PREVIDÊNCIA

Reforma da Previdência: novas regras já sofreram ajustes na virada do ano

Mônica Pereira, ,Extra 



Ajustes valem para segurados do INSS e servidores federais.

Promulgada há menos de dois meses — em 13 de novembro de 2019 — a reforma da Previdência, que criou novas regras para a concessão de aposentadorias e pensões, já sofreu as primeiras alterações, com a virada do ano. As regras de transição, que surgiram para atenuar o impacto das mudanças para quem já estava no mercado de trabalho, passaram por ajustes a partir de 1º de janeiro, dificultando um pouco mais o acesso ao benefício, como já era previsto na reforma.
No caso da idade mínima, a reforma estabeleceu que as mulheres deverão se aposentar aos 62 anos, e os homens, aos 65. Mas, para quem já trabalhava e contribuía para a Previdência, a reforma criou uma tabela escalonada, que começa em 56 anos (para elas) e 61 anos (para eles) e é acrescida de seis meses a cada ano. Portanto, a partir de 2020, as trabalhadoras já precisam ter 56 anos e meio. Já os trabalhadores deverão cumprir 61 anos e meio.
Vale destacar, porém, que neste modelo de transição é preciso comprovar ainda um tempo mínimo de contribuição de 30 anos para as mulheres e 35 para os homens.
Na aposentadoria por idade, que exige menos tempo de recolhimento ao INSS, também há uma regra de transição. Os homens continuam tendo que completar 65 anos, mas as mulheres que precisavam de 60 anos em 2019 terão que contribuir por mais seis meses em 2020, completando 60 anos e meio. A contribuição mínima também passa a ser de 15 anos e meio para ambos os sexos.
Se o trabalhador é servidor público, a regra de transição exige aposentadoria aos 61 anos, no caso dos homens, e 56, das mulheres. Há ainda outras exigências: 20 anos de serviço público e 5 anos no cargo efetivo em que se der a aposentadoria. É preciso ainda ter 87 pontos, no caso das mulheres, e 97, homens.
Para professores das redes pública e privada que estão no mercado, as idades mínimas só voltam a subir em 2022, quando passam para 52 e 57 anos, para mulheres e homens, respectivamente. Eles também deverão comprovar 25 e 30 anos de contribuição, além de pontuação mínima de 82 (mulher) e 92 (homem). No caso dos servidores, é preciso ter ainda 20 anos de serviço público e cinco anos no cargo.
Para docentes da iniciativa privada também há a possibilidade de se aposentar com idade mínima de 56 anos e 6 meses, no caso do homem, e 51 anos e 6 meses, a mulher.
Não à(ao) reforma(desmonte) da previdência nos estados!

Organizar a luta contra os ataques aos trabalhadores em todo o Brasil!

Nota Política do Partido Comunista Brasileiro (PCB)
Ao apagar das luzes do ano de 2019, governos estaduais, inclusive aqueles que se apresentam como “de esquerda” ou “progressistas”, como Camilo Santana (PT) no Ceará e Renato Casagrande (PSB) no Espírito Santo, conseguiram aprovar, nas Assembleias Legislativas de seus estados, projetos de lei que impõem contrarreformas da Previdência, ampliando a idade mínima para aposentadoria, taxando servidores aposentados e retirando direitos duramente conquistados pela classe trabalhadora.
No Maranhão de Flávio Dino (PCdoB), a mudança, que atinge mais de 100 mil funcionários públicos, já ocorreu em novembro, quando os deputados estaduais aprovaram – e o governador sancionou – proposta em que a alíquota previdenciária sobe, em média, de 11% para 14%, sendo que os descontos, dependendo da faixa salarial do servidor, podem chegar a 22%! Em Alagoas, Renan Filho (MDB), utilizando de forte aparato militar e sem oposição do PT local, que integra o governo, também fez aprovar proposição aumentando a contribuição mínima de 11% para 14%, a ser descontada de todos os servidores, independentemente da faixa salarial.
Não se trata, portanto, de uma ação isolada. A contrarreforma da Previdência, já sacramentada no Congresso Nacional a partir de projeto encaminhado pelo Governo de ultradireita de Bolsonaro, Mourão e Guedes, tem propostas similares ou até mais nefastas aos trabalhadores sendo apresentadas em vários estados da Federação. Além dos já citados, há em andamento projetos antipopulares nos seguintes estados: Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina e São Paulo. Em comum, as propostas visam modificar a idade mínima para a aposentadoria, na maioria das vezes passando a 65 anos para homens e 62 anos para mulheres, além de outros retrocessos.
No caso do Ceará, parlamentares vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT), ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) votaram de forma favorável à medida, que representa forte retrocesso aos servidores públicos, aposentados e trabalhadores. Não é de hoje que o Governador Camilo Santana (PT) age de forma contrária aos interesses dos trabalhadores, usando sempre do mesmo modus operandi: envio de proposta à Assembleia Legislativa no final do ano e uso da repressão. Em 2016, aprovou a Proposta de Emenda à Constituição que congelou o investimento em áreas sociais e limitou gastos públicos por 10 anos, na esteira da PEC do Congelamento de Michel Temer. Na sequência, aumentou a alíquota previdenciária, que saltou de 11% para 14%. Além disso, mantém o arrocho salarial dos servidores estaduais, que acumulam sucessivas perdas na ordem de 25%, ao mesmo tempo em que concede isenções e benefícios fiscais aos grandes capitalistas do Estado.
Na Bahia, o Governo de Rui Costa (PT) também tem operado uma política de desmonte do serviço público, destruição dos direitos sociais e precarização do trabalho dos servidores públicos estaduais. As políticas neoliberais do governo baiano incluem cortes nos orçamentos da educação pública, elevação da contribuição previdenciária dos servidores de 11% para 14% e, como se não bastasse, cortou os salários dos docentes que deflagraram greve em reação legítima aos ataques a seus direitos. Chama atenção a forma como o governador petista recorre à força policial para reprimir manifestações populares e a juventude negra da periferia, sem diferença alguma em relação a qualquer governo da direita.
No Rio Grande do Norte, o governo de Fátima Bezerra (PT) igualmente segue o receituário neoliberal, propondo uma reforma da previdência que ataca os direitos de trabalhadores e trabalhadoras, com o aumento progressivo das alíquotas e o aumento da idade mínima e tempo de contribuição. Os sindicatos de trabalhadores e organizações populares se organizam para barrar a proposta que está sendo apresentada pelo governo.
O PCB repudia de forma veemente todos os ataques desferidos pelos governos que agem como cães de guarda da burguesia e promovem a retirada de direitos históricos da classe trabalhadora em nome de um ajuste fiscal cujo objetivo maior é manter os privilégios dos grandes empresários, que continuam desfrutando de todas as benesses possíveis, tendo dívidas perdoadas, renúncia de impostos e participando de esquemas fraudulentos em licitações, conforme fartas denúncias na imprensa e nas redes sociais.
Não nos causa estranheza que governadores eleitos por legendas da direita promovam ataques contra os direitos da classe trabalhadora, mas muito nos indigna quando setores da chamada esquerda e do campo democrático popular apliquem o mesmo receituário das políticas econômicas do governo federal, encaminhando e fazendo aprovar, com uso de forte aparato repressivo, contrarreformas da previdência altamente lesivas aos interesses dos trabalhadores, ao invés de se posicionarem como polos de resistência a estes ataques.
Desde os desdobramentos do golpe de 2016, que se materializaram nas contrarreformas de Temer e se radicalizaram no governo da extrema direita de Bolsonaro, o PCB defende a necessidade de uma unidade de ação entre todas as forças políticas que praticam a oposição ao governo Bolsonaro e suas políticas de terra arrasada, que vêm destruindo direitos consagrados, atacando a educação, a ciência e o meio ambiente, ampliando as ações repressivas e estimulando a violência aberta contra a classe trabalhadora, mulheres, negros e negras, povos indígenas e LGBTs. O PCB acredita que somente uma ampla unidade na luta poderá fazer frente a esse governo, articular a resistência e tecer uma rearticulação com vistas à reorganização da classe trabalhadora, tarefa fundamental para a construção da contraofensiva anticapitalista no Brasil.
Contudo, assim como não acreditamos que a solução para a complexa equação política brasileira passe somente por indivíduos e figuras públicas, por mais importantes que estes sejam, também não achamos que o fator de unidade deva ser somente a oposição a Bolsonaro, mas sim ao conjunto da sua política antipopular e a tudo o que ela representa de nefasto para trabalhadores, trabalhadoras e setores populares. Não adianta derrotar Bolsonaro se seu programa continuar vivo e sendo aplicado por qualquer governo que o suceda. A necessária unidade se constrói sobre políticas e programas, que, na atual conjuntura, têm como centralidade o firme combate às contrarreformas trabalhista e da previdência e às privatizações, assim como a luta pelos direitos sociais e pelas liberdades democráticas, como materialização de um programa mínimo de defesa dos interesses da classe trabalhadora.
Continuaremos trabalhando nessa perspectiva, que acreditamos ser a única viável para o combate radical e efetivo à atual ofensiva ultraconservadora, reacionária e neoliberal, mas denunciando todas as traições e vacilações que, praticadas por aqueles que se viciaram na política de conciliação de classes e de concessões ao capital, nessa conjuntura enfraquecem ainda mais a classe trabalhadora.
Nesse sentido, conclamamos as organizações políticas e sociais de fato comprometidas com as lutas e os interesses populares a cerrar fileiras nos estados contra os ataques promovidos pelos governos burgueses ou por aqueles que, travestidos de progressistas, agem a mando do capital. É preciso organizar amplas frentes de lutas e grandes mobilizações para barrar as contrarreformas que destroem direitos dos trabalhadores!
Reafirmamos a necessidade de consolidar nos estados o Fórum Sindical, Popular e de Juventudes por Direitos e Liberdades Democráticas, para fazer avançar a organização e a resistência aos ataques, assim como apontar para a realização do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora e para a construção do programa anticapitalista e anti-imperialista, no rumo do Poder Popular e do Socialismo.
Comitê Central do PCB
EM TEMPO: Aqui em Pernambuco, votaram a favor do “Desmonte da Previdência” do governo Paulo Câmara, os seguintes deputados “esquerdistas”: Doriel Barros (PT); Ducicleide Amorim (PT); Teresa Leitão (PT) e João Paulo (PCdoB)

Com forte repressão, Camilo (PT) aprova reforma no Ceará
Por Ítalo Andrade (Membro do CC e do CR/Ceará do PCB)

Enviadas à Assembleia Legislativa do Estado do Ceará na terça-feira (10/12), as Mensagens de Lei que tratam da Reforma da Previdência Estadual, remetidas pelo Governador Camilo Santana (PT), foram aprovadas durante sessão legislativa realizada na última quinta-feira (19.12.2019).
Com 34 votos a favor e 8 votos contrários, a Reforma da Previdência Estadual amplia a idade mínima para aposentadoria, taxa os servidores aposentados e corta a pensão por morte. Vale destacar que, dentre os 34 deputados que votaram a favor da maldita reforma, contam os nomes de parlamentares vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT), ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ao Partido Social Liberal (PSL).
Ao evidenciarmos o posicionamento político do PT, PCdoB e PDT, favoráveis à Reforma da Previdência Estadual, buscamos chamar atenção para o descompasso entre um aparente discurso de combate à retirada de direitos e a prática nefasta de ataque aos trabalhadores.
Lembremos que, recentemente, quando da aprovação da reforma da previdência proposta por Bolsonaro (PSL) e Paulo Guedes, todas estas organizações fecharam posição contrária à proposta do Governo Federal. Em termos de discurso, PT, PCdoB e PDT sempre apareciam como “defensores dos direitos conquistados historicamente”, todavia, nos bastidores da arena política e dos meandros das casas legislativas, a situação era diferente.
De acordo com informações publicadas pelos grandes veículos de informação do Ceará, Camilo Santana (PT), assim como outros governadores petistas, atuou diretamente pela aprovação da reforma de Bolsonaro (PSL). Enquanto diversos deputados federais do PDT votaram abertamente a favor da reforma. Como diz um famoso provérbio italiano: “Vá a praça e peça um conselho, vá pra casa e faça como você quer”.
Como todos sabíamos, era questão de tempo para que Camilo Santana (PT) apresentasse sua proposta de reforma da previdência e, a toque de caixa, aprovasse a matéria, com auxílio, evidentemente, de sua base aliada, que inclui PCdoB, PDT, Cidadania, PSB, PP e outros.
O aparente descompasso entre uma deliberação nacional e o modo de governar petista também não deve ser causa de grande espanto. Afinal , este não é o primeiro e, certamente, não será o último ataque promovido pelo Governador e sua ampla base de apoio.
A reforma da reforma
Ainda em 2016, também no apagar das luzes, o Governador Camilo Santana apresentou e a Assembleia Legislativa aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 03/2016, que congelou o investimento em áreas sociais e limitou gastos públicos por 10 anos, seguindo a PEC do Congelamento, do então Presidente Michel Temer.
Não satisfeito em congelar os investimentos públicos em áreas de interesse social, o Governador foi além e aprovou aquilo que nem mesmo Michel Temer conseguiu: o aumento da alíquota previdenciária, que saltou de 11% para 14%.
Junto a isto, considerando apenas o período de 2016 a 2019, os servidores públicos estaduais têm acumulado sucessivas perdas salariais, que já chegam à marca de 25%, e diversos deles aprovados em concursos públicos aguardam homologação e/ou convocação até o momento não realizadas sob a falsa justificativa de respeito à responsabilidade fiscal e busca do equilíbrio das contas públicas.
Em nome da política de “equilíbrio fiscal” e da transferência (in)direta de recursos públicos para o grande capital, Camilo Santana (PT) e sua base aliada aplicaram a segunda etapa da Reforma da Previdência Estadual. Em um Estado em que, ano após ano, se alcançam índices de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima da média nacional, em que ano após ano quebram-se recordes de arrecadação e investimentos, o Governo Camilo Santana (PT) nos envia uma mensagem muito clara, qual seja: não faltam e não faltarão ataques aos direitos dos trabalhadores, enquanto que para os grandes capitalistas, em especial do setor logístico, tecnológico, aéreo e portuário, não sobram e não sobrarão isenções e benefícios fiscais e outras tantas regalias.
Bolsonaro e Paulo Guedes x Camilo e Mauro Filho
Vejamos abaixo um quadro comparativo entre a reforma da previdência nacional e a estadual:
                                            .BOLSONARO                ANTES     REF. DO CAMILO (PT)                                               
Idade mínima (servidor)    .Mulheres: 62                .M: 55       .Mulheres: 62.        
                                             .H: 65.                            .H: 60.       .H: 65.
Idade mínima (professor)  .Mulheres: 57               .M: 50        .Mulheres: 57.  
                                             .H: 60.                            .H: 55.       .H: 60.
Pensão por  morte             .50% + 10% por  dep    100%        .50% + 15% por dep                                                                                                     
Além disso, assim como na reforma de Bolsonaro, a reforma da previdência estadual estipula a contribuição previdenciária obrigatória para aposentados e pensionistas, que antes não eram taxadas e agora serão tributadas em 14%.
Organizar a resistência e avançar na luta contra a retirada de direitos!
Para aprovar a Reforma da Previdência, Camilo Santana (PT) fez uso não somente 
de manobras políticas, mas também usou do aparato policial para reprimir os  tra-
balhadores que protestavam contra a retirada de direitos.
Bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e muita pancadaria foram   registrados 
do lado de fora da Assembleia Legislativa, tendo em vista a ordem expressa      de 
impedir a entrada daqueles que ousavam lutar pela manutenção de seus direitos.
Os fatos acima relatados apontam para a necessidade de superação de    qualquer 
ilusão com governos de coalizão da ordem. Ainda que do ponto de    vista do    dis-
curso os governos petistas busquem se apresentar como governos       progressis-
tas, a prática – critério da verdade – revela uma outra         realidade, qual seja, que 
estes governos não hesitam quando o que está em jogo é a      manutenção        do 
establischment, mesmo que isto custe os direitos dos trabalhadores.
Uso aqui de outro provérbio, onde a sabedoria popular nos ensina que:    “Nenhum
 pássaro aprende a voar dentro de uma gaiola”. É hora de romper com o cerco    da 
conciliação de classes, é hora de organizar a resistência e avançar na luta     contra 
a retirada de direitos!
Lembremos aqui de uma das mais famosas de cartas de Engels, quando em setem-
bro do longínquo ano de 1871, durante a Conferência da Primeira Internacional, res-
saltava que: “a política que é preciso fazer é a política operária; é preciso que o par-
tido operário seja constituído não como a cauda de qualquer partido burguês,  mas 
como partido independente que tem o seu objetivo, a sua política própria”.
Neste sentido, a brava militância do Partido Comunista Brasileiro (PCB), junto   a to-
das outras organizações políticas, entidades de classe, movimentos sociais e   estu-
dantis, fez-se presente na luta contra a Reforma da Previdência Estadual,    denunci-
ando a retirada de direitos, ecoando nossas palavras de ordem e apontando   para a 
 necessidade de constituição de um bloco unitário da esquerda socialista,  capaz de 
contribuir para a reorganização da classe trabalhadora e, assim, barrar os   retroces-
sos em curso.
Como dito pelo grande poeta e dramaturgo Bertolt Brecht, em seu poema  Elogio da
Dialética:
Os caídos que se levantem!
Os que estão perdidos que lutem!
Quem reconhece a situação como pode calar-se?
Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
E o “hoje” nascerá do “jamais”.







Contra a reforma da previdência de Camilo Santana (PT)!



NOTA DA COORDENAÇÃO ESTADUAL DA UNIDADE CLASSISTA – CEARÁ
NÃO IREMOS PAGAR PELA CRISE!
No apagar das luzes do ano de 2019, o Governador Camilo Santana (PT) empreendeu mais um duro golpe contra os servidores públicos do Estado do Ceará. O Governo enviou, no dia 10 de dezembro, para a Assembleia Legislativa do Ceará, um projeto de lei que visa implementar, em nível estadual, uma violenta Contrarreforma da Previdência.
Seguindo, uma vez mais, os passos de Jair Bolsonaro, Camilo Santana (PT) manipula o discurso do suposto déficit fiscal para retirar direitos e precarizar as relações de trabalho, em um contexto de forte ajuste neoliberal e ofensiva do capital contra os trabalhadores e as trabalhadoras. Dentre outros pontos, a proposta enviada pelo Governo cearense prevê o aumento da idade mínima para aposentadoria dos servidores públicos estaduais: dos atuais 60 anos para homens, subindo para 65, e dos atuais 55 anos para mulheres, passando a 62 anos, de acordo com o que foi aprovado em nível nacional, em outubro deste ano. Além disso, na proposta enviada, a pensão por óbito deixa de ser integral (100%) e passa a pagar apenas 60% da média salarial. Anuncia, ainda, a taxação de aposentadorias e pensões acima de dois salários mínimos. Um verdadeiro “cópia e cola” da desastrosa política previdenciária de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes!
O argumento do governo Camilo Santana (PT) para o envio desta nefasta proposta é a necessidade de adaptar o modelo estadual a uma imposição do Governo Federal. De acordo com a portaria 1.348, publicada no Diário Oficial da União no dia 4 de dezembro, Estados e municípios têm até 31 de julho de 2020 para se adaptar às novas regras nacionais, caso contrário, ficarão impossibilitados de assinar convênios, conseguir financiamentos e empréstimos internacionais, e receber transferências da União. O governo Camilo resolveu, portanto, ser “mais realista que o rei” e se antecipou ao prazo, apresentando, agora em dezembro, sua versão local de desmonte da previdência pública.
Na verdade, não é segredo para ninguém que, desde meados deste ano, o governador petista do Ceará já defendia a inclusão de Estados e municípios na Contrarreforma da Previdência de Bolsonaro e Paulo Guedes (1). Assim, a intenção do Governo Camilo, com este gesto, é evidente: utilizar a chantagem federal, materializada na portaria 1.348, como desculpa para apressar a aprovação da Contrarreforma da Previdência em nível estadual, antes mesmo que o funcionalismo público tenha tempo de se mobilizar e questionar a inconstitucional portaria do Governo Bolsonaro!
Paralelo a isso, o Governo do Ceará concede monumentais isenções e renúncias fiscais ao grande capital: os setores dos agrotóxicos, por exemplo, possuem isenção completa de ICMS; o Complexo Industrial do Pecém tem isenção fiscal e infraestrutura hídrica; em junho de 2018 foi ampliada a subvenção econômica para companhias aéreas, dentre outras isenções (2).
O governo petista de Camilo Santana demonstra, mais uma vez, que está contra os/as trabalhadores/as. Demonstra na prática, também, os limites de se apostar na institucionalidade burguesa como principal espaço de resistência. Em um contexto de crise estrutural do capital, a alternativa burguesa é o aprofundamento da barbárie e destruição das condições mais elementares de sobrevivência.
O que está em curso, portanto, é um imenso ataque ao serviço público estadual. Aproveitando-se da conjuntura nacional de forte ajuste ultra neoliberal do Governo Bolsonaro, como resposta à crise do capital, o Governo do Ceará intensifica a transferência do fundo público para os grandes empresários e impõe que os servidores públicos e a classe trabalhadora, em geral, paguem pela crise. Mais do que somente resistir, é preciso que as organizações da classe trabalhadora reafirmem sua independência política, retomem o protagonismo das mobilizações de rua e das greves, em defesa dos direitos e na luta pelo Poder Popular, rumo ao Socialismo.
NÃO IREMOS PAGAR PELA CRISE!!!
NÃO À CONTRARREFORMA DA PREVIDÊNCIA DE CAMILO SANTANA E DE JAIR BOLSONARO!!!!
DERROTAR A AGENDA ULTRANEOLIBERAL NO CEARÁ E NO BRASIL!!!!
PELO PODER POPULAR, RUMO AO SOCIALISMO!!!!!
Fortaleza, 15 de dezembro de 2019
Unidade Classista – Ceará
1 https://www.opovo.com.br/noticias/politica/2019/08/21/camilo-santana-diz-ser-a-favor-da-reforma-daprevidencia-durante-reuniao-em-teresina.html

2 https://www.al.ce.gov.br/index.php/oradores-expedientes/item/76700-1109-gm-01-prim-exp-roseno
ALTERNATIVA COMUNISTA À REFORMA DA PREVIDÊNCIA. 

Gabriel Landi Fazzio

Todo trabalhador e toda trabalhadora minimamente consciente da sua posição social e dos interesses imediatos de sua classe já compreendeu o que os grandes capitalistas desejam com a “reforma da previdência”. Para remediar a crise econômica e a queda livre de suas taxas de lucro, a classe dominante deseja prolongar o tempo em que o trabalhador está à disposição dos empregadores, aumentando a idade mínima para aposentadoria; pagar aposentadorias menores e por menos tempo, para deslocar mais recursos do Estado para as políticas que beneficiam os grandes empresários; transferir a gestão da previdência para os grandes bancos em nome de seus lucros; em resumo: degradar as condições de vida da classe trabalhadora e embolsar o máximo possível dos recursos da previdência popular.
Por tudo isso, milhões de pessoas (principalmente entre o proletariado, mas também entre os trabalhadores autônomos e mesmo alguns pequenos empresários) já manifestam, há anos, sua oposição à chamada “reforma da previdência”. Munidas de informações que desmentem a grande fraude dos governos (uma mentira chamada de “déficit da previdência” ou, outras vezes, de “transição demográfica”), essas pessoas promovem uma ampla agitação nas redes sociais e participam em manifestações de massas. No auge da resistência a um desses projetos de contrarreforma, no ano de 2017, diversas camadas da classe trabalhadora aderiram a dois dias de greve geral, mostrando toda a força do proletariado e obrigando o governo Temer a interromper a sua proposta de reforma da previdência.
Mas isso não significa, de forma alguma, que a situação atual da previdência não possa e não deva ser “reformada” – em favor da maioria explorada, e não da minoria exploradora! O que os revolucionários comunistas propõem, então, como alternativa IMEDIATA à reforma da previdência?

