segunda-feira, 29 de abril de 2019

A entrevista de Lula: entre a crítica e a conciliação


Rodrigo Lima – PCB de Santa Catarina

A entrevista de Lula revela aspectos muito importantes para pensar sobre o atual cenário do país e o futuro da esquerda. Primeiro, é importante ressaltar que Lula, mesmo preso há mais de um ano, segue sendo uma figura central na política nacional.
A omissão da entrevista pela Globo e pela Record revela muito. E Bolsonaro acusou o golpe das comparações e análises feitas pelo ex-presidente, ao afirmar que a justiça errou ao conceder o direito de Lula ser entrevistado. Lula, ao fazer comparações entre o seu governo e o início do governo bolsonarista, deixa constrangidos e na defensiva os defensores de Bolsonaro. A crítica que ele faz a Guedes foi uma paulada, ao perguntar onde o super-ministro estudou economia.
Lula articula pautas importantes: abre fogo contra a Globo e os grandes meios de comunicação; desmascara a Lava Jato; critica as políticas neoliberais; denuncia a submissão do atual governo aos EUA e pauta questões econômicas que afetam o cotidiano dos/as brasileiros/as.
Sua capacidade de comunicação é impressionante. A questão é que Lula, mesmo preso, se mostra mais agressivo em suas críticas, mas não o suficiente para romper com o projeto de conciliação de classes, ao apontar para a saída dos problemas pela via do consumo e do crédito, sem tocar na politização e mobilização das massas.
Ele revela suas mágoas com o empresariado e com os militares, como se os mesmos o tivessem traído, já que nenhum presidente fez tanto por estes setores. Sua esperança de sair da prisão e poder disputar uma eleição novamente mostra sua crença na institucionalidade. O que é um erro.
Da entrevista fica uma lição importante para a esquerda. Do lulismo há de se destacar a capacidade de comunicação com as massas, de falar sobre os problemas do povo e dos trabalhadores brasileiros e a articulação de um projeto político.
Também fica o aprendizado que a retomada dos marcos do lulismo, com a conciliação de classes e a crença na institucionalidade não são as saídas para o Brasil. O quadro em que vivemos não permite mais um pacto de classes, a não ser em níveis rebaixadíssimos para os/as trabalhadores/as.
Lutar pela liberdade de Lula é uma tarefa da esquerda e dos setores progressistas do país. Como também é uma tarefa superar o lulismo e seu projeto de conciliação de classes.
É preciso um projeto radical, popular e socialista! Possível e necessário!


sábado, 27 de abril de 2019

Construir o 1º de Maio de luta e resistência


Contra os retrocessos e os ataques aos direitos da classe trabalhadora e do povo!

