só: para que nossos recursos naturais fossem preservados e que o presidente e o ministro do Meio Ambiente deixassem seus cargos.
Durante o percurso, o ato pegou alguns motoristas de surpresa, o que gerou a indignação de alguns deles. Um deles chegou a mostrar um envelope de exames para um dos manifestantes, dizendo que precisava passar. Sem sucesso. Precisou esperar que o ato passasse. Outros motoristas buzinaram em sinal de revolta e pressa. Porém, foi preciso que eles investissem na paciência.
Então, a chuva chegou. Fina e delicada, quase como lágrimas caídas do céu, ela molhou a todos. Os motoristas, que estavam protegidos em seus carros, não sentiram, mas ela era gelada e chegou a incomodar alguns manifestantes, que se protegeram com cachecóis e casacos. Mesmo assim, ninguém saiu das ruas.
O ato seguiu até a alameda Tietê e acabou por volta das 21h em frente ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Por meio de um jogral, os manifestantes alertaram para os problemas ambientais causados pelas queimadas e afirmaram que outro protesto irá acontecer no dia 5 de setembro.

Macron acusa Bolsonaro de 'mentir' e França se opõe a acordo UE-Mercosul
 
(Arquivo) O presidente da França, Emmanuel Macron (e), e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em reunião do G20, em Osaka
AFP, 23 de agosto de 2019.

O presidente francês, Emmanuel Macron, estima que seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, "mentiu" sobre seus compromissos com o meio ambiente e anunciou que, sob essas condições, a França se opõe ao controverso tratado de livre-comércio UE-Mercosul.
"Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula (do G20) de Osaka", declarou o palácio do Eliseu, estimando que "o presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade".
"Nestas circunstâncias, a França se opõe ao acordo do Mercosul", acrescentou a presidência francesa.
A rápida proliferação de incêndios florestais na Amazônia está se tornando um grande problema diplomático com múltiplas repercussões internacionais.
Macron se alarmou na quinta-feira no Twitter com os incêndios que devastam a maior floresta tropical do planeta, falando de "crise internacional" e convocando os países industrializados do G7, que se reúnem a partir de sábado em Biarritz (sul da França), "a falar sobre essa urgência".
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, dois dos membros do G7, também consideraram importante falar sobre os grandes incêndios durante a reunião de Biarritz.
O presidente brasileiro acusou seu colega francês de querer "instrumentalizar" o assunto "para ganhos políticos pessoais".
"A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI", escreveu Bolsonaro no Twitter.
O acordo de livre-comércio entre a UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), assinado no final de junho após 20 anos de negociações, tem sido amplamente criticado, particularmente pelo setor agrícola e por ambientalistas.
A França condicionou sua validação do acordo ao respeito do Brasil a certos compromissos ambientais que haviam sido discutidos durante a cúpula em Osaka (Japão), do G20, grupo do qual o Brasil é membro.


Queimada na Amazônia amplia pressão mundial; Bolsonaro mantém confronto

ESTADÃO - Edison Veiga* e Mateus Vargas

As queimadas recordes na região amazônica vêm despertando forte preocupação dos governos europeus e da comunidade científica, com ampla divulgação negativa sobre o governo Jair Bolsonaro. Nesta quinta-feira, 22, o presidente francês, Emmanuel Macron, falou em “crise internacional” a ser discutida pelo G-7, o grupo das nações mais ricas. Bolsonaro rebateu, dizendo que a sugestão “evoca mentalidade descabida no século 21” e ressaltou que o governo já está tratando do “crime” que ocorre na área.

O encontro da cúpula do G7 começa amanhã em Biarritz, sudoeste da França. Macron cobrou a pauta ecológica publicamente. “Nossa casa está queimando. Literalmente. A Amazônia - os pulmões que produzem 20% do oxigênio do planeta - está em chamas. Membros da cúpula do G7, vamos discutir esta questão de primeira ordem!”, escreveu no Twitter.

Integrante do parlamento europeu, o político belga Guy Verhofstadt também se manifestou sobre a necessidade de levar o assunto à mesa. “Os incêndios na Floresta Amazônica são nossa preocupação. Esta questão deve ser discutida pelos líderes do G-7 neste fim de semana e uma ação internacional precisa ser tomada”, afirmou.

Em julho, foi assinado um acordo histórico entre Mercosul e a União Europeia. Para ser implementado, contudo, os termos ainda precisam ser regulamentados pelos Parlamentos. Agora organizações não governamentais como o Greenpeace estão se mobilizando no continente europeu para pressionar seus parlamentares a não aprovarem os termos - já foram enviadas cartas a parlamentares da Áustria e da Alemanha.

Também a Organização das Nações Unidas (ONU) se manifestou. “No meio da crise climática global, não podemos permitir mais danos a uma fonte importante de oxigênio e biodiversidade”, disse o secretário-geral, António Guterres. A presidente da Assembleia-Geral, María Fernanda Espinosa, cobrou “ação urgente” e a Organização Meteorológica Mundial defendeu o uso de satélites para monitorar a situação.

'Mentalidade colonialista', diz Bolsonaro sobre intervenção de Macron

Nas redes sociais, Bolsonaro rebateu Macron, destacando que “o governo brasileiro segue aberto ao diálogo, com base em dados objetivos e no respeito mútuo”. “A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G-7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21.”

- O Governo brasileiro segue aberto ao diálogo, com base em dados objetivos e no respeito mútuo. A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI.

Mais tarde, em sua transmissão ao vivo na internet, pediu que denúncias de incêndio criminoso na região sejam dirigidas ao perfil no Twitter do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. “Se tiver suspeita ou certeza que há pessoas identificadas que estão tocando fogo de forma criminosa, botem aqui.” E voltou a atacar. “ONGs não trabalham para o bem do Brasil, mas para quem paga”, declarou. “Esses países não mandam dinheiro por caridade. Espero que dê para entender isso daí. Mandam com interesse. Para atingir a nossa soberania”. O presidente disse que é preciso “equilibrar narrativas” sobre a Amazônia. Afirmou ainda que há “inimigos aqui dentro.”

Já o vice-presidente, Hamilton Mourão, falou em “má-fé” de quem vê uma crise na região.

“Lá (na Amazônia) morei e sei que incêndios são episódicos em período de seca.” Transformá-los em crise, esquecendo as tragédias que o fogo causou nos EUA e Europa, é má-fé de quem não sabe que os pulmões do mundo são os oceanos, não a Amazônia.

Cientistas estrangeiros endurecem cobranças

Signatários de uma carta divulgada há quatro meses, pedindo que a União Europeia imponha sanções comerciais ao Brasil em caso de descumprimento de compromissos ambientais, cientistas estrangeiros endurecem as cobranças. “No Parlamento Europeu, há um movimento muito claro de exigir salvaguardas ambientais”, disse ao Estado o cientista Tiago Reis, pesquisador das relações entre commodities globais e uso do solo da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. “Vejo sinais claros de embargo econômico.”

Divulgada em abril, a carta contou com a assinatura de 602 cientistas de todos os 28 países membros da União Europeia. O documento pedia que o bloco condicionasse a compra de produtos brasileiros a determinados compromissos ambientais. Já a Comissão Europeia estuda há pelo menos quatro anos como suas relações comerciais afetam o clima mundial. A conclusão principal é de que adquirir produtos de um país que promova o desmatamento seria como “exportar desmatamento”.

Mercado ecoa preocupação

Especialista em alimentação, o pesquisador Mikael Linder, da Universidade Livre de Bolzano, na Itália, também ecoa essa preocupação. “É a imagem do Brasil. Nota-se uma associação dos produtos brasileiros à imagem da degradação ambiental”, avalia. Segundo ele, pesquisas preliminares apontam que, nos últimos meses, houve uma redução de alimentos de origem brasileira nas gôndolas dos mercados.

“Um modo para pressionar por mudanças no modo como o Brasil trata o meio ambiente poderá ser por meio de embargo a produtos nacionais”, diz ele.” Esse risco existe e pode se concretizar. É preciso que o governo federal entenda urgentemente que a preservação não é simples questão doméstica. Faz parte da agenda internacional.”

EM TEMPO: É demais você eleger um Presidente que vai destruir a natureza.  São muitos Direitistas que existem neste Brasil, os quais são co-responsáveis por este desgoverno. 


Presidente francês, Emmanuel Macron, diz que incêndios na Amazônia são 'crise internacional'

O presidente francês, Emmanuel Macron, em entrevista coletiva no dia 22 de agosto de 2019.


O presidente francês, Emmanuel Macron, disse nesta quinta-feira que os incêndios que atingem a Amazônia são uma "crise internacional" e convocou os membros do G7 a discutir "esta emergência" na cúpula de Biarritz, no sudoeste da França, prevista para este final de semana. Os participantes do encontro serão: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.

"Nossa casa está em chamas. Literalmente. A Amazônia, pulmão de nosso planeta, que produz 20% do nosso oxigênio, está pegando fogo. Essa é uma crise internacional. Membros do G7, vamos discutir esta emergência nos dois primeiros dias" da cúpula, tuitou o presidente.
A sugestão do francês não agradou em nada Bolsonaro. "O Governo brasileiro segue aberto ao diálogo, com base em dados objetivos e no respeito mútuo. A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI”, disparou o mandatário brasileiro.
Críticas da ONU
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou nesta quinta-feira estar profundamente preocupado com os incêndios florestais na floresta amazônica. Ele reforçou que não podemos mais arcar com os danos para uma das maiores fontes de oxigênio e biodiversidade.
EM TEMPO: Diante dessa gravidade ambiental é muito estranho a omissão das Forças Armadas
Fonte: AFP e Yahoo Notícias

‘Recorde de queimadas reflete irresponsabilidade de Bolsonaro’, rebatem ONGs
© ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL - 28/11/2013
Giovana Girardi

Dia 21.08.2019

Queimadas na Amazônia, 60% acima da média dos últimos 3 anos, estão ligadas a desmatamento.

O Observatório do Clima, grupo que reúne cerca de 50 organizações não governamentais do País, reagiu às insinuações feitas hoje pelo presidente Jair Bolsonaro – de que ONGs estariam envolvidas em relação às queimadas da Amazônia – e afirmou que o recorde de focos de incêndio observados neste ano é apenas “o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro”.

Em nota divulgada à imprensa, a coordenação do OC pontuou que as ações do governo federal contribuíram para o aumento do desmatamento na região e que “o fogo reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população amazônida e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso”.

O número de queimadas em todo o Brasil neste ano já é o mais alto dos últimos sete anos, conforme mostrou o Estado na segunda-feira. Desde 1.º de janeiro até esta terça-feira, 20, foram contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que contabiliza esses dados desde 2013.

Um pouco mais da metade (52,6%) desses focos vem ocorrendo na Amazônia, com o Mato Grosso na liderança. As queimadas já superam em 8% o recorde de 2016, um ano de extrema seca, que tinha registrado 68.484 focos no mesmo intervalo de tempo.

Considerando apenas o bioma Amazônia, eram 39.033 focos de calor até o dia 20 – alta de 140% em relação ao ano passado e de 70% em relação à média dos três anos anteriores. “Dois Estados criticamente atingidos, Rondônia e Acre, registram emergência de saúde devido à poluição do ar. A pluma de fumaça atingiu a cidade de São Paulo e várias outras no Centro-Sul do país”, escreve a organização.

A carta lembra nota técnica divulgada nesta terça-feira, 20, pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que revelou que a estiagem observada neste ano na região não explica o problema. “Neste ano, o bioma Amazônia viu menos dias consecutivos sem chuva do que a média entre 2016 e 2018: menos de 20 contra mais de 30, respectivamente. A análise de dados do Ipam para o bioma Amazônia mostra que o fator que melhor explica o aumento nos focos de calor é o desmatamento. Os dez municípios mais desmatados em 2019 são também os dez que mais queimaram na região”, pontua.

“Desde que assumiram, Bolsonaro e (Ricardo) Salles têm se dedicado a desmontar as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização. Extinguiram o órgão responsável pelos planos de controle do desmatamento na Amazônia e no Cerrado, sem ter até hoje apresentado nenhum plano alternativo contra a destruição; cortaram um quarto dos recursos do Ibama; deixaram 8 de 9 superintendências regionais do órgão acéfalas até hoje, o que inibe operações de fiscalização; e desmobilizaram o Grupo Especial de Fiscalização, a unidade de elite do Ibama, que não foi a campo na Amazônia ainda neste ano”, continua a organização.

“Também sinalizaram a falta de interesse em combater o desmatamento e prover alternativas econômicas sustentáveis para a região ao suspender o Fundo Amazônia, que banca esse tipo de atividade. Ao mesmo tempo, empoderam criminosos ambientais, sinalizando, por exemplo, a abertura das terras indígenas à exploração e a tolerância com a impunidade. Alguns governos estaduais também ajudaram a acender o pavio, ao reduzir a participação de suas PMs nas operações de fiscalização ou sinalizar que desmatadores não seriam punidos.”

Declarações de Bolsonaro

Pela manhã, ao comentar os dados de aumentos de queimada, Bolsonaro fez insinuações,
sem mostrar nenhuma prova, de que organizações afetadas por suspensão de repasses do Fundo Amazônia, poderiam estar por trás das queimadas.

"O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs. Dos repasses de fora, 40% ia para ONGs. Não tem mais. Acabamos também com o repasse de dinheiro público. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro", disse Bolsonaro, referindo-se à suspensão de repasses, por parte do governo, de recursos do Fundo Amazônia para projetos de combate ao desmatamento”, disse.

“Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, continuou.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, viaja para o Mato Grosso nesta quarta, 21, justamente para falar sobre as queimadas. Ele vai dar uma entrevista coletiva às 17h30 no Centro Integrado de Operações Especiais no Aeroporto de Cuiabá, junto com o governador do Estado, Mauro Mendes.


Os impressionantes registros da NASA sobre a Amazônia em chamas

                                                        Redação Hypeness, 21.08.2019
Foto 1: NASA     © Kauê Vieira


Descontrole e crimes ambientais não são novi-dade na região amazônica. 

No entanto, queimadas recordes e seus efeitos acionaram o botão vermelho, não só entre ambientalistas, mas em todos os que lutam pela preservação da natureza.
Há dias ardendo em chamas, a floresta amazônica registrou o maior número de queimadas em sete anos. Apenas entre janeiro e agosto são 72.843 pontos mapeados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Número 83% maior do que no mesmo período de 2018. 

Imagens de satélite da NASA dão a dimensão da magnitude do problema. Parte do mapa brasileiro está coberto por uma densa névoa acinzentada. Fumaça que vem de Rondônia, do Acre, que declarou estado de alerta ambiental e de Amazonas, que decretou situação de emergência na região sul e na zona metropolitana de Manaus por causa do fogo. 
Olha pro céu 

Além dos dados científicos, a situação ganhou destaque pelos efeitos sentidos na  maior cidade do Brasil. São Paulo viu o dia virar a noite às 15h da tarde de uma segunda-feira fria de inverno. O fenômeno, segundo meteorologistas, é resultado do encontro de uma névoa de fuligem das queimadas com uma frente fria. O efeito não escureceu apenas o céu. Inúmeros registros de água suja, com partículas de fuligem, foram compartilhados nas redes sociais. 
Foto 2:  Leandro Matozo/GloboNews/Reprodução

Vaiado em conferência climática da ONU em Salvador, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atribuiu o aumento das queimadas à seca. 

Com décadas de atuação na floresta tropical, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) discorda. O órgão afirma que a estiagem este ano está abaixo da média e o desmatamento deve ser considerado protagonista.