1) Cobrança da dívida previdenciária bilionária das grandes empresas.

2) Fim dos privilégios dos altos cargos do Estado.

3) Fim do fator previdenciário.

4) Financiamento integral pelas empresas, sem descontos para os empregados.

5) Gestão da seguridade por conselhos locais, compostos pelo próprio povo trabalhador assegurado.
Isso significa, em primeiro lugar (sem nem questionar a contabilidade fraudulenta do “déficit da previdência”) que é preciso responsabilizar os sonegadores burgueses, antes de sequer pensar em arrochar o povo trabalhador. Afinal, essa gente deve três vezes mais ao INSS do que o próprio valor que o governo alega como déficit! Por esse simples detalhe o governo Bolsonaro-Mourão já demonstra completamente seu lado na luta de classes: o lado dos grandes monopólios capitalistas. Mas se são os capitalistas que lucram com o desgaste físico e mental dos trabalhadores, são esses mesmos senhores que devem arcar com os custos da seguridade social! Ao mesmo tempo, isso permitirá uma imensa simplificação tributária (não é disso que tanto falam os senhores burgueses?), estabelecendo um imposto único sobre os empregadores.

Em segundo lugar, isso significa repudiar a injustiça que marca o atual sistema previdenciário: enquanto juízes e políticos se aposentam com seus grandes salários inteiramente pagos, a massa do povo tem sua previdência arrochada pelo chamado fator previdenciário. Para os pobres, há um teto baixo demais; para os ricos, há regalias de todo tipo. O caso mais gritante é o dos juízes que, quando são afastados por conta de seus mal feitos, continuam ganhando imensos vencimentos sob a rubrica de “aposentadoria compulsória”!
Por fim, apenas um controle democrático dos próprios segurados sobre a previdência poderá evitar as tão alardeadas fraudes, assegurando não só uma ampla fiscalização, mas também combatendo as fraudes às avessas sobre as quais silenciam os burgueses: as fraudes contra os segurados, que têm seus benefícios negados através de laudos incorretos (especialmente nos casos de doenças psíquicas adquiridas por conta do trabalho), laudos estes produzidos por médicos subordinados às metas de concessão e recusa estabelecidas pelos atuais gestores dos órgãos previdenciários!
Não acreditamos que as respostas para os problemas sociais virão simplesmente graças a propostas sistematizadas em gabinetes, mas sim através da ação e da decisão das massas trabalhadoras e populares. Por isso, naturalmente, não nos aprofundamos aqui nas diversas formas que esses conselhos podem assumir: em territórios maiores ou menores (bairros, cidades, regiões, etc); eleitos por voto universal ou através assembleias; com assembleias mais ou menos frequentes para o acompanhamento das atividades dos delegados dos trabalhadores nesses organismos; as várias formas pelas quais esses conselhos podem coordenar entre si, em rede, seu trabalho comum, etc. Parece suficiente afirmar os poderes de fiscalização que esses organismos devem possuir (inclusive sobre as atividades das empresas que apresentem altos índices de adoecimento, acidentes ou de sonegação) e seu poder de conceder benefícios negados, no primeiro momento, por laudos médicos duvidosos.
O ponto de partida para a criação desses conselhos pode ser, desde já, baseado em comitês populares formados em torno de cada posto do INSS ou em cada região, com o objetivo imediato de organizar a agitação e a luta contra a reforma burguesa da previdência e em favor da reorganização da previdência no interesse do povo trabalhador.
Da mesma forma, não pretendemos tirar da cartola, pronto antes mesmo de qualquer discussão por esses próprios conselhos, o modelo tributário a ser utilizado. Basta afirmar que o financiamento deve seguir os seguintes princípios: a) ser pago pelos empresários, b) ser baseado em uma correlação entre o lucro de cada empresa e o bolo salarial de seus empregados.
Todas essas modificações seriam possíveis ainda dentro da sociedade capitalista e representariam um alívio significativo à miséria que atinge imensas parcelas do povo trabalhador. Ainda assim, os comunistas sabem que uma transformação ainda mais profunda é possível e necessária: lutamos por uma sociedade em que toda a riqueza socialmente produzida seja plenamente utilizada para satisfazer as necessidades cotidianas da população produtora desta riqueza, mesmo quando essa população não mais participa da produção (seja por questões de idade ou de saúde). Com a reorganização socialista da sociedade, a seguridade social deixará de ser uma exceção para os mais necessitados e se transformará no próprio princípio organizador de toda a economia.
Uma reforma da previdência que realmente corresponda aos interesses dos trabalhadores só será obtida após a derrubada do governo Bolsonaro-Mourão e todos os demais poderes burgueses, e sua substituição pelo Poder Popular, na forma de um governo revolucionário provisório dos trabalhadores e do povo pobre explorado. Lutando defensivamente contra todas as reformas promovidas pela classe dominante em desfavor do povo, a classe trabalhadora não pode perder de vista o seu próprio projeto para o revolucionamento da seguridade social, sob pena de transformar sua agitação em uma mera defesa do atual modelo previdenciário, que, a bem da verdade, já prejudica e exclui muitos milhares de pessoas. Todos sabemos que o zagueiro que não se movimenta desde a defesa pensando no contra-ataque, em levar seu jogo ao campo do adversário, acabará sendo goleado, mais cedo ou mais tarde. Da mesma forma, a luta defensiva que protela para o dia de São Nunca qualquer perspectiva de contraofensiva jamais será capaz de obter qualquer conquista, mesmo que defensiva.


Por reforma da Previdência, Educação perde quase R$ 1 bi
PAULO SALDAÑA
Folhapress7 de agosto de 2019

BRASÍLIA, DF, 07.08.2019: REFORMA-PREVIDÊNCIA - Ministro Onyx Lorenzoni comemora no plenário aprovação em segundo turno do texto-base da proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo Jair Bolsonaro. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)


BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Quase um terço dos R$ 3 bilhões que o governo Jair Bolsonaro (PSL) pretende remanejar para facilitar o pagamento de emendas parlamentares, em meio à negociação para aprovação da reforma da Previdência, devem sair do orçamento do MEC (Ministério da Educação). 
Um projeto de lei foi encaminhado pelo Executivo na terça-feira (7) para garantir recursos para o pagamento de emendas (verbas para projetos e ações indicadas por parlamentares) negociadas na votação em primeiro turno da reforma da Previdência. 
O texto do Executivo remaneja para outras áreas recursos que estavam bloqueados desde fevereiro. O maior impacto negativo é na Educação. O MEC perde R$ 926 milhões, de acordo com o texto encaminhado.
São valores que estavam congelados mas sobre os quais havia, segundo o argumento recorrente do governo, a promessa de liberação futura caso houvesse melhora na economia. Entretanto, esses valores passam a ter outra destinação definitiva se o projeto for aprovado pelo Congresso.
Os R$ 926 milhões representam 16% do total bloqueado no MEC neste ano, que soma R$ 5,8 bilhões. Os remanejamentos previstos no projeto atingem, na área da Educação, ações como o apoio à manutenção da educação infantil, concessão de bolsas na educação superior e básica e apoio ao funcionamento de instituições federais de ensino.
Por outro lado, serão reforçados o orçamento para aquisição de veículos de transporte escolar e a rubrica de apoio à infraestrutura para a educação básica, em um valor total de R$ 230 milhões.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o presidente Bolsonaro têm repetido o discurso de que a educação básica é prioridade do governo, mas os cortes não têm poupado a etapa.
A Folha de S.Paulo revelou em julho que o governo esvaziou ações e chegou a zerar repasses em programas como o apoio a educação em tempo integral e alfabetização.
No dia 30 de julho, o governo federal havia anunciado um novo bloqueio R$ 348 milhões do orçamento do MEC como parte de um contingenciamento geral de R$ 1,4 bilhão. O MEC decidiu provisionar esse congelamento específico no orçamento de produção, aquisição e distribuição de livros e materiais didáticos e pedagógicos.
Em nota, a pasta afirma que a aquisição e distribuição de livros estão garantidas para 2020 e que o Programa Nacional do Livro Didático não será afetado. "À medida de uma evolução positiva do cenário fiscal do país, observadas as diretrizes da gestão fiscal responsável e a eficiência do gasto público, esses valores podem ser objeto de descontingenciamento", disse a nota.
Com relação ao projeto do Executivo que remaneja os recursos da pasta e impedem o descontingenciamento, o MEC afirmou que aguarda a votação do projeto. "As competências para a definição do orçamento federal são do Ministério da Economia", disse.
A pasta da Economia ressaltou em nota que o Ministério da Educação ainda tem recursos "superiores a R$ 4,5 bilhões de dotações bloqueadas, que poderão vir a ser desbloqueadas em caso de recomposição de limite orçamentário".Também defendeu que a suplementação prevista no projeto "visa ao atendimento de despesas prioritárias".
Segundo nota encaminhada à reportagem, o decreto de fevereiro, que dispõe sobre a programação orçamentária e financeira, permite que dotações orçamentárias bloqueadas possam ser anuladas para fins de abertura de créditos adicionais.
VELHA POLÍTICA X NOVA POLÍTICA
O envio do projeto para liberar R$ 3 bilhões foi mais um capítulo da negociação política em busca de apoio para a Câmara aprovar a restruturação das regras de aposentadoria e pensão. Na semana de análise da reforma em primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro liberou diversos lotes de emendas parlamentares, beneficiando bases eleitorais de deputados federais principalmente na área da saúde. 
À época, ele negou que a liberação seja uma prática da "velha política", criticada por bolsonaristas.
Agora, em meio às negociações para a votação em segundo turno, o presidente enviou ao Congresso o projeto de lei que abre espaço no orçamento para diversos ministérios. Após a Educação, o Ministério da Infraestrutura é a pasta que tem o segundo maior impacto negativo. Está previsto um remanejamento de R$ 756,9 milhões de seu orçamento, de acordo com o projeto do governo.
Já o Ministério da Defesa é o maior beneficiado, com um reforço de R$ 763 milhões em seu orçamento. Terão reforço na pasta ações como a aquisição de helicópteros, de combustíveis e lubrificantes, compra de aeronaves e a construção de um submarino de propulsão nuclear.


Por Previdência, governo envia projeto que libera R$ 3 bi para emendas

(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

THIAGO RESENDE, ANGELA BOLDRINI E DANIELLE BRANT
Folhapress,  06 de agosto de 2019

BRASÍLIA, DF, 06.08.2019 – RODRIGO-MAIA: O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fala com a imprensa sobre a votação do 2º turno da reforma da Previdência, em Brasília, nesta terça-feira (6). 

Cumprindo promessa feita a deputados, o governo enviou nesta terça-feira (6) um projeto ao Congresso para garantir recursos para o pagamento de emendas negociadas na votação em primeiro turno da reforma da Previdência.
Esse é mais um capítulo da negociação política em busca de apoio para a Câmara aprovar a restruturação das regras de aposentadoria e pensão.
O objetivo do governo é abrir a sessão até 20h, derrubar a articulação de oposicionistas para atrasar a votação e aprovar o texto-base até a madrugada.
Mas líderes partidários já admitem que essa votação -a principal- possa ser adiada para a tarde de quarta (07.08.2019).
Na semana de análise da reforma em primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro liberou diversos lotes de emendas parlamentares, beneficiando bases eleitorais de deputados federais principalmente na área de saúde.
À época, ele negou que a liberação seja uma prática da "velha política", criticada por bolsonaristas.
Agora, às vésperas da votação em segundo turno, o presidente enviou ao Congresso um projeto de lei que abre espaço no Orçamento para diversos ministérios no valor de R$ 3 bilhões.
Cabe aos Congresso autorizar a abertura desse crédito. Esses recursos são necessários para que o governo cumpra o acordo feito com deputados favoráveis à reforma da Previdência.
Apesar de ter sido eleito com o discurso de que acabaria com o fisiologismo no Congresso, o Planalto fez promessas de liberação que somam mais de R$ 5 bilhões para as emendas -que tratam de obras e investimentos nos redutos eleitorais dos congressistas.
Isso foi feito em troca de voto, um dos clássicos componentes do toma lá dá cá.
A exigência, durante o primeiro turno, era que o governo enviasse um projeto de lei para liberar mais dinheiro a ministérios, como Educação, Saúde e Desenvolvimento Regional. Assim, haveria espaço no Orçamento para o pagamento das emendas prometidas a deputados que apoiarem a reforma da Previdência.
As negociações ocorreram nos bastidores, em julho, mas até mesmo a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), chegou a confirmar a perspectiva de envio do texto. A reforma foi aprovada, em primeiro turno, com 379 votos a favor -eram necessários 308.
O governo espera repetir esse placar no segundo turno ou ligeiramente abaixo da marca.
Até 18h desta terça, 450 deputados estavam na Câmara, o que não é visto como uma margem segura para colocar a reforma da Previdência em votação.
Por isso, a estratégia em discussão na noite de terça era abrir a sessão com um projeto sobre mudanças nas regras de licitação para que o plenário encha e haja quórum para o segundo turno da reforma.
A equipe econômica trabalha desde cedo nesta terça para tentar evitar desidratações na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma.
O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, se reuniu com bancadas da Câmara e líderes influentes na Casa.
No encontro com evangélicos, ele assinou uma portaria para evitar questionamentos no trecho sobre pagamento de pensão por morte.
O texto aprovado em primeiro turno prevê que a pensão não poderá ser abaixo de um salário mínimo (R$ 998) quando o benefício for a única renda formal da pessoa.
De acordo com a portaria, passa a ser considerado renda formal o somatório de rendimentos igual ou superior a um salário mínimo.
Serão consideradas as rendas que estão no CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais).
Deputados temiam que valores como alugueis e pequenas vendas de produtos rurais pudessem ser considerados renda formal e, assim, reduzir a pensão de viúvas para montante menor que um salário mínimo.


Unidade Classista lança cartilha contra a Reforma da Previdência

Texto: Jornal O Poder Popular


A contrarreforma da Previdência foi aprovada, em primeiro turno, na noite de quarta-feira, dia 10/07, na Câmara dos Deputados. O placar terminou em 379 votos a favor e 131 contrários, sendo que 510 dos 513 parlamentares da Casa participaram da votação. Para que isto acontecesse, o Governo Bolsonaro lançou mão do velho expediente do “toma lá da cá, comprovando que seu seu discurso de campanha em defesa da aplicação de uma “nova política”, que desse fim às relações promíscuas entre o Executivo e os demais poderes constituídos no Brasil, sempre passou de pura engambelação. 
A divulgação das conversas entre o atual ex-Juiz Sergio Moro e procuradores da Operação Lava Jato já comprovou que a Justiça brasileira está comprometida em fazer valer – mesmo infringindo a própria legislação burguesa – expedientes em benefício de determinados grupos políticos e, consequentemente, favorecer grandes interesses econômicos.

De igual forma fica evidente que nada mudou quanto à corrupção institucionalizada que se dá através da relação entre o Governo e o Congresso, tendo em vista que, para conseguir aprovar a proposta reacionária de Reforma da Previdência, que destrói direitos de trabalhadoras e trabalhadores, a administração Bolsonaro-Mourão-Paulo Guedes-Moro utilizou o velho mecanismo da concessão de emendas parlamentares. Foram liberados, desde o início de julho, mais R$ 2,5 bilhões em emendas, de acordo com levantamento feito pela ONG Contas Abertas. Segundo a entidade, este valor supera o total empenhado pelo governo no primeiro semestre do ano, que foi de R$ 1,7 bilhão.
Conforme muito bem lembrou o combativo Deputado Federal Glauber Braga (PSOL-RJ), ameaçado desde a semana passada por elementos da extrema direita por ter enfrentado com coragem e ousadia o Sr. Sergio Moro na sabatina no Congresso: “É a velha política do balcão, vergonhosa. Os professores, os trabalhadores de minas, os garis, os próprios policiais eu tenho certeza que vão lembrar que fizeram com que sua aposentadoria fosse prejudicada em troca disso”.
A proposta ainda seguirá para apreciação do Senado. As condições para a rejeição do projeto são muito difíceis, mas cabe aos partidos de esquerda, organizações sindicais, populares e de juventude retomar as mobilizações para acumular forças no sentido de que, através de um poderoso movimento de oposição a este governo, possamos derrotar a política de destruição de direitos fundamentais do povo trabalhador, dando fim à sangria de recursos públicos em benefício dos monopólios capitalistas e do sistema financeiro.
Tendo em vista dar continuidade ao trabalho político junto à classe trabalhadora e aos setores populares, a Unidade Classista, corrente sindical do PCB, lança a Cartilha sobre a Reforma da Previdência, que será distribuída em todo o país pelos núcleos da UC organizados nos estados. Abaixo publicamos o texto do documento. Acesse a Cartilha em: http://unidadeclassista.org.br/uc1/3814

A luta não pode parar! Contra os ataques do Governo e do capital aos direitos e às liberdades democráticas!
Pelo Poder Popular e pelo Socialismo!
CARTILHA SOBRE A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Corrente Sindical Unidade Classista / OPA
Apoio: Associação dos Funcionários do Banco do Brasil
Estrutura:
Apresentação
1 – A quem interessa uma reforma da previdência?
2 – A destruição da sua aposentadoria!
3 – Vamos cobrar de quem deve e não paga porque não quer! Devedores do INSS e imposto sobre grandes fortunas
4 – Indicações de leitura sobre a Reforma da Previdência
APRESENTAÇÃO
Caro trabalhador,
Oferecemos a você, a sua família e amigos a leitura deste material. Temos certeza de que você já ouviu falar da reforma da previdência, pois todos os dias, em todos os noticiários da televisão, do rádio e dos jornais escritos, as manchetes gritam a necessidade dessa reforma, como ela vai resolver de uma vez os problemas do Brasil num passe de mágica. Além disso, é sempre repetido, como uma ameaça, que se essa reforma não for aprovada rápido e com a economia de 1 trilhão de reais, o país vai acabar, quebrar, virar um caos ainda pior do que o atual. É tanta insistência dos jornais nessa linha da necessidade da reforma, que quase nunca se ouve alguma voz perguntando: “será mesmo? Essa reforma da previdência é MESMO necessária? Por quê? Se não for aprovada, o país vai mesmo quebrar? Sério isso?”
Esta cartilha tem esse objetivo: o de ser a voz que não está nos noticiários. Isso porque analisamos seriamente o projeto de lei da reforma da previdência, a constituição federal e os números da economia brasileira e descobrimos que essa reforma vai prejudicar MUITO os trabalhadores, principalmente aqueles mais humildes. Para uma grande parte, essa reforma significará o FIM DO DIREITO DE SE APOSENTAR! Serão milhões de brasileiros e brasileiras condenados a morrer trabalhando ou viver se arrastando pelas ruas na mais completa miséria. É um preço social alto demais que, no fim das contas, nem é necessário. Esta reforma interessa apenas a uma parte muito pequena de pessoas, mas que são muito poderosas. Vamos discutir isso e outras coisas no texto.
Convidamos não só à leitura deste material, mas também a entrar na luta contra a reforma da previdência. Converse com os seus parentes e amigos, empreste esse material para eles, procure outros materiais na internet. A Unidade Classista está na linha de frente nessa luta, venha conosco participar dos atos públicos contra a reforma. Chegou a hora de lutar por esse direito fundamental. Vamos?
1 – A QUEM INTERESSA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA?
Há anos, e especialmente nesses primeiros meses de 2019, a televisão, o rádio, páginas do Facebook e mensagens do WhatsApp bombardeiam os brasileiros com o tema da reforma da previdência. O que mais aparece nesses meios de comunicação é um tal de rombo nas contas da previdência; que sem a reforma da previdência o país vai quebrar em breve; que sem a reforma, os atuais aposentados não receberão seus benefícios e os futuros aposentados também não; que a reforma vai gerar empregos, pois os empresários vão investir mais; que a reforma vai acabar com privilégios do funcionalismo público e dos políticos, pois estes recebem muitos milhares de reais enquanto que o povão recebe um salário mínimo. E por fim, que a aprovação da reforma da previdência é o portal para um futuro de prosperidade e felicidade para o povo brasileiro. Enquanto que a não aprovação dela é continuar neste presente de crise, desemprego, corrupção e violência em que estamos agora.
De todos esses assuntos que estão presentes na discussão da reforma da previdência, um tem sido muito pouco falado: o que isso significa para a vida do trabalhador comum? O que essa reforma vai mudar na vida do mecânico, do eletricista, da diarista, do pedreiro, do motorista de ônibus, do professor, ou seja, da pessoa normal que acorda todos os dias de manhã cedinho para encarar sua jornada de trabalho?
Sem meias palavras: o que está se discutindo no Congresso Nacional são mudanças nas regras da SUA aposentadoria. E entenda bem: essas “mudanças” são para pior! Como assim? O valor da sua aposentadoria será menor. O seu tempo de trabalho até se aposentar aumentará, talvez você nem consiga chegar lá. As leis que definem esses critérios serão mais facilmente modificadas. Além de outras consequências muito ruins para você. No decorrer da leitura, vamos mostrar os detalhes dessas e outras mudanças para pior. Afirmamos sem medo que essa reforma não interessa nem um pouco aos trabalhadores. E se não interessa aos trabalhadores, fica a pergunta: quem quer a reforma da previdência?
Para responder a essa pergunta, é importante que você saiba como está organizada a previdência hoje em dia. Segundo a Constituição de 88, a previdência social, ou seja, a sua aposentadoria, é parte da SEGURIDADE SOCIAL. A Seguridade Social é composta pela previdência, pela Assistência Social e pela Saúde. O artigo 195 da Constituição afirma que: “A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta […]”. 

O que isso quer dizer?