O governo Bolsonaro, após pouco mais de cem dias, apresenta uma imagem bastante desgastada junto à opinião pública brasileira e também no âmbito internacional. Nunca houve, desde o chamado processo de redemocratização, após a derrocada da ditadura imposta pelo golpe de 1964, um governo tão desgastado em tão pouco tempo.
Mas isto não significa alívio algum para a classe trabalhadora e os setores populares. Muito pelo contrário: pressionado pelos grupos empresariais que apoiaram sua candidatura e pelos meios de comunicação burgueses a apresentar soluções imediatas para tirar o Brasil da crise econômica mantendo os ganhos do capital, o governo, sob o comando do núcleo ultraliberal dirigido pelo Ministro Paulo Guedes, avança com a agenda de privatizações, alienação do patrimônio público brasileiro, entrega das nossas riquezas naturais e destruição dos direitos sociais e políticos duramente conquistados ao longo de décadas de lutas.
Em quase quatro meses, o governo detonou a política de valorização do salário mínimo, atacou diretamente a fonte de recursos dos sindicatos de trabalhadores, ampliou os cortes na educação e na saúde, liberou agrotóxicos e tornou ainda mais raquítica a farmácia popular, tudo isso para favorecer apenas os patrões e os monopólios capitalistas. Legitima a perseguição aos ativistas sociais, incentiva a ação policial repressiva e a execução sumária de “suspeitos”, detona a fiscalização contra os agressores do meio ambiente e estimula a invasão de territórios indígenas e quilombolas por fazendeiros e grandes empresas. Anuncia a entrega de reservas do pré-sal e outras riquezas nacionais, assim como faz avançar as privatizações das nossas estatais. Enquanto isso, cresce o desemprego e pioram as condições de vida e trabalho da imensa maioria da população.
Cada vez mais, apesar das contradições e conflitos internos que afloram entre os diferentes grupamentos que levaram Bolsonaro ao poder, o governo consolida sua face reacionária e de extrema direita. O pensamento ultraconservador, expresso no campo social e político principalmente através do clã Bolsonaro, dos seguidores do astrólogo Olavo de Carvalho e dos ministros da Educação, Direitos Humanos e Relações Exteriores, é funcional para justificar a retirada de direitos dos trabalhadores, das mulheres, juventude, negros e negras, povos originários e população LGBTI, favorecendo as condições para intensificar a exploração da classe trabalhadora e dos setores populares, com o propósito maior de elevar a taxa de lucro dos empresários.
Somado a isso, o ministro Sérgio Moro cumpre o papel de aprofundar a criminalização dos movimentos sociais e do ativismo político e de aumentar a repressão policial, para tentar conter as reações populares ao projeto capitalista. A agenda reacionária visa a facilitar a aplicação das medidas econômicas ultraliberais, pauta que unifica as frações hegemônicas da burguesia monopolista brasileira associada ao capital internacional, mesmo que possa haver, em seu interior, discordâncias em relação a determinadas ações do governo Bolsonaro.
Nós, trabalhadores, não podemos depositar nossas esperanças na derrubada do governo pela ação dos setores das classes dominantes, pois há mais sintonia do que discordância entre eles. O objetivo principal das críticas a Bolsonaro por parte da burguesia e de seus veículos de comunicação é de orientar seus passos para melhor atender a seus interesses. É fundamental que nós, trabalhadores, fortaleçamos a luta contra o presidente neofascista e seu governo, aproveitando dessas contradições no interior da burguesia, porém, sem nos confundirmos e nos misturarmos com as pautas burguesas.
A pressão da burguesia e a concessão de benesses aos deputados – no velho estilo do “toma lá dá cá” tão criticado na campanha eleitoral e um dos motivos para a demonização do PT, o impeachment de Dilma e a prisão de Lula -, conseguiram fazer com que o projeto de Bolsonaro e Guedes de privatização da Previdência Pública fosse aprovado na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados.
Neste momento, é urgente a organização das forças populares na resistência aos ataques do capital. Para além das manifestações unitárias contra a reforma da previdência e todos os retrocessos impostos pelo governo Bolsonaro, é preciso desenvolver um sólido trabalho de base nos locais de trabalho, estudo e moradia, com vistas a desenvolver as lutas em defesa dos direitos, das liberdades democráticas e de melhores condições de vida. Vamos preparar a Greve Geral, unificando o conjunto da classe trabalhadora, da juventude e do povo, para derrotar a reforma da previdência e enfrentar os ataques dos governos e dos patrões. Só assim as organizações combativas e classistas poderão influir nos rumos das lutas sociais, dirigir politicamente a oposição ao governo e reverter a atual correlação de forças, pavimentando o caminho para uma alternativa popular e socialista para o Brasil.
O caminho para tirar o país do atoleiro em que se encontra não é jogar a crise nas costas dos mais pobres; é cobrar a conta dos banqueiros, grandes empresários e latifundiários, que representam apenas 1% da população e concentram em suas mãos a maior parte da riqueza produzida pelos trabalhadores.
A saída para a segurança pública não é executar mais inocentes nas periferias e liberar o porte de armas; é fortalecer a segurança preventiva, enquanto se garante o acesso universal à educação e à saúde públicas, com mais empregos e oportunidades para a juventude. Basta de genocídio da população pobre, negra, dos lutadores do campo e dos povos indígenas! Não à “lei do abate”, que já vigora nas grandes metrópoles brasileiras!
O caminho para o Brasil não é o alinhamento servil ao imperialismo, não é agredir a Venezuela, nem entregar a Amazônia e a base de Alcântara aos Estados Unidos; é adotar uma política externa independente e anti-imperialista, em defesa da paz, da solidariedade e da cooperação entre povos. A saída não é favorecer ainda mais os lucros e a exploração capitalista; é, pelo contrário, criar os meios que possibilitem construir o Poder Popular no rumo do Socialismo, único modo de combater de vez o desemprego, a miséria e a fome e de resolver os graves problemas e infortúnios vividos pelo povo brasileiro.
POR UM 1º DE MAIO DE LUTA, RUMO À GREVE GERAL!
A hora é de reforçar as lutas contra o projeto de destruição da previdência pública e mobilizar a população contra todas as medidas adotadas pelo governo de Bolsonaro, que representam retrocessos políticos e sociais e ataques aos direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora e pelos setores populares.
Vamos reforçar a construção, nos estados e municípios, do Fórum Sindical, Popular e de Juventude por direitos e pelas liberdades democráticas, fundado em 19 de fevereiro, reunindo entidades, movimentos e organizações políticas da cidade e do campo para, de forma unitária e organizada, combater as ações reacionárias em curso. Juntamente com as centrais sindicais e frentes de massa nacionais devemos participar ativamente do 1º de Maio de Luta e Resistência em todas as cidades do Brasil, preparando a Greve Geral para barrar os ataques e defender nossos direitos!
BASTA DE RETROCESSOS! 
CONTRA A REFORMA TRABALHISTA E O FIM DA PREVIDÊNCIA PÚBLICA! 
EM DEFESA DOS DIREITOS E DAS LIBERDADES DEMOCRÁTICAS! 
POR UM 1º DE MAIO DE LUTA E RESISTÊNCIA, RUMO À GREVE GERAL!
Partido Comunista Brasileiro – PCB Comissão Política Nacional