Tempo seco, vento e calor fizeram com que os incêndios aumentassem muito em todo o País. Os brigadistas do ICMBIO e IBAMA, equipamentos e aeronaves estão integralmente à disposição dos Estados e já em uso.

Efeito eleitoral 

Desde que assumiu o comando do poder executivo, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) se posicionou ao lado do agronegócio – que sonha com a plantação de soja e gado na Amazônia. A gestão do ex-deputado federal afrouxou a fiscalização de crimes ambientais, abriu a porteira para a liberação de agrotóxicos e estuda permitir o minério em terras indígenas. 

O posicionamento implicou no crescimento do desmatamento. Projeções do INPE mostram que a gestão Bolsonaro pode aumentar em 268% a destruição da floresta amazônica. 

Sobre as queimadas recordes Bolsonaro, como de costume, atirou para todos os lados. O presidente acusou ONGs, que pretendem, segundo ele, macular sua imagem pelo corte do repasse de verbas. O político do PSL, no entanto, não apresentou uma prova sequer. 

“O crime existe e nós temos que fazer o possível para que não aumente, mas nós tiramos dinheiro de ONGs, repasses de fora, 40% ia para ONGs, não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta de dinheiro. Pode estar havendo, não estou afirmando, a ação criminosa desses ‘ongueiros’ para chamar a atenção contra minha pessoa contra o governo do Brasil”, declarou aos jornalistas. 

EM TEMPO: Pelo andar da "carruagem" esse Presidente vai destruir tudo. Isso é mais uma prova que uma parcela considerável da população gosta de votar em seus "carrascos".


"Queimadas são resultado de má fé, preguiça e ignorância”

© Getty Images/AFP/R. Alves Provided by Deutsche Welle
dw.com

Dia 21.08.2019

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que as queimadas no Brasil aumentaram 83% quando comparadas as ocorrências registradas entre janeiro e 18 de agosto de 2019 às do mesmo período no ano passado.


Segundo o Programa Queimadas do Inpe, nos primeiros oito meses deste ano foram registrados 72.843 focos de queimadas contra 39.194 no ano anterior.

Apenas na região Amazônica, foram detectados 22 mil focos incêndios florestais entre 1° de 19 de agosto, superando marcas dos últimos nove anos, que ainda consideravam o total de dias do mês.
Nos primeiros 20 dias de agosto, o Pará registrou 7.130 focos de incêndio e o Amazonas conta até agora com 5.305 focos – taxa mais alta verificada no Estado desde 2005. Mato Grosso e Rondônia são os próximos no ranking, com 4.905 e 4.424 focos de queimadas respectivamente.

Sete vezes ao dia, imagens de pelo menos oito satélites são atualizadas no sistema para indicar os focos detectados. As informações são públicas e podem ser consultadas livremente.

Em áreas de monitoramento especial, como unidades de conservação, e-mails de alerta são enviados aos órgãos responsáveis seis vezes ao dia - ou em forma de resumo diário às 23h20 (horário de Brasília).
Os satélites usados no programa têm capacidade de detectar frentes de fogo a partir de 30 metros de extensão por 1 metro de largura. É na temporada de seca na Amazônia que os números disparam, entre junho e outubro.

Proibidas pela legislação de uma forma geral, as queimadas provocam morte de animais e devastação da vegetação, deixam o solo mais pobre e reduzem a absorção de água pelo solo.

Em entrevista à DW Brasil, Alberto Setzer, pesquisador do Inpe e coordenador do Programa Queimadas, alerta para novos recordes no número de focos de incêndio em 2019.

DW Brasil: Como vocês têm percebido pelo monitoramento o comportamento do fogo na Amazônia nesta temporada de seca?

Alberto Setzer: Os dados estatísticos mostram que na Amazônia Legal e Bioma Amazônia estamos
próximos das médias no período de seca (junho a outubro). Já no período específico de 1° de janeiro a 19 de agosto de 2019, as detecções de focos de queimadas/incêndios que consideram os Estados da Amazônia e o restante do Brasil já são as maiores em anos recentes. Especificamente na Amazônia, 2019 também está sendo mais seco que o normal. Então são esperados totais anuais próximos ou mesmo superiores a 2017, um dos anos com maior registro de focos na região.

Qual tem sido o impacto desses incêndios florestais na região e em outras partes do país?

Pelo o que se acompanha na mídia, o impacto está sendo negativo com dezenas de milhares de internações em hospitais devido a problemas respiratórios causados pela fumaça das queimadas/incêndios, mortes em acidentes rodoviários e em áreas rurais, perdas de propriedades e plantações, interrupção do tráfego aéreo, etc. Vários Estados declararam situação de emergência devido ao uso indevido do fogo, como Acre, Amapá, Pará, Maranhão, Rondônia. A fumaça alcança outras regiões, algumas distantes milhares de quilômetros. Mantemos alguns exemplos no nosso mostruário de validações.

O que é possível comentar sobre as causas dos incêndios a partir das observações ?

A causa em 99,9% dos casos é a atividade humana - proposital ou acidental. Costumo fazer menção a José Bonifácio de Andrada e Silva (estadista do Império), que há uns 200 anos referiu-se às queimadas como "resultado da ignorância aliada à preguiça e à má fé". Como hoje em dia os efeitos das queimadas são amplamente conhecidos, precisamos apenas alterar a sequência e nos referirmos às queimadas como "resultado da má fé associada à preguiça e à ignorância".

Como os dados do programa de monitoramento de queimadas têm sido usados?

Eles são usados amplamente nas operações e na gestão administrativa de combate às queimadas, para autuar infratores, e em trabalhos científicos diversos. Iniciativas como o Centro Integrado Multiagência de Coordenação Operacional e Federal em Brasília (Ciman) são alimentadas e mantidas pelos dados de queimadas do Inpe. Entre os inúmeros usuários destacam-se as secretarias estaduais de meio ambiente, Ibama, ICMBio, ANEEL, ONS, Corpo de bombeiros, Polícia Ambiental, Serviços Florestais estaduais, entre outros. Possivelmente, nenhum outro trabalho técnico/científico no país é tão utilizado como os dados e resultados gerados pelo Programa Queimadas do Inpe.

O programa já recebeu recursos do Fundo Amazônia e também de parcerias de cooperação técnica internacional de agências alemãs. Há algum risco de sofrer com o corte de verbas anunciado pelos governos da Alemanha e Noruega?

Por enquanto não temos nenhuma informação a respeito. O apoio nos últimos que tivemos da Agência de Cooperação Alemã (GIZ) e Banco de Desenvolvimento Alemão (KFW), do Banco Mundial e do Fundo Amazônia para o Programa Queimadas foram para projetos que já se encerraram.


JN compara Bolsonaro a Lula e dá lição sobre reflorestamento
© Reprodução/TV Globo


O “Jornal Nacional” desta segunda-feira (19.08.2019) questionou a visão do presidente Jair Bolsonaro sobre política ambiental e mostrou que ele está errado quando se refere ao desmatamento na Alemanha. As informações são do Blog do Mauricio Stycer.

Após apresentar uma reportagem que exibiu o efeito de queimadas no Mato Grosso e a falta de recursos para combater os incêndios, o apresentador William Bonner leu um texto didático sobre o assunto. A principal referência foi a uma fala de Bolsonaro, em resposta à decisão do governo alemão de suspender o envio de recursos para proteção ambiental no Brasil.

Bonner primeiro comparou a postura de Bolsonaro à do ex-presidente Lula: “Quando a Alemanha e a Noruega anunciaram a suspensão do envio de recursos para a proteção da floresta amazônica, o presidente Jair Bolsonaro repetiu uma postura que o então presidente Lula adotava quando estrangeiros criticavam a política ambiental do Brasil. Os dois presidentes afirmaram que a Europa destruiu todas as suas florestas e que, por isso, não tem moral para dar conselhos sobre a Amazônia.”
Bonner acrescentou: “Mas nos últimos cem anos a Europa enfrentou duas guerras mundiais, o fim do comunismo e viu o surgimento da União Europeia.

E apesar de todas essas transformações políticas e econômicas, cientistas afirmam que o continente se tornou mais verde. Hoje, depois de uma política de intenso reflorestamento, quase metade do território europeu é coberto por florestas.


Madeireiros usam discurso do governo Bolsonaro para intimidar Ibama

Eduardo Gonçalves


© //Reprodução CLIMA DE GUERRA - Caminhão do Ibama incendiado em Rondônia: em represália à apreensão de madeira ilegal.

O discurso antiambientalista do governo Jair Bolsonaro tem sido utilizado por exploradores da Amazônia para intimidar agentes de fiscalização do Ibama. “As ameaças sempre ocorreram, mas eles nunca se sentiram tão empoderados como agora”, disse um fiscal que trabalha há mais de 15 anos no órgão.

As hostilidades por parte de madeireiros, garimpeiros e grileiros ilegais não são nenhuma novidade, mas passaram a ser mais contundentes neste ano. A cidade de Espigão d’Oeste, em Rondônia, por exemplo, vive um clima de tensão desde o início de julho, quando homens encapuzados com pedaços de pau pararam um caminhão-tanque do Ibama, espancaram o motorista e em seguida incendiaram o veículo, que transportava 8.000 litros de combustível. A carga serviria para abastecer um helicóptero que sobrevoaria reservas indígenas da região, onde havia suspeitas de roubo de madeiras. O ataque não impediu a fiscalização e, dias depois, os agentes descobriram nos pátios das serrarias locais 10.000 metros quadrados de toras sem origem – ou seja, ilegais. Boa parte do lote encontra-se até hoje sob o embargo do órgão.

No último dia 8, o vice-prefeito da cidade Waltinho Lara (PSDB-RO), que é ligado a madeireiros locais, tentou liberar o material. “Foi concordado com o ministro. Está parecendo uma afronta muito grande”, disse ele a uma fiscal, referindo-se ao ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, em uma gravação obtida por VEJA. E prosseguiu: “Foi reunida toda a bancada federal. Eu acho incrível isso. Joga a classe política, e fica a gente brigando entre a gente. (…) Parece uma teimosia entre o Ibama e o governo. Não sei o que acontece”, disse ele. Como a agente não cedeu ao apelo, Lara elevou o tom: “Pode acontecer algo pior, estou avisando”. A agente, então, rebateu “O sr. está ameaçando”, e ele respondeu: “Não. Estou alertando”.

Situações desse tipo começaram a se repetir no país desde que o presidente Jair Bolsonaro venceu as eleições em outubro do ano passado. No fim daquele mês, uma equipe do Ibama encontrou caminhões e tratores em uma área desmatada dentro de uma reserva indígena, em Cajubim, Rondônia. Ao sair do local, os fiscais foram parados no meio de uma ponte por um grupo de madeireiros, que portavam facões e pedaços de pau. Eles, então, começaram a exigir que só liberariam a passagem se fossem devolvidos os veículos. “Foi aí que ouvi deles: ‘Agora que o Bolsonaro ganhou. Essa história de terra indígena vai acabar. Vai ser tudo nosso'”, relatou um fiscal que participou da ação. O impasse só foi resolvido algumas horas depois quando chegou um helicóptero do Ibama com reforços – e o grupo fugiu antes que a aeronave pousasse.

Em julho deste ano, outra equipe de fiscais foi cercada por parte da população de Placas, no Pará, onde também há desmatamentos ilegais. Os agentes estavam acompanhados de homens do Exército, mas não foi suficiente. Uma ponte da Transamazônica chegou a ser incendiada com pneus e os agentes tiveram que procurar abrigo em uma delegacia.

O clima de hostilidade persiste na região amazônica. Nesta semana, a Polícia Civil de Rondônia prendeu sete homens acusados de terem participado do ataque ao caminhão-tanque do Ibama. Segundo as investigações, alguns deles já haviam sido flagrados antes derrubando árvores em áreas protegidas. Com eles, foram encontrados três armas de fogo e cinco motosserras.

A reunião citada pelo vice-prefeito de Espigão d’Oeste ocorreu na terça-feira, dia 6, entre o ministro e parlamentares de Rondônia. O líder da bancada estadual, deputado Lúcio Mosquini (MDB-RO), saiu de lá satisfeito. Em áudio que enviou a correligionários, relatou que o encontro foi “muito bom” e que o ministro foi “sensível aos nossos apelos”. “Quem [do Ibama] estava trabalhando na operação será substituído por outros fiscais (…) E as madeiras apreendidas permanecerão nos pátios das serrarias. O empresário será o fiel depositário, onde será garantido a ele o amplo direito da defesa”, disse ele.
A VEJA, o deputado federal afirmou que é a favor dos madeireiros legais, contra ações “espetaculosas” do Ibama e que vê com bons olhos a gestão do ministro Salles. “Eu sou contra a ilegalidade, mas o Ibama não pode chegar lá fazendo terrorismo, com helicóptero, metralhadora. Sou contra essas ações.” Mosquini é autor de um projeto de lei, apresentando em março, que isenta da responsabilidade o caminhoneiro que estiver transportando madeira ilegal. Segundo o texto, as toras devem ser apreendidas, mas o caminhão e o caminhoneiro devem ser liberados.

Em abril, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou uma ação do Ibama que, conforme prevê a legislação, incendiou dois caminhões e um trator de desmatadores ilegais na floresta do Jamari, em Rondônia. “Não é para queimar nada”, disse o presidente, acrescentando que mandaria abrir procedimento administrativo contra os funcionários envolvidos. Os servidores alegaram que a área era remota e os veículos estavam sem condição de serem transportados até a base – a estrada estava coberta de lama e os freios estavam quebrados. Uma lei de 2008 autoriza os fiscais a “destruírem ou inutilizarem” os equipamentos de infratores quando não houver possibilidade de retirá-los do local.
Apesar de ainda não ter nenhuma orientação formal por parte da pasta do Meio Ambiente, alguns agentes do Ibama relataram a VEJA que passaram a evitar ir a áreas mais distantes de desmatamento onde sabem que podem se deparar com situações do tipo.

Reportagem publicada por VEJA mostra que as bravatas do presidente Jair Bolsonaro e as ações do governo relacionadas a temas como o desmatamento da Amazônia arranharam a imagem do Brasil no exterior e podem gerar perdas importantes na economia. Sinalizações dos riscos ao país foram emitidas nos últimos dias. Os governos de AlemanhaNoruega cancelaram repasses milionários para programas de preservação da floresta amazônica sob alegação de que o Brasil não demonstra comprometimento para evitar crimes ambientais.


Noruega irá bloquear verba para o Fundo Amazônia, diz jornal


Folhapress, 15 de agosto de 2019

Governo Jair Bolsonaro (PSL) tem criticado a divulgação dos dados de desmate e afirmado que eles podem prejudicar acordos comerciais - Foto: Pedro Ladeira/Folhapress




RESUMO DA NOTÍCIA
·                    Noruega suspenderá mais de R$ 130 milhões destinados ao Fundo Amazônia
·         Decisão é motivada pelas medidas tomadas pelo presidente Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente
O ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, anunciou nesta quinta (15) que a Noruega suspenderá cerca de R$ 133 milhões que seria destinado para o Fundo Amazônia. Segundo Elvestuen, o Brasil está quebrando o acordo para redução do desmatamento. A Alemanha também anunciou, no último sábado (10), que suspenderia parte do financiamento de proteção ambiental para o Brasil.
De acordo com declarações do ministro norueguês ao jornal "Dagens Næringsliv", o Brasil quebrou o acordo relacionado ao Fundo Amazônia, paralisado desde a extinção, por decreto do presidente Jair Bolsonaro (PSL), dos conselhos que ordenam o fundo o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa) e o Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA).