TODA A SOCIEDADE BRASILEIRA, ricos, pobres, patrões, empregados, governantes, TODOS financiam a seguridade social. Todos são responsáveis por dar o merecido descanso aos que trabalharam a vida toda. Todos são responsáveis por cuidar dos mais pobres e necessitados. Todos são responsáveis por cuidar da saúde das crianças, jovens, adultos e idosos.
A seguridade social, portanto, é mais que a contribuição do trabalhador com carteira assinada e que a contribuição do seu patrão. É uma rede de arrecadação em que o trabalhador e o patrão contribuem na relação de trabalho, mas que também inclui contribuições e impostos que o governo arrecada e redistribui para dar conta das tarefas que mencionamos. Trata-se de um pacto entre toda a sociedade para o bem-estar de todos os brasileiros e brasileiras.
A proposta de reforma que está em discussão no congresso quer desfazer esse pacto, diminuindo a participação dos patrões no financiamento do sistema e desobrigando o governo de despesas com as aposentadorias, pois menos gente irá se aposentar e quando o fizer será com uma pensão menor.
Para os patrões, a reforma traz um benefício evidente: como contribuirão menos, sobrará muito mais dinheiro em seus ricos bolsos. Para o governo, a vantagem é economizar com o bem-estar do povo para pagar juros da dívida para esses mesmos patrões! Lembremos que, hoje em dia, quase metade do que o governo arrecada em impostos e contribuições é usado para pagar essa dívida, que quase ninguém sabe como, quando e por quê foi feita, além do total do que já foi pago e do quanto resta a pagar. A opção do governo Bolsonaro com essa reforma é clara: prefere deixar na miséria milhões de brasileiros para beneficiar meia dúzia de banqueiros e megaempresários. Por isso a grande mídia, as televisões, os grandes jornais e revistas estão martelando tanto na necessidade dessa reforma: querem fazer parecer que o interesse de muito poucos é o interesse de todos! Nada mais mentiroso.
Você deve estar se perguntando: será que essa reforma vai ser mesmo tão ruim para mim? Apresentaremos a seguir os principais pontos da reforma. Já consideramos algumas das mudanças que foram feitas recentemente na proposta original, com exceção da capitalização, que corre o risco de ser reapresentada, mas que foi retirada do texto atual em discussão no Congresso. Vamos tratar das mudanças no Regime Geral de Previdência Social, que é o sistema de aposentadorias dos trabalhadores com carteira assinada, administrado pelo INSS. As propostas para os servidores públicos não serão detalhadas, pois são mais variadas e com regras específicas. Ao final da cartilha, oferecemos algumas indicações de leitura para você aumentar seu conhecimento sobre a reforma.
2 – A DESTRUIÇÃO DA SUA APOSENTADORIA
A) A desconstitucionalização das regras da aposentadoria
Todo mundo sabe que qualquer regra tem mais valor se estiver escrita, seja em nosso dia-a-dia em família ou nas nossas relações com os outros. As regras escritas que dirigem a nossa vida são chamadas de LEIS. As leis são construídas pelos deputados e senadores, no Congresso Nacional. Para se escrever uma lei, é necessário que a maioria dos deputados e senadores a aprovem. Existe um grau de importância nas leis: algumas são criadas por maioria simples, outras por uma combinação específica de maioria. Dentre as leis, a mais importante de todas é a CONSTITUIÇÃO, pois é nela que estão as principais regras de nossa convivência social. Para se mudar uma lei na Constituição, é preciso um grande esforço, pois são necessários que 3/5 (três quintos) dos deputados e senadores concorde com a mudança. Isso significa que 308 dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores vote favoravelmente para que uma mudança na Constituição seja aprovada. As regras atuais da previdência são parte da Constituição, portanto qualquer mudança nessas regras exige que seja aprovada por 3/5 dos deputados e senadores.
A primeira alteração que a reforma da previdência propõe é justamente essa: TIRAR DA CONSTITUIÇÃO AS REGRAS DA APOSENTADORIA. O que isso significa? Que se for aprovada essa proposta, as futuras alterações na previdência serão muito mais fáceis de fazer. As regras da aposentadoria serão regidas por lei complementar. Para se aprovar uma lei complementar, basta que a maioria dos deputados e senadores votem a favor (257 dos 513 deputados; 41 dos 81 senadores). Essa mudança facilita muito a vida dos governantes que queiram alterar as regras da previdência no futuro. A aposentadoria é coisa séria, não pode ficar ao bel prazer de qualquer governante modificar nossa forma de se aposentar.
B) O regime de capitalização
O nosso regime atual de previdência é chamado de REGIME DE REPARTIÇÃO. Em termos simples, isso significa que os trabalhadores com carteira assinada hoje na ativa pagam as aposentadorias dos atuais aposentados. Quando os atuais trabalhadores se aposentarem, a futura geração pagará sua aposentadoria. Trata-se de um pacto de gerações, uma forma solidária de permitir que todos trabalhem e se aposentem dignamente.
A proposta de reforma da previdência entregue pelo governo Bolsonaro prevê a extinção da repartição e a criação de um modelo de CAPITALIZAÇÃO. O que é isso? Em vez da contribuição dos atuais trabalhadores com carteira assinada pagar os atuais aposentados, ela iria para uma espécie de “poupança” individual desse trabalhador, administrada por um banco. Quando chegar o período de sua aposentadoria, o trabalhador sacaria dessa poupança seu salário mensal. Nessa proposta, a contribuição do patrão seria extinta, ou seja, somente o que é descontado do trabalhador entra para esse fundo de aposentadoria. Qual é o problema desse sistema? São vários.
Em primeiro lugar, os atuais aposentados ficariam sem segurança alguma de que continuariam a receber seus benefícios. Quem teria de arcar com essa despesa inteira seria o governo, usando verbas dos impostos que hoje não são destinados para o pagamento de aposentadorias. Não é o próprio governo que diz que as contas públicas são muito altas? Com essa proposta, as contas vão explodir! Adivinhe quem vai pagar…
Outro grande problema da capitalização é que somente a contribuição do trabalhador vai para a poupança da aposentadoria. Isso significa que cairá muito a quantia de dinheiro poupada. Na prática, acontecerá como hoje ocorre no Chile, primeiro país do mundo a implantar o regime de capitalização das aposentadorias. Lá, os aposentados recebem um benefício muito menor que os salários correntes, menor até o que o salário mínimo. Diferentemente do Brasil hoje, em que muitos aposentados ajudam filhos e netos desempregados e na informalidade, muitos idosos no Chile estão em condição de miséria. A taxa de suicídio de idosos no Chile é a maior do mundo. É isso que queremos para o nosso futuro?
E resta a pergunta: se os patrões não vão mais contribuir no sistema de capitalização, para onde vai o dinheiro que hoje eles gastam com as contribuições? A resposta não é difícil: ficará em seus bolsos para aumentar os seus lucros!
Por fim, cabe registrar que a proposta de capitalização da previdência foi retirada do relatório em discussão no Congresso Nacional. No entanto, o governo Bolsonaro já sinalizou que pretende recolocá-la no texto. Não podemos permitir que façam essa maldade conosco!
C) Aposentadoria por tempo de contribuição / Idade mínima / Tempo mínimo de contribuição / Aposentadoria especial
Aposentadoria por tempo de contribuição: a reforma da previdência prevê a EXTINÇÃO da aposentadoria tempo de contribuição. Hoje em dia é possível que homens com 35 anos de contribuição e mulheres com 30 anos de contribuição se aposentem independentemente da idade.
Idade mínima: com a reforma, a aposentadoria somente será acessível aos homens com 65 anos e mulheres com 62 anos de idade. A aposentadoria por idade, hoje, é acessível para homens com 65 anos e mulheres com 60 anos.

Tempo mínimo de contribuição: se a reforma for aprovada, só poderão se aposentar os homens que contribuíram por 20 anos com o INSS e as mulheres que contribuíram por 15 anos. O tempo mínimo de contribuição nas regras atuais é de 15 anos para homens e mulheres.

Aposentadoria especial: serão estabelecidas as regras da aposentadoria especial numa futura lei complementar. Até lá, continuarão valendo as regras atuais. Vale lembrar que a aposentadoria especial é para aquelas categorias de trabalhadores expostos a riscos ambientais ou atividades perigosas, além dos professores.

Consequências das novas regras: levando-se em conta que a grande maioria das aposentadorias no Brasil é pelo critério de idade mínima combinada com o tempo de contribuição de 15 anos, o aumento do tempo de contribuição de 15 para 20 anos para os homens dificultará bastante para que estes possam ter o direito de se aposentar. É importante ter claro que o tempo de contribuição só é possível de duas maneiras: trabalho com carteira assinada ou contribuição voluntária com carnê do INSS. Em 2017 o governo Temer aprovou a reforma trabalhista, que instituiu o TRABALHO INTERMITENTE, ou seja, o trabalhador pode ser contratado para trabalhar apenas poucas horas por semana, recebendo um salário proporcional a esse tempo. Nessa forma de contrato é possível que o trabalhador receba menos de um salário mínimo por mês, portanto sua contribuição ao INSS também será abaixo do valor descontado pelo salário mínimo. Como será contado seu tempo de contribuição com esse tipo de contrato? O valor mínimo de contribuição para se somar um mês de aposentadoria é o descontado pelo valor do salário mínimo. Portanto, se a contribuição descontada do trabalhador for abaixo desse valor, serão somados vários meses de contribuição até se chegar ao valor de um mês. Complicou? Veja a tabela abaixo:
Jornada de trabalho
Salário
Contribuição ao INSS
44 horas semanais
R$998,00 (mínimo)
R$79,84
20 horas semanais (exemplo)
R$453,63 (mínimo proporcional)
R$36,29
Quantidade de meses trabalhados para contar um mês de benefício: 2,2 meses
No caso exposto na tabela, o trabalhador foi contratado para trabalhar apenas 20 horas semanais e seu salário será proporcional a essa jornada. Ele teria de trabalhar mais de dois meses para completar 1 mês de contribuição! Se o exemplo for levado ao absurdo, este trabalhador do exemplo teria de trabalhar mais de 40 anos para que o valor de sua contribuição ao INSS chegasse ao patamar de 20 anos de contribuição a partir do salário mínimo!
A combinação de contrato intermitente de trabalho, informalidade e as novas regras da previdência retirará de milhões de brasileiros e brasileiras o direito de se aposentar.
D) Mudança no cálculo do benefício
O benefício a ser recebido pelo trabalhador em sua aposentadoria será a média de TODAS as contribuições ao INSS depois da reforma da previdência. Nas regras de hoje, o benefício é calculado a partir das 80% maiores. O efeito dessa mudança será uma redução geral do valor dos benefícios e atingirá principalmente aqueles trabalhadores que mais subiram de cargo, por conta de estudos e cursos que talvez tenham feito, pois ao se incluir no cálculo os salários de início de carreira, maior será a distância entre o salário inicial e o último salário que receberam.
Outro detalhe importante: no caso de aposentadoria por idade com tempo de contribuição mínimo (homem – 65 anos e 20 anos de contribuição; mulher 62 anos e 15 anos de contribuição), o trabalhador receberá 60% da média de contribuição. Para que o homem receba 100% da média, serão necessários 40 anos de contribuição; para a mulher, serão necessários 35 anos de contribuição. Veja a tabela abaixo:
Homem
Tempo de contribuição
% da média de contribuições
20 anos
60%
21 anos
62%
22 anos
64%
[…]
[…]
40 anos
100%
Mulher
Tempo de contribuição
% da média de contribuições
15 anos
60%
16 anos
62%
17 anos
64%
[…]
[…]
35 anos
100%
Em comparação com as regras atuais, o cálculo para a aposentadoria por idade ficou bem pior, pois a porcentagem mínima da média é de 70% hoje e a proposta pela reforma é de 60%. É importante considerar que a aposentadoria por idade, além de ser a modalidade em que a maioria dos brasileiros se aposenta, é aquela que está acessível às camadas mais pobres dos nossos trabalhadores. Se a reforma da previdência for aprovada com essas regras de cálculo, veremos um empobrecimento rápido do nosso povo.
E)Aposentadoria por invalidez
A regra atual da aposentadoria por invalidez garante 100% da média de contribuições, independentemente do tempo de contribuição. Depois da reforma da previdência, somente serão concedidas aposentadorias com esse critério se a causa da invalidez foi acidente de trabalho ou doença funcional. Qualquer outro motivo de incapacitação para o trabalho levará o trabalhador para a regra geral, ou seja, 60% da média de contribuições + 2% a cada ano trabalhado acima dos 20 anos, para o homem, e acima dos 15 anos para a mulher. E se o trabalhador ou trabalhadora sofrer alguma invalidez não relacionada ao trabalho antes do tempo mínimo de contribuição? Lamentavelmente, a pessoa precisará contar com a ajuda de parentes e amigos pois NÃO CONSEGUIRÁ SE APOSENTAR!
F) Pensão por morte
A regra da pensão por morte na reforma da previdência é um exemplo perfeito daquilo que chamamos de maldade. Se o aposentado morrer, os herdeiros (viúva, viúvo ou filhos menores de 18 anos) receberão apenas 50% do benefício do falecido, acrescendo-se 10% para cada dependente, cônjuge e filhos menores de 18 anos no momento da morte. O companheiro ou companheira do falecido(a) terá de viver com 60% da pensão que recebiam antes.
Essa maldade não tem limites: se o contribuinte ainda estava na ativa e morreu em um acidente de trabalho, o valor para base de cálculo será os 100% da média, igual a um caso de invalidez; se o contribuinte morreu por causa de algum outro motivo, a base de cálculo será os 60% da média + 2% para cada ano trabalhado acima de 20 anos de contribuição. Será sobre essas duas bases de cálculo que se aplicará a redução de 50%.
Muitas vezes, em nossas conversas com amigos, dizemos que a gente, o povo, não passa de números para os poderosos. Esta regra da “nova previdência” do Bolsonaro é a confirmação completa disso.
G) Acúmulo de benefícios
A reforma da previdência ainda vai permitir o acúmulo de benefícios, no caso de pensão por morte de um cônjuge e aposentadoria do outro. No entanto, mudará a forma desse acúmulo em relação ao que acontece hoje. Na regra atual, se o casal for aposentado, no caso de falecimento de um deles, o outro fica com o valor integral do benefício do falecido, recebendo-o na forma de pensão. Se a reforma da previdência for aprovada, o marido ou a esposa receberá o benefício maior de forma integral; o outro benefício será percentualmente reduzido, de acordo com a faixa de rendimento. Os percentuais de redução constam na tabela abaixo:
Base em salário mínimo (SM)
Valor (em R$)
Percentual de redução
Até 1 SM
998,00
80%
Entre 1 SM e 2 SM
De 998,01 a 1.996,00
60%
Entre 2 SM e 3 SM
De 1.996,01 a 2.994,00
40%
Entre 3 SM e 4 SM
De 2.994,01 a 3.992,00
20%
Acima de 4 SM
De 3.992,01 ao limite do INSS
Pensão máxima de 2 SM
Para entender o impacto dessa regra, vamos usar um exemplo. José, aposentado metalúrgico, recebe R$2.000,00 de aposentadoria e é casado com Maria, professora aposentada com benefício de R$2.500,00. Portanto, o rendimento mensal do casal é de R$4.500,00. José morre hoje. Nas regras atuais, Maria receberia o valor integral da aposentadoria de José, ou seja, os R$2.000,00. O rendimento mensal da família não é alterado, é um problema a menos para a viúva Maria lidar.
Vamos supor que José esperou um ano para morrer e isso aconteceu depois da aprovação da reforma da previdência. Como ficará o rendimento da família?
Maria continuaria a receber o valor integral da sua aposentadoria, pois este era o maior valor dentre o casal. No entanto, a pensão de José não seria inteiramente aproveitada. Veja o passo a passo:
1 – Aplica-se o fator de redução por morte (50% + 10% por dependente, que, no caso, é a Maria) = 60%. A conta ficaria assim: R$2.000,00 X 60% = R$1.200,00. Este é o valor de referência para os próximos cálculos.
2 – O valor referência entra na faixa 2 (entre 1 SM e 2 SM). Serão feitas duas operações redutoras.
3 – Aplica-se a redução da faixa 1 sobre R$998,00, ou seja: R$998,00 X 80%. O resultado dessa conta é R$798,40.
4 – Subtrai-se de R$1.200,00 o valor de R$998,00. O resultado é R$202,00,
5 – Aplica-se sobre o valor de R$202,00 o fator redutor da faixa 2: R$202,00 X 60%. O resultado é R$121,20.
6 – Somam-se os dois valores obtidos nas reduções: R$798,40 + R$202,20 = R$1.000,06. Este será o valor que Maria incorporará da pensão de José, cujo valor original era de R$2.000,00.
Enquanto que nas regras atuais a viúva do nosso caso receberia R$4.500,00, depois da reforma ela passaria a receber R$3.000,06. Isto é o que nossas famílias esperam quando partirmos: empobrecimento.
H) Conclusões, mas não o fim dos problemas
Estas são apenas as regras mais gerais da reforma da previdência que está no Congresso. Existem muitas outras, igualmente prejudiciais, para os servidores públicos federais, policiais militares, professores. Mesmo para o regime geral ainda têm muitos detalhes que não pudemos dar conta nesse material.
Se você acompanhou a discussão até aqui, com certeza percebeu claramente a intenção do governo Bolsonaro com essa reforma: impedir o acesso à aposentadoria para amplas massas de trabalhadores. Para aqueles que ainda assim conseguirem se aposentar, vão receber menos e de maneira insegura. E se vierem a falecer, suas famílias vão sofrer com o empobrecimento e a miséria.
E tudo isso para quê? Para engordar ainda mais os bolsos dos banqueiros e dos megaempresários. Lembre-se que os empresários e banqueiros já usaram os mesmos argumentos de chantagem antes e nada do que prometiam aconteceu. Aprovaram o teto de gastos públicos e os serviços não melhoraram. Aprovaram a reforma trabalhista e a terceirização prometendo que abririam mais vagas de emprego e o que aconteceu foi exatamente o contrário. Não há justificativa válida para lançar a esmagadora maioria do povo na miséria e na pobreza justamente na fase da vida em que mais se precisa de cuidados.
3 – VAMOS COBRAR DE QUEM DEVE E NÃO PAGA PORQUE NÃO QUER! DEVEDORES DO INSS E IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS
Trabalhador, a luta contra essa reforma da previdência é uma necessidade urgente. E será uma luta muito grande, pois gente muito poderosa tem interesses envolvidos. Precisamos nos organizar, lutarmos juntos. Mas estamos em uma luta defensiva, CONTRA a retirada de um direito fundamental, que é a aposentadoria. Pense em uma partida de futebol: um time que só se defende não ganha o jogo. Precisamos partir para o ATAQUE!
A situação social no Brasil é um escândalo. Pouquíssimas famílias possuem a riqueza de mais da metade de nossa população. E adivinhem quem são os maiores devedores do INSS? Justamente essas famílias!
Se as maiores empresas do Brasil pagassem o que devem à previdência, nosso povo estaria numa situação muito mais confortável. Mas essa dívida, que inclusive foi tema de uma CPI no senado, é sempre jogada para debaixo do tapete. Esta é uma luta que devemos encampar: CHEGA DE CALOTE NA PREVIDÊNCIA!
Além disso, é necessário que esses ricaços paguem mais impostos. O povo trabalhador paga proporcionalmente muito mais impostos que os ricos. Para que os trabalhadores melhorem suas condições de vida, a distância entre nós e os ricaços tem que diminuir e isso só é possível com o aumento progressivo dos impostos, ou seja, que os ricos paguem proporcionalmente mais e nós, menos. Uma reforma tributária está na pauta do Congresso. Vamos deixar os poderosos tirarem nossa pele com impostos enquanto eles dormem tranquilos em seus lençóis de seda? A Unidade Classista acha que não. IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS JÁ!
A Unidade Classista está organizada em todo o Brasil. Se você, trabalhador, quiser entrar nas lutas por uma vida melhor para o nosso povo junto conosco, ficaremos honrados em recebe-lo! Procure-nos em nossas redes sociais, em nossos jornais e boletins de categorias. Temos muito trabalho a fazer! UNIDADE CLASSISTA, FUTURO SOCIALISTA!
4 – INDICAÇÕES DE LEITURA
PEC 06/2019 –
Relatório do deputado Samuel Moreira, substitutivo à PEC 06/2019
Relatório técnico do DIEESE sobre a PEC 06/2019
Relatório técnico do DIEESE sobre o relatório do deputado Samuel Moreira
Impacto da reforma da previdência sobre os aposentados e pensionistas
http://unidadeclassista.org.br/uc1/3814
Chile: 97% condena-dos a aposentado-rias miseráveis


Luis Mesina, do movimento popular chileno NO+AFP
DIÁRIO LIBERDADE
Fonte: Barão do Itararé
[Felipe Bianchi e Leonardo Severo]
Nesta entrevista realizada na sede do movimento No+AFP (Não mais Administradoras de Fundos de Pensão), em Santiago, o porta-voz da organização, Luis Mesina, denuncia como o sistema de capitalização da Seguridade Social implantado “em meados dos anos 1980, sob a tirania de Augusto Pinochet”, “condena 97% dos chilenos a aposentadorias miseráveis”, “sendo a expressão trágica de um sistema que nega direitos fundamentais, lançando idosos a cenários desesperadores”.
Desmontando a propaganda neoliberal, o dirigente das massivas manifestações populares em defesa da Previdência pública alertou os brasileiros dos impactos negativos da privatização e defendeu que “é preciso desmontar o argumento de Paulo Guedes de que a reforma enxugará os gastos públicos”. “É mentira, pois é o governo chileno quem paga pelo menos sete entre dez aposentadorias. A capitalização, portanto, aumenta o gasto público, enquanto reduz consideravelmente os benefícios, com o cidadão recebendo menos de 30% do seu último salário”.



Considerando o informe da Organização Internacional do Trabalho (OIT), “um elemento imprescindível para a batalha de ideias contra a reforma da Previdência no Brasil”, Mesina lembrou que, “categórico e contundente”, “o estudo compila ideias que não convêm e nem interessam ao governo de Bolsonaro”, fazendo com que seja praticamente invisibilizado pela grande mídia. O fato, assinala, é que até mesmo “países com governos de direita, como Romênia, Polônia e Hungria, desprivatizaram o sistema de capitalização da Previdência e voltaram ao sistema público”.


 “A capitalização leva a uma desigualdade brutal e a uma alta concentração da riqueza, pois os grandes grupos econômicos – fundamentalmente estrangeiros – usam nossa poupança, nossa humanidade e nossas vidas para financiarem seus projetos espúrios”. “E deixo uma pergunta para reflexão: se o grosso do dinheiro está nas mãos de AFP estrangeiras e de companhias de seguros que são donas das AFP, o que acontece se essas empresas estadunidenses quebram? A Lehman Brothers não quebrou? A Enron não quebrou?”. “É preciso desprivatizar”, sublinhou.
No Brasil, estamos vivendo uma batalha campal neste momento contra o projeto do governo de reforma da Previdência, em que o ministro Paulo Guedes, um dos fundadores do banco BTG Pactual, coloca o modelo chileno como uma maravilha. O que dizer desta declaração?
O que tem ocorrido nos últimos 20 anos é que os sucessivos governos investiram muito dinheiro em difundir fora do país o modelo chileno. A tal ponto que, em muitas partes, consideram nosso país como um exemplo, como um modelo de desenvolvimento. Mas escondem cifras tremendamente abismais: temos os indicadores de distribuição de renda mais desiguais da região. A participação dos salários dos trabalhadores em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é uma das menores da região, temos uma das maiores jornadas de trabalho do mundo, 45 horas semanais. Isso fez com que no Chile fosse se conformando uma espécie de divisão social muito forte, em que 1% dos chilenos concentra quase 36% da renda.  