sexta-feira, 26 de abril de 2019

Lula: “O inimigo central do Bolsonaro, além do PT, é o seu vice-presidente”


Em entrevista ao EL PAÍS e à 'Folha de S. Paulo' o ex-presidente diz que o Brasil está governado por “um bando de malucos” e que quem dita as regras de verdade é o ministro Paulo Guedes

O ex-presidente Lula fala pela primeira vez  à imprensa, em entrevista exclusiva nesta sexta-feira, na sede da PF em Curitiba. 



ISABELLA LANAVE,  FLORESTAN FERNANDES JUNIOR  e   CARLA JIMÉNEZ
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018 em Curitiba, quebra o silêncio pela primeira vez com autorização da Justiça nesta sexta-feira em uma entrevista exclusiva ao EL PAÍS e ao jornal Folha de S.Paulo. Está disposto a falar. E fala muito. Enérgico, mexe as mãos, faz piadas, metáforas, ironias, e aproveita suas duas horas de publicidade para devolver ferroadas. “Imagina se os milicianos do Bolsonaro fossem amigos da minha família”. Após ver que o Superior Tribunal de Justiça reduziu sua pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, Lula acredita que pode ser absolvido. Mas diz não temer morrer na prisão.

Três agentes policiais armados acompanham a entrevista. Um deles é Jorge Chastalo Filho. De vez em quando ele olha para Lula e segue o que o ex-presidente fala. Parece prestar atenção. Logo volta seu olhar para os demais integrantes da sala: os jornalistas, advogados de Lula e Franklin Martins, ex-ministro da Secretaria de Comunicação dos governos Lula. Chastalo é o agente que mais tem contato com o ex-presidente enquanto ele está em sua “sala”, onde lê o conteúdo dos pen drives que ganha das visitas que recebe semanalmente. Esta semana foi a vez do sociólogo italiano Domenico Demasi.

Pergunta. A prisão do senhor foi um dia histórico. O que passou pela cabeça quando estava sendo preso e conduzido?