Elvestuen também afirma que os números do desmatamento estão crescendo significativamente e que o Brasil aparenta não querer parar com o desmatamento.
Recentemente, o desmatamento na Amazônia tem crescido de modo acentuado. A destruição em junho aumentou 88% e em julho 278% —em comparação a junho e julho de 2018—, segundo dados do Deter do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Pelo aumento no desmatamento, a Alemanha também já anunciou que vai suspender mais de R$ 150 milhões.
O governo Jair Bolsonaro (PSL) tem criticado a divulgação dos dados de desmate e afirmado que eles podem prejudicar acordos comerciais. Contudo, as críticas do governo, em geral, não são amparadas por informações científicas.
Ao questionar os dados do desmatamento, Bolsonaro chegou a afirmar que Ricardo Galvão, então diretor do Inpe, poderia estar a "serviço de alguma ONG". Galvão se defendeu e fez a defesa da acurácia das informações de desmate. O governo vem falando ainda em sensacionalismo na divulgação dos dados e prejuízo da imagem internacional do Brasil.
O questionamento constante dos dados do desmatamento levou à exoneração, em 2 de agosto, de Galvão. Assumiu, então, como diretor interino do Inpe, um militar.
A relação ambiental entre o Brasil e países europeus que dão recursos para proteção do ambiente tem se deteriorado desde o início da gestão Bolsonaro.
Na última semana, em audiência no Senado, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente do Brasil, criticou a Noruega. "A Noruega, que é o principal doador do Fundo Amazônia, é o país que explora petróleo no Ártico, e vem criticar ou colocar o argumento da exploração de petróleo na foz do [rio] Amazonas. Eles exploram no Ártico. Eles caçam baleia. E colocam no Brasil essa carga toda, distorcendo a discussão ambiental", disse Salles.
A chanceler alemã, Angela Merkel, já afirmou ver com grande preocupação as ações do atual governo em relação ao desmatamento.
Após o anúncio do corte de verba alemãs para a Amazônia, Bolsonaro agiu com ironia, falou que o Brasil não precisava do dinheiro e que Merkel deveria usar o dinheiro para reflorestar a Alemanha.
Também há preocupação por parte do presidente francês, Emmanuel Macron, que colocou a permanência do Brasil no Acordo de Paris como condição para concretização de acordos comerciais. O governo da França também espera ações concretas do Brasil quanto a questões ambientais, o que, caso contrário, poderia dificultar a relações comerciais entre União Europeia e o Mercosul.

EM TEMPO: Na hora de votar procure escolher o melhor e, não, o pior


'Era preciso pôr um marco claro de resistência', diz ex-diretor do Inpe
  
Exame.com - Murilo Bomfim

© Germano Lüders/EXAME 

Galvão: ele esteve no centro da crise ambiental do governo Bolsonaro, que ganhou dimensão internacional nas últimas semanas.



São José dos Campos — No dia 20 de julho, ao dizer que o presidente Bolsonaro tomou uma atitude pusilânime ao desqualificar dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento na Amazônia, Ricardo Galvão tinha consciência de que seria afastado do cargo.

Engenheiro de Telecomunicações pela Universidade Federal Fluminense, Galvão é mestre em Engenharia Elétrica pela Unicamp e doutor em Física de Plasmas Aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology, o MIT.

Galvão esteve no centro da crise ambiental do governo Bolsonaro, que ganhou dimensão internacional nas últimas semanas. Segundo o cientista, as tensões tiveram início em janeiro, quando o Ministério do Meio Ambiente cortou a comunicação com o Inpe, ao mesmo tempo em que tecia críticas ao instituto na imprensa.

Leia trechos da entrevista concedida por Galvão a EXAME:

Em entrevistas recentes, o senhor comentou que o ministro Ricardo Salles vem fazendo diversas críticas ao Inpe há alguns meses. Que tipo de críticas foram feitas e quando elas começaram? 

As críticas eram voltadas principalmente à precisão de um de nossos sistemas, o Deter [Desmatamento em Tempo Real], que dá alertas sobre desmatamento. Foram falas públicas, na imprensa. Nenhuma das críticas chegou diretamente ao Inpe. Ele dizia que a precisão não era suficiente para que o Ibama tomasse atitudes, e que a periodicidade dos alertas não era satisfatória. Isso começou no início de janeiro com uma motivação que nós achamos muito estranha: para substituir o papel do Inpe no monitoramento, ele queria contratar a empresa americana Planet.

Esse posicionamento não se baseia em fatos: o Deter foi desenvolvido pelo Inpe em 2003 a pedido da então ministra Marina Silva, e usa um satélite próprio para fazer uma varredura sobre a Amazônia em uma largura de 800 km, com resolução de 60 metros por pixel. Isso é bastante suficiente, porque três ou quatro árvores derrubadas já geram alerta. O ministro Salles começou a dizer que as imagens não serviam porque tinham de ter dois metros de resolução, o que é uma infantilidade enorme.

Ter essa resolução seria gerar uma quantidade imensa de dados, o que é caríssimo e desnecessário. O sistema foi utilizado pela Marina e por todos os outros ministros do Meio Ambiente para fazer uma redução violenta e substancial na taxa de desmatamento da Amazônia. Entre 2004 e 2012, a queda em desmatamento foi superior a 90%. Isso foi possível usando os dados do Deter.

O que mudou na relação do Inpe com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e como isso culminou na crise com o Governo Federal?

O Inpe tinha um acordo de cooperação técnica com o Ibama: eles tinham acesso aos dados e, sempre que queriam mais detalhes, entravam em contato. Nunca tivemos problemas, apenas discussões técnicas sobre os dados. A partir deste governo, todo o canal de comunicação com o MMA foi cortado pelo ministro Salles.

No dia 19 de janeiro, publicamos uma nota técnica muito elegante em resposta às críticas do ministro, explicando como o Inpe fazia o monitoramento e nos propondo resolver todas as indagações, mas não houve nenhuma resposta. Em março, entrei em contato com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC).

Fui a Brasília com especialistas do Inpe para avisar que o confronto que o MMA estava tendo conosco não era bom para o Brasil, e que teria grande repercussão internacional porque eles não tinham noção da dimensão do Inpe no cenário científico estrangeiro. Propusemos um workshop com o Inpe e o Ibama para discutir e reatar o canal de comunicação.

Em vez de ter uma iniciativa do ministério, fui espinafrado por ter ido falar com um secretário sem antes ter falado com meu chefe imediato. Infelizmente, o MCTIC está dominado por uma mentalidade militar que é ortogonal à mentalidade científica. Tem que falar com o sargento, depois com o tenente, com o coronel. Não é assim que funciona em ciência, e eles não entendem isso.

As críticas continuaram, até que, em junho, o general Augusto Heleno [ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional] deu uma entrevista fazendo uma crítica muito ofensiva para nós, sem falar conosco. Disse que nossos dados de desmatamento eram manipulados.

Isso criou uma consternação enorme no Inpe, então enviei um ofício ao ministro Marcos Pontes em julho, novamente sugerindo reatar o canal de comunicação com o MMA, com o Ministério da Agricultura e com o Gabinete de Segurança Institucional, e propondo até o desenvolvimento de ferramentas computacionais para atender as demandas dos ministérios na análise dos dados, da forma como eles quisessem. Isso foi totalmente ignorado. Por isso a acusação do presidente Bolsonaro criou um trauma enorme no Inpe. Ele não teve a dimensão do que estava falando.

Quando ele disse que os dados eram categoricamente mentirosos, ele disse que os cientistas cometem crime de falsidade ideológica. É uma acusação criminal fortíssima. Recebi mensagens de pessoas indignadas, querendo saber qual seria a minha resposta. Por isso respondi de maneira tão contundente em entrevista ao Estado de S. Paulo. Para nós, cientistas, a soberania e a dignidade da ciência estão acima de tudo.

Já tivemos, no governo militar, cientistas que honraram seus nomes em defesa da ciência e foram perseguidos também. Eu sabia que minha resposta culminaria na minha exoneração, mas era necessário colocar um marco bem claro de resistência, porque não é possível que esse cenário obscurantista esteja retornando ao país.

O que explica este desgaste na relação com o MMA?

É uma questão ideológica. Em 2008, o Inpe teve um embate muito grande com o governo de Blairo Maggi, do Mato Grosso. O instituto mostrava que os dados do desmatamento estavam crescendo muito no estado, e Maggi dizia que os dados estavam errados. Isso também gerou ataques fortes ao Inpe, até o então presidente Lula estava a favor do governador.

A diferença é que a ministra era a Marina Silva, que estava preocupada com o meio ambiente. Houve uma reunião na Presidência, com representantes do Inpe, a Marina e o Lula, que foi quem deu a solução: pegar um avião e sobrevoar a área onde o Inpe acusava desmatamento, para confirmar. Foi só fazer isso para o Maggi perder toda a razão e o Inpe parar de ser atacado.

Por que não fizeram isso agora? 

Por questão ideológica, porque o governo tem um posicionamento muito claro, influenciado por gurus como Olavo de Carvalho, que é anticiência. Ouvem-se pessoas que contestam o aquecimento global, o que é vergonhoso para o país. Recentemente, o ministro Salles falou sobre exploração sustentável da floresta — o que está correto, mas não há um plano detalhado e estratégico de como fazer isso.

Nenhum órgão que conheça isso no Brasil, nenhuma universidade foi consultada. Quando se fala que vai explorar de forma sustentável, mas não se tem um plano, a mensagem é: vão lá e cortem as árvores, ninguém vai mexer com vocês. Existe um posicionamento ideológico quando o presidente diz “A Amazônia é nossa”. Primeiro que ela não é só do Brasil, é também dos países limítrofes.

E a Amazônia é um benefício da humanidade. O presidente se esquece que todo o clima brasileiro pluviométrico, até a Argentina, e a nossa agricultura dependem fundamentalmente da floresta. Não se pode brincar com isso, a única solução é científica e não pode estar abaixo de ameaças políticas, principalmente de pessoas que não têm formação suficiente para entender o problema.

Esta ideologia explica o fato de o ministro Marcos Pontes ter ignorado os avisos do Inpe?

Não. Todas as vezes que ele foi questionado sobre meio ambiente, a resposta dele foi correta: diz que é um problema que deve ser atacado cientificamente. No entanto, ele está no governo e tem de obedecer ordens superiores. E ele tem uma formação militar, segundo a qual não se fala contra o chefe. Aliás, quando ele me exonerou, a conversa foi ótima. Ele disse que a minha posição ficou insustentável pela maneira que critiquei o presidente.

Nenhum militar teria feito o que fiz, mas eu sou civil. O primeiro ponto, para mim, é a ciência. O ministro Pontes nunca questionou dados ou metodologia do Inpe. Ele não respondeu sobre ter ignorado as comunicações do instituto, apenas disse que há problemas de comunicação dentro do ministério.

Existiu, de fato, um erro na análise mensal de dados do Deter, o que só poderia ser feito com base nas informações do sistema Prodes, em comparação anual? De quem foi o erro de interpretação?

O Deter realmente não pode ser usado para comparação mensal, e isso consta no site do Inpe. Isso porque a resolução não permite esse tipo de análise, e também porque eu posso detectar um desmatamento em um mês, que não foi detectado anteriormente porque a região estava nublada, por exemplo. Mas o Inpe informa isso.

O que acontece é que os dados ficam disponíveis diretamente no site porque há uma obrigação da Lei de Acesso à Informação, e qualquer pessoa pode conferi-los. Aconteceu que a imprensa somou todas as áreas, comparou com a soma do mesmo mês no ano anterior e disse que houve um aumento de 88%. Está errado. Mas o presidente da República me acusou de fornecer os dados para a imprensa, e eu nunca fiz isso porque não precisa.

Eles estão na página automaticamente. Mais uma vez, é a incompreensão de alguém que não tem formação suficiente para entender como é que funcionam as coisas. Mas o Inpe continua a publicar os dados. Acabou de sair um alerta enorme do Deter, e o governo vai ter problemas porque os dados do sistema Prodes, que mede o desmatamento anualmente com imagens de qualidade muito maior, vão ser publicados no fim do ano e devem mostrar um desmatamento muito acima do que o Deter vem mostrando, o que ocorre há 13 anos. O novo diretor indicado do Inpe [Darcton Damião] conversou comigo e se comprometeu de que não haverá nenhuma proibição aos dados do Prodes. Espero que isso realmente seja feito.

Existe uma especulação de que o pesquisador da Embrapa Evaristo de Miranda teve influência na sua exoneração. O que o senhor pensa dessa hipótese?

Não o conheço pessoalmente e não posso dizer que ele tenha feito isso. Mas sei, pelo pessoal do Inpe, que ele tem uma influência muito grande no governo, e há anos ele vem tentando tirar do instituto a responsabilidade pelo monitoramento do desmatamento da Amazônia, com o intuito de passar para a Embrapa.

Ele tem algumas teorias completamente opostas ao resto da ciência. Diz que o Brasil não desmata, isso a partir de modelos que ele diz que desenvolve. Não sou especialista na área, mas em uma apresentação há cerca de quatro anos em um congresso, ele foi fortemente questionado pelo cientista Carlos Nove, que pediu que ele mostrasse dados, e esses dados nunca foram mostrados. Além de ele não ter publicações científicas que comprovem o que ele diz, existem publicações de outros cientistas na Nature que mostram que o que ele faz não está correto.

Como o senhor está lidando com essa crise, depois de ela ter tomado a dimensão que tomou?

Um colega do Inpe fez uma analogia com o “Efeito Borboleta”, em que uma borboleta que bate asa na Califórnia pode criar uma tormenta na Ásia. É claro que a energia da borboleta não é suficiente para a tormenta, mas existe uma enorme energia acumulada nos sistema, que é facilmente desencadeada.

Foi o que ocorreu após a minha reação às acusações: já havia na própria sociedade e no meio científico uma indignação muito grande com a forma que esse governo tem tratado a academia. Eu me indignei e isso, de certa forma, se concentrou em mim, muito mais do que eu gostaria.

Mas é inevitável ter essas consequências políticas. Espero nunca mais ter de criticar nem brigar com o governo Bolsonaro. Tenho dado entrevistas até para veículos estrangeiros e recebi mensagens de instituições da Holanda, da Itália, da Alemanha. Não são manifestações em apoio a mim, mas ao Inpe. Isso tem sido enorme. A própria Nasa se manifestou.

Como está o clima dentro do Inpe?

A indignação foi grande. E atingiu até mesmo os alunos de pós-graduação, o que mostra que o presidente não tem noção da grandeza do instituto. O Inpe tem sete cursos de pós-graduação, sendo o mais destacado justamente o de observação da Terra, que foi onde o novo diretor do Inpe fez mestrado.

Os mesmos pesquisadores que trabalham nos dados do Deter são os professores do curso. E tem uma questão fundamental na ciência, tratada em revistas científicas nacionais e internacionais, que é a manipulação de dados por pesquisadores.

Como o presidente do Brasil diz que os dados do Inpe são mentirosos, cheguei ao instituto e alguns alunos me questionavam sobre a consequência do evento para o curso de pós-graduação, já que os professores eram acusados. Até por isso tive a reação que tive. Houve uma indignação, mas fui apoiado por todos no Inpe. Foi uma solidariedade enorme, todos se sentiram representados pela forma contundente da qual respondi.