Segundo a Revista Forbes do ano passado, temos 12 multimilionários. A Argentina não tem nenhum, a Colômbia não tem nenhum e o Brasil tem dois. Como se explica isso, sendo o Chile com um país de 18 milhões de habitantes, diante de uma Argentina com 44 milhões, de uma Colômbia com 49 milhões de habitantes e de um Brasil tem 210 milhões? O PIB brasileiro é quase oito vezes o chileno. O que explica que o Chile tenha tantos multimilionários em relação a esses países? É muito simples: porque esse sistema que se instalou conseguiu capturar uma parte expressiva dos salários dos trabalhadores, suas poupanças, e desenvolvido o mercado de capitais no Chile. O mercado de capitais é força de trabalho acumulada, é subtração de humanidade, de vida humana. É a expressão monetária da vida que as pessoas deixam na relação que estabelecem com o capital. É o trabalho que gera a riqueza. São os homens e mulheres trabalhadores que geram a riqueza, nada diferente disso.
Há uma superexploração pelas grandes corporações.
É evidente. E preocupa ao governo se o Itaú é hoje o quarto ou quinto maior banco do Chile? O fato é que as grandes corporações financeiras nacionais e internacionais vêm ao Chile para serem financiadas com a nossa humanidade. O Itaú quando vem fazer um negócio, o que faz? Emite ações no mercado. Quem as compra? As Administradoras de Fundos de Pensão (AFP). E o que ocorre em troca? Levam nossa vida, nossa humanidade. Este é o problema de fundo. Hoje em dia, e isso é muito importante que saibam os brasileiros, do total da nossa poupança mais de 40% está fora do país, são mais de US$ 87 bilhões de dólares investidos nos Estados Unidos. Como se faz este investimento, com quais instituições? Por meio das AFP. Temos três AFP norte-americanas. Qual é a dona da maior companhia seguradora do Chile? A MetLife, a maior companhia seguradora do planeta. Tomam nossa economia, levam para os Estados Unidos, compram ações da Bolsa e tratam de buscar rentabilidade, que está cada vez mais baixa.
Mas quem compra esse dinheiro, esse capital? Empresas imobiliárias que vão ao mercado de capitais, emitem ações e tomam de novo nosso capital. O que fazem? Expandem seus investimentos. O faturamento dos estados do Norte, Michigan, Illinois, por que estes dois estados? Porque aí ganhou Donald Trump. Prometendo o quê? Emprego a cidades como Detroit, que estão na bancarrota por conta da quebra da indústria automotriz. E como Trump foi prometer empregos, se antes de assumir baixou o imposto? Ao baixar o imposto entraram menos recursos para o Estado e viu reduzido o orçamento para fazer obras públicas. E como construir se precisa de recursos?
Como as empresas pagaram menos impostos, se revalorizaram na Bolsa – isso é tudo nominal – fazendo com que os especuladores saíssem do Chile e fossem para lá investir mais nestas companhias norte-americanas. Ou seja, transferimos mais capital de países emergentes como o Chile para países imperialistas como os Estados Unidos. E o que fazem por lá com nossos recursos? Investem em rodovias, pontes, não estão investindo em veículos automotrizes, porque esta é uma questão de concorrência, de custos, porque os japoneses e, sobretudo, os coreanos têm custos de produção muito mais baratos, sendo mais eficientes que os norte-americanos, a tal ponto que muitas companhias europeias estarem se fundindo com empresas japonesas e coreanas de automóvel.
Então temos o paradoxo que nós, os chilenos, habitantes de um país tão pequeno, com uma força de trabalho de pouco mais de oito milhões, com dez milhões de filiados ao sistema de AFP, estamos financiando Donald Trump.
Os Estados Unidos sendo o país com o maior déficit fiscal do mundo, tendo especialmente um déficit gigantesco com a China, como se financia? Com a transferência de recursos. Isso há 20 anos era impossível de sustentar porque os países emergentes, subdesenvolvidos entre aspas ou em vias de desenvolvimento, tinham como problema a dívida externa, sempre. Naquela época cada vez que um país entrava em crise – pelo ciclo da dívida – todos os emergentes se endividavam junto. Hoje isso passou de moda.
Pois há uma brutal sangria de recursos, uma transferência desmedida de capital…
A transferência por um país tão pequeno como o Chile, de mais de US$ 87 bilhões para qualquer país do mundo, é algo descomunal. O investimento que as AFP fizeram em celulose no estado do Rio Grande do Sul foi de US$ 4 bilhões. Como as AFP são as maiores investidoras de vários países, se o emprego formal no Chile vem caindo fortemente? Somos um país de serviços, que segue reproduzindo a velha matriz produtiva extrativista do cobre, a grande mineração, destruindo praticamente todo o ecossistema. Temos um deserto no norte que vem aumentando em direção ao sul em razão de que não há uma política de Estado frente a esse modelo, que nem vou chamar sequer de desenvolvimentista, é preciso mudar a palavra.
As empresas mineradoras estão contaminando o sul do Chile, que é o melhor que temos. Há seca. Este é um país que está secando, sempre tivemos muita água e hoje estamos tendo problemas sérios de abastecimento porque as grandes corporações agrícolas estão produzindo abacate nos montes. Para isso sugam a água subterrânea e as pequenas comunidades, criadoras de gado, estão morrendo.
A privatização da Previdência e sua substituição pelas AFP apenas reproduz a irracionalidade e a perversidade do sistema. Daí o achaque às aposentadorias.
As aposentadorias dos trabalhadores que conseguem se aposentar hoje em dia são tão baixas que a média dos benefícios está quase a metade do que é o salário mínimo do país. Estamos falando da média, temos 50% inferiores ao que é o salário mínimo. Este é um bom indicador para ser levado em conta porque se expressamos em dólar isso se deforma, porque há variedade cambial e cem dólares não é o mesmo no Brasil que no Chile, é complexo. Por isso é melhor comparar com o salário mínimo. Qual é o percentual do mínimo que recebe um aposentado no Chile? A grande maioria da população recebe menos da metade. E se dá o paradoxo de que estamos com um percentual muito alto de mulheres que está recebendo um quarto do valor do salário mínimo. Este é um dado objetivo, real. 

Então este é um sistema que não serve ao país, mas a um pequeno grupo de multimilionários que está espalhando seus negócios já não apenas pela América Latina, mas pelos Estados Unidos. Um dos homens mais ricos deste país que se chama Andreoni Conluxi, tem investimentos na Espanha, onde comprou um banco, tem aplicações nos Estados Unidos. Ele, assim como vários banqueiros chilenos, segue expandindo seus negócios porque, diferentemente dos burgueses brasileiros, argentinos ou colombianos, tem um mercado de capitais, que é muito vigoroso e por meio do qual pode adquirir dinheiro, esta mercadoria chamada capital a um preço muito baixo.
Quantos chilenos estão aposentados?
Temos 1,3 milhão de aposentados pelo sistema da AFP e um pouco mais de 600 mil pelo antigo sistema, e que vão desaparecendo. Pertenciam às caixas de previsão, que eram 32. Aí está o custo da transição porque ainda não morreram todos os velhos que pertenciam a estas caixas. Da noite para o dia acabou o fluxo de ingressos porque os ativos passaram para as AFP.
Obrigatoriamente, não havia opção.
Já não iam para as caixas de previsão, mas para as AFP. As caixas foram tomadas pelo Estado que criou um organismo, o Instituto Nacional de Previsão, que se encarregou de todos os aposentados. A pergunta é de que forma, se os ativos já não pagavam, quem sustentou os novos aposentados? O Estado, lógico.
Há um número de quantos aposentados chilenos recebem pelo sistema antigo?
Um pouco mais de 650 mil aposentados pelo sistema antigo e um milhão trezentos e oitenta mil aposentados pelo atual sistema, a metade por “retiro programado”, que é uma forma que as AFP pagam, e a outra metade por “renda vitalícia”.
Explique esta diferença.
Temos um pouco mais de um milhão trezentas e oitenta mil pessoas aposentadas por AFP. Um pouquinho mais da metade, 51% por AFP, e outros 49% por companhias de seguro, todos no novo sistema. O que significa isso? Que quando chegas à idade de te aposentar, economizaste um montante na tua conta individual, uma poupança pessoal. Tua conta individual tem uma quantidade de dinheiro xis. Há uma idade determinada: 65 anos para o homem e 62 anos para a mulher. Então vais até a Administradora de Fundos de Pensão e ela vai te dizer: bom, tens a idade já, mas as previsões é que vivas até os 90 anos, por exemplo. Portanto, se tens 65 anos precisas financiar uma sobrevida de 25 anos. Quanto tens agora? 100 milhões de pesos (US$ 144.224,00) e isso é insuficiente. 

De qualquer forma se divide os 100 milhões pelo período de vida e se estabelece o valor. Um lixo. Esse é o retiro programado pelas AFP. Se busca a fórmula para dividir e pronto. Outro exemplo: a pessoa estabelece um benefício anual e quer receber US$ 100 por mês. Passados os 12 meses, tens de voltar à AFP para recalcular. Porque tinhas uma torta de cem que poderia ter sido comida de uma vez, mas não foi, e o resto que sobrou ficou aplicada na Bolsa de Valores e caiu. Então a aposentadoria que era 100 já virou 80. No segundo ano, voltas para renegociar e assim sucessivamente. O que está comprovado é que passados oito anos, mais ou menos, sua aposentadoria foi reduzida pela metade.
O que é feito então?
Isso é muito importante que seja compreendido. Existem dois sistemas: as AFP e as Companhias de Seguro, que são as mesmas donas das AFP. Então o que as Companhias de Seguro dizem: você está se aposentando pelas AFP, ganhando por exemplo 500 mil pesos. A pessoa pensa, bem não está tão mal, mas vai baixar o outro ano para 480 mil, 450, 300 e ao final de oito anos vai ter 250. Porém, no esquema de “renda vitalícia”, as Companhias de Seguro dizem: nós lhe garantimos uma aposentadoria mais baixa que os 500 mil (US$ 721), mas será de renda vitalícia, até sua morte. As Companhias dizem: as AFP lhes pagam 500 e nós pagamos 380, mas é até que você morra, enquanto pelo outro modelo você acabará recebendo a metade. E o idoso fica com os 500 das AFP. Mas o que acontece no modelo AFP: no primeiro ano o valor já se reduz, no segundo um pouco mais, no terceiro ano a pessoa quer ir para a renda vitalícia das Companhias de Seguro.
E o que significa isso na prática?
Significa que você tem uma poupança e diz que é proprietário desta economia. Se você compra a renda vitalícia precisa repassar todo o dinheiro à Companhia de Seguro. Se és casado e morre, baixam 60% do valor da renda para sua mulher. Está na lei. E se morre a mulher, todo o dinheiro fica para a Companhia de Seguro. Porque é preciso que a poupança seja endossada às Companhias. Como as pessoas não querem endossar, estamos praticamente meio a meio entre as AFP e as Companhias de Seguro. Porque os velhos, passados dois três anos, saem do retiro programado e vão para a renda vitalícia. Mas as Companhias de Seguro também quebram. Ou alguém pensa que não?
E o que acontece quando as Companhias de Seguro quebram?
Conforme está escrito em lei, se tens uma aposentadoria de 500, o Estado vai responder com 100.
A privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos.
Evidente.
Nas conversas que tivemos com aposentados em Valparaíso muitos nos disseram que devido aos baixos salários recebidos ao longo de suas vidas sequer tiveram a oportunidade de poupar. Então agora dependem de uma pequena ajuda do governo.
Se chama Pensão Básica Solidária, são 107 mil pesos, um terço do salário mínimo. No Chile são 660 mil pessoas que dependem dela. Desse montante, quanto os idosos destinam a medicamentos, em média? 20%. Ou seja, sobra 80 mil pesos para pagar água, luz, moradia, transporte, alimentação e vestuário, o que não é suficiente. No Chile, nem o transporte é grátis para o idoso. Se paga um valor menor no metrô, mas se paga. Temos o metrô mais caro do mundo, competindo com Londres e Paris. Isso explica um pouco o nível de precariedade na qual vivem centenas de milhares de aposentados chilenos. Os medicamentos também são caríssimos.
E olhem só, que paradoxo: os doze grupos multimilionários do Chile somaram forças para alterar o preço dos medicamentos. Foram punidos, mas as penas que a Justiça dá aos ricos são patéticas. O Chile pode ser a expressão mais clara do que é uma sociedade de total injustiça em matéria jurídica. Os poderosos estão à vontade para cometer quaisquer delitos que queiram, sem precisar pagar nada por seus crimes e abusos. Não vão presos nunca.
São muitas as injustiças.
Nós defendemos eliminar esta pensão básica e garantir uma aposentadoria universal, para todos. Porque este benefício é recebido somente pelos 60% mais pobres do país. Se a pessoa é de classe média, entre aspas, tem uma casa ou algo, vais morrer sem o acesso. Quando falas com alguém na Espanha ou outro país da Europa as pessoas não conseguem entender, porque para poder compreender isso precisas baixar à Antípoda do que é a civilização, ir para antes da Revolução Francesa, porque os europeus têm direitos fundamentais garantidos pelo Estado, a pessoa nasce e tem direitos. Perguntas a uma pessoa com instrução média, a um alemão, com quanto contribui… A única coisa que sabe é que tem direito à saúde, à educação e à aposentadoria. Todos sabem que têm um sistema de benefícios definidos, aqui não.
É recente, mas impactante o estudo que revela que o idoso chileno tem a maior taxa de suicídios em toda a América Latina. Isso significa algo. Muitos dos idosos que cometeram suicídio deixaram carta e, nelas, explicitaram seu sofrimento pela baixa renda e pela precariedade sob a qual viviam.
Há uma cortina de fumaça encobrindo estes horrores.
É evidente. O sistema de manipulação midiática distorce a realidade, acentuando outros aspectos que, obviamente, estão relacionados aos suicídios, como o abandono familiar. A expressão mais trágica de um sistema que nega direitos fundamentais como o nosso é que os chilenos e as chilenas estão chegando à velhice e se deparando com cenários desesperadores. A pessoa adoece e simplesmente não tem como bancar o tratamento. Está aumentando vertiginosamente o número de pessoas jogadas nas ruas. Isso é novidade para nós. Pode ser comum em São Paulo, mas no Chile não havia. Isso é a expressão de que algo está passando.
A Organização Internacional do Trabalho elaborou um estudo recente sobre a questão da Previdência.
Os informes que a OIT publicou sobre o tema não foram à toa. Dos 30 países que privatizaram a Previdência, 18 regressaram ao sistema público. A OIT conclui, categoricamente, que a privatização acarretou maior transferência de recursos públicos ao sistema de aposentadoria, ou seja, maior gasto público; maior concentração da riqueza; e, por fim, aposentadorias menores. A recomendação sensível da OIT é o retorno ao sistema público, é desprivatizar.
O discurso tradicional da mídia hegemônica é de que o sistema público é coisa do passado, de que a Previdência está quebrada. Mas não se pode ignorar um estudo como o da OIT. Se de 30 países que privatizaram a aposentadoria na década de 1990, principalmente no Leste Europeu, mais da metade voltou ao sistema anterior, é também porque regressar ao modelo anterior significa uma menor carga em cima do próprio Estado. O Chile é um exemplo: de cada 10 aposentadorias recebidas pelo cidadão, pelo menos sete são bancadas pelo Estado. Quando se privatizou o sistema, a promessa era de enxugar gastos públicos, pois o Estado não precisaria se preocupar com isso. A promessa era de uma taxa de retorno imenso, o que não ocorreu. Isso tudo sem mencionar o gasto do período de transição, que é gigantesco.
O sistema de capitalização é prova disso.
O paradoxo deste sistema vigente no Chile é que quem paga o Pilar Básico Solidário é o Estado, com recurso público. Ou seja, para que financiar um sistema privado se você já está gastando? O Estado recorre aos recursos públicos e aos impostos para isso. Por que o Estado faz isso? Todos pagam imposto, os pobres, para o Estado gastar com aposentadoria financiando as AFP. Os mais ricos podem ainda optar por um respirador artificial, o APV (Aporte Provisional Voluntário)*. [É uma alternativa de poupança adicional à poupança forçada, que tem como principal objetivo aumentar o montante da aposentadoria ou compensar períodos em que não contribuiu. Nesta modalidade o filiado pode depositar mais de 10% do valor obrigatório de sua renda tributável em sua AFP ou em alguma das instituições autorizadas para a administração deste tipo de poupança]. Eles destinam mais dinheiro para a poupança e são compensados com isenções tributárias.
Há uma disputa ideológica dura na sociedade sobre a Previdência.
O informe da OIT é um elemento imprescindível para a batalha de ideias contra a reforma da Previdência no Brasil. Categórico e contundente, o informe compila ideias que não convém e não interessam ao governo de Bolsonaro. Países com governo de direita, como Romênia, Polônia e Hungria, desprivatizaram o sistema de capitalização da Previdência e voltaram ao sistema público.
A Seguridade Social é um tema que tem muita complexidade. Não se trata de posições ideológicas ou fanatismos. É preciso, por exemplo, enfrentar a realidade de mudanças demográficas. Uma pergunta simples: como lidar com o envelhecimento da população? O Chile tem esse problema. Uma grande população idosa. Como lidar com esse problema? Com a capitalização individual, cada um rasgando-se com a sua própria unha, ou fazemos de forma solidária, entre todos?A resposta não é difícil. É preciso ser solidário. A mudança estrutural no mundo do trabalho reforça a nossa tese. A Seguridade Social nasce no mundo do trabalho. Sem o trabalho, não se pode entender a Seguridade Social.
O emprego formal, que tem certas garantias, está cada vez mais escasso. O emprego informal toma conta da sociedade. Como essa parcela massiva de trabalhadores informais destinará uma fração importante de sua renda para financiar uma aposentadoria como temos no Chile? Nem se ela quisesse! É uma questão prática. Logo, os mais afortunados têm que contribuir mais. Os mais afortunados, que têm empregos, têm de ser mais solidários com os menos afortunados.
A realidade material é que não se pode enfrentar as mudanças demográficas e as mudanças estruturais do mundo do trabalho, com uma política individualista.
Neste sentido o exemplo chileno é a prova cabal de que apostar nesta toada seria um erro.
Ainda no combate de ideias, o caso chileno é um dos melhores argumentos para barrar a reforma e para barrar a capitalização. Primeiro, é preciso desmontar o argumento de Paulo Guedes de que a reforma enxugará os gastos públicos. É mentira. O governo chileno paga sete em dez aposentadorias. A capitalização da Previdência aumenta o gasto público. Segundo elemento: este modelo reduz consideravelmente a taxa de retorno da poupança. Se o brasileiro recebe em torno de 70% do salário com o qual se aposentou, sob o modelo chileno o cidadão recebe menos de 30%. Terceiro ponto: um sistema de capitalização incrementa a desigualdade na distribuição de renda no país. Como se explica uma economia tão frágil em um país tão pequeno como o Chile produzir 12 multimilionários? O Brasil não tem praticamente nenhum. Isso eu digo em seminários internacionais, no Brasil, na Argentina. Como um país tão pequeno pode ter multimilionários investindo em países como o Brasil e a Argentina, e não o contrário?
Não há transferência de conhecimento, não há desenvolvimento tecnológico. O que vendemos, nós, chilenos, aos brasileiros? É transferência de humanidade, que gera este mundo financeirizado. O Chile é, de longe, o país mais financeirizado da América Latina.
O Chile serve de exemplo para o Brasil. Um país pequeno que mostra, na prática, os efeitos da capitalização da Previdência. São milhões os que marcham contra as AFP, empresas absolutamente desacreditadas.
Segundo estudos, 97% dos chilenos estão condenados a aposentadorias miseráveis. De todos os chilenos que contribuem, 97% alcançará, no melhor do casos 40% de taxa de retorno e, no pior dos casos, menos de 20%. E deixo uma pergunta para reflexão: se o grosso do dinheiro está nas mãos de AFP estrangeiras e de companhias de seguros que são donas das AFP, o que acontece se essas empresas estadunidenses quebrarem? A Lehman Brothers não quebrou? A Enron não quebrou? Ninguém diria que quebrariam. Nem eu, bancário, diria. Por que uma seguradora norte-americana, com o déficit que os Estados Unidos têm, com a guerra dos Estados Unidos contra a China, não poderia quebrar? Quem vai responder aos 600 mil aposentados chilenos? O Estado.
Temos o caso italiano.
O caso da Itália é interessante. Sob um governo de extrema-direita, a Itália previu, ao Banco Europeu, um aumento orçamentário de dois pontos do PIB. O Banco devolveu o plano imediatamente, impondo restrições. O governo italiano voltou a apresentá-lo e o banco voltou a recusar, com ameaças. Os italianos ficaram doidos. O aumento de 2% para que era? Para melhorar as aposentadorias. Um governo de extrema-direita melhorando a aposentadoria. Eles compreendem o caráter político desta questão. Há muita gente dormindo nas ruas. Onde essas pessoas fazem suas necessidades, como vivem? É uma total involução.
No Chile, está em alta a tese de que todos os cidadãos nascidos no país agora viverão cerca de 100 anos. Na década de 1950, a expectativa de vida do homem era de 50 anos e a da mulher, 55. O que passa é que essas pessoas que vivem nas ruas, sem nenhum saneamento básico, sem comida, sem higiene, vai morrer aos 50.
Fale um pouco sobre como se dá o retorno da “rentabilidade” atual da AFP aos aposentados por esse sistema?
Este sistema já tem 40 anos. Nos primeiros 10 anos, a poupança do trabalhador teve taxas de rentabilidade de aproximadamente 12,4%. Na segunda década, por volta de 1991, a rentabilidade chegou a 10%. Na terceira década, 5%. Agora, na quarta década, iniciada em 2010, qual é a rentabilidade? 3,5%. Por que vem caindo? Segundo os especialistas sérios, os fundos de investimento buscam rentabilidade no mercado financeiro. Eles especulam, buscando onde comprar, onde vender, onde investir. Não estamos comprando batatas, sapatos ou carne. 

Esta é uma mercadoria peculiar, pois quem a compra pode expandir seu negócio. Se eu compro carne, não posso produzir sapatos. Se eu compro sapatos, não consigo transformá-los em remédio, mas com esta mercadoria, sim. A economia mundial vem caindo.3,5%, 3% e não podemos esperar que se a economia siga esses números, haja uma rentabilidade de 10%. O número mais alto da rentabilidade na primeira década das AFP se deveu ao simples fato de que, à época, o Chile privatizou as grandes empresas públicas. A privatização de setores estratégicos foi simultânea à implementação das AFP, que se aproveitaram disso durante aquele período. E ponto. Então é bom que os brasileiros estejam alertas.
Gostaríamos que desse um último alerta.
Quero me dirigir a todos os amigos e irmãos deste importante país de nosso continente, o Brasil. O país está ameaçado por uma política que pretende destruir um direito fundamental que os brasileiros e brasileiras têm: a Seguridade Social. Nós, chilenos, falamos com conhecimento de causa. Nos retiraram esse direito em meados dos anos 1980, sob a tirania de Augusto Pinochet. E quais foram as consciências após quase 40 anos? Temos a pior distribuição de renda, temos 12 multimilionários que se apoderam deste dinheiro e investem, inclusive, no Brasil, destruindo a Amazônia, ou no sul do país, explorando a nossa humanidade e destruindo o emprego. Investem no Peru, na Colômbia, na Argentina. O que aconteceu após quase 40 anos? 

O Estado gasta mais dinheiro com este sistema de aposentadoria do que gastava antes. Temos que drenar ainda mais recursos do Estado para pagar aposentadorias. Qual é outra consequência? Uma desigualdade brutal e uma alta concentração da riqueza, pois os grandes grupos econômicos usam nossa poupança, nossa humanidade, nossas vidas para financiarem seus projetos espúrios. A terceira e mais concreta consequência: as aposentadorias no Chile, que antes da ditadura contavam com uma taxa de retorno na casa dos 70%, hoje em dia estão majoritariamente por baixo de 30% e, segundo estudos, dentro de cinco anos, despencarão para a casa dos 20%. No Brasil, os brasileiros e as brasileiras não podem acreditar em Bolsonaro e em um governo que pretende implantar um modelo absolutamente fracassado como o chileno – conforme classificou a própria OIT. Saúdo a todos e faço um apelo para que estejam firmes e unidos na defesa deste direito humano que é a Seguridade Social.
*O Coletivo de Comunicação Colaborativa ComunicaSul esteve no Chile recentemente, com os seguintes apoios: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Diálogos do Sul, Federação Única dos Petroleiros (FUP), Jornal Hora do Povo, Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, CUT Chile e Sindicato Nacional dos Carteiros do Chile (Sinacar). A reprodução é livre, desde que citados os autores e apoios.
https://gz.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/item/292715-luis-mesina-do-movimento-popular-chileno-no-afp-97-dos-chilenos-estao-condenados-a-aposentadorias-miseraveis.html
 “A reforma da previdência não poupa ninguém: negros, idosos, mulheres”, afirma senador Paulo Paim


Marcelo Camargo/Agência Brasil
Alma Preta,Yahoo Notícias 


A principal proposta do Ministro da Economia, Paulo Guedes, é a aprovação da reforma da previdência. Com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no dia 24 de Abril e deve ser colocada em votação em 2019.




