O GLOBO - Guilherme Caetano
seg., 18 de outubro de 2021
Ao centro, o arcebispo de Aparecida, dom Orlando
Brandes, durante missa no feriado de Nossa Senhora de Aparecida - Foto: Bruna
Prado/Getty Images
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Rejeição a Bolsonaro entre
católicos disparou em 2021
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Descaso com as vítimas da
pandemia seria um dos motivos da debandada entre os católicos
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Presidente foi criticado por
arcebispo em missa em homenagem à padroeira
As críticas ao governo Jair Bolsonaro feitas pelo arcebispo de Aparecida,
dom Orlando Brandes, no feriado de 12 de outubro, ecoam uma
desaprovação ao presidente que vem crescendo entre fiéis e bispos da Igreja
Católica. A rejeição ao mandatário entre o grupo hoje é de 56%, segundo o
Datafolha, 14 pontos percentuais a mais do que o registrado em janeiro. Para
estudiosos do catolicismo, a política armamentista e o descaso com as vítimas
da pandemia ajudam a explicar a reprovação a Bolsonaro neste segmento da sociedade.
Durante a missa em homenagem à padroeira, em Aparecida, na última
terça-feira, Brandes afirmou que “para ser pátria amada não pode ser pátria
armada” nem com “mentira e fake news”. Embora não tenha citado Bolsonaro,
Brandes fez referência a “Pátria amada”, o slogan do governo, e à defesa do
armamento civil, pauta do presidente. O projeto armamentista de Bolsonaro é um
dos pontos que mais incomoda o eleitorado católico, segundo a socióloga Maria
José Rosado, professora na PUC-SP e fundadora do grupo Católicas pelo Direito
de Decidir.
— As religiões têm na questão da não violência um elemento muito forte
da sua narrativa e da sua proposta prática de ação. E, de repente, você vê um
presidente da República colocando, sobre os ombros, uma criança com uma arma na
mão. Isso impacta — diz ela.
Segundo o Datafolha, a reprovação dos católicos a Bolsonaro é
numericamente maior que a taxa da população geral, mas acompanha a mesma curva
de crescimento. Em janeiro, 42% dos católicos achavam o governo péssimo ou
ruim. Na última pesquisa, divulgada em 16 de setembro, esse índice chegou a
56%. Na população geral, o crescimento foi de 40% para 53%.
Não é só reflexo da política armamentista de Bolsonaro, conhecida desde
que ele era deputado. A gravidade da pandemia e a crise econômica também podem
ter contribuído para a queda de popularidade, diz Maria José.
Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva do Instituto de Estudos da
Religião, diz ser difícil atribuir motivos específicos à queda no apoio entre
católicos e lembra que a desaprovação é crescente até entre evangélicos — a
aprovação neste segmento caiu de 40% para 29% de janeiro a setembro.
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— Assim como a gente não pode considerar o segmento das mulheres, dos
jovens ou dos professores como um bloco generalizado, não podemos fazer isso
com os religiosos. Essa perda de apoio não está mais conectada a dogmas
religiosos do que a outras crises pelas quais passamos, como desemprego, fome,
insegurança — diz Ana Carolina.
O eleitorado adepto do cristianismo é caro a Bolsonaro. Ele geralmente
diz ser um “presidente cristão”, usa o nome de Deus em slogan, cita
frequentemente um versículo bíblico como bordão (“Conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”) e prega a nomeação de um ministro “terrivelmente
evangélico” no Supremo Tribunal Federal (STF).
Embate na igreja
Além de demonstrar um respaldo entre os fiéis, a declaração pública de
Brandes em Aparecida revela que a opinião crítica ao governo federal tem eco
tanto em sua diocese quanto na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), segundo Maria José. Apesar disso, ela reforça, a opinião não é unânime
entre os católicos:
— (A crítica) explicita um embate existente na Igreja Católica entre
progressistas e conservadores. Não diria que a CNBB é majoritariamente
progressista, mas a fala do arcebispo indica haver recepção para esse tipo de
opinião na Igreja.
Em maio de 2020, padres conservadores ligados rádios e TVs católicas
participaram de videoconferência com Bolsonaro para pedir investimento do
governo federal nas emissoras por meio de propagandas do governo federal. Em
troca, indicaram que poderiam apresentar ações do governo na pandemia do novo
coronavírus. A CNBB repudiou o encontro.
A divergência interna se acentuou dois meses depois, quando foi
publicada uma carta assinada por 152 arcebispos em que os religiosos afirmaram
que o governo federal demonstrava “omissão, apatia e rechaço pelos mais
pobres”, além de “incapacidade para enfrentar crises”. Dias depois, mais de mil
padres apoiaram os bispos.
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