Quais são as consequências da entrada do novo diretor no Inpe?

Eu considero muito sensata a escolha do diretor interino pelo ministro Pontes. É alguém da Força Aérea Brasileira, mas que fez mestrado no Inpe e usou dados do Prodes na tese de doutorado. Ele conhece o instituto internamente e tem experiência científica. Acredito que até pelo próprio prestígio, ele deve respeitar os dados.

Com relação ao Inpe como instituição, vai ser difícil o governo fazer outros ataques porque, além do prestígio que já tinha, esse evento todo aumentou violentamente a reputação do instituto. Toda a comunidade científica saiu em defesa do Inpe, que tem grande penetração, inclusive internacional.

O governo comentou a ideia de transferir a responsabilidade do monitoramento, até mesmo para uma empresa estrangeira, como o senhor mesmo comentou. O que explica essa ideia, já que os dados são tidos como confiáveis até mesmo pela Nasa?

Não posso responder por eles. Isso foi dito de forma simplista. O ministro Salles não é especialista, não sabe como as coisas são feitas. Como diretor do Inpe, eu sempre chamei especialistas para responder a questionamentos. Mas ele não tem esse comportamento: quer responder sobre temas que não entende e fala absurdos.

Os dados gerados pelo Inpe têm sido utilizados para mobilizar ações concretas?

Não tenho a dimensão correta de quantas autuações foram feitas no governo Bolsonaro. Segundo a imprensa, esse número diminuiu muito, e colegas no Ibama afirmam que as equipes que fazem as autuações foram bastante desmobilizadas, mas não tenho como dizer isso. Para não colocar em uma questão ideológica: até 2012, a queda do desmatamento foi muito grande devido a uma ação imediata do governo.

Mas já no governo Dilma, o desmatamento começou a não diminuir mais, e passou a aumentar no começo do governo Temer. Depois, houve uma queda. Atribuo tudo isso a formas de ação no local. O Inpe não tem ação em coibir. Vejo com maus olhos a contratação de uma empresa para fazer o monitoramento.

Parte da credibilidade que o Brasil adquiriu nesse controle é porque o MCTIC, por meio do Inpe, fornece os dados, mas as autuações são feitas pelo MMA. São ministérios independentes. Quando o próprio ministério que faz autuações contrata uma empresa para gerar os dados, essa credibilidade cai por terra porque surge um conflito de interesses.

Esse movimento de transferir a responsabilidade pelo monitoramento também envolveria mudanças na metodologia. O senhor acredita que outras metodologias, inclusive melhores, podem ser usadas?

Muita coisa pode ser melhorada. Pode-se aplicar machine learning para fazer as coisas muito mais rápidas. O próprio Inpe está desenvolvendo isso, para fazer tudo de uma forma mais automatizada. Mas o instituto ainda usa serviço de analistas. São pessoas que identificam as áreas desmatadas, e a qualidade desse serviço ainda é insuperável, o machine learning não conseguiu suplantar isso.

Por exemplo, monitorar a queda de grandes árvores na Amazônia é uma coisa. Monitorar desmatamento no cerrado, com árvores menores, é muito mais difícil. É aí que entra o ser humano que, no caso do Inpe, checa a situação in loco.

No passado, tivemos um confronto com a Universidade de Maryland, que dizia que os dados de desmatamento eram maiores do que os que o Inpe mostrava. Fomos ver com cuidado, e concluímos que se tratava de um período de seca, no qual algumas formações rochosas amazônicas aparecem. O sistema deles, de machine learning, interpretou como desmatamento. Não era.

Qual a consequência desse episódio para a ciência e economia brasileiras?

Esse embate faz com que a ciência saia reforçada, mostrando que os cientistas não aceitam colocar seus dados e resultados sujeitos a interpretações impostas por interesses políticos. Conhecemos muitos fatos dessa ordem, o mais famoso é o de Galilei com a Igreja, sobre o fato de a terra se mover.

A luta contra o obscurantismo, cujo paladino é o Olavo de Carvalho, é muito importante. Fiquei satisfeito com a reação da comunidade científica brasileira. A ciência sai fortalecida. O impacto econômico, no entanto, pode ser muito mais sério para o país. Não há dúvida que temos empreendedores do agronegócio muito modernos, além de pesquisadores, como o físico Silvio Crestana, que mostram o crescimento da produtividade brasileira sem desmatar nada, com técnicas modernas.

Esses ruralistas que querem desmatar para colocar gado estão na direção contrária do progresso cientifico e tecnológico. A redução do desmatamento deu ao pessoal do agronegócio brasileiro uma alavanca muito importante para colocar seus produtos lá fora: o selo verde.

O Brasil compete com todo mundo no fornecimento de produtos agrícolas, e a consequência nas vendas de produtos oriundos de desmatamento é drástica. Os empreendedores sabem disso, mas o governo parece não ter essa dimensão. A própria ministra da Agricultura fez um alerta sobre a necessidade de mudar o discurso sobre o acordo de Paris, porque isso prejudicaria as exportações.

Quando Bolsonaro fala sobre fazer acordo com os EUA para explorar minerais em terras indígenas, pelo amor de Deus, não tem a menor noção do impacto negativo que uma afirmação desse tipo tem para o país.

Que recado o governo passa ao fazer esses movimentos?

Passa um recado de desprezo sobre as questões do meio ambiente e progresso científico. O que eu espero que saia disso tudo é que Bolsonaro pense com mais cuidado. Ele tem pessoas no governo dele muito bem formadas que entendem do assunto. Ele pode ouvi-las melhor.

Espero que ele reverta essa maneira de encarar a Amazônia porque nós não podemos suportar isso. O desmatamento é muito rápido. Espero que após esse embate, mesmo com toda a irritação que ele tenha comigo, ele se conscientize de que está causando um prejuízo muito grande para o país e reverta essa política.


Governo alemão rebate Bolsonaro sobre verba para a Amazônia

dw.com

© picture-alliance/dpa/S. Stache Ministra alemã do Meio Ambiente:







"Isso mostra que estamos fazendo exatamente a coisa certa", afirmou nesta segunda-feira (12) a ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, em resposta à declaração do presidente Jair Bolsonaro de que o Brasil "não precisa do dinheiro" de Berlim para preservar a Floresta Amazônica.

"Apoiamos a região amazônica para que haja muito menos desmatamento. Se o presidente não quer isso no momento, então precisamos conversar. Eu não posso simplesmente ficar dando dinheiro enquanto continuam desmatando", afirmou a ministra à Deutsche Welle.

Schulze, entretanto, diz que pretende manter aberto o diálogo com o governo brasileiro. "No momento, isso não está funcionando muito bem. Mas continuamos tentando, diplomaticamente."
No sábado, Schulze disse em entrevista ao jornal Tagesspiegel que a Alemanha vai congelar investimentos de 35 milhões de euros (cerca de 155 milhões de reais) que seriam destinados a diferentes projetos de proteção ambiental no Brasil.

Ao responder a jornalistas sobre a suspensão dos repasses alemães, Bolsonaro disse que "o Brasil não precisa disso".

"Ela [Alemanha] não vai mais comprar a Amazônia, vai deixar de comprar a prestações a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso", afirmou o presidente no domingo.
Ao ser questionado se o congelamento dos valores não teria impacto na imagem do Brasil no exterior, Bolsonaro respondeu: "A imagem do Brasil? Você acha que grandes países estão interessados na imagem do Brasil ou em se apoderar do Brasil?"

Steffen Seibert, porta-voz da chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou nesta segunda-feira que a conservação da Amazônia é "um tema da humanidade", que tem um significado para todos. "Isso é o que nós defendemos politicamente."

Apoio ao Fundo Amazônia

Para conter o desmatamento florestal, a Alemanha também apoia o Fundo Amazônia, no qual o Ministério alemão da Cooperação Econômica já injetou 55 milhões de euros (por volta de 245 milhões de reais) e que não será afetado pela medida anunciada por Svenja Schulze.

Com um volume total de quase 800 milhões de euros (por volta de 3,5 bilhões de reais), a maior parcela do Fundo Amazônia é financiada pela Noruega e uma pequena parte dele, pela Alemanha.

O ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Müller, assegurou nesta segunda-feira que por enquanto Berlim não planeja se retirar do Fundo Amazônia. Ele destacou que, durante sua visita ao Brasil, "indígenas, grupos ambientalistas e representantes do governo se disseram favoráveis a uma continuação dessa importante e bem-sucedida cooperação".

Recentemente, tanto o governo alemão quanto a Noruega haviam reclamado dos planos do ministro do Meio Ambiente brasileiro, Ricardo Salles, de promover mudanças na gestão do fundo. Müller ressaltou que as conversas que teve com Salles no Brasil foram "abertas e construtivas" e que se está tentando elaborar "uma nova abordagem de cooperação" para continuação do Fundo Amazônia. "Qualquer um que queira preservar a excelente função climática da floresta tropical deve reforçar essas medidas, e não acabar com elas."

Na entrevista em que anunciou o congelamento dos repasses, Schulze levantou dúvidas sobre o comprometimento do governo Bolsonaro em reduzir o desmatamento. "A política do governo brasileiro na região amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento", declarou a ministra ao jornal alemão, apontando que somente quando houver clareza a cooperação de projetos poderá continuar.

Desde a posse de Bolsonaro, em janeiro, o governo alemão e de outros países europeus, como França e Noruega, têm demonstrado preocupação com a forma como o Brasil passou a tratar a proteção ambiental e a explosão nos níveis de desmatamento no país.

Na semana passada, dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmaram o aumento significativo no desmatamento da Floresta Amazônica. Em julho deste ano, a devastação do bioma cresceu 278% em relação ao mesmo mês de 2018.

Segundo o Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), em julho 2.254,9 quilômetros quadrados de floresta foram devastados.


Um grande aumento do desmatamento já havia sido apontado em junho, quando a devastação da floresta cresceu 88% em relação ao mesmo mês de 2018. A divulgação desses dados causou uma crise entre o Inpe e o governo Bolsonaro, que culminou com a exoneração do presidente do instituto, Ricardo Galvão.


EM TEMPO: Será que esse rapaz pensa que é dono do Brasil e vai ser Presidente eternamente?

Alemanha diz que postura de Bolsonaro mostra que país fez a coisa certa ao cortar investimento

Equipe HuffPost
HuffPost Brasil12 de agosto de 2019
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A ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, afirmou que a postura do presidente Jair Bolsonaro confirma que o país europeu está fazendo “exatamente a coisa certa” ao suspender investimentos em projetos de preservação da floresta Amazônica.
No domingo (11), ao ser questionado sobre o corte na verba, o presidente afirmou que o Brasil “não precisa disso”.
“Apoiamos a região amazônica para que haja muito menos desmatamento. Se o presidente não quer isso no momento, então precisamos conversar. Eu não posso simplesmente ficar dando dinheiro enquanto continuam desmatando”, disse a ministra à Deutsche Welle.
Ela afirmou ainda que pretende manter o diálogo aberto com o Brasil. Para Bolsonaro, a Alemanha estava tentando comprar a Amazônia.
“Investir? Ela não vai comprar a Amazônia. Vai deixar de comprar a prestação a Amazônia. Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso.”
Ele também questionou a intenção de outros países em relação ao Brasil. “Você acha que grande países estão interessados com a imagem do Brasil ou em se apoderar do Brasil?”
Ao jornal “Tagesspiegel”, Schulze argumentou que o aumento no desmatamento foi o motivo para a tomada da decisão. Na avaliação dela, o País não parece interessado em preservar a floresta.
“A política do governo brasileiro na região amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento”, disse.
Inicialmente, segundo a reportagem, a ministra disse que serão suspensos projetos de 35 milhões de euros, o equivalente a R$ 155 milhões.
O desmatamento na Amazônia vem crescendo nos últimos meses. Em junho houve um crescimento de 88% em comparação ao mesmo período do ano passado e em julho, foi de 278% — também em comparação ao mesmo período do ano anterior.

EM TEMPO: Será que esse rapaz pensa que é dono do Brasil e vai ser Presidente eternamente?


Amazonas decreta situação de emergência por conta de queimadas
                                                                             
                                                                      Planeta.  





© Queimada na região amazônica: nos últimos anos, o Brasil voltou a aumentar suas emissões de gases do...

O governo do Amazonas decretou situação de emergência por conta de queimadas não autorizadas e desmatamento na região metropolitana de Manaus e no Sul do estado.


Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), o Amazonas registrou 1.699 focos de calor nos primeiros sete meses do ano, dos quais 80% (1.372) aconteceram somente do mês de julho, quando se iniciou o período de seca.

O decreto que declara situação de emergência foi assinado pelo governador em exercício, o vice-governador Carlos Almeida (PRTB), na última sexta-feira (2), e ficará em vigor por 180 dias.

 “A medida que estamos adotando tem por objetivo conter desmatamentos e queimadas, que degradam a floresta, o nosso maior ativo, como as queimadas, mais comuns nesse período do ano, que chamamos de verão amazônico”, declarou o governador em nota.

Segundo dados do Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento na Amazônia em julho deste ano teve crescimento de 278% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Segundo o decreto, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) vai coordenar a articulação com os demais órgãos públicos para definir e executar estratégias de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas não autorizadas. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) será responsável pela operação das estratégias.


VOCÊ ESTÁ COMENDO VENENO

ISTO É - André Vargas

© Divulgação
Há uma tripla bomba-relógio armada para atingir o Brasil devido ao descaso e o imediatismo do governo, dos parlamentares da bancada ruralista e da cadeia produtiva do agronegócio. É inegável que o uso de pesticidas aumenta a lucratividade das safras nas monoculturas, mas urge planejamento e prevenção. O sinal de alerta já foi aceso: são sucessivos os casos de morte por intoxicação de trabalhadores rurais e agricultores. 

Além disso, há registro de contaminação do abastecimento de água em mais de mil cidades. São quantidades ínfimas, porém constantes, de contaminantes suspeitos de causar câncer. Hoje, amostras aleatórias dos principais alimentos dos brasileiros, como arroz e feijão, apresentam níveis de elementos químicos centenas de vezes superiores aos tolerados em países desenvolvidos. E sequer os cidadãos têm como saber o que estão ingerindo. Por fim, há o risco econômico. Com o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, as exportações de parte das commodities agrícolas brasileiras destinadas, principalmente, a servir de ração animal, podem ir para consumo humano. Mas só se estiverem livres de agrotóxicos. Ou seja, parte dos US$ 10 bilhões em exportações para o bloco europeu na próxima década não estão garantidos, caso continuemos aspergindo veneno por campos e cerrados sem critério.
© Fornecido por Três Editorial Ltda


© Fornecido por Três Editorial Ltda
Impacto na população

Não se trata de queixas de ambientalistas radicais. Entre 2014 e 2017 foram registradas 1.186 mortes no Brasil por intoxicação com pesticidas, aponta um relatório do Ministério da Saúde. O problema é maior no Paraná, com 231 vítimas fatais. A estimativa é que para cada uma das 30 mil intoxicações registradas nos últimos anos, outras 50 pessoas apresentem problemas crônicos por diferentes níveis de contato com inseticidas, herbicidas, fungicidas e afins. Esta grave questão de saúde pública, que ainda não recebeu a devida atenção, é só um dos vértices da política descuidada de liberação de defensivos. Só neste primeiro semestre 236 produtos foram permitidos, com 93 deles chegando ao mercado. Em contrapartida, 30 princípios ativos estão para ser banidos. Questionada, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou, em abril, que os afetados são pequenos agricultores que não usam equipamentos e trajes adequados. “Às vezes o sujeito fuma aplicando”, disse. A afirmação é simplista. Se há perigo no uso de algo inspecionado pelo poder público, é necessário divulgação e fiscalização. Se isso vale para a condução de veículos automotores, compra de remédios controlados ou posse de armas de fogo, também deveria se aplicar ao que a ministra já classificou como “remédios para plantas”. Sem contar que, no fim, essa conta recai sobre o bolso do contribuinte, pois os afetados vão parar nas filas do Sistema Único de Saúde.