As principais alterações indicadas no projeto de Paulo Guedes são: fim da aposentadoria por tempo de contribuição; mudança do tempo mínimo para se aposentar para mulheres, com 62 anos, e homens com 65; alteração do tempo mínimo de contribuição de 15 para 20 anos, para homens e mulheres; diminuição da pensão por morte para viúvos de 100% para 60% do dependente; redução do benefício inicial para o idoso pobre de R$ 998 para R$ 400.
O projeto, segundo o senador Paulo Paim (PT-RS), atinge de maneira contundente a qualidade de vida de todos os grupos sociais mais vulneráveis no país, como a população negra.
“Ora, nós sabemos que a grande maioria dos pobres brasileiros são negros, por isso, os negros são os mais prejudicados. A reforma não poupa ninguém: negros, idosos, mulheres, todos os vulneráveis. O prejuízo é enorme”.
O direito, garantido no país há 96 anos, é um dos principais mecanismos de distribuição de renda no país e tem atraído os olhos de bancos e grupos de investimento, de acordo com o senador.
“Essa reforma que está aí não interessa a ninguém, somente aos bancos e aos fundos privados de previdência. O problema não é a Previdência, o problema é que os governos são incapazes de criar condições mínimas para que o país cresça e se desenvolva”.
Estudo realizado pela revista Dinheiro calculou que em 35 anos, o sistema de capitalização dos bancos geraria um patrimônio de R$ 54 trilhões, ou seja, um faturamento anual em média de R$ 388 bilhões.
Paim participou da CPI da Previdência, no ano de 2018, comissão que apresentou a seguridade social no país como um sistema com superávit. O documento aponta como problema a falta de gestão administrativa e cobrança das despesas de bancos e grandes empresas.
“A CPI da Previdência mostrou que o sistema é superavitário. O grande problema é de gestão. Ela é má administrada. Nos últimos 30 anos, deixaram de entrar nas contas da Previdência cerca de R$ 6 trilhões, em valores atualizados, devido a esse problema de gestão”, afirmou.
De acordo com os números da Procuradoria Geral da Fazenda, a Varig, empresa aérea falida em 2006, deve cerca de R$ 3,713 bilhões. Companhias ativas e com poder significativo dentro do mercado como a mineradora Vale, tem dívida de R$ 275 milhões, a JBS, déficit de R$ 1,8 bilhão, e o Bradesco, de R$ 465 milhões.
Confira a entrevista na íntegra:
O discurso da imprensa e dos defensores da reforma da previdência é que o Brasil tem um problema de despesa, que muitas pessoas estão se aposentando. Qual a sua avaliação do dito problema previdenciário no Brasil?
A Previdência Social brasileira tem 96 anos e é considerada um dos maiores instrumentos de distribuição de renda do mundo. Beneficia, direta e indiretamente, cerca de 80 milhões de pessoas e tem forte contribuição na dinamização da economia dos municípios, por meio do pagamento de benefícios.
A previdência brasileira é um manancial de exploração e de aumento de lucro para o sistema financeiro. O discurso do “déficit previdenciário” é uma forma de criar uma crise no sistema. Essa reforma que está aí não interessa a ninguém, somente aos bancos e aos fundos privados de previdência.
Enquanto as grandes empresas devem milhões aos cofres públicos, pensa-se em aumentar a cobrança sobre o trabalhador. Qual o impacto da proposta de reforma da previdência para o povo negro?
Essa reforma do governo prevê uma série de maldades: idade mínima para se aposentar de 62 anos para mulher e de 65 para homem; benefícios inferiores ao salário-mínimo, contrariando a própria Constituição.
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é mais um jabuti do governo colocado na PEC 06/2019, conhecida como reforma da previdência. Como benefício assistencial, o BPC não deve ser discutido na proposta de mudança do sistema previdenciário.
Temos também a implantação do sistema de capitalização, que acaba com a contribuição solidária e coletiva. Ou seja, a contribuição passa a ser individual para um fundo de pensão. Na prática é a privatização do sistema.
Essa reforma atinge diretamente os pobres e nós sabemos que a grande maioria dos pobres brasileiros são negros, por isso, os negros são os mais prejudicados. A reforma não poupa ninguém: negros, idosos, mulheres, todos os vulneráveis. O prejuízo é enorme.
O Brasil viu a aprovação da reforma trabalhista, que precariza as relações de trabalho no país. Quais os impactos da soma dos efeitos da reforma trabalhista e da previdência para os trabalhadores, em especial os negros?
A reforma trabalhista foi uma das maiores enganações feitas ao povo brasileiro. O governo anterior dizia que com a reforma iriam ser gerados 6 milhões de empregos, conforme matéria do jornal O Globo. Eles mentiram. Hoje, o desemprego não só aumentou, são 13,4 milhões de desempregados, como também aumentou o número de desalentados para 4,8 milhões, ou seja, aquelas pessoas que perderam a esperança e estão no fundo do poço, quem não tem dinheiro ou esperança para sair de casa para procurar emprego. Há também 30 milhões de trabalhadores informais, sem direito social algum.
É uma situação muito triste. A reforma da Previdência vai pelo mesmo caminho. O modelo que o governo quer é o mesmo do Chile. Lá, nesse país, aposentados ganham menos da metade de um salário mínimo. É inadmissível aceitar uma reforma que atinge a dignidade das pessoas.
Quais foram os principais resultados obtidos com a CPI da Previdência?
A CPI da Previdência mostrou que o sistema é superavitário. O grande problema é de gestão. Ela é má administrada. Nos últimos 30 anos, deixaram de entrar nas contas da Previdência cerca de R$ 6 trilhões, em valores atualizados, devido a esse problema de gestão.
E diga-se, a CPI foi composta por parlamentares de diferentes matizes políticos e ideológicos. Inclusive o líder do governo à época votou favorável ao relatório final da comissão.
Os caminhos apontados foram o de cobrar os devedores, combater as fraudes e sonegações, fortalecer os órgãos de fiscalização, revisar o modelo atuarial, fim das políticas de desonerações e desvios de recursos, entre outras. Somente a DRU (Desvinculação das Receitas da União) retirou, entre 2000 e 2015, mais de R$ 600 bilhões. Esse valor atualizado seria hoje de R$ 1,5 trilhão.
Tenho uma proposta de emenda à Constituição que diz que o dinheiro da Seguridade Social tem que ficar na Seguridade Social, não pode ser desviado para outros fins. Esse dinheiro é do trabalhador e para o bem-estar do trabalhador.
Como se vê, a Previdência é uma “galinha dos ovos de ouro”. Todos estão de olho nela.



Reforma da Previdência favorece bancos e mantém privilégios
IHU-UNISINOS

Os privilegiados do Brasil gargalham da Reforma da Previdência.  Quase 80% da economia projetada pelo ministro Paulo Guedes sairá do bolso dos mais necessitados.
O comentário é de Sâmia Bomfim, publicado por Carta Capital, em 21-05-2019.
O lunatismo característico do governo Bolsonaro não está restrito ao chamado “setor olavista”. Paulo Guedes, como todo bom defensor de governos com características totalitárias, como o de Augusto Pinochet no Chile, com o qual manteve relações muito próximas, arquitetou um mito (com o perdão do trocadilho) de dar inveja aos terraplanistas: o de que o objetivo da reforma da Previdência é combater privilégios.
Guiada por esta farsa, a tropa de “bolsominions” me ataca nas redes: “Você está contra a reforma porque defende privilégios”. Logo eu, que abri mão de minha aposentadoria especial como deputada e tenho na luta contra toda desigualdade o norte de minha militância.
O objetivo é acabar com privilégios? Que tal começar então pelo próprio presidente da República, que se aposentou do Exército com 33 anos de idade e está inscrito no regime de aposentadoria especial da Câmara dos Deputados? Nós somos a favor de que aposentadorias abusivas sejam revistas, o que não é o caso, como se pensa, dos funcionários públicos, cuja maioria é formada por professores, policiais, enfermeiros etc., mas o é de políticos e oficiais de alta patente das Forças Armadas. Se o governo está de acordo, por que não fazer uma reforma da Previdência restrita a esses grupos?
Longe disso, o governo foi bastante generoso com eles. No caso dos parlamentares, o tão valorizado “fim da mamata” de aposentadorias especiais valerá apenas para os futuros eleitos. Os oficiais militares também podem ficar tranquilos, pois a modesta reforma que os afetará foi muito bem compensada por um generoso plano de carreira.
Os beneficiados pela reforma da Previdência são justamente os maiores privilegiados deste País: banqueiros, rentistas, especuladores, em resumo, o capital financeiro. Pois a reforma da Previdência prevê a substituição do atual regime de repartição pública, no qual trabalhadores ativos, empresas e Estado mantêm as aposentadorias, pelo regime de capitalização, em que cada trabalhador se aposenta com o recolhido em uma espécie de poupança individual em um fundo de pensão privado.
Para de fato combater os privilégios, mais eficiente seria uma reforma tributária que alcançasse os ricos Nos 30 países em que foi adotada, a capitalização gerou lucros bilionários para os administradores e uma massa de idosos em situação de pobreza, além de custos astronômicos ao Estado. Apesar das promessas dos Chicago Boys (entre eles Paulo Guedes), o óbvio aconteceu: em economias subdesenvolvidas, os trabalhadores passam longos períodos desempregados e na informalidade, de modo que o montante poupado ao longo da carreira é insuficiente para manter a aposentadoria. Mas os fundos de pensão puderam rir à toa com as gordas taxas de administração que cobraram.
Guedes não apenas representa os interesses desse setor, como ele próprio é e sempre foi um homem desse mercado. Aliás, cabe lembrar que o ministro responde a inquérito no Tribunal de Contas da União por gestão fraudulenta de recursos de fundos de pensão públicos.
Para combater privilégios de fato, defendemos a reforma tributária solidária proposta pela Anfip e pela Fenafisco, que prevê inverter a injusta estrutura tributária do Brasil, cobrando – de verdade – mais impostos de quem ganha mais e reduzindo a carga tributária sobre consumo e rendas mais baixas.
Dentre as medidas está a elevação da alíquota do Imposto de Renda para quem ganha acima de 40 salários mínimos por mês, de 27,5% para 35%, ou 40% no caso daqueles que ganham acima de 60 salários mínimos. Essas medidas teriam um impacto financeiro positivo muito superior àquele da reforma da Previdência, afetando apenas 750 mil indivíduos e sem colocar em risco o seu conforto e sobrevivência.
O mesmo não se pode dizer dos afetados pela reforma da Previdência. Para não nos perdermos na desumanização dos números, vamos a exemplos concretos. Conversei com uma empregada doméstica que trabalhou por quase meio século, mas conseguiu registro em carteira por apenas 15 anos. Aos 60, finalmente pode se aposentar. Se a reforma valesse desde que começou a trabalhar, ela teria de contribuir por mais cinco anos.
Na sua idade e com seu grau de escolaridade, manter um emprego formal por tanto tempo é praticamente impossível. Caberia recorrer ao BPC, benefício pago a idosos em situação de miséria. Mas, com a reforma, teria de se contentar com apenas 400 reais até completar 70 anos. E torcer para que seu marido não morra, pois, neste caso, não poderia acumular o seu benefício mais a pensão do cônjuge falecido.
Também não poderia cuidar de um filho com deficiência, pois Bolsonaro acha que acumular BPC e benefício para pessoas com deficiência é um privilégio a ser cortado. Ou seja, 75% da suposta economia de 1 trilhão de reais anunciada por Guedes vem de sacrifícios impostos a cidadãos como esses: beneficiários do Regime Geral de Previdência Social que ganham, em média, 1,3 mil reais.
A Previdência Social não é uma “fábrica de privilégios”. Ao contrário, é uma de nossas políticas públicas mais eficientes de combate à pobreza e à desigualdade, como apontou estudo feito por Rossi, Dweck e Welle.
Não só ela, mas os gastos públicos em geral, como educação, que o trator do governo também trata de demolir. Os “ajustes necessários para acertar as contas públicas” – outro mito que precisa ser desmontado –, além de produzirem uma tragédia social, são uma economia burra, pois retiram renda daqueles que poderiam consumir para estimular os investimentos e a geração de empregos. São os ajustes, e não a falta deles, que tornaram esta crise a mais duradoura da nossa história. Diga não à reforma da Previdência.
http://www.ihu.unisinos.br/589337-os-privilegiados-do-brasil-gargalham-da-reforma-da-previdencia
Bancos vão ficar com 62% da renda do trabalhador se capitalização for aprovada Simulação apresentada no Senado pela Unafisco prevê que taxa dos bancos aumenta a cada ano, podendo chegar a mais de 77%.
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual – RBA, em 20-05-2019.
Simulação apresentada nessa terça-feira (21) em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) no Senado, sobre a reforma da Previdência proposta pelo projeto do governo Jair Bolsonaro (PSL), demonstra o fracasso que ocorreria com o sistema de capitalização que consta da proposta, levando o trabalhador aposentado à miséria.
Segundo dados do diretor de Defesa Profissional e Assuntos Técnicos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), Mauro José Silva, o valor das contribuições previdenciárias arrecadadas de empregados e empregadores foi de R$ 423,06 bilhões em 2018. Já a previsão de acréscimo no faturamento médio anual para as instituições financeiras, num sistema de capitalização, pode ser estimado em até R$ 388 bilhões, nos próximos 70 anos.
Silva explicou que o sistema proposto na PEC 6/2019 resultará num valor acumulado pelo trabalhador, ao fim de 40 anos de contribuição, de R$ 275.804,02. Entretanto, a remuneração dos bancos, prevista na reforma, consumiria R$ 105.701,43 dessa quantia, o que equivale a mais de 62% do valor do patrimônio do empregado. Assim, esse trabalhador ficaria com apenas R$ 170.102,58.
No 59º ano, após ingressar no sistema de capitalização, esta porcentagem ultrapassaria os 77%. Um cenário que, segundo Silva, possibilitaria o recebimento de uma aposentadoria no valor de R$ 750, o que equivale a apenas um quarto do total contribuído. “Um sistema sem empregador, e com instituição financeira, é um fracasso. É condenar o trabalhador à miséria”, concluiu.
Silva considerou a capitalização um “sistema complicado do ponto de vista do trabalhador”. Para ele, além de significar a “transferência de renda” dos empregados para os bancos, essa modalidade não cobrirá benefícios já existentes, como o salário família e o salário maternidade.
A capitalização funciona como uma espécie de poupança: o dinheiro descontado mensalmente do salário de cada trabalhador vai para uma conta individual, e não se mistura com as contribuições dos demais beneficiários. Pelo sistema atual, o de repartição, os pagamentos feitos pelo pessoal da ativa financiam as aposentadorias dos inativos.
Dieese Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Juliano Musse disse que o cenário é preocupante. Ele considerou a PEC 6/2019 uma “reforma impositiva” porque, segundo afirmou, a medida não passou por uma prévia discussão com os trabalhadores. Ao questionar quem são os maiores interessados com a reforma da Previdência, Juliano ponderou que outras questões, como o desemprego, a informalidade e a saúde dos trabalhadores que enfrentam doenças crônicas são mais urgentes e deveriam ser o foco do debate. “A reforma é importante, mas desde que não minimize direitos sociais conseguidos com a Constituição de 1988”.
O consultor do Senado Luiz Alberto dos Santos frisou que a PEC 6/2019 não é de fácil compreensão. Para ele, o texto apresenta contradições, traz incertezas e tende a gerar custos diferenciados para a empregabilidade das pessoas. Ao ressaltar que os mercados demonstram volatilidade ao longo do tempo, o especialista disse que o regime previdenciário baseado na capitalização pressupõe uma renda questionável, porque dependerá de quanto, efetivamente, aquela aplicação renderá. “No Brasil, nós temos renda média muito baixa. As pessoas não têm dinheiro para destinar a uma sistemática de provisão fora do regime público, e essa é uma diferença fundamental.”
Retrocessos O representante do Coletivo Nacional de Advogados de Servidores Públicos, Guilherme Zagallo, alertou que experiências de privatização da Previdência significaram retrocessos em outros países: estagnação das taxas de cobertura, diminuição do valor dos benefícios e aumento da desigualdade de renda. Para o advogado, a desconstitucionalização da aposentadoria, pretendida pelo Executivo, significa um risco político porque, a cada governo, pode-se criar novas regras para a concessão do benefício.
O advogado mencionou que o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias veda a renúncia de receita que a capitalização causará, desacompanhada da estimativa de impacto orçamentário e financeiro. Ele lembrou que o Brasil já passou por uma tentativa de privatização antes da instituição do INSS, quando houve a unificação dos regimes, mas disse que a medida não obteve sucesso. Guilherme comentou, ainda, que esse assunto tem sido omitido no debate sobre a PEC 6/2019.
“Não fomos bem-sucedidos no passado, em relação à experiência de capitalização. A promessa de melhoria da economia por meio dessa reforma não altera a realidade. É uma bomba social de efeito retardado”.
O coordenador do Movimento Legislação e Vida, Hermes Rodrigues Nery, considerou o sistema de capitalização o ponto mais grave da PEC 6/2019. Para ele, as poupanças pessoais são “qualitativamente diferentes” da seguridade social, já que não dispõem de garantia, nem previsibilidade. Além disso, Nery ressaltou que “poupar de maneira suficiente para uma aposentadoria decente é difícil para muitos trabalhadores”.
http://www.ihu.unisinos.br/589314-bancos-vao-ficar-com-62-da-renda-do-trabalhador-se-capitalizacao-for-aprovada
 Privatização da Previdência fracassou em todo o mundo
25 de abril de 2019
                                                                                            
                                                                                  Sindejufe-BA


A privatização da previdência fracassou na maioria dos países que adotou o sistema de capitalização previdenciária proposto por Bolsonaro
Uma das conclusões do estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho, é de que o maior beneficiário das privatizações foi o setor financeiro ANDES – SINDICATO NACIONAL Brasília (DF) (Brasil)
As privatizações dos sistemas previdenciários fracassaram. Essa é a conclusão do estudo “Reversão da Privatização de Previdência: Questões chaves”, publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em dezembro do ano passado. O documento traz um levantamento acerca da privatização dos sistemas de previdência no mundo e sobre a reversão das privatizações. De 30 países que privatizaram a previdência, 18 estão em processo de reversão.
O documento da OIT lista uma série de lições aprendidas ao longo de três décadas de privatização da previdência no mundo. Ao contrário do prometido pela propaganda oficial e pelas instituições financeiras, a previdência privada não aumentou a taxa de cobertura. Na Argentina, por exemplo, a taxa de cobertura caiu 20%, assim como no Chile, na Hungria, no Cazaquistão e no México.
Nos países que privatizaram os seus sistemas de previdência, o valor das aposentadorias diminuiu. Na Bolívia, por exemplo, as aposentadorias privadas representavam apenas 20% da média salarial dos trabalhadores. Segundo a OIT, a privatização da previdência resultou no aumento do empobrecimento na velhice.
Outro aspecto negativo da privatização da previdência apontado pela OIT é o aumento da desigualdade de gênero e de renda. Isso se deu porque os componentes redistributivos dos sistemas de previdência social foram suprimidos com a introdução de contas individuais.
“Como a aposentadoria privada é resultado de poupança pessoal, as pessoas de baixa renda ou que tiveram sua vida profissional interrompida – por exemplo, por causa da maternidade e das responsabilidades familiares – obtiveram poupanças muito reduzidas e consequentemente terminaram com aposentadorias baixas, aumentando assim as desigualdades”, afirma o estudo.
A OIT também pontua que os custos da transição da previdência pública para o sistema privado foram mal calculados pelos governos. Na Bolívia, o preço da privatização foi 2,5 vezes maior que a projeção inicial. Na Argentina, 18 vezes maior. Os altos custos administrativos do sistema privados também são citados como problemas. Na previdência pública não existe o pagamento de taxas administrativas, taxas de gestão de investimentos, taxas de custódia, taxas de garantia, taxas de auditoria, taxas de publicidade e taxas jurídicas, entre outras. De acordo com o levantamento, esses custos somados chegaram a 39% dos ativos na Letônia, a 31% na Estônia e a 20% na Bulgária.
Quem ganhou com as privatizações?
Uma das conclusões do estudo é que o maior beneficiário da privatização da previdência no mundo foi o setor financeiro. A OIT lembra que em muitos países as reservas de previdência pública foram usadas para investir no desenvolvimento nacional. Com a privatização, no entanto, isso não ocorre mais. Os fundos privados “investiram as poupanças individuais em mercados de capitais buscando retornos elevados, sem colocar as metas nacionais de desenvolvimento como prioridade”, diz o levantamento. Nos países em desenvolvimento, muitas vezes são os grupos financeiros internacionais que detêm a maioria dos fundos investidos.
Re-reformas e reestatização
A OIT encerra o estudo ressaltando que 18 países reverteram, ao menos em partes, a privatização de suas previdências. Foram 13 países na Europa Oriental e 5 na América Latina. São eles: Venezuela (2000), Equador (2002), Nicarágua (2005), Bulgária (2007), Argentina (2008), Eslováquia (2008), Estônia, Letônia e Lituânia (2009), Bolívia (2009), Hungria (2010), Croácia, Macedônia (2011), Polônia (2011), Rússia (2012), Cazaquistão (2013), República Tcheca (2016) e Romênia (2017).
Segundo o estudo, a reestatização apresentou resultados positivos, com a melhoria do sistema previdenciário, a baixa de custos administrativos, o aumento da cobertura da previdência e o aumento do valor das aposentadorias, em especial para a população mais vulnerável.
http://homologacao.andes.org.br/conteudos/noticia/as-privatizacoes-fracassaram-afirma-oIT1
 Chilenos exigem fim do sistema de capitalização
Milhares de manifestantes disseram um sonoro não à reforma que o presidente Sebastián Piñera quer implementar.

