Matheus Magenta - Enviado da BBC News Brasil a Roma
sáb., 30 de outubro de 2021
Falta de encontro
bilaterais é sinal de falta de prestígio de Bolsonaro na cena política
internacional
O presidente brasileiro, Jair
Bolsonaro, é um dos únicos líderes do G20 (grupo das 20 maiores economias do
mundo) que não tem reuniões previstas com outros mandatários, à exceção do
presidente italiano Sergio Mattarella, anfitrião do evento que, pelo protocolo,
se encontra com todos os líderes presentes em Roma.
Segundo o Itamaraty, a agenda do
presidente brasileiro seria atualizada ao longo da visita à Itália, e reuniões
estavam sendo negociadas com outros países, mas nada foi fechado até o momento.
O encontro do G20 ocorre neste fim de semana (30 e 31/10), e em seguida muitos
deles seguem para a Cúpula do Clima em Glasgow, na Escócia (COP26).
Sob forte pressão internacional por
causa do aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, Bolsonaro decidiu
não ir à COP26, o que gerou críticas de outros países e de organizações
ambientais. Segundo o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, o
mandatário brasileiro evitará a reunião do clima porque iriam jogar
"pedras" nele.
A política ambiental de Bolsonaro colaborou muito para o isolamento dele em foros internacionais como o G20, e a ausência na COP26 acentua isso.
Em geral, reuniões bilaterais entre
líderes em eventos como o G20 e a Assembleia Geral das Nações Unidas servem
como um dos indicadores da importância do país no cenário global.
Historicamente, o Brasil costumava ser requisitado por seu papel de articulador
em negociações e debates globais envolvendo países em desenvolvimento.
Continue lendo.
Oliver Stuenkel, cientista político e
professor de Relações Internacionais na Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma
que o Brasil está muito isolado, e a reputação de Bolsonaro no exterior já está
consolidada, então, suas declarações dificilmente vão mudar a posição de outros
governos ou gerar manchetes como antes.
"Além disso, como a eleição está
chegando, ninguém quer apostar ou vê muito valor em restabelecer algum diálogo
ou alguma parceria estratégica. E, mesmo com líderes bem conectados, isso
costuma acontecer quando falta um ano de mandato."
Para Stuenkel, "o melhor que o
Brasil poderia fazer não seria reverter o estrago, mas simplesmente aparecer pouco,e
há uma boa chance de o Brasil sair do G20 não despercebido, mas sem gerar
manchetes fora do país".
Sinais de
isolamento
Presidente
brasileiro disse em conversa com presidente turco que tem muito apoio popular
O presidente argentino, Alberto
Fernández, por exemplo, tem encontro bilateral marcado com o primeiro-ministro
canadense, Justin Trudeau.
Já o presidente da Indonésia, Joko
Widodo, se encontrou em reuniões privadas com o colega francês, Emmanuel
Macron, e o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison. No encontro com o
presidente da França, Widodo discutiu investimentos no setor de defesa
indonésio e metas para reduzir desmatamento e emissões de gases do efeito
estufa, entre outros assuntos.
Há outros sinais do isolamento do líder
brasileiro durante o evento.
Uma reportagem do jornal italiano La
Repubblica ressaltou que a edição da cúpula de líderes do G20 deste ano foi
marcada pela volta dos apertos de mãos, praticamente banidos durante a pandemia
de covid-19. "Mas nem para todo mundo", ressalva a publicação.
"(O presidente italiano) Mario
Draghi deu a mão a muitos dos primeiros-ministros que chegaram nesta manhã à
Nuvola, onde ocorrem os trabalhos destes dois dias. Mas não para o presidente
Bolsonaro, que disse que será a última pessoa no Brasil a se vacinar - afinal,
ele acredita que as vacinas causam a Aids: algo dito por ele em um vídeo que as
redes sociais nos deram a graça de censurar."
Draghi teve reuniões com diversos
líderes mundiais, entre eles Joe Biden (EUA) e Narendra Modi (Índia).
'A Petrobras é um
problema'
Na antessala da primeira reunião de
líderes do G20, Bolsonaro só havia trocado palavras com os garçons, até que os
assessores o levaram para cumprimentar o colega turco, Recep Erdogan.
Em conversa informal com o presidente
da Turquia, Bolsonaro disse que a economia do Brasil está voltando forte, mas a
"mídia como sempre atacando" - o Brasil é o único país do G20 com
estimativas de recessão em 2022, mas a avaliação não é um consenso entre
instituições financeiras.
Em resposta, o mandatário da Turquia
mencionou que o Brasil tem grandes recursos petrolíferos e a Petrobras.
Bolsonaro rebate: "Petrobras é um problema. Mas estamos quebrando
monopólios, com uma reação muito grande. Há pouco tempo era uma empresa de
partido político. Mudamos isso".
Erdogan perguntou, por fim, sobre a
eleição brasileira e, ao ouvir que ela ocorrerá em 11 meses, disse a Bolsonaro
que ele ainda tem bastante coisa para fazer.
"Eu também tenho um apoio
popular muito grande. Temos uma boa equipe de ministros. Não aceitei indicação
de ninguém. Fui eu que botei todo mundo. Prestigiei as Forças Armadas. Um terço
dos ministros [é de] militares profissionais. Não é fácil. Fazer as coisas
certas é mais difícil", responde o presidente brasileiro.
Após a reunião do G20, na manhã deste
sábado (30/10), Bolsonaro se encontrou com o secretário-geral da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mathias Cormann, na
embaixada brasileira em Roma.
Depois do G20,
líderes mundiais vão para a COP26 - Bolsonaro decidiu não participar
O Brasil tenta ingressar na
organização, conhecida como clube dos países ricos, mas a candidatura sofre
resistência de países europeus por causa das políticas ambientais.
"Nós queremos a ascensão à OCDE,
e ele é simpático à nossa posição. É difícil, né? Mas pelo que tudo indica, em
vez de um país, a ideia é de seis países adentrarem simultaneamente. Então,
isso facilita se essa tese for avante", disse Bolsonaro em frente à embaixada
brasileira em Roma na tarde deste sábado, após a reunião do G20.
Segundo o presidente brasileiro,
nesse formato, ingressariam três países do continente americano e três do
continente europeu.
Vaias e xingamentos
No segundo dia de visita a Roma, Bolsonaro
foi xingado e vaiado nas redondezas da embaixada brasileira, onde está
hospedado. O mandatário brasileiro foi chamado de "genocida" e
"incompetente" quando voltava de um passeio na região do Vaticano.
"Como você vai explicar a
incompetência de seu governo?", gritou um dos manifestantes. Outra repetia
palavras de ordem como "Fora, Bolsonaro" e "Genocida".
À medida que as vaias e os
xingamentos foram se intensificando, apoiadores de Bolsonaro se aproximaram
gritando "Mito, mito!", e o presidente, visivelmente irritado, deixou
de tirar fotos com apoiadores e apressou o passo para chegar à embaixada, onde
jornalistas não têm acesso.
Agentes de segurança brasileiros e
italianos impediram repórteres de se aproximarem do presidente, empurrando e
segurando os profissionais de imprensa.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também foi
vaiado em frente à embaixada brasileira.
EM TEMPO: Bozo é um "mito de barro". O nível de politização da população brasileira é tão baixo que elegeram, nas Eleições de 2018, um Presidente que quando deputado era tão fraco que pertencia ao "baixo clero". Convém lembrar que nas Eleições de 2018 existia vários candidatos de Direita e de nível bastante superior a Bozo. Exemplo: Henrique Meirelles. Vamos melhorar a qualidade de voto. Comece por sua cidade.
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