© "PÉROLA" DITA PELA MINISTRA SEGUNDO ALOISIO MAURICIO “Às vezes o sujeito fuma aplicando” Tereza Cristina, ministra da Agricultura, jogou a responsabilidade para as vítimas. Ela também chamou pesticida de “remédio”

“Nós ficamos só com os impactos”, lamenta a geógrafa Larissa Mies Bombardi, autora do atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e “Conexões com a União Europeia”. Ela se refere ao desequilíbrio entre os lucros advindos das exportações e os custos diretos e indiretos gerados para a população e o meio ambiente. O trabalho de Bombardi foi apresentado na Alemanha e no Reino Unido para legisladores, pesquisadores e ambientalistas. Ela também contesta o argumento de que o uso intensivo de agrotóxicos é necessário por causa do clima tropical. “A opção foi pelo corte de custos”. Cerca de 30% dos agrotóxicos usados no Brasil estão banidos da Europa. Entre eles estão o acefato e a atrazina, que afetariam a fertilidade masculina. O 2-4-D teria contribuído para a morte de 400 milhões de abelhas no Rio Grande do Sul, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, aponta um estudo da Fapesp. É uma tragédia ambiental. 

As abelhas são responsáveis pela polinização de 60% das 191 culturas agrícolas do Brasil. Contestado na Europa por suspeita de ser cancerígeno, o glifosato foi banido da Califórnia, mas segue como o produto mais usado no Brasil. Em maio, a Justiça americana condenou a fabricante Bayer a indenizar em US$ 2 bilhões (R$ 8,2 bi) um casal que teria desenvolvido câncer ao utilizar o herbicida Roundup, que contém glifosato. Quase 20 mil ações similares estão em andamento por lá.

© Divulgação NA ÁGUA Pulverização aérea é vista como uma das responsáveis pela contaminação de rios

Falta de informação

A contaminação de rios e lençóis freáticos era desconsiderada até agora por falta de dados e métodos de medição precisos. Por vias diferentes, um relatório da ONG suíça Public Eye e pesquisas da Universidade de Campinas (SP) revelaram mais do que se suspeitava. Na água que abastece 1.396 municípios brasileiros foram detectados traços crescentes de pesticidas. O estado mais afetado é São Paulo, onde em 504 cidades foram detectados os 27 compostos de medição obrigatória pelas empresas de abastecimento. Em segundo lugar vem o Paraná, com 326 localidades. 

Uma das principais causas seria a pulverização por aviões agrícolas, prática que passou a ser contestada e está proibida no Ceará. Os resultados das análises indicam que os métodos de verificação da qualidade da água para consumo precisam ser aprimorados e divulgados. “As variáveis são tão grandes, que não conseguimos distinguir facilmente os impactos”, diz Douglas de Castro, especialista em direito ambiental.

Entre os vegetais in natura que chegam à mesa dos brasileiros, os que apresentam os maiores índices de contaminação são laranja, abacaxi, couve, uva e alface, apontou um estudo de 2016 do Ministério da Saúde, o último a ser divulgado. A única alternativa para os consumidores é lavar bem tudo o que compram. Pena que a água usada vá cair nos rios, alimentando um ciclo de contaminação e dispersão ainda sem solução aparente. No atual compasso, a busca de uma solução equilibrada para os danos pelo emprego de agrotóxicos deve ficar para a próxima geração.
© Fornecido por Três Editorial Ltda

© Fornecido por Três Editorial Ltda


Pesquisadores: demissão de diretor do INPE é chocante
Postado por Magno Martins em 03.08.2019
FolhaPress - Phillipe Watanabe
Pesquisadores brasileiros dizem que a exoneração de Ricardo Galvão, diretor do Inpe, não é surpreendente, mas ainda assim é chocante e pode prejudicar a imagem externa do país. 
O ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) decidiu exonerar nesta sexta (2) o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, após críticas a dados sobre desmatamento considerados sensacionalistas pelo governo.
Em nota, Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma rede de 47 organizações da sociedade civil, diz que a exoneração é lamentável, mas esperada. "Ele selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair Bolsonaro ao Inpe. Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro e Ricardo Salles à ciência do Inpe."
Rittl também afirma que a imagem do Brasil fica comprometida pela "cruzada contra os fatos".
Ronald Cintra Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, também disse que, apesar de esperada, a exoneração é chocante. Segundo Shellard, a demissão pode prejudicar a imagem do Brasil no exterior. "Esse evento vai trazer uma reputação para o país muito séria. Vai ter consequência muito negativa sobre como o país trata os cientistas."


‘The Economist’ aponta risco à Amazônia e pede reação mundial a Bolsonaro
Veja.com - Erich Mafra

© Reprodução/Reprodução Capa da revista 'The Economist' sobre o desmatamento na Amazônia

Em sua mais recente edição, a revista britânica The Economist produziu uma matéria de capa – sob o título “Velório para a Amazônia – a ameaça do desmatamento descontrolado” –  e um editorial (texto com opinião da publicação) criticando  as políticas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro com relação à Amazônia – que sofre com o aumento acelerado do desmatamento desde 2015. “Desde que ele assumiu o cargo em janeiro, árvores vem desaparecendo a uma taxa de duas Manhattans por semana”, relata a publicação, que diz que Bolsonaro é “sem dúvida, o chefe de Estado mais perigoso em termos ambientais do mundo”.

“A maravilha natural da América do Sul pode estar perigosamente próxima do ponto de inflexão além do qual sua transformação gradual em algo mais próximo do estepe não pode ser impedida ou revertida (…). O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, está apressando o processo – segundo ele, em nome do desenvolvimento. O colapso ecológico que suas políticas podem precipitar seria sentido com mais intensidade nas fronteiras de seu país, que circundam 80% da bacia – mas também ia muito além delas. Ainda dá para evitar”, afirma a reportagem.

O texto aponta que a situação ambiental do bioma começou a piorar abruptamente  durante o primeiro mandato do governo Dilma Roussef (2011 a 2014) – marcado pela flexibilização do Código Florestal aliada à redução de 72% da verba de proteção à Amazônia, que corresponde a 40% das florestas tropicais de todo o mundo. Fora isso, a The Economist afirma que a recessão e as crises políticas reduziram a habilidade do governo em reforçar as leis de proteção. “Agora, Bolsonaro, alegremente, utiliza uma motosserra contra elas [leis]”, completa a publicação.

Dando força à preocupação da revista britânica, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta quinta-feira a taxa anual de desmatamento, que aumentou em 40% em relação ao levantamento do ano passado – Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, declarou que os números levantados pelo órgão “não refletem a realidade”, mas assumiu que há aumento do desflorestamento.
Além de criticar a situação do Brasil, a revista também sugere que – dada a importância mundial da floresta -, parceiros comerciais do país comecem a buscar acordos que incluam a proteção da Amazônia; como feito no acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que possui termos sobre proteção florestal. 

“O desmatamento descontrolado pode acabar prejudicando os agricultores brasileiros se isso levar a boicotes estrangeiros de produtos agrícolas brasileiros. Os brasileiros comuns devem pressionar seu presidente para reverter o curso. Eles foram abençoados com um patrimônio planetário único, cujo valor é intrínseco e sustentador da vida, tanto quanto é comercial. Deixá-lo perecer seria uma catástrofe desnecessária”, conclui.

Recentemente, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, esteve no Brasil, mas sua passagem foi marcada pelo cancelamento de reunião com Bolsonaro em cima da hora. A agenda de Le Drian também previa encontros com uma ONG para discutir proteção ao meio ambiente, o que provocou a reação do presidente: “O que que ele veio tratar com ONG aqui? Quando fala em ONG, já nasce um alerta na cabeça de quem tem o mínimo de juízo. Dá um sinal de alerta”, disse.

Segundo a revista, o presidente brasileiro acusa os estrangeiros de hipocrisia ao defender a preservação da Amazônia, alegando que os países ricos já destruíram suas florestas e que usam a retórica ambiental como pretexto para manter a pobreza do Brasil. “A Amazônia é nossa”, disse o presidente recentemente, lembra o texto.

A revista questiona e chama os argumentos de Bolsonaro de “falhos”. “Sim, o mundo rico arrasou suas florestas. O Brasil não deve copiar seus erros, mas aprender com eles como, por exemplo, a França, reflorestando enquanto ainda pode”, afirma. Para a publicação, “o desmatamento não é um preço necessário para o desenvolvimento”. “A produção brasileira de soja e carne bovina subiu entre 2004 e 2012, quando a derrubada de florestas diminuiu em 80%”, relata. E lembra que a agricultura brasileira pode ser a maior vítima do desmatamento, que pode provocar mudanças climáticas na região. “A seca de 2015 fez com que os agricultores de milho no Estado de Mato Grosso perdessem um terço de sua colheita”.

Por fim, a reportagem pede reação do mundo à política ambiental do brasileiro. “Por todas estas razões, o mundo deveria deixar claro ao senhor Bolsonaro que não tolerará seu vandalismo. Companhias de alimentos, pressionadas pelos consumidores, deveriam rejeitar a soja e a carne produzidas em terras amazônicas ilegalmente exploradas, como aconteceu em meados dos anos 2000. Os parceiros comerciais do Brasil devem fazer acordos atrelados ao seu bom comportamento” afirma e lembra que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que ainda precisa ser ratificado, já inclui dispositivos para proteger a floresta tropical. “É esmagadoramente do interesse das partes aplicá-las”.


Bolsonaro tomou atitude pusilânime e covarde, diz diretor do Inpe

© Jose Caldas/Brazil Photos/LightRocket/Getty Images Desmatamento na Floresta Amazônica
                                                                                                                                                                               Estadão Conteúdo

Acusado pelo presidente Jair Bolsonaro de estar agindo “a serviço de alguma ONG”, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Magnus Osório Galvão, disse que ficou escandalizado com as declarações que, para ele, parecem mais “conversa de botequim”. O diretor afirmou ainda que o presidente tomou uma atitude “pusilânime e covarde”.

Galvão, que dirige o instituto desde setembro de 2016, se manifestou neste sábado, 20, sobre os comentários feitos na sexta-feira 19 por Bolsonaro em café da manhã com a imprensa estrangeira. Na ocasião, o presidente questionou os dados fornecidos pelo Inpe sobre as taxas de desmatamento da Amazônia e disse que eles são mentirosos.

“Se toda essa devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado, a Amazônia já teria sido extinta seria um grande deserto”, disse Bolsonaro.

“A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos”, afirmou. “Até mandei ver quem é o cara que está à frente do Inpe para vir se explicar aqui em Brasília, explicar esses dados aí que passaram na imprensa”, disse. “No nosso sentimento, isso não condiz com a realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, que é muito comum.”

As declarações do presidente ocorreram um dia depois de a imprensa destacar que dados do sistema Deter-B, do Inpe, que faz alertas em tempo real de focos de desmatamento para orientar a fiscalização, mostraram que a área perdida de floresta até meados deste mês já é a segunda maior da série histórica, medida desde 2015.

Galvão optou por não responder na própria sexta para primeiro “arrefecer o estado de ânimos”, mas hoje deu sua posição. “A primeira coisa que eu posso dizer é que o sr. Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse país”, afirmou.


“Ele tomou uma atitude pusilânime, covarde, de fazer uma declaração em público talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos”, continuou o engenheiro, que iniciou a carreira no Inpe em 1970, fez doutorado em Física de Plasmas Aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é livre-docente em Física Experimental na USP desde 1983.

Desmatamento na Amazônia em junho é o pior desde 2016


Desmatamento na Amazônia aumenta 60% em junho deste ano em relação a 2018
Portal G1. Em 02/07/2019

Sistema do governo que faz alertas de desmatamento registra derrubada de 769 km² de florestas. Especialista lembra que desmatamento aumenta no período de seca a partir de maio e junho.

Um sistema mantido pelo governo federal para fiscalizar alertas de focos de desmatamento no Brasil mostra que o índice de desmatamento relativo a junho de 2019 é o segundo maior já registrado pelo sistema, e só perde para junho de 2016.

O território da Amazônia Legal desmatado chegou a 769 km² entre 1º e 28 de junho, segundo dados atualizados do sistema Terra Brasilis, do Inpe. Os números disponíveis no começo da tarde desta terça-feira (2) ainda não consideravam os dados de sábado (29) e domingo (30). No mês anterior, o desmatamento foi de 735 km². Em junho de 2016, o desmatamento foi de 951 km². Os dados acima excluem a perda de vegetação causada por fatores como incêndios florestais e exploração comercial de florestas plantadas. Se consideradas todas as categorias, o desmatamento em junho de 2019 chegaria a 1,7 mil km², sendo que em 2016 ele foi de 6,8 mil km².


    Desmatamento na Amazônia — Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Período de desmatamento

Segundo Carlos Rittl, diretor-executivo do Observatório do Clima, todos os anos o desmatamento se intensifica a partir de maio, quando o nível de chuva diminui na maior parte do país. Os dados indicam, segundo ele, que a abertura desta “temporada de seca” foi pior do que o ano anterior.

O Terra Brasilis foi criado em 2015 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele é alimentado com dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), um “sistema de alerta para dar suporte à fiscalização e controle de desmatamento e da degradação florestal” ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

Porém, o dado não é a única fonte para medir o território desmatado: precisa ser analisado junto a outras fontes de informação sobre o desmatamento. De acordo com Cláudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do INPE, mais de 10 mil alertas são enviados todo aos órgãos de fiscalização federais e estaduais. "Não faltam alertas. Os órgãos de fiscalização têm alertas suficientes para fazer seu trabalho", disse ao Jornal Hoje.

Metodologias

Os dados compilados no sistema Terra Brasilis não têm o foco de consolidar o desmatamento no bioma da mesma forma que é feito, por exemplo, pelo sistema do MapBiomas - mantido por entidades - ou do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes).

O MapBiomas reúne informações coletadas ao longo de todo o ano e faz a limpeza e verificação dos dados, eliminando por exemplo nuvens e outras possíveis interferências para apresentar o dado consolidado do ano anterior. Tomando como base o Deter, que também é usado pelo Terra Brasilis, o MapBiomas também lançou recentemente um sistema de alertas de desmatamento que promete ajudar na aplicação de multas.

Pressão internacional

Os dados do desmatamento ganham destaque após o compromisso do Brasil com a preservação ambiental ser questionado por líderes europeus. Primeiro, dias antes da reunião do G20, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que queria "discussão clara" com Bolsonaro sobre desmatamento.

E nesta terça-feira, o ministro francês do Meio Ambiente, François de Rugy, afirmou que o tratado UE-Mercosul "só será ratificado se o Brasil respeitar os seus compromissos", especialmente em relação à luta contra o desmatamento da Amazônia.


 Bolsonaro é listado entre 'fracassos de liderança' em documento da ONU
Portal G1 - Helena Borges
26/06/2019  

Levantamento sobre o impacto das mudanças climáticas na parcela mais pobre da população mundial coloca o presidente brasileiro e Donald Trump como lideranças fracassadas.