Diálogos do Sul

Leonardo Wexell Severo – Santiago (Chile) 
Com faixas, cartazes e camisetas condenando o sistema de capitalização implantado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e identificando as Administradoras de Fundos de Pensão (AFPs) com “Abuso, Fraude e Pobreza”, uma multidão tomou as ruas de Santiago e das principais cidades do Chile neste domingo para exigir o aumento imediato de 20% nas aposentadorias e um “novo modelo previdenciário digno, com redistribuição solidária”.
“Não quero que o meu futuro seja igual ao presente da minha avó”, denunciou uma jovem, erguendo bem alto sua cartolina. “Parem de nos roubar, acabem com as AFP”, reforçou uma outra. Como elas, milhares de manifestantes disseram um sonoro não à reforma que o presidente Sebastián Piñera quer implementar, mantendo o figurino neoliberal ditado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial.
“Piñera pretende continuar incorporando medidas que não fazem nada além de manter o respirador artificial deste sistema que está em colapso, o que parece ser uma provocação”, declarou Luis Mesina, porta-voz do movimento NO+AFP, organizador da mobilização, para quem “é hora de vincular, pouco a pouco, passo a passo as lutas dos movimentos sociais”. Entre as pautas que merecem destaque, indicou, está a luta contra o Tratado Integral e Progressivo da Parceria Transpacífico (TPP 11), celebrado recentemente no Chile, que entrega plenas garantias ao capital estrangeiro. Até sua assinatura, o documento permaneceu em segredo, passando por cima do Congresso e da cidadania. “Se aceitarmos que se consume esse TPP”, alertou, “perderemos parte importante da nossa soberania e, consequentemente, nossa reivindicação para retomar a Seguridade Social ficará muito mais complexa”.
A preocupação procede. Neste momento, as AFPs são controladas por companhias transnacionais que especulam com um patrimônio coletivo de US$ 220 bilhões dos chilenos, dinheiro equivalente a 2/3 do seu Produto Interno Bruto (PIB). Dois terços destes recursos, US$ 151,9 bilhões, se encontram, segundo a Fundação Sol, sob o controle de três empresas norte-americanas: Habitat, US$ 57,76 bilhões (27,4%); Provida, US$ 53,03 bilhões (25,2%) e Cuprum, US$ 41,14 (19,5%)
Apitos e tambores De forma uníssona, apitos e tambores fizeram ressoar o repúdio ao sistema que o governo Piñera quer perpetuar, através da redobrada chantagem aos parlamentares – já que não tem maioria nem na Câmara nem no Senado.
A privatização da Previdência chilena foi implementada em 1981 via capitalização individual, num processo que contou com a participação de José Piñera, irmão de Sebastián, então ministro do Trabalho e Previdência Social de Pinochet.
O fato é que embora tenham prometido taxas de retorno de 70% e inclusive de 100% da remuneração quando chegasse o ano de 2020, hoje as pessoas ficam pobres ao se aposentar. A própria Superintendência de Pensões reconhece que quem se aposentava com US$ 700 tem atualmente uma taxa de retorno de apenas 33% se é trabalhador e de tão somente 25% se é trabalhadora, o que equivale a míseros US$ 231 e US$ 175, respectivamente.
“O grande problema é que esta realidade é invisibilizada pelos grandes meios de comunicação, pelos canais de rádio e televisão, que manipulam grosseiramente a realidade, divulgando mentiras e escondendo verdades”, apontou Luis Mesina. O coordenador do movimento NO+AFP citou como exemplo um recente estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que “desmente de forma contundente que o sistema de Seguridade Social, complementar e solidário como o que defendemos, está quebrado nos países onde foi implementado”. “Os sistemas privados são os únicos que geram desigualdade social, aumento do gasto fiscal e deterioração das aposentadorias, entre os quais o chileno está entre os mais brutais”, assinalou.
“Milhares de chilenos voltaram a marchar e exigir de forma clara e contundente que se ponha fim a esta grande fraude e que seja criado um sistema que garanta benefícios justos e deixe de ser um negócio para os grandes grupos econômicos, para banqueiros e companhias estrangeiras”, declarou Luis Mesina, frisando que “nossa estratégia não é seguir marchando, mas vigiar como votam os parlamentares que se dizem de oposição”. “Os parlamentares não podem se deixar pressionar pela chantagem e devem passar a exigir uma transformação estrutural da Previdência”, frisou.
Para a presidenta da Central Unitária de Trabalhadores (CUT-Chile), Bárbara Figueroa, os parlamentares precisam levar em conta a proposta que foi entregue recentemente pelo movimento popular, “pois foi a única reivindicação feita a partir de uma consulta, de um amplo debate e que tem o peso específico da cidadania e o respaldo das massivas mobilizações”. “Um sistema de pensão justo precisa agora ser incorporado na agenda”, asseverou.
Consolidação da fraude “Se uma professora tem uma renda de 150 mil pesos e tem que comprar um remédio de 80 mil não lhe sobra nada, sequer para comer. Estas são as aposentadorias pagas por esse sistema. E o projeto levado pelo governo ao Congresso não corrige, bem pelo contrário: consolida este modelo, consolida a fraude, e por isso queremos que seja rechaçado”, explicou o presidente do Sindicato dos Professores do Chile, Mario Aguilar. Na verdade, sustentou, “precisamos construir um sistema previdenciário de verdade, de distribuição solidária”.
Marchando ao lado das lideranças sindicais, estudantis e comunitárias, o deputado Boris Barrera destacou que “somos milhares contra um sistema que empobrece os trabalhadores”.
“Me parece vergonhoso que não tenhamos um sistema que garanta uma aposentadoria digna, que as pessoas terminem vivendo em condições miseráveis”, acrescentou o deputado Tomás Hirsch.
Ao concluir o ato, Luis Mesina reiterou que a iniciativa popular de lei entregue pela NO+AFP “não provoca destruição da poupança interna, não gera desequilíbrios fiscais, baixa nos primeiros cinco anos de sua implementação o gasto público em mais de 1%, não reduz as economias acumuladas individualmente, mas complementa esta poupança e o mais importante: permite de forma gradual num prazo de cinco anos estabelecer uma aposentadoria base, universal, de um salário mínimo”.
Isso é muito importante, esclareceu a vice-presidenta da CUT Chile, Amália Pereira, pois “após a privatização os trabalhadores se aposentam com tão somente 1/3 do último salário”.
O resultado desta situação tem se refletido no agravamento da depressão e do número de suicídios. Conforme o Estudo Estatísticas Vitais, do Ministério de Saúde e do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), entre 2010 e 2015, 936 adultos maiores de 70 anos tiraram sua própria vida. O levantamento aponta que os maiores de 80 anos apresentam as maiores taxas de suicídio – 17,7 por cada 100 mil habitantes – seguido pelos segmentos de 70 a 79 anos, com uma taxa de 15,4, contra uma taxa média nacional de 10,2. Conforme o Centro de Estudos de Velhice e Envelhecimento são índices mórbidos, que crescem ano e ano, e refletem a “mais alta taxa de suicídios da América Latina”.
*Leonardo Wexell Severo é colaborador da Diálogos do Sul
http://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/america-latina/55565/chilenos-exigem-reajuste-nas-aposentadorias-e-fim-do-sistema-de-capitalizacao


Reforma da Previdência: “lucro acima de todos”
Vilson Romero - Foto: Igor Sperotto
“Um orçamento que movimenta mais de R$ 1 trilhão ao ano, se considerarmos INSS, os Regimes Próprios de União, estados, DF e municípios, mais o sistema dos militares, com certeza, é ambicionado pelas corporações financeiras nacionais e estrangeiras”

Por Gilson Camargo – EXTRA CLASSE 
O projeto de reforma da Previdência – proposta de Emenda Constitucional (PEC) 6/2019 –, que tramita na Câmara dos Deputados desde o início de fevereiro, representa uma implosão do sistema previdenciário público e solidário em vigor no país desde a década de 1920 e consolidada pela Constituição de 1988.
Ao retirar do contexto constitucional as garantias de proteção social, a reforma que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da economia Paulo Guedes tentam aprovar a qualquer custo – com ameaças, chantagens e verbas – coloca os trabalhadores sob uma insegurança jurídica sem precedentes, à mercê da instabilidade política. E ao impor um sistema de capitalização que acaba com o atual sistema tripartite e solidário, a proposta atende aos interesses do sistema financeiro.
“Um orçamento que movimenta mais de R$ 1 trilhão ao ano, se considerarmos INSS, os Regimes Próprios de União, estados, DF e municípios, mais o sistema dos militares, com certeza, é ambicionado pelas corporações financeiras nacionais e estrangeiras”, avalia o jornalista e auditor fiscal aposentado Vilson Romero, da coordenação da Frente Gaúcha em Defesa da Previdência.
Romero, que participou do Sinpro/RS Debate que o Sindicato dos Professores promoveu neste sábado, 30 de março, no Hotel Embaixador (Rua Jerônimo Coelho, 354), em Porto Alegre, foi um dos proponentes do Congresso Nacional da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social quando presidiu a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) de 2015 a 2017, atualmente é um dos coordenadores dos Estudos Socioeconômicos da Anfip e integra o Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa e a direção da Associação Gaúcha dos Auditores Fiscais da Receita Federal. “O governo, ao querer direcionar as alternativas de renda ao fim da vida laborativa para serem geridas por bancos e financeiras, merece um novo lema”, ironiza ele nesta entrevista.
Extra Classe – Em que aspectos a proposta de reforma da Previdência desarticula a estrutura de proteção social dos brasileiros instituída pela Constituição de 1988? Vilson Romero – Entendo que o termo correto nem seria “desarticula” e sim “desmonta”, “implode” a Previdência Social pública e solidária construída a partir de 1923, mas consolidada no Estado do Bem-estar Social tupiniquim com a instituição do Sistema de Seguridade Social, trazido pela Constituição Cidadã de 1988. E a destruição de tão relevante instrumento de redistribuição de renda ocorre, em especial, por duas medidas trazidas por esta proposta de emenda: a desconstitucionalização e a abertura para a capitalização.
EC – Por que é importante o regramento constitucional do sistema de Seguridade? Romero – É fundamental que as garantias de proteção social estejam inseridas no texto constitucional, senão o livre arbítrio de estabelecimento de parâmetros ao bel prazer do inquilino do Palácio do Planalto, por legislação complementar, aprovável por quórum da metade mais um dos membros do Congresso, trará insegurança jurídica sem precedentes na recente história nacional.
EC – Quais são as consequências para os trabalhadores? Romero – Se prosperarem as mudanças, com a indesejada promulgação da Emenda Constitucional, nos termos apresentados, os trabalhadores da iniciativa privada e do serviço público viverão com uma “espada sobre suas cabeças”, sempre sob a ameaça de mudanças de regras de concessão, com novas idades, novas carências, novos valores e novas exigências podendo surgir a qualquer momento.
EC – Um dos argumentos em defesa da reforma é insustentabilidade do sistema. O propalado “déficit da Previdência” procede? Romero – Se considerarmos os ditames constitucionais de que a Previdência Social está inserida no Orçamento da Seguridades Social, tivemos desde 2005 a 2017 superávit anual médio de mais de R$ 43 bilhões, mesmo considerando as dificuldades econômicas ocorridas em 2016 e 2017.
EC – Então por que o governo sustenta que o sistema seria deficitário e qual é a conta correta? Romero – Porque o governo teima em fazer uma “contabilidade criativa” dando uma “pedalada” na Constituição Federal. No artigo 194 da CF está escrito “a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.” E no artigo 195, há o complemento: “a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das (…) contribuições sociais (Cofins, CSLL, sobre a folha, concurso de prognósticos e PIS/Pasep)”. Portanto, não há que se falar em déficit num sistema bancado pela sociedade como um todo.
EC – A ideia do déficit – amplamente difundida pela imprensa – desconsidera a complexidade do sistema previdenciário? Romero – Há um conjuntural desequilíbrio nas contas, em razão da crise econômica que vivemos com dois anos de queda do PIB (2015/2016) e dois outros de crescimento pífio (2017/2018), recrudescimento da economia informal, desemprego ou subemprego crescente, elevadas desonerações tributárias, com índices de sonegação e fraudes sem controle, além de um volume de dívida ativa previdenciária sem precedentes.
EC – Quais são as inconsistências do modelo de projeção atuarial que o governo faz para argumentar que o sistema entraria em colapso em 2060? Romero – A Anfip contratou uma equipe de economistas e atuários para analisar as projeções que o governo apresenta a cada ano quando do envio do Orçamento ao Congresso Nacional. O estudo resultou na publicação “A Previdência Social em 2060: as inconsistências do modelo de projeção atuarial do governo brasileiro”, na qual os estudiosos comprovam a insubsistência das projeções e estudos que são apresentados anualmente.
EC – O sistema precisa de uma reforma? Qual seria a alternativa? Romero – Com certeza, precisamos aperfeiçoar a Previdência, tendo em conta a evolução demográfica, as condições de vida da população, mas não promovendo rupturas, nem alterações draconianas que satanizem os trabalhadores de quaisquer setores. Sabemos e temos diversas propostas, junto com movimentos sociais e, inclusive aprovadas na CPI da Previdência, no lado do financiamento, com eliminação de desvios, de ralos por onde se esvai o sagrado dinheiro da aposentadoria.
EC – O modelo de reforma que o governo brasileiro quer implementar é uma derivação do que foi adotado no Chile sob a ditadura Pinochet, com a colaboração dos Chicago Boys, dos quais o ministro Paulo Guedes é seguidor. Cabe a comparação? Romero – Com absoluta certeza, a inspiração maior é o modelo implantado sob o “tacão” da ditadura do general Augusto Pinochet, no início da década de 80. Naquela época “menina dos olhos dos liberais”, o Chile colocou em prática algo que só existia na teoria: cada trabalhador passou a constituir sua própria poupança, depositando 10% de sua renda em uma conta individual, em vez de ir para um fundo coletivo. O dinheiro da “futura aposentadoria” passou a ser gerido pelas Administradoras de Fundo de Pensão (AFP).
EC – A promessa de aposentadoria com 70% dos rendimentos não se concretizou e atualmente a maioria dos aposentados vive com menos de metade do que recebia na ativa. O que deu errado no caso chileno? Romero – Deu errado, primeiro, uma regra simples do mercado financeiro. Quando há compra (procura) de investimentos, com aplicadores numerosos, esses investimentos (sejam títulos públicos, imóveis ou ações de empresas) se valorizam. Ao serem geridos, ao longo de décadas, se não há crescimento econômico ou valorização de ativos, eles têm seu valor mantido ou em queda. E esta queda se acentua quando, em razão das aposentadorias, há uma liquidação (venda) desses ativos, na busca de liquidez para garantir aposentadorias passados mais de 30 anos do início das aplicações. Um outro fato é que talvez não tenha sido dosada corretamente e atuarialmente embasada a percentagem da renda a ser aplicada, pois, descontadas as elevadas taxas de administração das AFPs, pouco sobrou para os trabalhadores chilenos que hoje, aposentados, penam pelas esquinas, dormem sob viadutos e pontes ou se suicidam, pela vergonha de não conseguir se manter e aos seus.
EC – O que está em jogo é o orçamento da Previdência? A quem interessa a reforma e o sistema de capitalização pretendidos pelo governo? Romero – Um orçamento que movimenta mais de R$ 1 trilhão ao ano, se considerarmos INSS, os Regimes Próprios de União, estados, DF e municípios, mais o sistema dos militares, com certeza, é ambicionado pelas corporações financeiras nacionais e estrangeiras. E, em particular, ao pretender direcionar todas as alternativas de alguma renda ao fim da vida laborativa para serem geridas por bancos e financeiras, abre-se uma janela de “oportunidade enorme”, onde podemos aplicar um novo lema para o atual governo: “Bancos acima de tudo e lucro acima de todos”.
EC – No Brasil, no governo de Dilma Rousseff, foi adotado um regime híbrido de capitalização para a seguridade dos servidores federais. Romero – Na previdência complementar implementada para os servidores da União (exceto militares) e também instituída em diversos estados e municípios, a regra, apesar de haver o aporte por parte do ente público, também nos traz o incerto e o não sabido, porque a única coisa que é definida neste modelo de previdência é a contribuição. O benefício, só Deus sabe, se um dia souber, daqui a 20 ou 30 anos. O sinalizado pela PEC 6/19 é ainda muito pior porque não garante o aporte paritário do empregador, seja ele público ou privado. Ou seja, cada um por si.
EC – A resistência à reforma da Previdência vem aumentando à medida que a sociedade toma conhecimento do seu conteúdo? Romero – Com certeza, esta reforma faz com que trabalhadores da cidade e do campo, do serviço público e da iniciativa privada, homens e mulheres, trabalhem mais, paguem mais e recebam mais tarde e menos. Portanto, esclarecendo a sociedade e comparando as regras hoje vigentes e o que virá com a aprovação da reforma, mais aumenta a rejeição que já se verifica no seio dos partidos que se uniram para eleger o atual governo.
EC – O que é necessário para barrar a reforma? Romero – Com certeza, muita mobilização unificada e, se possível, unitária das entidades representativas (sindicatos, associações e movimentos sociais), esclarecimentos à sociedade com vídeos nas redes sociais, debates, seminários, painéis, audiências e atos públicos, mas acima de tudo, um trabalho articulado e de pressão sobre as bancadas federais em cada estado, em cada região em cada base eleitoral de deputados e senadores.


Em defesa da aposentadoria e dos nossos direitos!
20 de março de 2019
O QUE ESTÁ EM JOGO NA PROPOSTA DE GUEDES E BOLSONARO

Jornal O Poder Popular
Coordenação Nacional da Unidade Classista
Nos últimos anos temos assistido constantemente a uma enxurrada de notícias falsas sobre um suposto rombo da Previdência Social, propagado como algo que vai desajustar a economia e colocar em risco a manutenção do sistema de Seguridade Social. Porém, os cálculos apresentados não são baseados na realidade, além de tentarem esconder o que a CPI DA PREVIDÊNCIA provou, ou seja, a não existência desse cenário aterrador. O real motivo apontado é a intenção de se criar um mercado para a atuação de empresas privadas que desejam abocanhar os volumosos recursos dos fundos públicos.
A Previdência Social no Brasil é organizada na lógica de repartição, pela qual o trabalhador tem parte do seu benefício descontado em folha, e o dinheiro é depositado em um fundo único para manutenção das aposentadorias. Os trabalhadores têm acesso ao seu direito com as regras vigentes após chegar ao tempo de contribuição e à idade mínima. O que acontece de fato é um pacto geracional, onde o trabalhador da ativa financia os aposentados de hoje em um ciclo que garante a manutenção desse direito.
As fontes de recolhimento financeiro para a Seguridade Social são: 1º – o desconto em folha do trabalhador; 2º – a contribuição do empregador; 3º – o governo complementa o valor através de alguns impostos criados exatamente para essa finalidade como o CONFINS, PIS/PASEP, PSLL e os jogos de loterias. Isto garantiu que até hoje a Previdência Social fosse superavitária (quer dizer, arrecada e tem dinheiro em caixa sobrando).
Todos esses tributos estão vinculados ao Sistema de Seguridade Social, exatamente com o objetivo de manter tudo funcionando de forma universal (para todas as pessoas). Porém, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), foi criada a DRU (Desvinculação das Receitas da União), permitindo que parte dessa receita fosse aplicada da forma que o presidente decidisse.
FHC estabeleceu que o valor de retirada da DRU fosse de até 20% da receita geral. Em 2016, Michel Temer aumentou o percentual para 30%. Só em 2017 o governo Temer retirou 113 bilhões de reais do fundo de financiamento da Previdência Social, para pagar juros e amortizações da dívida pública, que nunca foi auditada.
QUEREM QUE OS TRABALHADORES PAGUEM A CONTA
O governo Bolsonaro está tentando aprovar uma proposta antipopular e esconde a fórmula real dos cálculos. O “rombo” que o governo tenta fazer você acreditar é de 230 bilhões de reais, mas a dívida das 50 maiores empresas sonegadoras da previdência chega a 450 bilhões. Querem que trabalhadores e trabalhadoras paguem pela crise, beneficiando setores que vão lucrar com o sistema de capitalização da aposentadoria.
O governo quer obrigar que trabalhemos mais tempo para conseguir a aposentadoria (homens aos 65 anos e mulheres aos 62). Não mais haverá aposentadoria por tempo de contribuição, e o mínimo permitido para garantir esse direito é de 25 anos de arrecadação. Fica proibido o acúmulo de benefícios e cortam-se pela metade as pensões por morte. A aposentadoria será desvinculada do reajuste do salário mínimo, prevendo-se apenas um aumento de 10% por dependente no caso de falecimento.
Os trabalhadores que continuarem em atividade após a aposentadoria não vão mais acessar o FGTS, além de não terem mais direito ao pagamento da multa rescisória de 40% do Fundo de Garantia. Os trabalhadores que sofrerem algum acidente de trabalho e se tornarem incapacitados para o exercício profissional, com a nova regra não vão receber o salário integral, mas apenas 60% + 2% ao ano de contribuição que exceder 20 anos X a média dos salários de contribuição. As pessoas em situação de risco ou de miserabilidade receberão irrisórios R$ 400 reais a partir dos 65 anos e 1 salário mínimo a partir dos 70 anos.
É necessária a mais ampla mobilização da classe trabalhadora para barrar esse pacote de maldades.
Neste dia 22/03, sexta-feira, a Unidade Classista convoca todos a participar das mobilizações, protestos, paralisações e todo tipo de manifestação unitária contra a Reforma da Previdência em todos os cantos do Brasil, conforme chamado feito pelas centrais sindicais e movimentos populares.
EM DEFESA DA APOSENTADORIA! CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA DE BOLSONARO E GUEDES!
NENHUM DIREITO A MENOS! RUMO À GREVE GERAL!
 22/03: Mobilização nacional contra a reforma da previdência! RUMO À GREVE GERAL!
Oposição ao governo Bolsonaro e luta em defesa dos direitos e das liberdades democráticas: tarefas imediatas da classe trabalhadora

Nota Política do PCB
O desenvolvimento do quadro político no Brasil, principalmente a partir de 2013, está relacionado à evolução recente da crise estrutural do capitalismo, agravada pelos efeitos da crise econômica deflagrada a partir de 2008, cujos efeitos ainda se fazem sentir, principalmente na Europa, nos Estados Unidos e em muitos países do mundo. Reafirmam-se as tendências de concentração e centralização do capital que, reforçadas com a constante introdução de inovações tecnológicas na produção, tendem a eliminar mais e mais postos de trabalho e aumentar a barbárie social em todos os aspectos.
Essas características da situação atual do capitalismo geram uma crise na fachada democrática do Estado burguês e na sociabilidade burguesa. A ascensão da direita, da extrema direita e do neofascismo nas ruas e em parlamentos e governos e a radicalização das políticas liberais, em muitos países, promovem mais repressão política, destruição de direitos, intensa precarização das relações de trabalho, privatizações e mais rapinagem internacional dos monopólios capitalistas sobre os povos e as nações. São consequências desse processo o aprofundamento da fragmentação da classe trabalhadora, a maior alienação e a manipulação do senso comum como formas de ampliação da dominação capitalista, assim como o aumento da repressão política do Estado aos movimentos sociais, a disseminação da intolerância e a perseguição a imigrantes, indígenas, negros, negras e LGBTIs.
O governo Bolsonaro vem enfrentando um crescente desgaste junto à opinião pública brasileira e no plano internacional. As denúncias de envolvimento de membros do governo em esquemas de corrupção, como o ministro de Turismo, as muitas indicações de candidatos “laranjas” do PSL, a retirada de apoio por parte de determinados mentores de sua campanha, as postagens e falas absurdas nas redes sociais e entrevistas à imprensa contribuem para provocar alguns desarranjos nas hostes governistas. Somam-se a esses desgastes as cada vez mais evidentes suspeitas de envolvimento do clã Bolsonaro com grupos milicianos, de onde saíram os responsáveis diretos pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
No plano internacional, além da fala insuficiente e superficial e mesmo do silêncio constrangedor que caracterizou a participação brasileira no Fórum de Davos, os pronunciamentos sobre Venezuela, Israel e China geraram insatisfações em importantes bases de apoio do governo, como o setor exportador e o agronegócio. O governo apresenta dificuldades para estruturar as ações no campo da institucionalidade burguesa e no interior do aparato do Estado, vendo-se obrigado a negar na prática a promessa de campanha de que governaria de modo diferente, repetindo os velhos hábitos corruptíveis de alianças com o Congresso na base do “toma-lá da-cá” e no loteamento de cargos públicos.
Em consequência deste quadro de contradições internas e dificuldades na condução da máquina estatal, as forças militares de direita assumem, cada vez mais, posições de destaque no governo, com Mourão adotando postura mais protagonista nas declarações políticas, desautorizando, entre outros, os ministros das Relações Exteriores e da Educação. Houve significativos recuos do governo nas posições externadas sobre diversos temas. O presidente demonstra extremo despreparo político e mesmo psicológico para o exercício da função.
O governo é, em síntese, de extrema direita, numa composição de forças heterogêneas, com hegemonia das frações burguesas ligadas ao capital financeiro e ao agronegócio. Na sua base social estão movimentos e indivíduos simpatizantes de ideias fascistas e grupos ultraconservadores das igrejas neopentecostais. Alguns desses grupos se utilizam de métodos violentos de ação direta, como agressões físicas e verbais a militantes políticos e ativistas sociais.
As pautas conservadoras – externadas centralmente pelo clã Bolsonaro e figuras como Damares e os ministros da Educação e das Relações Exteriores – são funcionais ao capital, pois servem para desqualificar as lutas contra as opressões, com vistas a justificar a mais intensa exploração capitalista sobre os pobres, as mulheres, negros e negras e LGBTIs. Essas pautas atendem também a demandas de bases sociais do governo consolidadas na campanha eleitoral e ainda servem para justificar medidas como a privatização das escolas e universidades públicas e dos institutos federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Mas o núcleo central do governo está nos Ministérios da Economia e da Justiça, com Paulo Guedes determinado a aplicar com mais radicalidade a política neoliberal, por meio das contrarreformas – com destaque para a da Previdência -, que interessam ao capital transnacional. Moro está incumbido de criar os meios legais para controlar a reação popular a este projeto, com a criminalização dos movimentos sociais, a imposição de mais dificuldades para o funcionamento dos sindicatos e a ampliação da repressão policial. O projeto fundamental é o assalto ao fundo público e a transferência dos R$ 650 bilhões ao capital privado. O governo atua no campo da institucionalidade burguesa, mas pode recorrer à quebra dessa institucionalidade, caso seja necessário.
Há contradições no interior da classe dominante, expressas principalmente nas posições de setores da burguesia industrial e produtiva, descontentes com a política econômica de favorecimento ao capital internacional, que vem levando à desindustrialização progressiva do Brasil e à reprimarização da nossa economia. Há também contradições significativas com segmentos da sociedade que votaram em Bolsonaro por conta de insatisfações gerais e de um sentimento “antipetista”, formado, principalmente, pela identificação do PT com a corrupção sistêmica. Essas contradições, entretanto, se superam quando se trata de unir a burguesia para apoiar os ataques contra os direitos dos trabalhadores e as contrarreformas.
As insatisfações de diversos setores sociais vêm desembocando, em grande medida, em denúncias e manifestações contrárias ao governo nas mídias alternativas e em parte da grande mídia. Muitos protestos foram registrados ao longo do carnaval, em manifestações individuais e em blocos, escolas de samba, incluindo enredos de protesto. Foi muito significativa a celebração do 8 de Março, com manifestações massivas em todas as cidades brasileiras. Protestos e greves de trabalhadores começam a eclodir, envolvendo várias categorias.
O centro da luta política, em torno do qual devem se unificar as forças progressistas e os movimentos sociais em resistência, é a contrarreforma da Previdência. Nesse foco devem ser concentradas as ações dos partidos de esquerda, dos movimentos sociais e das entidades de classe, na construção de uma forte base de oposição ao Governo Bolsonaro, para a unificação de um poderoso movimento sindical e popular que seja capaz de preparar a GREVE GERAL e barrar os ataques do capital aos direitos sociais.
É necessária e premente a construção da mais ampla unidade de ação com todas as forças que se opõem ao Governo Bolsonaro e à direita no Brasil. Devemos fortalecer, prioritariamente – participando ativamente de sua estruturação nos estados -, o Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas, criado em São Paulo, em fevereiro, com a participação de vários sindicatos de trabalhadores e inúmeras entidades de massa.
Neste momento é essencial reforçar as mobilizações contra a Reforma da Previdência, em conjunto com outras lutas, como a defesa do SUS, da Educação e do patrimônio público e da soberania nacional. Para isso, devemos de imediato participar intensamente da organização e dos eventos programados em todo o país pelas centrais sindicais e movimentos sociais para o Dia Nacional de Luta, na próxima sexta-feira, dia 22/03.
Em defesa dos direitos e das liberdades democráticas! Construir a Greve Geral para derrotar a Contrarreforma da Previdência! Pelo Poder Popular e pelo Socialismo!
Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro – PCB
 Banqueiros são os maiores defensores da Reforma da Previdência