Haddad: militares ‘entraram numa fria’ ao apoiar Bolsonaro


© Hanna Yahya - Fernando Haddad no estúdio do Poder360 nesta 5ª feira, 25.04.2019















Reportagem: Lauriberto Brasil

Dia 26.04.2019

O candidato à Presidência pelo Partidos dos Trabalhadores em 2018, Fernando Haddad, 56 anos, criticou as desavenças entre o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o vice-presidente Hamilton Mourão.

“No Twitter, o presidente, os filhos, 1 escondendo senha do outro, uma molecagem com o vice-presidente. Eu acho que os militares entraram numa fria ao avalizar uma pessoa que nem pro Exército serviu”, afirmou Haddad em entrevista ao Poder360 nesta 5ª feira (25.abr.2019).

O ex-prefeito de São Paulo afirmou que o presidente Jair Bolsonaro não é preparado para o cargo.
“Nós temos que torcer para ele incorporar alguém que tenha estatura mínima exercer à Presidência da República. Todos os dias os brasileiros rezam com isso. Para que caia a ficha de onde ele está, para que ele se porte com o mínimo de dignidade na condução dos assuntos nacionais”, disse.

Haddad criticou também o fato de Bolsonaro ter vetado uma propaganda do Banco do Brasil. “O presidente da República vetou uma propaganda do Banco do Brasil porque discordou da presença de negros no comercial. Como se o presidente tivesse atribuição de censurar publicidade das empresas”.

‘Priminho tá bem‘
Haddad quem escreveu essa frase respondendo a tweet do filho de Carlos Bolsonaro em 11 de abril. Foi uma menção à proximidade entre Carlos e seu primo Leo Índio, que ganhou emprego no Senado.

“Acho 1 terrível equívoco a atitude do filho do presidente que fala em seu nome fazendo as estripulias que faz e que já geraram inclusive problemas internacionais”, falou.

O petista também disse que as ações de Jair e Carlos Bolsonaro justificam o que ele classificou como “deboche”:
“Como que você vai fazer uma manifestação pública sobre episódios como esse sem se indignar? Às vezes eu debocho porque eu acho ridículo ter 1 presidente que faz isso. Às vezes me insurjo com mais indignação, depende do meu estado de espírito, mas eu não deixo de me manifestar”.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Privatização da Previdência fracassou em todo o mundo


25 de abril de 2019

Sindejufe-BA - A privatização da previdência fracassou na maioria dos países que adotou o sistema de capitalização previdenciária proposto por Bolsonaro.