O presidente Jair Bolsonaro foi listado entre "fracassos de liderança governamental" em documento da ONU. 

Em um documento publicado nesta terça-feira (25), o relator especial da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos, Philip Alston, fez duras críticas ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. O texto, que analisa o impacto das mudanças climáticas na faixa mais pobre da população mundial, lista uma série de líderes mundiais que são, nas palavras do especialista, “um fracasso”, e Bolsonaro é o primeiro.

 “Ainda hoje, muitos países estão dando passos de pouca visão e na direção errada”, escreve Alston. “No Brasil, o presidente Bolsonaro prometeu abrir a Floresta Amazônica para a mineração, acabar com a demarcação de terras indígenas e enfraquecer as agências e proteção ambientais.”
Ao lado do Brasil, o especialista da ONU citou também o presidente americano, Donald Trump , e o governo chinês, sem citar nomes.


“A China está se esforçando para acabar com a dependência do carvão, mas exportando usinas movidas a carvão para outros países, e deixando de lado as regulamentações para emissões de metano em território nacional. Nos Estados Unidos, até recentemente o líder global em emissões, o presidente (Donald) Trump colocou antigos lobistas em cargos de supervisão, adotou argumentos da indústria, liderou um movimento de reação contra as regulamentações ambientais e está ativamente silenciando e ofuscando a ciência climática.”
 De Glória Pires a Taís Araújo: artistas assinam carta contra medidas ambientais de Bolsonaro
 Redação Vida e Estilo,Yahoo Vida e Estilo 
Foto: Reprodução/Instagram

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os atores Mateus Solano, Jacqueline Sato, Thaila Ayala e Sérgio Marone se encontraram nesta semana com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para entregar uma carta aberta contra o que chamam de "medidas que colocam em risco nossa biodiversidade, nossa cultura, a saúde e o bem-estar das pessoas" por parte da gestão Jair Bolsonaro.
O grupo conversou por duas horas e meia com Dogde, que ressaltou a necessidade da aproximação da sociedade civil com o Ministério Público. Além dos famosos, a empresária e ativista Fernanda Cortez, o Vice Procurador Geral da União, Luciano Maia, a presidente da ABRAMPA, Cristina Graça, e assessores também estiveram no local.
O documento também é assinado por nomes como Glória Pires, Taís Araújo, Lázaro Ramos, Alinne Moraes, Dira Paes, Marcelo Serrado e Malu Mader.
Dentre os pontos questionados pelos artistas está "a flexibilização do licenciamento ambiental sem discussão adequada com a sociedade civil, liberando atividades com alto potencial poluidor de maneira irresponsável e sem controle, pode ter como consequência um aumento no número de tragédias como as que aconteceram em Mariana e Brumadinho."
O ritmo de liberação de agrotóxicos também foi alvo da carta: "2019 não tem precedentes na história: foram 169 produtos liberados até maio sendo 48% deles classificados como alta ou extremamente tóxico e 25% não permitidos na União Europeia."
A carta foi protocolada na PGR para apuração dos fatos denunciados no texto. A Procuradora Geral da República se comprometeu em firmar uma parceria com os presentes para impedir o enfraquecimento da proteção ambiental.
LEIA O DOCUMENTO NA ÍNTEGRA
Excelentíssima Senhora Procuradora Geral da República
Raquel Elias Ferreira Dodge
Senhora Procuradora,
O Brasil é um país com uma natureza singular. Somos o mais rico em biodiversidade do mundo. Só para citar alguns exemplos, em nosso país podem ser encontrados quase um quarto de todos os peixes de água doce do mundo, além de 16% das aves e 12% dos mamíferos. Cerca de 20% de todas as formas de animais e plantas conhecidas são registradas no Brasil. O Brasil possui mais de 55% de cobertura vegetal nativa e 15% da água doce do planeta. O potencial para o descobrimento de novos compostos e moléculas oriundas da nossa fantástica biodiversidade está ainda por ser entendido e devidamente explorado, e por tudo isso somos imensamente privilegiados quando comparados a outros países do mundo.
No entanto, esse patrimônio nunca esteve tão ameaçado.
Diversas medidas empreendidas recentemente colocam em risco nossa biodiversidade, nossa cultura, a saúde e o bem-estar das pessoas, dentre as quais destacamos:
Ameaça às áreas protegidas: mudanças no Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), com propostas que incluem desde a anistia ao desmatamento em áreas de preservação permanente até a extinção das reservas legais, e no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985/2000) que vão de mudanças no rito de criação das UCs até a revisão dos limites de áreas de relevante importância para a biodiversidade e sociodiversidade. 
Proteção e demarcação dos territórios indígenas: a interrupção no processo demarcatório e a abertura de territórios indígenas já demarcados a atividades econômicas com alto poder de impacto ambiental como a mineração coloca em situação de risco e vulnerabilidade diversos povos indígenas Licenciamento ambiental: a flexibilização do licenciamento ambiental sem discussão adequada com a sociedade civil, liberando atividades com alto potencial poluidor de maneira irresponsável e sem controle, pode ter como consequência um aumento no número de tragédias como as que aconteceram em Mariana e Brumadinho. Extinção dos conselhos: a participação da sociedade civil na gestão ambiental é uma das grandes conquistas da democracia brasileira. 
A extinção dos conselhos representa um retrocesso sem precedentes na política brasileira e cala a voz de grupos minoritários e vulneráveis. Controle do desmatamento: a flexibilização na fiscalização, o enfraquecimento dos órgãos ambientais e ameaças na legislação de proteção das florestas brasileiras colocam em risco a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Mata Atlântica. Não podemos mais aceitar qualquer hectare de floresta sendo desmatado ilegalmente. Liberação de agrotóxicos: o ritmo de liberação de agrotóxicos em 2019 não tem precedentes na história - foram 169 produtos liberados até maio sendo 48% deles classificados como alta ou extremamente tóxico e 25% não permitidos na União Europeia. É uma quantidade muito grande de veneno na lavoura e que faz com que o brasileiro seja recordista mundial no consumo. 
O Brasil tem potencial para ser líder na agricultura orgânica e biológica, mas os incentivos, infelizmente, não existem na mesma proporção em que beneficiam a indústria do veneno. Em face dessas informações, urgimos ao Ministério Público, em sua missão constitucional de defesa dos direitos e bens coletivos e difusos e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, que esteja atento a tais ameaças. Urgimos por ajuda para preservar a vida no Brasil. Nossa, dos seres humanos, e dos seres que compartilham esse planeta conosco. Pedimos a garantia do que estabelece o artigo 225 da Constituição Federal, ou seja, de que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Estamos certos que nesse momento de extrema incerteza e de ameaça ao meio ambiente o Ministério Público não nos faltará e continuará a exercer de maneira assertiva e vigilante seu papel.
Em nome dos cidadãos e das espécies que não podem se defender, dos futuros brasileiros e de todos os seres que dividem o planeta com a gente, subscrevemos:
Adriana Lessa - atriz/radialista Alessandro Brandão - ator Alex Brasil - ator Alex Nader - ator Alexandre Rosa Moreno - ator / cantor / compositor Alice Assef - atriz Aline Borges - Atriz Aline Fanju - atriz Aline Morais- atriz Allan souza Lima - ator e diretor Ana Paula Guimarães -diretora Ana Zettel - atriz Anderson Müller - ator/produtor André Rosa - ator Angela Vieira - atriz Angelo Antônio Carneiro Lopes Antonio Gonzalez -ator Átila Augusto Migliari - empresário artístico Babi Xavier - apresentadora/atriz Bernardo Marinho - ator Beth Goulart - Atriz Betty Gofman - atriz Bianca Comparato - atriz Bianca Rinaldi - atriz Brendha Haddad - atriz Bruna Lombardi - atriz Bruna Pazinato - cantora e atriz Bruno Mazzeo - artista Bruno Nunes - ator Bruno Padilha- ator Cacau Melo - atriz Caio Blat - ator Caio Henrique Cabral Vasconcellos - ator Caio Paduan - ator Carla Cabral - Atriz Carla Marins - atriz Carlos Alberto Riccelli - ator Carolina Kasting - atriz Cássia Linhares - atriz César Pezzuoli - Ator Claudia Souto - autora roteirista Cris Dias - jornalista Daniel aguiar - Ator Daniel Siwek - Ator / Radialista Danielle Barros - atriz David Júnior - ator Day Mesquita - Atriz Dayse Amaral Dias - diretora Dira Paes -atriz Edmilson Barros - ator Edu Porto - ator Eduardo Speroni - ator Elcio Romar - ator Elizabeth Savalla - atriz Ellen Rocche - atriz Emer Lavinni - assist direção Érico Bráz - artista Evandro Mesquita - ator Fabiana Karla - atriz Fabio Beltrão - Ator Fábio Felipe - ator Fábio Zambroni - produtor de elenco Felipe Herzog - assistente de direção Fernanda de Freitas - atriz Fernanda Cortez - empresária Fernando Pavão - ator Fernando Sampaio - ator Francisco Alencar Vitti - ator Gabriel Sanches - ator Gabriela Durlo - atriz Gabriela Medvedovski - atriz Gil Hernandez- ator Giselle Bastista da Silva - atriz Giselle Itié - atriz Gloria Pires- atriz e empreendedora Grace Gianoukas - atriz Guilherme Almeida - ator e apresentador Guilherme Lopes - ator Guilherme Weber - ator e diretor Guilherme Winter - Ator Gustavo Novaes - ator Heitor Martinez Mello - ator Helena Fernandes - atriz Helena Fernandes-atriz Helio de La Peña - ator Ícaro Silva - ator Inês Peixoto - atriz Iran Meu Nêgo - ator/compositor Isabela Garcia - atriz Isabella Santoni - atriz Jacqueline Sato - atriz Jaffar Bambirra - ator e músico Jessika Alves - atriz João Baldasserini - ator João Fernandes - ator João Luiz Vitti - ator João Vitor Silva - Ator Joelson Medeiros - Ator/Produtor José Loreto - ator Josie Pessoa - atriz Julia Clemente Senger Foti - atriz Julia Konrad Viezzer - atriz Julia Lund - atriz Juliana Boller - atriz Juliana Lohmann - atriz Juliana Xavier - atriz Julianne Trevisol - atriz Juliano Hadi Laham - ator Júlio Levy - ator Júlio Oliveira - Ator Kadu Moliterno - ator Karen Junqueira - atriz Karina Miotto - ambientalista Kátia Moraes- atriz Laercio Fonseca - ator Laila Zaid - atriz Larissa Maciel - atriz Lazaro ramos - ator Leonardo Vieira -ator Licurgo Spinola- ator Lívia Rossy - atriz Liza Gomes - atriz Lucio Mauro Filho - ator Luís Navarro - ator Luiz Fernando Guimaraes - ator Luiz Gustavo Vaz Nunes - ator Luiza dos Santos Valdetaro - atriz Lyvia Ziese de Oliveira - atriz Maitê Proença - atriz Malu Mader - atriz Manuela do Monte - atriz Marcela Barrozo - atriz Marcella Muniz - atriz Marcelo Adnet - ator Marcelo Cavalcanti - ator Marcelo Serrado - ator Marcius Melhem - ator Marco Luque - ator Marco Ricca - ator Marcos Caruso - ator Marcos Palmeira - ator/produtor rural Marcos Veras - ator Maria Clara Gueiros - atriz Maria Julia Barbosa - agente artístico Maria Paula Fernandes - jornalista Maria Zilda Bethlem - atriz Mariah Freitas - agente artístico Mariana Molina- Atriz Mariana Santos - atriz Mariza Marchetti- atriz Mateus Solano - ator Maureen Miranda- atriz Michel Melamed - artista Milhem Cortaz - ator Nadia Bambirra dos Santos - diretora/professora/atriz Nanda Ziegler - Atriz Otavio Muller - ator Paloma Bernardi -atriz Paula Braun - cineasta e atriz Paula Jubé - Atriz Paulo Reis - ator Paulo Vieira - Ator Paulo Vilela - ator Rafael Canedo Pereira Pinto - ator Rafael Sigrist Coimbra - ator Rafael Vieira Awi Mello - ator Raphael Vianna - Ator Raphaela Castro - atriz Raquel Fuina - atriz Rayanne Morais- Atriz Renato Goes - ator Ricardo Martins - Ator Rodrigo Bernardo - Diretor Rodrigo Fagundes - ator Rodrigo Medeiros - cientista e ambientalista Roger Gobeth - Ator Rosana Penna Samia Abreu - atriz Saulo Rodrigues - Ator Sayonara Sarti - assessora de imprensa Sérgio Baia - fotógrafo artístico Sergio Marone - Ator Simone Zucato - atriz Stela Freiras - atriz Taís Araújo- Atriz Talita Castro - atriz Talita Fusco - atriz Talita Tilieri Salvadori - atriz Talita Younan - atriz Tammy Di Calafiori - atriz Tatyane Goulart - Atriz Tayná Tanaka - assistente de direção Telma Malheiros - ambientalista Thaila Ayala - atriz Thaís Melchior - Atriz Thaís Müller - 


Ex-ministros alertam para desmonte no Meio Ambiente, com 'risco real de descontrole no desmatamento'
© NELSON ALMEIDA via Getty Images

Um comunicado divulgado nesta quarta-feira (8) por oito ex-ministros do Meio Ambiente faz uma série de críticas à atual gestão do ministro Ricardo Salles e alerta para riscos na área.  Eles ressaltam que o ministério passa a ideia “falaciosa” de que o desmatamento é essencial para o sucesso na agropecuária — “um erro que custará caro”.

“Estamos diante de um risco real de aumento descontrolado do desmatamento na Amazônia. Os frequentes sinais contraditórios no combate ao crime ambiental podem transmitir a ideia de que o desmatamento é essencial para o sucesso da agropecuária no Brasil. A ciência e a própria história política recente do país demonstram cabalmente que isso é uma falácia e um erro que custará muito caro a todos nós.”

O texto assinado por Ricardo Ricupero, Gustavo Krause, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Mini, Izabella Teixeira e Edson Duarte dispara: “A governança socioambiental no Brasil está sendo desmontada, em afronta à Constituição”.

Os ex-ministros também afirmam que é “urgente que o Brasil reafirme a sua responsabilidade quanto à proteção do meio ambiente e defina rumos concretos que levem à promoção do desenvolvimento sustentável e ao avanço da agenda socioambiental, a partir de ação firme e comprometida dos seus governantes”.

E acrescentam: “Não há desenvolvimento sem a proteção do meio ambiente. E isso se faz com quadros regulatórios robustos e eficientes, com gestão pública de excelência, com a participação da sociedade e com inserção internacional. Reafirmamos que o Brasil não pode desembarcar do mundo em pleno século 21”.

Leia a íntegra.

COMUNICADO DOS EX-MINISTROS DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE
São Paulo, 8 de maio de 2019

Em outubro do ano passado, nós, os ex-ministros de Estado do Meio Ambiente, alertamos sobre a importância de o governo eleito não extinguir o Ministério do Meio Ambiente e manter o Brasil no Acordo de Paris. A consolidação e o fortalecimento da governança ambiental e climática, ponderamos, é condição essencial para a inserção internacional do Brasil e para impulsionar o desenvolvimento do país no século 21.

Passados mais de cem dias do novo governo, as iniciativas em curso vão na direção oposta à de nosso alerta, comprometendo a imagem e a credibilidade internacional do país.
Não podemos silenciar diante disso. Muito pelo contrário. Insistimos na necessidade de um diálogo permanente e construtivo.