Por  MARIA LUCIA FATTORELLI

A proposta de Reforma da Previdência apresentada por Bolsonaro ao Congresso representa a destruição do regime de solidariedade que foi aprovado por unanimidade pelos constituintes de 1988.
As principais justificativas para tal destruição é a falácia do déficit e a longevidade da população, argumentos que já foram completamente desmontados, mas que precisamos repetir. O governo também fala em combate a privilégios. Vamos falar disso também.
Para começo de conversa, sequer se deveria falar em déficit da Previdência, como se não fosse obrigação do Estado garantir o direito sagrado a uma aposentadoria digna para a classe trabalhadora, que de fato é a que produz a riqueza real do país; produz todos os bens e serviços colocados à disposição da população; alimenta todas as famílias; garante a própria vida da população e movimenta a economia do país.
Mas se querem falar em números, vamos lá. Historicamente, as contribuições sociais previstas na Constituição Federal (COFINS; CSLL; PIS; contribuição ao INSS pagas por trabalhadores e empregadores; sobre produção rural; importações; loterias etc.) foram mais que suficientes para cobrir toda a despesa da Seguridade Social (que engloba a Previdência, a Saúde e a Assistência Social) e ainda sobraram recursos que foram destinados para outros fins, em especial para o pagamento de juros da chamada dívida pública.
A partir de 2015 houve uma queda brutal da arrecadação das contribuições sociais, devido à “crise” que levou milhares de empresas de todos os setores à falência, provocou desemprego recorde e paralisação da economia brasileira. Nesse cenário de “crise”, o governo ainda concedeu diversas desonerações fiscais e liberou diversos setores de contribuir para a Seguridade Social, afetando ainda mais a arrecadação.
Portanto, a insuficiência de contribuições sociais não se deve a um problema no modelo de Previdência Social solidária, mas sim à “crise”, que no caso brasileiro foi fabricada pela política monetária do Banco Central[1], que quebrou inúmeras empresas, provocou desemprego recorde e derrubou o PIB. Empresas quebradas, desempregados e informais não contribuem para a Previdência. Esse é o problema, e não a longevidade das pessoas ou a solidariedade do modelo.
Ademais, ainda que as contribuições sociais passassem a não ser suficientes para assegurar os direitos sociais, a própria Constituição já previu (Art. 195) que recursos do orçamento fiscal de todos os entes federados (União, Estados, DF e Municípios) também são responsáveis pela manutenção da Seguridade Social, juntamente com as contribuições sociais.
Tudo isso está sendo destruído por essa PEC 6/2019, que cria um regime de capitalização que não oferece garantia alguma de qualquer pagamento de benefício futuro aos trabalhadores e trabalhadoras que terão que pagar uma contribuição definida durante décadas, porém, o benefício dependerá do comportamento do mercado, e pode ser zero ou negativo: em vez de receber benefício o trabalhador pode ser chamado a aportar recursos ao fundo de capitalização. Quem vai ganhar com isso? Somente as instituições financeiras que administrarão os fundos de capitalização e receberão as contribuições, sem responsabilidade alguma com o pagamento de benefício futuro.
Mas vamos falar de privilégio. O que o governo e a grande mídia chamam de privilegiados são os servidores públicos que aceitaram um contrato de trabalho oferecido unilateralmente pelo próprio governo, passaram em um concurso público, e durante toda a sua vida laboral pagaram contribuição previdenciária calculada sobre o vencimento bruto e, mesmo depois de aposentados continuam pagando contribuição previdenciária de 11% (ou mais) sobre o provento bruto. Ou seja, os privilegiados seriam aqueles que recebem aposentadoria acima do teto do INSS (atualmente em R$ 5.839,45), porque contribuíram nessa proporção e ainda continuam contribuindo até a morte. Além de pagar cerca de 11% (ou mais) de contribuição previdenciária, estão na faixa de 27,5% de imposto de renda da pessoa física, de tal forma que cerca de 40% do que recebem é tributo pago na fonte e nem irá para as mãos destes que estão sendo acusados de privilegiados.
Na verdade, o grande privilegiado no Brasil é o mercado financeiro, que ganhou mais de meio trilhão com a “crise” produzida pela política monetária do Banco Central e ganhará mais ainda com essa PEC 6/2019.
Os bancos ganharam R$526 bilhões (quinhentos e vinte e seis bilhões de reais) com a remuneração de sua sobra de caixa pelo Banco Central nos últimos 5 anos! Ganharam outras centenas de bilhões com os juros exorbitantes também definidos pelo Banco Central, e com os sigilosos contratos de swap cambial. Aí é que está o privilégio obscuro, sigiloso, que beneficiou os bancos enquanto quebrava a economia brasileira e criava a crise que está servindo de justificativa para a destruição da Previdência Social e para a entrega brutal de patrimônio por meio das privatizações de empresas estratégicas e lucrativas, como a Eletrobras, Petrobras etc.
O mercado tem tanta certeza de seus ganhos com a PEC 6/2019 que a Bolsa de Valores, que bateu recorde histórico diante da simples notícia, em 14/01/2019, sobre o avanço da proposta que seria entregue por Bolsonaro ao Congresso .
Além dos bancos, as pessoas físicas privilegiadas deste país não são servidores públicos aposentados que deixam cerca de 40% de seus ganhos nas mãos do governo, mas sim aquelas que têm renda mensal elevadíssima, e a maioria dos rendimentos que recebem são isentos, ou seja, não entregam praticamente nada ao governo.
Vejam a tabela a seguir, parte da tabela 9 (disponível no link ), que mostra as faixas de renda, em números de salários mínimos, a quantidade de declarantes e o respectivo valor (em milhões de Reais) do rendimento tributado, tributado exclusivamente na fonte e isento. Mostra também o valor da contribuição previdenciária paga:

É escandaloso o fato de existirem 25.785 pessoas que em 2016 (dado mais recente divulgado pela Receita Federal) tiveram renda mensal superior a 320 salários mínimos, dos quais a maior parte foi ISENTA, ou seja, não pagaram imposto de renda nem contribuição previdenciária! Estes são os que estão favoráveis à PEC 6/2019. Outras pessoas que defendem essa destruição da Seguridade com certeza desconhecem os dados e estão embarcando em falsas propagandas.
Não podemos permitir qualquer reforma da Seguridade Social sem debate amplo, honesto, que leve em conta o fato de que historicamente a Previdência Social pública e solidária tem sido superavitária e que, momentaneamente, estamos no auge das consequências nocivas da crise fabricada pela política monetária (esta sim, que precisa ser reformada urgentemente) do Banco Central, que ainda quer ficar “independente” para entregar de vez ao mercado os destinos das finanças do país.
Publicado em 13 de março de 2019





PEC da Previdência: só os bancos ganham


Juca Guimarães
Brasil de Fato
Patrícia Pelatieri, do DIEESE, critica as bases da reforma da Previdência proposta por Bolsonaro (PSL) / Fetquim/Divulgação
A coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri, analisou todos os pontos da Proposta de Emenda Constitucional nº 6/2019, do governo Jair Bolsonaro (PSL), que altera o sistema previdenciário brasileiro. A elaboração da proposta foi supervisionada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, defensor da política neoliberal e favorável à atuação dos bancos e empresas privadas com a menor regulamentação estatal possível.
Pelatieri considera que a proposta de Guedes e Bolsonaro representa uma mudança muito mais radical que a reforma discutida no governo Michel Temer (MDB) – que já era vista com bons olhos pelo mercado financeiro. “É uma reforma estrutural, porque introduz a possibilidade da criação de um sistema de capitalização individual. Ela introduz isso nos dispositivos constitucionais e joga para uma regulamentação via projeto de lei. Isso é bastante grave, uma vez que a Constituição de 1988 tem um capítulo inteiro, que é o capítulo terceiro, que trata da construção da política de proteção social. Ou seja, é o capítulo da Seguridade Social: um tripé com Previdência, Saúde e Assistência Social”, ressalta Patrícia.
Na prática, a pesquisadora interpreta que Bolsonaro fez uma reforma constitucional sem uma Assembleia Constituinte – o que fere um dos princípios fundamentais da democracia. “Ele trata a maior política de proteção social como um problema fiscal, como um problema de despesa – porque é disso que se trata a proposta de reforma. Você não vai esperar que esse Estado sustente uma Previdência Social sozinho [durante o período de transição entre os dois modelos], uma vez que você não teria mais o aporte de quem está no mercado de trabalho [para financiar as aposentadorias a serem pagas]”, analisa.
“Então, significa caminhar para o fim deste sistema de proteção e jogar para a individualidade: o indíviduo que tiver a capacidade contributiva vai fazer a sua poupança para a velhice, com uma série de riscos. E aí, a gente tem vários exemplos paras citar do sistema de capitalização individual e que não deram certo. Não foi só no Chile”, ressalta. “Há vários países que fizeram essa transição sem segurança nenhuma. Você privatiza um fundo público bilionário e coloca nas mãos do sistema financeiro para gerenciar da forma como eles bem entenderem”, enfatiza Pelatieri.
Confira os melhores momentos da entrevista:
Brasil de Fato: O que está por trás da proposta e o que ela muda em relação as regras atuais?
Patrícia Pelatieri: Essa reforma de critérios dificulta o acesso [à aposentadoria] porque combina duas exigências. Hoje, você pode se aposentar por idade, por tempo de contribuição ou por invalidez, em caso de acidente ou doença. No caso da idade, além de chegar à idade de 60 anos, a mulher, e 65 anos, o homem, é preciso comprovar 15 anos de contribuição. Já é bastante difícil para boa parte dos trabalhadores e, principalmente, das trabalhadoras, que têm uma vida laboral menos estável, com entradas e saídas no mercado de trabalho
Também é possível se aposentar por tempo de contribuição. Os trabalhadores que têm uma condição melhor, uma vida laboral mais estável, conseguem comprovar, no caso de homens, 35 anos, e no caso das mulheres, 30 anos, e sem idade mínima para isso.
Desde que foi aprovada a regra do fator 85/95, em 2015, que hoje está em 86/96, vale uma combinação entre a idade e o tempo de contribuição. Ou seja, consegue comprovar esse tempo quem começou a trabalhar muito cedo e teve a sorte de estar em trabalhos formais, que tem a contribuição.
A proposta da PEC é juntar esses dois critérios elevando o grau de dificuldade. De cara, aumenta a idade mínima, só que tem que combinar 20 anos de contribuição. Isso vai excluir uma parte significativa dos trabalhadores que são mais vulneráveis. Estamos falando de negros, mulheres e empregados domésticos.
Quais os outros elementos dessa reforma que prejudicam o trabalhador?
A regra [da PEC da Previdência] mexe no valor, sem regra de transição, do cálculo. Hoje, o cálculo do INSS para aposentadoria pega todas as contribuições do trabalhador feitas de 1994 para cá, ou desde que ele começou a trabalhar, tira 20% das menores contribuições e faz a média sobre as maiores contribuições. E o trabalhador tem direito a receber essa média na aposentadoria por tempo de contribuição. No caso da aposentadoria por idade, o trabalhador tem direito a 95% dessa média.
O que o governo fez na proposta é estabelecer que, ao atingir as exigências, você tem direito a 60% de uma média já rebaixada, porque a proposta é fazer uma média simples de todas as contribuições, do começo do trabalho até a aposentadoria [sem descartar os valores mais baixos]. Aí, comprovando a idade e os 20 anos de contribuição, o governo vai pagar só 60%. Se você quiser receber 100% da média rebaixada, terá que comprovar mais 20 anos, o que soma 40 anos de contribuição.
O governo diz que a reforma acaba com os privilégios. Você concorda?
Com essa proposta, pobres e ricos não estarão aposentando com a mesma idade, ao contrário do que eles dizem. Ela não é uma proposta que acaba com os privilégios.
Primeiro, a gente tem que estabelecer o que são privilégios. O 1% da população, que são os mais ricos, está fora – porque não há nenhuma proposta de tributação desses bilionários para contribuir e equilibrar a arrecadação pública. Então, os privilegiados continuam privilegiados. Considerando que, entre os trabalhadores, você tem alguns ‘mais privilegiados’, podemos dizer que os militares estão fora. Então, todos os grandes salários dos generais estão fora. Tem lá uma promessa de que venha uma proposta, mas não veio junto com essa.
Também tem a questão dos casos eletivos [os políticos], mas é a partir dali para frente, então todos os políticos dessa geração aí estão garantidos [em seus privilégios]. No caso dos altos salários, do serviço público federal, que são uma minoria, tirando talvez os juízes estaduais, os demais todos ganham abaixo do teto do INSS.
Então, quem é que ganha com essa proposta de capitalização?
O sistema todo está em risco ao se introduzir a possibilidade da quebra de um pacto entre gerações. Ou seja, quem está na ativa hoje sustenta quem está aposentado. Quem é que vai sustentar esses milhões de trabalhadores e trabalhadoras que estão hoje aposentados? Também quem vai se aposentar no futuro, se esse sistema for substituído pelo sistema de capitalização, como é o desejo do ministro Paulo Guedes.
Os grandes favorecidos são os bancos, que vão colocar a mão por décadas nesse fundo bilionário. No Chile, as seis instituições que fizeram o modelo de capitalização lucraram bilhões, enquanto a aposentadoria dos trabalhadores ficou muito abaixo do esperado.
https://www.brasildefato.com.br/2019/02/25/pesquisadora-do-dieese-explica-por-que-so-os-bancos-ganham-com-a-pec-da-previdencia/
Edição: Pedro Ribeiro Nogueira


Não à reforma da Previdência de Bolsonaro!










Por Tiago Pereira
REDE BRASIL ATUAL
São Paulo – Trabalhadores de diversas categorias e representantes sindicais de todo o estado de São Paulo e de diversas regiões do país disseram não à proposta de reforma da Previdência do governo Bolsonaro. Oito das principais centrais do Brasil – CUT, CGTB, CTB, CSB, CSP-Conlutas, Força Sindical, Intersindical e Nova Central – destacaram a unidade para enfrentar a tentativa de “destruição” do sistema público de aposentadorias e sinalizaram para a construção de uma nova greve geral, para novamente derrotar as mudanças pretendidas, como foi em 2017, durante o governo Temer.
A Assembleia Nacional realizada na manhã desta quarta-feira (20) – mesmo dia e hora em que o presidente entregava o projeto que altera as regras para aposentadoria ao Congresso -, reuniu milhares de trabalhadores na Praça da Sé, em São Paulo. Os organizadores estimaram em 10 mil pessoas participando da mobilização.
O projeto do governo pretende aumentar a idade mínima de aposentadoria para 62 anos para mulheres e 65 anos, para homens, além de criar um sistema de capitalização privada para a população financiar a própria aposentadoria. A proposta inclui ainda um tempo mínimo de contribuição de 20 anos ao INSS.
Os sindicalistas reafirmaram que a proposta do governo afeta a todos os trabalhadores –, os que já entraram no mercado de trabalho, os que já estão aposentados e os que ainda nem começaram a trabalhar –, e que não vão aceitar a retirada de direitos. Assim como as mudanças agora propostas nas aposentadorias, os representantes sindicais também lembraram que o governo Bolsonaro acabou com o ministério do Trabalho e ameaça ainda a existência da Justiça trabalhista.
A saída, segundo as centrais, é mobilizar as bases contra a campanha de desinformação do governo e da mídia, que quer jogar servidores públicos contra os trabalhadores da iniciativa privada, com o suposto argumento de que a “nova previdência” vem para combater privilégios.
“Hoje o que o Bolsonaro quis fazer, mas nós não vamos deixar, é acabar com a Previdência no Brasil”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas, que destacou que a dita “reforma” não altera apenas as regras de acesso às aposentadorias, mas fragiliza também as bases de todo o sistema da Assistência Social, responsável pelo pagamento de direitos como auxílio-saúde e pensão por invalidez, dentre outros.
Ele também frisou que, ao restringir o acesso às aposentadorias, o governo Bolsonaro fragiliza a economia da maioria esmagadora dos municípios com menos de 100 mil habitantes em todo o país, que depende da renda dos aposentados. Freitas também manifestou que duvida de que o governo tenha os alegados 308 votos para fazer passar na Câmara a sua proposta de reforma, e disse que a CUT e as demais centrais vão pressionar os deputados a derrubarem a proposta. “No final, vai ser a greve. Não vamos permitir acabarem com a previdência sem derramar a última gota do nosso sangue. A classe trabalhadora não baixa a cabeça para a repressão”, afirmou.
Por sua vez, o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, destacou a unidade das centrais como “momento único da classe trabalhadora”. “Essa reforma que foi entregue agora cedo, mostra a perversidade com que o governo Bolsonaro quer tratar a classe trabalhadora”, afirmou. Dentre as “perversividades”, segundo ele, o regime de capitalização que “retira a função pública da Previdência Social”, e também a desvinculação das aposentadorias ao salário mínimo.
Poupança privada A proposta de capitalização também foi atacada pelo presidente da CTB, Adílson Batista. ” Que façam capitalização para os que ganham mais, mas não mexam nas aposentadorias de quem mais precisa”, afirmou ele, que também defendeu radicalizar, não apenas nas palavras de ordem, mas na atuação dos sindicatos nos locais de trabalho no sentido de construir a greve geral “para garantir a previdência para o nosso povo”.
Sindicalistas e trabalhadores também classificaram o governo Bolsonaro como de “extrema-direita” e “fantoche” das forças do capital internacional, interessados em controlar os recursos das aposentadorias e alertaram para a escalada repressiva de um “Estado policial militar”. Escândalos de corrupção foram lembrados como sinais de “fraqueza do atual governo”, como o “laranjal do PSL”, que culminou com a demissão do ex-ministro da secretaria-geral da Presidência Gustavo Bebianno.
Durante a assembleia, foi destacada a luta dos servidores públicos da cidade de São Paulo, em greve contra mudanças nas aposentadorias pretendidas pela gestão do governo Bruno Covas (PSDB). Também manifestaram solidariedade aos trabalhadores da Ford, ameaçados de demissão, após a montadora anunciar o fechamento de fábricas no país, e lembraram o crime cometido pela mineradora Vale, em Brumadinho, a maior tragédia trabalhista da história do país.
Ao meio-dia, com sol forte, calor intenso e a Praça da Sé praticamente lotada, os movimentos sociais do campo e urbanos também manifestaram apoio aos trabalhadores contra a reforma da Previdência. “Quem não está aqui hoje é porque não está com a classe trabalhadora brasileira”, afirmou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Paulo Rodrigues, falando também em nome da Frente Brasil Popular.
‘Organizar a greve geral’ era uma das palavras de ordem
“Não é reforma, é demolição” afirmou a professora Silvia Farraro, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e da Frente Povo Sem Medo. “Não queremos negociação, precisamos derrubar essa proposta de reforma, e vamos começar tomando às ruas no 8 de março”, data que celebra o Dia Internacional da Mulher, indicando uma possível data de uma greve geral para derrubar a proposta de Bolsonaro para as aposentadorias.
“Não tem arrego” e “organizar a greve geral” eram os gritos de ordem entoados pelos trabalhadores presentes. Para Veronica Lima, 39 anos, bancária de Belo Horizonte que veio a São Paulo para participar da assembleia, a proposta de reforma interessa apenas ao setor financeiro. “O projeto nem passou e os gerentes já estão pressionando pra gente vender títulos de previdência privada. Como é que a gente vai trabalhar até os 62 anos aguentando essa pressão por metas todo dia?”.
Já o professor Vanderlei Cordeiro, de 44 anos, que atua na rede estadual do Ceará, e viajou cerca de dois dias e meio de Fortaleza até São Paulo, fez um desafio aos parlamentares que pretendem votar a favor da reforma proposta pelo governo Bolsonaro: “Tem que chamar esses deputados pra ver se eles aguentam uma semana numa sala lotada, tendo que fazer todo esforço para ensinar os nossos adolescentes. Não temos privilégio. Privilégio quem tem são eles, com um monte de assessor laranja.”
Publicado em 20.02.2019
https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2019/02/trabalhadores-unificados-dizem-nao-a-reforma-da-previdencia-do-governo-bolsonaro


Para especialistas, reforma da Previdência não tem preocupação social


Por Giovanna Romano (Veja)


Proposta para nova reforma da Previdência foi entregue ao Congresso nesta quarta-feira, 20.02.2019. © Gustavo Roth (Folhapress) 

Especialistas em direito previdenciário afirmam que a proposta da reforma da Previdência, entregue pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso Nacional nesta quarta-feira, 20, tem cunho apenas econômico, sem preocupação social. “Ela foi feita puramente por economistas, foi focada no critério econômico”, analisa a presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Adriane Bramante.

O advogado especialista em direito previdenciário Erick Magalhães ressalta o ponto de Adriane e afirma que “a reforma da previdência proposta pelo Governo certamente agradou ao mercado financeiro, já que atende aos anseios econômicos” mas não é socialmente justa porque se distancia de uma realidade alcançável.

Para Magalhães, o Governo Federal não encontrou um “ponto de equilíbrio” no texto entre a expectativa de vida, o tempo de desemprego e as condições econômicas de um país subdesenvolvido e “apenas uma minoria elitizada continuará a conseguir a aposentadoria”.
Além disso, ele analisa que o texto acentuará as desigualdades sociais “já que muitas pessoas de classes econômicas de baixa renda dificilmente conseguirão cumprir com os requisitos”. Adriane, presidente do IBDP afirma que a proposta é mais dura do que a apresentada pelo governo Temer e “pega” todo mundo, “até quem está próximo da aposentadoria”.

O especialista em Direito Previdenciário João Badari afirma, também, que a proposta é mais rígida do que a anterior e aponta os problemas sociais nela. “A proposta do governo é um retrocesso social (…) Caso seja aprovada a fixação da idade mínima em 65 anos para homens e 62 para mulheres, o trabalhador terá que contribuir por cerca de 50, 40 anos até conseguir atingir o direito de se aposentar”, avalia e alega que os mais pobres serão os mais prejudicados.

Já a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em nota oficial divulgada pela assessoria, posicionou-se favorável à proposta e afirmou que “o aumento da expectativa de vida da população brasileira e a queda na taxa de natalidade, aliada ao crescente déficit na conta da previdência, tornam a reforma necessária e urgente para garantir a sustentabilidade do sistema para os futuros aposentados”.
Para a entidade, adiar a reforma “é um retrocesso para a economia brasileira, empurrando o problema para frente, uma vez que, com o envelhecimento da população brasileira, as aposentadorias futuras poderão ficar comprometidas”.