Uma das conclusões do estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho, é de que o maior beneficiário das privatizações foi o setor financeiro ANDES – SINDICATO NACIONAL Brasília (DF) (Brasil)
As privatizações dos sistemas previdenciários fracassaram. Essa é a conclusão do estudo “Reversão da Privatização de Previdência: Questões chaves”, publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em dezembro do ano passado. O documento traz um levantamento acerca da privatização dos sistemas de previdência no mundo e sobre a reversão das privatizações. De 30 países que privatizaram a previdência, 18 estão em processo de reversão.
O documento da OIT lista uma série de lições aprendidas ao longo de três décadas de privatização da previdência no mundo. Ao contrário do prometido pela propaganda oficial e pelas instituições financeiras, a previdência privada não aumentou a taxa de cobertura. Na Argentina, por exemplo, a taxa de cobertura caiu 20%, assim como no Chile, na Hungria, no Cazaquistão e no México.
Nos países que privatizaram os seus sistemas de previdência, o valor das aposentadorias diminuiu. Na Bolívia, por exemplo, as aposentadorias privadas representavam apenas 20% da média salarial dos trabalhadores. Segundo a OIT, a privatização da previdência resultou no aumento do empobrecimento na velhice.
Outro aspecto negativo da privatização da previdência apontado pela OIT é o aumento da desigualdade de gênero e de renda. Isso se deu porque os componentes redistributivos dos sistemas de previdência social foram suprimidos com a introdução de contas individuais.
“Como a aposentadoria privada é resultado de poupança pessoal, as pessoas de baixa renda ou que tiveram sua vida profissional interrompida – por exemplo, por causa da maternidade e das responsabilidades familiares – obtiveram poupanças muito reduzidas e consequentemente terminaram com aposentadorias baixas, aumentando assim as desigualdades”, afirma o estudo.
A OIT também pontua que os custos da transição da previdência pública para o sistema privado foram mal calculados pelos governos. Na Bolívia, o preço da privatização foi 2,5 vezes maior que a projeção inicial. Na Argentina, 18 vezes maior. Os altos custos administrativos do sistema privados também são citados como problemas. Na previdência pública não existe o pagamento de taxas administrativas, taxas de gestão de investimentos, taxas de custódia, taxas de garantia, taxas de auditoria, taxas de publicidade e taxas jurídicas, entre outras. De acordo com o levantamento, esses custos somados chegaram a 39% dos ativos na Letônia, a 31% na Estônia e a 20% na Bulgária.
Quem ganhou com as privatizações?
Uma das conclusões do estudo é que o maior beneficiário da privatização da previdência no mundo foi o setor financeiro. A OIT lembra que em muitos países as reservas de previdência pública foram usadas para investir no desenvolvimento nacional. Com a privatização, no entanto, isso não ocorre mais. Os fundos privados “investiram as poupanças individuais em mercados de capitais buscando retornos elevados, sem colocar as metas nacionais de desenvolvimento como prioridade”, diz o levantamento. Nos países em desenvolvimento, muitas vezes são os grupos financeiros internacionais que detêm a maioria dos fundos investidos.
Re-reformas e reestatização
A OIT encerra o estudo ressaltando que 18 países reverteram, ao menos em partes, a privatização de suas previdências. Foram 13 países na Europa Oriental e 5 na América Latina. São eles: Venezuela (2000), Equador (2002), Nicarágua (2005), Bulgária (2007), Argentina (2008), Eslováquia (2008), Estônia, Letônia e Lituânia (2009), Bolívia (2009), Hungria (2010), Croácia, Macedônia (2011), Polônia (2011), Rússia (2012), Cazaquistão (2013), República Tcheca (2016) e Romênia (2017).
Segundo o estudo, a reestatização apresentou resultados positivos, com a melhoria do sistema previdenciário, a baixa de custos administrativos, o aumento da cobertura da previdência e o aumento do valor das aposentadorias, em especial para a população mais vulnerável.
http://homologacao.andes.org.br/conteudos/noticia/as-privatizacoes-fracassaram-afirma-oIT1


quarta-feira, 24 de abril de 2019

As dificuldades da luta popular diante do fascismo

Manifestação “Ele Não” em São Paulo (SP), durante as eleições presidenciais de 2018/ Mídia Ninja


















Armando Boito Jr.*
Brasil de Fato
Este é o terceiro e último artigo de uma série que estou publicando aqui no portal Brasil de Fato sobre o neofascismo no Brasil de Bolsonaro. Neste último texto, pretendo indicar rapidamente quais são as dificuldades específicas da luta operária e popular diante de um movimento neofascista como esse que enfrentamos no Brasil atual. O tema é complexo e eu pretendo voltar a ele futuramente e em um trabalho mais alentado. Neste pequeno texto irei apenas indicar alguns pontos.
Convém recordar o que escrevemos nos dois artigos anteriores desta série. No primeiro deles, procurei mostrar que o fascismo não deve ser considerado um fenômeno histórico único, irrepetível, adstrito apenas a alguns países europeus no período 1919-1945. Para tanto, argumentei que o fascismo é uma forma do Estado capitalista, uma ditadura de tipo particular, e é também o movimento social – dotado de ideologia e base social específica – e o governo que lutam pela implantação dessa forma de Estado. Esse tipo particular de ditadura que é a ditadura fascista serviu para organizar a hegemonia política do capital monopolista em Estados imperialistas nas décadas de 1920 e 1930, mas poderá servir, na periferia latino-americana no século XXI, para organizar a hegemonia política do capital internacional, principalmente estadunidense, em Estados dependentes como o Brasil. Podemos, portanto, conceber teoricamente a hipótese de uma ditadura fascista neoliberal ou neocolonial.
No segundo artigo, comparando, de um lado, os movimentos animados por Mussolini Hitler e, de outro, o bolsonarismo no Brasil, apresentei o que considero serem as semelhanças de fundo entre tais movimentos, que são o que justificam o emprego do conceito geral de fascismo para todos os três, e também as diferenças existentes entre o fascismo clássico e o bolsonarismo, que justificam o emprego do prefixo neo para denominar o caso brasileiro como uma variante particular daquele fenômeno.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Nota da defesa de Lula sobre o julgamento no STJ