A governança socioambiental no Brasil está sendo desmontada, em afronta à Constituição.
Estamos assistindo a uma série de ações, sem precedentes, que esvaziam a sua capacidade de formulação e implementação de políticas públicas do Ministério do Meio Ambiente: entre elas, a perda da Agência Nacional de Águas, a transferência do Serviço Florestal Brasileiro para o Ministério da Agricultura, a extinção da secretaria de mudanças climáticas e, agora, a ameaça de descriação de áreas protegidas, apequenamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente e de extinção do Instituto Chico Mendes. 

Nas últimas três décadas, a sociedade brasileira foi capaz, através de sucessivos governos, de desenhar um conjunto de leis e instituições aptas a enfrentar os desafios da agenda ambiental brasileira nos vários níveis da Federação.

A decisão de manter a participação brasileira no Acordo de Paris tem a sua credibilidade questionada nacional e internacionalmente pelas manifestações políticas, institucionais e legais adotadas ou apoiadas pelo governo, que reforçam a negação das mudanças climáticas partilhada por figuras-chave da atual administração.

A ausência de diretrizes objetivas sobre o tema não somente tolhe o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil, comprometendo seu papel protagônico exercido globalmente, mas também sinaliza com retrocessos nos esforços praticados de redução de emissões de gases de efeito estufa, nas necessárias ações de adaptação e no não cumprimento da Política Nacional de Mudança do Clima.

Estamos diante de um risco real de aumento descontrolado do desmatamento na Amazônia. Os frequentes sinais contraditórios no combate ao crime ambiental podem transmitir a ideia de que o desmatamento é essencial para o sucesso da agropecuária no Brasil. A ciência e a própria história política recente do país demonstram cabalmente que isso é uma falácia e um erro que custará muito caro a todos nós.

É urgente a continuidade do combate ao crime organizado e à corrupção presentes nas ações do desmatamento ilegal e da ocupação de áreas protegidas e dos mananciais, especialmente nos grandes centros urbanos.

O discurso contra os órgãos de controle ambiental, em especial o Ibama e o ICMBio, e o questionamento aos dados de monitoramento do INPE, cujo sucesso é auto-evidente, soma-se a uma crítica situação orçamentária e de pessoal dos órgãos. Tudo isso reforça na ponta a sensação de impunidade, que é a senha para mais desmatamento e mais violência.

Pela mesma moeda, há que se fortalecer as regras que compõem o ordenamento jurídico ambiental brasileiro, estruturadas em perspectiva sistêmica, a partir da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente de 1981. O Sistema Nacional de Meio Ambiente precisa ser fortalecido especialmente pelo financiamento dos órgãos que o integram.

É grave a perspectiva de afrouxamento do licenciamento ambiental, travestido de “eficiência de gestão”, num país que acaba de passar pelo trauma de Brumadinho. Os setores empresarial e financeiro exigem regras claras, que confiram segurança às suas atividades.

Não é possível, quase sete anos após a mudança do Código Florestal, que seus dispositivos, pactuados pelo Congresso e consolidados pelo Supremo Tribunal Federal, estejam sob ataque quando deveriam estar sendo simplesmente implementados. Sob alegação de “segurança jurídica” apenas para um lado, o do poder econômico, põe-se um país inteiro sob risco de judicialização.

Tampouco podemos deixar de assinalar a nossa preocupação com as políticas relativas às populações indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais, iniciada com a retirada da competência da Funai para demarcar terras indígenas. Há que se cumprir os preceitos estabelecidos na Constituição Federal de 1988, reforçados pelos compromissos assumidos pelo Brasil perante a comunidade internacional, há muitas décadas..

O Brasil percorreu um longo caminho para consolidar sua governança ambiental. Tornamo-nos uma liderança global no combate às mudanças climáticas, o maior desafio da humanidade neste século. Também somos um dos países megabiodiversos do planeta, o que nos traz enorme responsabilidade em relação à conservação de todos os nossos biomas. Esta semana a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), considerada o “IPCC da biodiversidade”, divulgou o seu primeiro sumário aos tomadores de decisão, alertando sobre as graves ameaças que pesam sobre a biodiversidade: um milhão de espécies de animais e plantas no mundo estão ameaçadas de extinção.

É urgente que o Brasil reafirme a sua responsabilidade quanto à proteção do meio ambiente e defina rumos concretos que levem à promoção do desenvolvimento sustentável e ao avanço da agenda socioambiental, a partir de ação firme e comprometida dos seus governantes.
Não há desenvolvimento sem a proteção do meio ambiente. E isso se faz com quadros regulatórios robustos e eficientes, com gestão pública de excelência, com a participação da sociedade e com inserção internacional.

Reafirmamos que o Brasil não pode desembarcar do mundo em pleno século 21. Mais do que isso, é preciso evitar que o país desembarque de si próprio.
Rubens Ricupero
Gustavo Krause
José Sarney Filho
José Carlos Carvalho
Marina Silva
Carlos Minc
Izabella Teixeira
Edson Duarte
Brasil é líder mundial no consumo de agrotóxicos
Com Temer e Bolsonaro, passam a ser permitidos 3 novos venenos a cada 2 dias, consolidando país como recordista mundial
Bruna Caetano Brasil de Fato
O Brasil é o líder mundial no consumo de agrotóxicos, com 7,3 litros por ano para cada um dos habitantes do país. E o número de veneno no prato dos brasileiros têm aumentado consideravelmente nos últimos três anos. 

Enquanto em 2015 foram aprovados 139 agrotóxicos no país, em 2018, esse número mais que triplicou, saltando para 450. Já em 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sob o comando de Tereza Cristina, aprovou o uso de 121 produtos elaborados com agrotóxicos nos dois primeiros meses de governo.

Dos 2.184 produtos consolidados no país, 715 são classificados como extremamente tóxicos e 309 como altamente tóxicos. São esses os produtos que mais podem causar consequências graves à saúde de trabalhadores rurais e também adoecer a população consumidora de alimentos contaminados. O contato com os agroquímicos – inclusive os de menor nível de toxicidade – pode causar desde intoxicação aguda, com fraqueza, vômitos, tontura e convulsões, até intoxicação crônica: alterações cromossomiais, alergias, doença de Parkinson, má formação fetal e câncer, tudo em curto, médio ou longo prazo.
Para Nilto Tatto, deputado federal pelo PT, a articulação entre a bancada ruralista e a cúpula que organizou o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff foi fundamental para atender medidas em benefício do agronegócio no país, incluindo a liberação de agrotóxicos. A partir da eleição de Jair Bolsonaro, essa relação se estreitou através da ministra da agricultura, Tereza Cristina, conhecida como “musa do veneno”.


Alan Tygel, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, responsabiliza também o alinhamento ideológico entre a Anvisa, o Ibama, Ministério da Agricultura e o Ministério do Meio Ambiente com o agronegócio pela facilitação da aprovação de agrotóxicos a partir de mudanças internas a partir do impeachment. 

“A partir do golpe, você perde o contrapeso de setores progressistas, da agricultura familiar e da agroecologia, e essa agenda ruralista passa a ter uma facilidade maior de avanço na agilização do registro de agrotóxicos e na tentativa de flexibilização da lei.”

Entre 2013 e 2015, o Programa de Análise de Resíduos de Alimentos (Para) da Anvisa, analisou 12.051 amostras de 25 alimentos de origem vegetal e constatou que mais da metade (58%) continha resíduos de agrotóxicos, em quantidade menor, igual ou maior que o limite estabelecido. Destes, 16,6% possuíam venenos não autorizados para a cultura analisada.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram registrados 4 mil casos de intoxicação por agrotóxicos no país em 2017, quase o dobro de registros em relação à uma década atrás. Em 2018, 154 pessoas morreram por conta do contato com o veneno. De acordo com Tygel, os casos de intoxicação registrados correspondem a uma parcela pequena do número real, já que muitos não são levados ao sistema de saúde. Além do mais, muitas vezes são desenvolvidas doenças crônicas que raramente são associadas ao agrotóxico pelo intoxicado.

Ele explica que a legislação atual proíbe o registro das substâncias que possuem uma equivalente com a toxicidade menor, mas as empresas acabam burlando isso incluindo ou excluindo culturas, de modo que pareça que a substância é necessária. Com os produtos aprovados esse ano das classes um e dois (extremamente tóxicos e altamente tóxicos), a expectativa é que o número de intoxicações aumente.
E vem mais por aí
Ainda em 2018, foi aprovada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, às escuras, a PL 6299/2002, conhecida popularmente como Pacote do Veneno, que pretende trazer mudanças na regulamentação de agrotóxicos no país. A PL transfere o poder de registro de agrotóxicos da Anvisa e do Ibama exclusivamente para o Mapa, e muda o nome para “fitossanitários”, mas ainda aguarda a votação no Plenário.

O avanço do uso de agrotóxicos no Brasil segue um movimento contrário ao do mundo, que vem reavaliando e proibindo muitas substâncias. No país, a quantidade permitida de agrotóxico na água é 5 mil vezes maior que a europeia, e 30% dos agrotóxicos usados aqui tem o uso proibido por lá. Um exemplo disso é o paraquate, oitavo agrotóxico mais vendido no Brasil e proibido no território europeu desde 2007. 

De acordo com o Centro de Controle de Intoxicações em Marselha, na França, o químico está associado à envenenamentos graves e fatais.


Segundo estudo do instituto francês, ele tem ligação com tentativas de suicídio por ingestão proposital, mas o agrotóxico pode também ter levado ao quadro suicida, já que a exposição à ele pode causar depressão no sistema nervoso central.

De acordo com o deputado Tatto, os parlamentares de esquerda e do campo progressista têm se articulado junto aos movimentos sociais de luta pela reforma agrária, entidades ambientais e de saúde para barrar a flexibilização do uso de agrotóxicos no país. 

Um dos símbolos disso é a construção do Projeto de Lei (PL) de uma Política Nacional de Redução de Agrotóxicos, aprovada em uma comissão especial, o que a deixou no mesmo patamar do Pacote do Veneno, aguardando aprovação pelo Plenário.

“Ao mesmo tempo em que a bancada ruralista se articula e têm um projeto de lei para flexibilizar a legislação, temos um projeto de iniciativa popular no mesmo estágio na Câmara Federal que vai em uma outra perspectiva. Ele repensa o modelo de agricultura para trabalhar a diminuição dos agrotóxicos, e começar a pensar outras políticas como a de incentivo à perspectiva da agroecologia e desenvolvimento de tecnologia para facilitar a vida dos camponeses e ter alternativas ao veneno”.
Apesar da liberação de substâncias de agrotóxicos protagonizada pelo governo Bolsonaro, existe uma deterioração da relação com o agronegócio enquanto se favorece o setor agroquímico. Recentemente, por exemplo, em uma viagem aos Estados Unidos, o presidente fez um acordo de importação do trigo norte-americano, desestimulando a produção nacional e concorrendo com o produto brasileiro. “Eles estão brigando entre eles por interesses específicos do agronegócio, mas por outro lado paralisa completamente e anuncia o fim das políticas de apoio à agricultura familiar”, finaliza Tatto.
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira
https://www.brasildefato.com.br/2019/04/03/desde-o-golpe-contra-dilma-12-mil-novos-agrotoxicos-foram-liberados-no-brasil/



Brumadinho: o modelo mata

Crime da Vale corresponde a uma realidade histórica dentro de um modelo mineral de capital periférico dependente

Beni Carvalho* – Brasil de Fato
O genocídio humano e ambiental criminoso mais uma vez praticado pela Vale, sendo neste momento em Brumadinho, Minas Gerais, além de provocar uma grande comoção nacional, vem provocando reflexões e ações por diversos setores da sociedade. Vem provocando também a solidariedade e consequência política que é dever das organizações populares neste contexto em que a história se repete enquanto tragédia criminosa. É importante endossarmos a reflexão sobre qual é o problema estrutural e histórico que está por trás do rompimento da barragem de rejeito em Brumadinho.
O principal aspecto que devemos considerar, é que o crime da Vale em Brumadinho corresponde a uma realidade histórica dentro de um modelo mineral de capital periférico dependente. Não estamos diante apenas de um rompimento de uma barragem de rejeito, ou diante de uma tragédia anunciada em decorrência da ausência de impunidade da Vale pelos seus crimes históricos, sendo o mais recente o Crime provocado em Mariana e estendido a bacia do rio Doce de extensão ambiental, econômico, social e cultural incalculável.
O crime de Brumadinho é resultado de um modelo mineral historicamente genocida. O projeto de colonização, dentro do qual se estrutura o projeto para a mineração no Brasil, tem como características a violência contra o nosso povo, sendo que o extermínio e super exploração dos povos indígenas e de boa parte do povo africano foi em grande medida impulsionado pela busca e exploração mineral. Tendo como objetivo o saque dos nossos minérios para alimentar a ganância e a sanha da classe dominante internacional.
As transformações políticas, econômicas e sociais impulsionadas pela luta de classes dentro da sociedade brasileira não contaram com condições históricas de politização e contestação do modelo mineral brasileiro, permanecendo enquanto conflitos invizibilizados. Uma relação que não permitiu por parte da sociedade brasileira questionar e exigir controle popular da mineração. Arranjando-se enquanto estrutura de permanente intensiva exploração mineral a partir da super exploração do trabalho e profunda face destrutiva das formas de vida e de produção.
A Vale nasce em 1942 enquanto projeto umbilicalmente atrelado ao mercado exterior. Seu compromisso era de abastecer os aliados na Segunda Guerra Mundial. Fidelidade expressa em 98% das exportações para o exterior entre 1942 e 1961. Nos anos seguintes, até 1997, manteve uma média de 80% das exportações com o mesmo destino.
Os interesses hegemonizados pelo capital financeiro conduziram à eleição de Fernando Henrique Cardoso. Alinhado ao projeto neoliberal tinha como objetivo a privatização do patrimônio público brasileiro, entre ele, a entrega do controle da Companhia Vale do Rio Doce ao capital privado. Materializado enquanto maior roubo da história brasileira no dia 06 de maio de 1997, tendo em vista um patrimônio avaliado em mais de 100 bilhões de reais, entregue por 3,3 bilhões de reais.
Neste contexto, o neoliberalismo como expressão da hegemonia do capital financeiro, aprofunda a mercantilização da natureza e dos nossos minérios. Como instrumento de intensificação do saque dos bens primários, em especial os minérios, é constituída a lei Kandir, em 1996, como garantia de lucro extraordinário na exploração do capital mineral no Brasil, especialmente aos acionistas e investidores da Vale. A gerência corporativa estatal vem se reduzindo desde a privatização, com vista ao controle da política e exploração mineral por parte do capital internacional.
A mineração enquanto indústria de moer gente, vide Itabira, Minas Gerais; Serra Pelada, Pará; Santo Amaro, Bahia, são exemplos históricos, entre muitos que caracterizam Mariana e Brumadinho, não como exceção, mas como regra trágica criminosa, enquanto caráter permanente destrutivo do modelo mineral. Neste momento, pela necessidade do capital de se reproduzir na sua fase financeirizada, os acionistas, em luxuosas suítes bem distantes da lama de sangue, e diante uma crise internacional profunda, pressionam cada vez mais por lucros, organizam um modelo mineral ainda mais perverso e violento.
A crise ambiental no bojo da atual crise brasileira (econômica, política e social) é resultado da necessidade do aprofundamento da mercantilização da natureza, no caso especifico, por parte do capital mineral. Por isso a burguesia mineral como setor beneficiado pelo golpe de Estado atua no sucateamento dos órgãos de fiscalização, flexibilização da legislação ambiental, e na proteção à exploração mineral em terra de fronteiras, indígenas e quilombolas, com vista a permitir caminho livre para intensiva exploração de caráter predatório dos bens minerais.
Este modelo é movimentado por um exército de terceirizados e quarteirzados, para serem vítimas do setor que mais mata e mutila no mundo e no Brasil. Não é casual que dos 14 trabalhadores assassinados pela Vale em Mariana, 11 eram terceirizados, e no caso de Brumadinho, as informações até agora publicadas expressam que é essa categoria representante da maioria dos corpos devorados por este capital mineral, além de outros/as milhares de trabalhadores, camponeses e camponesas, muitos destes indígenas, negros/negras, sem-terra violentados por este modelo mineral, espalhados pelos 2800 municípios minerados deste Brasil. A Vale, enquanto expressão da sanha capitalista na disputa dos nossos minérios, é uma criminosa reincidente no segundo território mais minerado deste país.
O que está por trás de Brumadinho não é somente o rompimento de uma barragem de rejeito, mas um complexo minerário (barragens, ferrovias portos…) que viabiliza o saque dos nossos minérios às custas de muito sangue. É uma expressão histórica de um modelo construído sem e contra o povo. O desafio das forças populares neste momento é construir força social para denunciar mais um crime cometido pela Vale, e exigir justiça. Mas, para além disso, a permanente construção de força deve garantir condições históricas de denúncia a este modelo genocida que matou/mata e segue impune ao longo da história.
A única denúncia consequente será a organização do povo em uma estratégia que conteste e supere o atual modelo mineral. A tarefa histórica dos lutadores e lutadoras é canalizar essa comoção social para uma profunda reflexão sobre o modelo mineral, e de edificação de uma estratégia de soberania popular na mineração fortalecendo um projeto popular que além da denúncia seja anúncio do novo, e contraponto ao velho, expresso em um projeto antinacional, antidemocrático, antipopular, e assumindo neste momento características neofascistas.
*Militante do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração – MAM
Edição: Mauro Ramos

https://www.brasildefato.com.br/2019/02/14/brumadinho-o-modelo-mata/

A tragédia de um país enlameado pelos abutres da mineração
Em 4 de fevereiro de 2019