A reforma da Previdência foi o principal argumento do Planalto para o rombo que as aposentadorias causaram nas contas públicas. Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, a economia gerada pelo projeto deve ser de um trilhão de reais em dez anos.

A reforma da Previdência prevê a fixação de idade mínima para que trabalhadores da iniciativa privada e servidores públicos possam se aposentar. A proposta exige que as mulheres se aposentem após completar 62 anos de idade e os homens, 65,. O tempo mínimo de contribuição, chamado carência, também deve subir. A expectativa é que ele seja de 20 anos. Hoje, esse período é de 15 anos. As mudanças valem tanto para trabalhadores da iniciativa privada quanto para servidores públicos.

Perguntar  é um dever: E os demais contribuintes: militares; juízes; parlamentares; .... (destaque nosso)

Não existe privilégio nas aposentadorias dos trabalhadores

Economista explica que dos 30 milhões de benefícios pagos pelo Regime Geral da Previdência, 10 mil estão acima do teto.

Cláudia Motta – Rede Brasil Atual
Em 2017, os 34 milhões de aposentados com benefícios ativos no Regime Geral da Previdência Social (RGPS) receberam em média R$ 1.388. Os números deixam claro: não tem privilégio na aposentadoria dos trabalhadores. A afirmação foi feita pela economista Patrícia Pelatieri em debate realizado na sede da CUT, em São Paulo. O debate ocorre um dia depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter anunciado trechos do projeto de reforma da Previdência que o governo pretende levar ao Congresso.
“Dos 30 milhões de benefícios pagos pelo Regime Geral da Previdência, só 10 mil estão acima do teto. E mesmo assim, antigos, porque ganharam alguma coisa na Justiça”, explica a coordenadora de pesquisas do Dieese. “Quem tem vida laboral mais estável consegue contribuir por mais tempo, vai se aposentar mais cedo e se tiver profissão mais bem remunerada, conseguirá receber um valor próximo ao teto. E normalmente aqueles que se aposentam por tempo de contribuição são os que começaram a trabalhar mais cedo”, afirma. “Ou seja, o que chamam de privilégio, não tem nada de privilégio.”
O que existe de privilégio na aposentadoria, segundo e economista, está diretamente relacionado aos privilégios já existentes na ativa: algumas carreiras de servidores federais, no Judiciário, no Legislativo, além dos militares. Esses setores não foram sequer mencionados nas propostas vazadas até agora pelo governo de Jair Bolsonaro para a reforma da Previdência.
“A discussão da Previdência esquece a desigualdade da ativa, que se perpetua na aposentadoria. Juízes no Brasil ganham mais de 20 vezes a média dos trabalhadores. Nos demais países é em torno de quatro vezes mais”, informa ela.
As médias dos valores de aposentadoria no setor público em 2016 é também exemplo de distorção. Os servidores de prefeituras recebem entre R$ 2.500 e R$ 3.000. Os estaduais, R$ 5.000. Federais civis, em média R$ 10 mil. No Legislativo em torno de R$ 15.000. E no Judiciário, R$ 16.000.
A técnica do Dieese ressalta: desembargadores e juízes recebem muito mais. “Estamos falando em média e isso é complicado, porque mistura essas carreiras privilegiadas e os baixos salários dos servidores. Mas dá ideia da desigualdade.”
Militares recebem salário integral
Com ampla participação no governo Bolsonaro – são sete ministros – os militares até agora não foram mencionados nas informações sobre a reforma da Previdência que é prioridade do ex-capitão eleito.
Os militares não se aposentam. Eles passam para a reserva ou são reformados recebendo o salário integral da ativa. E não têm idade mínima para chegar a essa condição. Para dar uma ideia da situação, 55% dos que vão para a reserva têm entre 45 anos e 49 anos. O próprio Bolsonaro, hoje capitão reformado, ingressou na reserva aos 32 anos de idade.
Para usar um termo muito utilizado pelos artífices da reforma, o “rombo” com inatividade na previdência militar passou de R$ 35,9 bilhões em 2017, para R$ 40,5 bilhões em 2018 – crescimento de 12,5%. No mesmo período, esse índice foi de 7,4% no INSS e de 5,22% entre os servidores da União.
Os militares, por uma série de subterfúgios, ganham mais quando vão para a reserva. Como se aposentam cedo, muitos continuam trabalhando em consultorias, criam empresas de segurança. Os demais servidores perdem 30%, relata Patrícia. “Os militares afirmam que não têm FGTS, e não têm mesmo. Mas recebem cotas de soldo por ano de trabalho, um abono inatividade, que no final das contas dá na mesma que o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço”, explica a economista.
Edição: RBA
Em 17/02/2019

 Chilenos lutam contra modelo de previdência que Bolsonaro quer copiar
  
Implementado na década de 1980, sistema de capitalização entrega aposentadorias menores que salário mínimo no Chile
Rute Pina.  Brasil de Fato
Edição: Mauro Ramos. Publicado em 11.02.2019
Há três anos, o Chile vive um ciclo contínuo de manifestações que coloca milhões de pessoas nas ruas em torno de um tema: o modelo da previdência vigente no país. Quase 40 anos depois de implementada, a previdência chilena, que inspira o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) a propor um sistema semelhante no Brasil, enfrenta uma crise profunda.
Na década de 1980, período em que o país era conhecido como “laboratório neoliberal” por conta de uma série de políticas privatizantes em áreas como saúde e educação, o Chile instaurou um modelo de previdência baseado em contas individuais, com contribuição obrigatória. A mudança, nunca implementada em nenhum outro lugar do mundo, foi feita por meio de um decreto de lei imposto pelo ditador Augusto Pinochet em 1981.
Os fundos são administrados pelas AFPs [Administradoras de Fundos de Pensão] e investidos em aplicações financeiras. As primeiras gerações chilenas a se aposentar pelo sistema se depararam com o valor de aposentadoria abaixo do salário mínimo.
O cientista político Recaredo Gálvez, pesquisador da Fundación Sol, lembra que o sistema imposto em um ambiente antidemocrático não possibilitou a disseminação de informações corretas sobre o sistema e impediu o debate sobre as consequências que sua implementação traria para o país.
“Não havia real participação para discutir sobre essa transformação de política no Chile. E isso significou que muito do que a ditadura informou a respeito da mudança de sistema foi algo que não estava baseado em nenhum fato”, pontua.
No Chile, apesar de o modelo ter sido implementado pelos militares, as forças armadas não têm o mesmo sistema de aposentadoria porque se opuseram às contas individuais.
Quatro décadas depois, efeitos nefastos
Nos modelos solidários de repartição, como o brasileiro, os trabalhadores que estão no mercado de trabalho financiam, com aporte dos empregadores e do Estado, quem está se aposentando. No sistema de capitalização, lançado pelo Chile, cada pessoa é responsável por sua aposentadoria por meio de uma conta individual.
Para o advogado da Defensoria Popular dos Trabalhadores, Javier Piñeda, o modelo privatizado representa um risco para os trabalhadores. “Esta lógica de capitalização individual significa que cada pessoa tem que se salvar sozinha. E com as altas taxas de desemprego e de informalidade, isso significa que as pessoas estão condenadas a receber uma aposentadoria de miséria”, argumenta.
“O risco que existe é que esses fundos vão parar nas grandes empresas que negociam no mercado de valores. Portanto, a crise impacta nos trabalhadores. A crise do subprime de 2008 [nos EUA], por exemplo, provocou perdas milionárias para os trabalhadores e levou, pelo menos, cinco anos para recuperar o fundo perdido neste período.”
A promessa da ditadura de Pinochet era que os aposentados receberiam um valor que poderia chegar a 80% do seu último salário antes de se aposentar. Mas o que acontece hoje é que os chilenos recebem apenas 30% disso, explica o advogado.
“Ou seja, se um trabalhador tinha um salário de US$ 500, ele deveria receber uma aposentadoria de US$ 400. No entanto, a taxa de retorno está aproximadamente em 30%. Isso significa que esse trabalhador só está recebendo US$ 150”.
Cerca de 90% dos aposentados chilenos recebem menos de 147 mil pesos (R$ 833), aproximadamente US$ 225. Esse valor equivale a quase metade do salário mínimo do país que, a partir de março, será fixado em 301 mil pesos chilenos (R$ 1,7 mil), cerca de US$ 450 dólares.
Recaredo Gálvez destaca que outro efeito da privatização foi o aumento da desigualdade e uma maior concentração de mercado controlado. Hoje as AFPs são compostas, basicamente, por seis empresas — cinco delas estrangeiras.
Destas cinco empresas com capital internacional, três são controladas por empresas estadunidenses: Principal Financial Group, Prudential Financial e MetLife. Outra é controlada pela seguradora brasileira BTG Pactual.
“É um tipo de política que tem como motivação principal poder gerar uma fonte de absorção de capital através do esquema financeiro. E que acaba com o direito social aos trabalhadores e trabalhadoras”, diz o pesquisador.
Movimento “No + AFP”
Os movimentos populares do Chile estão preparando uma marcha em defesa da Seguridade Social no país para o dia 31 de março de 2019. “Esperamos que essa marcha também consiga colocar essa problemática em nível regional. Por isso é necessário falar da experiência chilena e o avanço que representa esse modelo no Brasil e em outros países da região”, explica Gálvez.
Desde 2015, a população chilena ocupa as ruas para lutar pela Previdência. A ex-presidente Michelle Bachelet implementou, em 2008, o Pilar Solidário para auxiliar pessoas que não contribuíram com o sistema, mas não mudou a estrutura do sistema atual. Em resposta às mobilizações, o atual presidente, Sebastián Piñera, apresentou há dois meses, em dezembro de 2018, uma medida para injetar ainda mais recursos no setor privado.
A proposta de Piñera, consiste, em resumo, em aumentar progressivamente a taxa de contribuição de 10% para 14% para as administradoras. O irmão do atual presidente, José Piñera, é o economista por trás da proposta do sistema de previdência privada do Chile que vigora hoje. Ele era ministro do Trabalho e Segurança Social, e da Mineração, no regime ditatorial de Pinochet. Ele é um dos famosos “Chicago boys”, como ficaram conhecidos os economistas que adotaram a linha de pensamento neoliberal disseminada pela Universidade de Chicago — da qual o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, também faz parte.
Em 2016, no contexto das manifestações, foi formado o movimento No + AFP (Chega de AFP, em português). A entidade esboçou sua própria proposta de sistema de aposentadoria. “A tática do movimento é colocar esse projeto de lei como uma alternativa viável de construção de um novo sistema de previdência”, explica Javier Piñeda. O advogado participou da comissão que criou a iniciativa.
A principal reivindicação dos movimentos populares no Chile hoje é um sistema de repartição solidária entre trabalhadores, empresa e Estado — o mesmo que vigora no Brasil.
Olhando para as discussões no país vizinho, que quer copiar o modelo tão questionado em seu país, o advogado chileno aconselha os brasileiros: “Nesse contexto de privatizações, vocês têm que se opor de maneira contundente porque, uma vez implementado esse sistema, vai ser difícil voltar atrás. Não só pelo governo, mas pelas empresas do grande capital nacional e internacional que serão beneficiados com esses recursos.”
Edição: Mauro Ramos. Publicado em 11.02.2019
https://www.brasildefato.com.br/2019/02/08/por-que-os-chilenos-lutam-contra-o-modelo-de-previdencia-que-bolsonaro-quer-copiar/

Modelo de capitalização só é bom para mercado financeiro

Entrevista de Maria Lúcia Fatorelli para o Programa Faixa Livre 
www.programafaixalivre.com.br 










O alardeado plano do Governo Federal de aplicar o modelo de capitalização para a Previdência Social preocupa alguns dos principais especialistas em finanças públicas do Brasil, especialmente pelas experiências mal sucedidas em outros países. 

A auditora aposentada da Receita Federal e coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida Maria Lucia Fattorelli esteve no estúdio do Faixa Livre e apontou os perigos desta modalidade, na qual cada trabalhador contribui para uma espécie de poupança individual, e os reais beneficiários do plano da equipe econômica de Jair Bolsonaro.

“É um modelo de altíssimo risco, só é bom para o mercado financeiro que recebe as contribuições e não tem responsabilidade alguma de garantir um benefício futuro para os trabalhadores. Esse modelo individualista não tem nem lógica semântica. 

Se olharmos no dicionário, previdência é sinônimo de segurança. Qual é a lógica de colocarmos a nossa segurança em aplicações de alto risco e que não garantem absolutamente nada no futuro? O benefício pode ser zero e até negativo, como agora os trabalhadores que se associaram à Postalis e à Petros estão tendo de aportar recursos”, ressaltou. A auditora se refere aos fundos de pensão dos Correios e da Petrobras, respectivamente, que acumularam prejuízos milionários e são investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal por má gestão. 

No Chile, o modelo de capitalização implantado no início da década de 1980 durante a ditadura de Pinochet fracassou, levando os aposentados a um quadro alarmante de penúria financeira, indigência e até uma série de suicídios. “O Chile foi muito elogiado quando implantou esse sistema porque a banca controla a mídia e o mundo inteiro. Se você fizer uma pesquisa, há vários artigos elogiando o sistema de capitalização implantado lá. O que aconteceu dentro de alguns anos, o sistema quebrou. O Estado retomou a Previdência, porém em um patamar reduzidíssimo, inferior ao salário mínimo brasileiro, é o que os aposentados recebem”, alertou Maria Lúcia Fattorelli. 

A tentativa de se reformar a Previdência no Brasil nos últimos anos já sinalizou para uma série de justificativas: “Essa proposta, quando foi apresentada inicialmente, atacava principalmente o regime geral, a desculpa era o déficit e a longevidade da população. Todos esses argumentos foram totalmente desmontados e, em um segundo momento, o governo começou a atacar o serviço público, falando que os servidores é que eram privilegiados. Agora, em uma terceira etapa, vem essa proposta de capitalização”. Além do ataque às aposentadorias dos trabalhadores brasileiros, o grande capital travestido de governo ataca em outras frentes no parlamento para abocanhar recursos que têm destinação carimbada para a área social.

 “Há uma proposta de Emenda Constitucional em andamento no Congresso que é a PEC 293, a tal da reforma tributária simplificada. Por trás desse discurso de simplificação, ela transforma a maior arrecadação do país que é a da Cofins, e também o PIS, que é o Programa de Integração Social, fontes importantíssimas da seguridade social, em imposto. Só que essa mudança da natureza do tributo acontece justamente para essa desvinculação. Pela Constituição, as contribuições são vinculadas”, lembrou Maria Lucia Fattorelli. 

Uma das propostas da auditora para minimizar o déficit financeiro e diminuir as desigualdades no país passa por uma iniciativa simples do Governo Federal para movimentar a economia. “Atualmente, temos R$ 1 trilhão e 200 bilhões, quase 20% do PIB entesourados, paralisados no Banco Central nas operações compromissadas, remunerando a sobra de caixa dos bancos e amarrando a economia brasileira, porque na medida em que o Banco Central aceita toda essa sobra de caixa, ele gera escassez de moeda no mercado, o juro de mercado vai para essa taxa indecente que quebra a indústria, o comércio, impede qualquer iniciativa. Entre 2014 e 2017, foram gastos com essas operações compromissadas R$ 449 bilhões que saem do orçamento para os bancos”, citou. “Se o Banco Central parasse de aceitar essa sobra de caixa e deixasse o dinheiro no caixa dos bancos, eles iriam querer emprestar, e, para emprestar, teriam de diminuir a taxa de juros. O que seria da economia hoje irrigada com R$ 1 trilhão e 200 bilhões a uma taxa de juros baixa? Acabou a crise”, explicou a coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida. 

Ouça a entrevista de Maria Lucia Fattorelli na íntegra: https://soundcloud.com/programafaixalivre/fl-22-01-2019_5-maria-lucia Entrevista em 22.01.2019



PREVIDÊNCIA: governo quer agradar os ricos e atacar os pobres
29 de janeiro de 2019














Lutar contra a reforma da Previdência é defender os direitos dos trabalhadores.
Intersindical – Instrumento de Luta e Resistência da Classe Trabalhadora

A reforma da Previdência gestada pelo ministro da economia Paulo Guedes – que ao presidente caberá apenas anunciar e fazer propaganda – tem como objetivo retirar direitos dos mais pobres para garantir ainda mais os privilégios dos mais ricos.
O fundamental da reforma, além de aumentar a idade para aposentadoria de homens e mulheres, é acabar com a regra básica da Previdência, ou seja, o princípio da solidariedade em que todos contribuem: o aposentado contribuiu ao longo de seu tempo de trabalho e os que estão no trabalho hoje contribuem solidariamente para garantir as aposentadorias de agora e as do futuro.
A proposta do governo, travestida de “poupança individual”, na verdade é entregar para os bancos privados a contribuição individual do trabalhador. Além disso, a contribuição passa a ser somente do trabalhador; nesse modelo não existe a contribuição patronal para a Previdência.
O modelo foi copiado do Chile da época do ditador Augusto Pinochet. Depois de mais de três décadas, os trabalhadores chilenos que agora estão aposentados sentem as consequências do que significou essa reforma: não conseguem sobreviver com a aposentadoria que, em muitos casos, é a metade do valor do salário mínimo do país. As consequências são tão avassaladoras nas vidas dos trabalhadores e suas famílias que o índice de suicídios de aposentados no Chile aumentou.
Outras medidas estão sendo preparadas pelo governo para piorar ainda mais o acesso aos benefícios previdenciários como, por exemplo, excluir da contagem para aposentadoria o tempo em que o trabalhador ficou afastado por motivo de doença ou acidente. É mais uma tentativa de eliminar funções básicas da Previdência, que, além de garantir a aposentadoria, também deve garantir assistência ao trabalhador quando não está trabalhando, impedido por problemas de saúde.
O objetivo também é dificultar ainda mais o direito à aposentadoria dos trabalhadores rurais, ao mesmo tempo em que, para o agronegócio, o governo busca formas de pôr fim às fiscalizações das condições de trabalho e de respeito aos direitos trabalhistas e de liberar geral a invasão das terras indígenas e quilombolas.
Não são poucas também as tentativas do governo de piorar o acesso dos portadores de necessidades especiais e de idosos de baixa renda ao Benefício de Prestação Continuada, o BCP. Além disso, quer pôr fim ao auxílio reclusão, um benefício previdenciário concedido aos filhos de pessoas encarceradas.
Nenhuma dessas medidas que o governo Bolsonaro pretende impor ataca o calote das empresas à Previdência, que já ultrapassa R$ 400 bilhões.
Também não há nenhuma alteração nas aposentadorias dos militares, aposentadorias que custam 17 vezes mais ao Estado do que os benefícios e aposentadorias dos trabalhadores nas empresas privadas. Os militares que já nos governos anteriores se colocavam contra qualquer alteração em suas aposentadorias, agora sendo parte do atual governo, a cada dia se revezam para defender seus interesses corporativos.
Enquanto o governo quer avançar contra direitos dos trabalhadores e dos mais pobres, mais de 140 deputados e ex-deputados – incluindo Jair Bolsonaro – poderão, a partir do mês que vem, pedir sua aposentadoria, que é muito superior ao teto do INSS: aproximadamente R$33 mil. No caso de Bolsonaro, ele poderá acumular com o salário de presidente, que é de R$ 30.934,70.
Ao ser questionado se o presidente vai entrar com o pedido de aposentadoria, a resposta do governo foi o silêncio.
A proposta de reforma da Previdência está acompanhada também do aprofundamento do ataque aos direitos trabalhistas. A tentativa de criação de uma nova Carteira de Trabalho, sem piso salarial e sem direitos, a restrição à atuação do Ministério Público do Trabalho e a intenção de pôr fim à Justiça do Trabalho fazem parte do pacote do governo de acabar com os direitos garantidos através de muita luta.
O caminho para impedir esse ataque brutal aos direitos segue sendo a luta dos trabalhadores: em cada local de trabalho, moradia e estudo é preciso fazer avançar a mobilização que crie as condições de uma luta geral do conjunto da classe trabalhadora.
É nisso que estamos empenhados em unidade de ação com todas as Organizações que de fato estejam dispostas a enfrentar os ataques do governo aos direitos da classe trabalhadora.

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA DE BOLSONARO: CAPITALIZAÇÃO DA APOSENTADORIA PARA FAVORECER OS BANQUEIROS


Antes mesmo de tomar posse, o novo presidente já anunciou as principais medidas de seu governo, que visam a intensificar a exploração da classe trabalhadora para favorecer os interesses dos capitalistas já foram anunciadas: a contrarreforma da previdência, as privatizações e terceirizações, a ratificação e o aprofundamento da contrarreforma trabalhista, a extinção do Ministério do Trabalho, a implantação da carteira verde e amarela, a criminalização dos movimentos sociais e perseguições aos sindicatos e partidos de esquerda.

Os governos e os jornais dizem, faz tempo, que a Previdência está “quebrada”, mas a verdade é que o tal “rombo da previdência” é menor do que a dívida das grandes empresas. Dizem que a previdência tem um déficit de R$ 268 bilhões de reais. Enquanto isso, as 500 maiores devedoras da Previdência somam uma dívida de R$ 424 bilhões de reais! Só a dívida dos grandes bancos ultrapassa R$ 7 bilhões de reais!

Nenhum governo cobrou essa dívida. Pelo contrário, nos últimos anos, todos os governos oferecerem a estas mesmas empresas devedoras isenções e vantagens fiscais. Usaram o dinheiro do povo para encher os bolsos dos banqueiros e investidores da Bolsa de Valores! Mas a enganação é ainda maior.

Mesmo com tudo isso, os cálculos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil afirmam que não existe rombo. Governantes e mídia burguesa manipulam os dados e excluem do cálculo oficial da Previdência várias fontes de arrecadação da seguridade social. Na verdade, sobra dinheiro, não falta. Com o governo de Bolsonaro não vai ser diferente: em vez de cobrarem as dívidas dos monopólios capitalistas, querem que o trabalhador pague o pato!

A privatização total da Previdência

                A proposta de Bolsonaro e do seu ministro banqueiro, Paulo Guedes, é a tal “capitalização” da Previdência. Eles contam várias mentiras para enganar a classe trabalhadora, dizendo que esse projeto vai aumentar a segurança e o rendimento da previdência popular. Mas, na verdade, só quem ganha com esse projeto são os banqueiros.

A tal “capitalização da Previdência”, apesar do nome difícil, é uma coisa simples: significa passar a gestão da Previdência para as mãos dos grandes bancos. Com isso, eles poderão especular e realizar suas orgias financeiras com bilhões de reais de dinheiro do povo. Esses mesmos bancos que devem bilhões para a Previdência, que cobram juros e taxas absurdas e que lucram trilhões de reais todo ano enquanto o mundo afunda numa crise que eles mesmos causaram…

Como será que eles cuidarão da Previdência dos trabalhadores? Só existe um país no mundo todo que já fez o que Paulo Guedes está propondo: o Chile. Lá, onde a previdência capitalizada já existe há muitos anos, o resultado é catastrófico. Com as falências e reviravoltas da Bolsa de Valores, os trabalhadores e trabalhadoras correm sempre o risco de ver o dinheiro de sua aposentadoria evaporar. Muitas pessoas que passaram anos pagando a previdência terminam a vida na miséria. O Chile é o país onde mais idosos se suicidam todos os anos. Enquanto isso, os bancos gestores desses fundos de previdência continuam lucrando muitos bilhões de dólares...

Só a luta organizada pode barrar essa insanidade


No ano de 2017, o governo Temer tentou aprovar a reforma da previdência, que previa vários ataques aos direitos da classe trabalhadora. Em uma das maiores greves gerais da história do país, a paralisação do dia 28 de abril forçou o governo e os deputados a recuar e adiar o projeto. Agora, após a eleição de um presidente que deseja aplicar uma proposta ainda pior, de total privatização da previdência e destruição da aposentadoria pública, é preciso organizar novas e grandes mobilizações, resistindo nas ruas e preparando a greve geral contra esses ataques aos nossos direitos!

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