“(…) entendemos que o único desfecho possível é a absolvição do ex-Presidente Lula porque ele não praticou qualquer crime”, afirmou Cristiano Zanin por meio de nota
 23/04/2019 

Cristiano Zanin
Respeitamos o posicionamento apresentado hoje (23/04) pelos Srs. Ministros do STJ mas expressamos a inconformidade da Defesa em relação ao resultado do julgamento, pois entendemos que o único desfecho possível é a absolvição do ex-Presidente Lula porque ele não praticou qualquer crime.

Avaliamos que o Tribunal recorreu a formalidades inaplicáveis ao caso concreto e deixou de fazer um exame efetivo do mérito, como buscado pelo recurso. Não há elementos jurídicos para a configuração dos crimes imputados a Lula.

Lamentamos, ainda, que a Defesa não tenha sido autorizada a participar do julgamento por meio de sustentação oral. A garantia constitucional da ampla defesa deve prevalecer sobre qualquer disposição do Regimento Interno do Tribunal. Esse entendimento foi recentemente afirmado pelo STF ao admitir a realização de sustentação oral em agravo regimental interposto em habeas corpus.

Por outro lado, não podemos deixar de registrar que pelo menos um passo foi dado para debelar os abusos praticados contra o ex-Presidente Lula pela Lava Jato. Pela primeira vez um Tribunal reconheceu que as penas aplicadas pelo ex-juiz Sérgio Moro e pelo TRF4 foram abusivas.
É pouco. Mas é o início.
Esperamos que as instâncias que ainda irão se manifestar sobre o processo ajudem a restabelecer a plenitude do Estado de Direito em nosso país, porque isso pressupõe a absolvição de Lula e o restabelecimento da sua liberdade plena.


domingo, 21 de abril de 2019

"Bolsonaro quer um país pobre, triste, assustado, violento e preconceituoso"


Arte: Daniel Caseiro.
Bolsonaro não tem propostas, tem desejos. Deseja o caos para falar do caos. E é por isso que ele não faz nada. Pois se algo melhorar ele perde o palco.

Por Martel Alexandre del Colle, policial militar 


Domenico de Masi lançou, em 2013, a obra intitulada O Futuro Chegou. Basicamente, o livro procura examinar vários exemplos de formas de organização das sociedades modernas. O autor apresenta o modelo econômico e social de alguns países que se destacavam no cenário global da época. China e Estados Unidos da América, por exemplo. Em outros capítulos, ele retrata o modo de produção capitalista, alguns exemplos de capitalismo mais social, comunismo e mais. A ideia de Domenico é apresentar pontos fortes e fracos de cada modelo e, no capítulo final, mostrar qual seria o melhor modelo para as sociedades do futuro.
Domenico de Masi é um sociólogo italiano. E é importante saber da nacionalidade do autor para entender o peso do capítulo final do livro. Após apresentar os modelos mais relevantes e conhecidos de nossa época e épocas passadas, Domenico apresenta o que para ele era o modelo mais avançado de sociedade e que deveria ser um sul (não gosto dessa visão de norte sempre sendo o referencial positivo) para todos os países do mundo. Domenico apresenta o Brasil. O Brasil de 2013.
Na visão do autor, o Brasil era um país capaz de reduzir a pobreza, sair do mapa da fome e ainda gerar riqueza. Era um país com uma cultura de tolerância do diferente, do aproveitamento do ócio e da procura da felicidade. Era assim que esse gigante da sociologia apresentava o nosso país para o mundo. O Brasil era o modelo que o mundo deveria seguir para ser feliz.
Quem diria, Domenico, que em 2019 teríamos um presidente perguntando sobre golden shower no twitter. Quem poderia imaginar um país dando aval para execuções em comunidades. Quem sonharia com uma nota lançada à imprensa pelo exército brasileiro acusando um pai de família de atirar contra as forças armadas, sem nenhuma investigação prévia do fato. O que deu errado?