Paulo Correia.  ODIARIO.INFO

É a lama, é a lama: Águas de Janeiro num país enlameado
A tragédia resultante do colapso da barragem de Brumadinho veio de novo chamar a atenção para a empresa Vale S/A, uma empresa mineira transnacional que opera na América Latina e que está presente também em Moçambique, Angola e Guiné. Tem lucros de centenas de milhões. Está no 5° lugar das empresas mais irresponsáveis do mundo, do ponto de vista ambiental e social. Está envolvida em casos suspeitos no Brasil, Chile, Colômbia e Peru e é acusada de causar sérios impactos ambientais e sociais nos países africanos onde opera. Agora dispõe-se a atribuir 23.615 euros a cada família com vítimas nesta tragédia horrenda.
A última contagem de vítimas desta tragédia ocorrida a 25 de janeiro no município de Brumadinho, a 65 Km da capital do Estado de Minas Gerais (MG) – Belo Horizonte – foi de 121 mortos e 226 desaparecidos. O desastre aconteceu quando a barragem da mina de ferro de «Córrego do Feijão», que continha lamas provenientes de rejeitos das atividades mineradoras, colapsou, provocando uma enxurrada de 12 milhões de metros cúbicos (m³). Esta sopa densa e viscosa, constituída por lamas tóxicas, ricas em metais pesados e compostos utilizados no processo de beneficiação industrial dos minérios de ferro (aminas, éter,…), levou tudo pela frente, incluindo uma ponte ferroviária, desaguando no rio Paraopeba, um afluente do rio São Francisco, um dos maiores cursos de água do Brasil e que atravessa 5 Estados brasileiros.
O responsável maior, a empresa de mineração «Vale S.A.». é o resultado de uma privatização parcial da empresa estatal, implementada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997, que «vendeu» a companhia «a preço de banana», aliás, comprada pelo banqueiro/empresário Benjamin Steinbruch, com dinheiro oferecido pelo Banco estatal BNDES. Criada por Getúlio Vargas em1942, chamava-se então «Companhia do Vale do Rio Doce» (VCRD). Hoje em dia, é uma empresa mineradora transnacional que opera na América Latina, estando presente em Moçambique, Angola e Guiné. Está também no 5° lugar das empresas mais irresponsáveis do mundo, do ponto de vista ambiental e social. A companhia está envolvida em casos suspeitos no Brasil, Chile, Colômbia e Peru e é acusada de causar sérios impactos ambientais e sociais nos países africanos onde opera. Em janeiro de 2012, recebeu o prêmio de «pior empresa do mundo em direitos humanos e meio ambiente», também chamado o «Óscar da Vergonha», atribuído pelo «Public Eye People’s», organizado pelas ONGs «Greenpeace» e «Declaração de Berna».
Como não podia deixar de ser, a «Vale» é o tipo de empresa criminosa, do gênero mutante, entre um vampiro e um abutre, que suga o máximo de recursos, maximizando lucros e distribuindo gordos dividendos aos acionistas, em detrimento de salários e de proteção social e ambiental. O fato de que «as pessoas contam» para a companhia é o do refeitório do pessoal da empresa ter sido construído na parte debaixo da barragem. O colapso deu-se na hora do almoço !
Não é preciso ser especialista para estimar que a causa provável do colapso se deveu à falta de controle e fiscalização da estrutura. É legítimo apontar aos dirigentes desta empresa e aos organismos que deveriam controlar as suas atividades, a responsabilidade deste gravíssimo ato criminoso. A prova de que essa gente vai ficar impune é o desprezo com que tratam as famílias das vítimas deste ignóbil crime. Ora vejamos: a «Vale S.A.», grande grupo multinacional de mineração mundial (que os telejornais franceses apelidaram de «empresa mineradora» sem a nomear), com 70 mil empregados, maior exportador mundial de minério de ferro do mundo, vangloria-se de oferecer R$ 100 mil reais (23.615 euros), a cada família com vítima, nesta tragédia horrenda, afirmando em campanhas publicitárias que «a prioridade são as pessoas» ! Será que esta elite dirigente, cínica e impune sente que está oferecendo mais do que ela estima ser o valor de uma Vida Humana?
O presidente da «Vale», Fabio Schvartsman, aufere 1,6 milhões de reais mensais (378 mil euros), mais ou menos cerca de 4,5 milhões de euros anuais!!! Os outros 5 diretores da companhia auferem cerca de 236 mil euros por mês. Para esta malta sanguessuga, uma vida vale então 6% de um mês de salário do «boss». Com gente como esta, como é que havemos de salvar o Planeta? Como é que que podemos salvar-nos, a nós de um fim escabroso, como o das vítimas de Brumadinho?
Precedente: a 5 de novembro de 2015 deu-se o colapso da barragem de rejeitos do Fundão, no município de Mariana (MG), propriedade da «Vale S.A» e do megagrupo anglo-australiano BHP-Billiton. A tragédia (mais uma) de Mariana, foi o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental do Brasil e o maior desastre ambiental mundial envolvendo rejeitos, com o vazamento de 62 milhões m³ de entulho sujo, tóxico…lamacento,
Fonte: https://ideiaperigosa.wordpress.com/2019/01/31/e-a-lama-e-a-lama-aguas-de-janeiro-num-pais-enlameado/


Novo crime ambiental em MG: o capitalismo mata
Em 25 de janeiro de 2019















Após três anos do crime de Mariana, nova barragem da Vale se rompe em Minas Gerais Redação – Brasil de Fato
A barragem Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, se rompeu nesta sexta-feira (25) em Brumadinho, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais.
As primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. A Vale confirmou que havia empregados na área administrativa, que foi atingida pelos rejeitos, indicando a possibilidade de vítimas. O Corpo de Bombeiros resgatou, até o final da tarde, quatro pessoas feridas, que foram encaminhadas ao hospital João XXIII, em Belo Horizonte.
O Instituto Inhotim, o museu a céu aberto de arte contemporânea localizado no município, foi evacuado por precaução.
O rompimento da barragem em Brumadinho ocorre pouco mais de três anos do crime ambiental em Mariana, também em Minas Gerais – acidente que, em novembro de 2015, liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na região e deixou 19 mortos após rompimento de barragem de Fundão, da mineradora Samarco.
Maria Júlia Gomes de Andrade, coordenadora do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), afirma que o licenciamento foi concedido a toque de caixa pelo governo estadual, em dezembro.
“Eles tramitaram, nesta expansão, as três licenças juntas (prévia, de instalação e de operação), que é uma forma de acelerar o processo. Toda a população do entorno do projeto estava com terror do que significaria essa expansão. Temos agora a confirmação que o medo das pessoas se materializou” , pontua.
Já o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) prestou solidariedade com os atingidos pelo rompimento da barragem. “Denunciamos o atual modelo de mineração, com empresas privatizadas e multinacionais que visam o lucro a qualquer custo que afeta a vida de milhares de pessoas”, diz nota do movimento.
“A Barragem tem capacidade de 1 milhão de m³ de rejeitos, que agora serão derramados sobre o Rio Paraopeba, deixando um rastro de destruição e morte e colocando em risco o abastecimento de milhares de famílias em mais de 48 municípios da Bacia do Paraopeba.”
O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), autor do PL 3650/2015, que proíbe barragens molhadas e incentiva a adoção de barragens secas também se posicionou sobre o desastre ambiental.
“É uma irresponsabilidade criminosa, porque estamos tratando do mesmo grupo, em menos de três anos novamente e na mesma região. É inaceitável que uma irresponsabilidade com a vida das pessoas e com o meio ambiente possa continuar dessa forma”, disse o parlamentar.
Alerta No fim de 2018, o Brasil de Fato publicou uma matéria que alertava sobre a ampliação da mina na cidade.
No dia 11 de dezembro, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) aprovou a ampliação da mina em Brumadinho e de outra em Sarzedo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As minas estão localizadas na zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e enfrentavam forte resistência dos moradores.
A continuidade das operações nas duas minas foi aprovada com apenas um voto contrário e duas abstenções, segundo Maria Teresa Viana, integrante do Copam. “Se eles estão fazendo isso em uma área que é tão perto da população, em locais mais afastados é uma tratoragem, uma atrás da outra”, declarou, na época, a ambientalista Maria Teresa Viana.
Em nota, o governo do estado de Minas Gerais informou que uma força-tarefa está no local do rompimento para acompanhar e tomar as primeiras medidas. Já a Vale informou que “a prioridade total da empresa, neste momento, “é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade”.
O presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, no Twitter, lamentou o acidente e disse que a maior preocupação no momento é “atender eventuais vítimas desta grave tragédia”. No início da semana, no Fórum Econômico Mundial de Davos, Bolsonaro afirmou que “somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós”.
Edição: Tayguara Ribeiro
Rompimento das barragens já era esperado por moradores de Brumadinho (MG) Há anos, Movimento das Águas de Casa Branca realiza ações contra o avanço da atividade na região Wallace Oliveira – Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) Duas barragens da Vale romperam nesta sexta (25) em Brumadinho (MG) – Créditos: Reprodução de WhatsApp Duas barragens da Vale romperam nesta sexta (25) em Brumadinho (MG) / Reprodução de WhatsApp O rompimento de duas barragens da Vale em Brumadinho (MG), na tarde desta sexta-feira (25), possivelmente é um dos maiores crimes ambientais da história da mineração no Brasil, ao lado do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015. Segundo Clara Paiva Izidoro, consultora de empresas e moradora de Casa Branca, distrito de Brumadinho, já havia entre os moradores um temor de que um desastre dessa natureza ocorresse.
“Nós vamos ter um impacto imenso. Nós já vínhamos reconhecendo que várias barragens andavam com risco e isso tem relação com abalos sísmicos pequenos que estão acontecendo na região. Isso significa que, se houve um sismo nessa região, que tem muitas barragens, ainda podemos ter outros eventos. Então, esta é uma área de muito risco”, explica.
Denúncia publicada no Brasil de Fato no mês passado mostrou que os moradores se opuseram fortemente à autorização do governo de Minas para que as empresas Minerações Brasileiras Reunidas S.A. e Vale operassem nos municípios de Brumadinho e Sarzedo.
Há cerca de uma década, o Movimento das Águas de Casa Branca realiza inúmeras ações contra o avanço da mineração. O grupo tem alertado para o fato de que a as mineradoras operam nas proximidades do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e de seis mananciais que abastecem 40% da Região Metropolitana de Belo Horizonte, fornecendo água para mais de 2 milhões de pessoas. Um abaixo-assinado chegou a ser feito, com 82 mil assinaturas.
“Meu sentimento de moradora e cidadã é de não estar sendo ouvida nem respeitada. Quando a gente se levanta contra a mineração, ouvimos que somos doidos, como se a gente fosse criminoso. Não temos mais portas para bater”, relatou Clara Paiva.
Edição: Larissa Costa
Onda de lama da Vale deve atingir 19 municípios de MG, afirmam especialistas Especialistas alertam sobre medidas para evitar um dano ainda maior, após o rompimento da barragem em Brumadinho (MG) Leonardo Fernandes – Brasil de Fato | São Paulo Embora a quantidade de rejeito de mineração vazada da barragem localizada no município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), seja menor do que a despejada sobre o Rio Doce em dezembro de 2015, os danos socioambientais serão grandes. O alerta é feito pelo biólogo Renato Ramos.
“As informações são muito desencontradas no momento. A gente vê informações de que são um milhão de metros cúbicos de rejeito, outras de que pode chegar a até 13 milhões de metros cúbicos de rejeito. É uma proporção muito menor do que aconteceu no desastre de Mariana, mas também é um desastre severo”, alerta.
Ramos é responsável por um estudo, em parceria com o geólogo Sófocles de Assis, e que aponta que 19 municípios mineiros devem ser atingidos pela onda de lama. São eles: Betim, Brumadinho, Curvelo, Esmeraldas, Felixlândia, Florestal, Fortuna de Minas, Igarapé, Juatuba, Maravilhas, Mário Campos, Morada Nova de Minas, Papagaios, Pará de Minas, Paraopeba, Pequi, Pompéu, São Joaquim de Bicas e São José da Varginha. Segundo os pesquisadores, é possível que a pluma chegue até a barragem de UHE Retiro Novo, próximo a Três Marias.
Ao Brasil de Fato, os especialistas afirmaram que já vinham trabalhando no estudo das consequências do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, e por isso puderam elaborar rapidamente um prospecto do impacto dessa nova tragédia. Esses estudos poderiam, por exemplo, evitar que a lama chegue ao Rio São Francisco, provocando um dano ainda maior.
“A gente está pensando nesse momento que uma medida para conter o fluxo da lama é fechar a barragem de Três Marias. Ali tem um reservatório muito grande e talvez a quantidade de água que existe ali depure a lama, segura ela, que seria depositada no leito do reservatório. Isso ajudaria a não impactar o restante do Rio São Francisco”.
Estudos apontam que há mais de 400 barragens de rejeitos no território mineiro, sendo que 50 apresentam não tem garantia de estabilidade e apresentam riscos.
O rompimento ocorreu no começo da tarde desta sexta-feira. O governo de Minas Gerais afirmou que a Defesa Civil do Estado já enviou uma equipe para o local. Anda não há estimativa sobre o número de pessoas atingidas.
Edição: Luiz Felipe Albuquerque


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