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Dia do Índio: o que celebrar?


Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro – PCB

O Dia do Índio – comemorado em 19 de abril – foi instituído no Brasil no ano de 1943, através do decreto 5.540 do então presidente Getúlio Vargas. A data foi instituída com o propósito de representar um momento de reflexão acerca dos povos indígenas no país e sobre a importância da preservação e valorização de sua cultura.
A data é oriunda do Congresso Indigenista Interamericano, realizado em 1940 no México, contando com autoridades governamentais dos diversos países da América. As lideranças indígenas, convidadas a participarem, não compareceram aos primeiros dias do evento, provavelmente com receio de sua própria segurança, uma vez que os indígenas de todo o continente sofriam perseguições e o extermínio de suas populações. No entanto, após reuniões e análises internas, várias lideranças resolveram participar do referido Congresso, ocorrendo tal participação no dia 19 de abril, data que posteriormente foi escolhida para representar o Dia do Índio.
Desde a sua instituição, a data é marcada por várias atividades, em especial em escolas e museus, que realizam ações de valorização da cultura indígena. Muitas vezes os governos – seja na esfera municipal, estadual ou federal – também constroem momentos comemorativos em relação ao Dia do Índio.
Apesar de considerarmos importantes todas essas manifestações, a data não pode representar apenas uma lembrança sobre a formação cultural e étnica da população brasileira. Tampouco pode ser transformada em algo folclórico e romantizado sobre a história dos povos indígenas antes da colonização do continente. Mesmo com a criação de uma legislação indigenista que garante alguns parcos avanços nos direitos indígenas, os povos originários em nosso país continuam a sofrer com a invasão de suas terras, com o extermínio de suas populações e com situações graves de preconceito e discriminação.
Dessa forma, entendemos que o Dia do Índio é mais do que apenas um momento de reflexão e valorização dos diversos costumes, línguas e saberes das populações indígenas em nosso país, cuja diversidade cultural continua viva no interior da sociedade brasileira. Antes de mais nada, o Dia do Índio deve ser uma data de luta pela garantia dos seus direitos, pela garantia de suas Terras e pelo respeito à sua cultura e às suas manifestações culturais.
Na atual conjuntura, esse significado do Dia do Índio ganha ainda mais relevância em nosso país. Antes mesmo de ser eleito, Bolsonaro já afirmava que em seu governo não mais existiriam demarcações de Terras Indígenas e ainda demonstrou toda a sua ignorância e preconceito quando comparou os indígenas a “animais em zoológicos”.
Logo nas primeiras horas de governo publicou a Medida Provisória 870 que ataca frontalmente os direitos indígenas e esvazia o Órgão Indigenista responsável em proteger e promover os direitos indígenas – a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Segundo a MP 870 toda a responsabilidade de identificação, delimitação e demarcação das Terras Indígenas passa a ser competência do Ministério da Agricultura, que é controlado pela ala mais radical da bancada ruralista, sendo historicamente contrário aos direitos indígenas. Além da competência pelas demarcações, o Ministério da Agricultura também assume a coordenação das concessões de licenciamentos ambientais nas Terras Indígenas, o que significa a permissão de grandes empreendimentos capitalistas nos territórios indígenas, podendo causar grandes impactos para as suas populações. Além dessas transferências de competência, a FUNAI, subordinada ao Ministério da Justiça desde 1991, foi deslocada para o Ministério da Família, Mulher e Direitos Humanos.
Importante registrar que todas essas medidas foram tomadas sem nenhuma consulta aos Povos Indígenas do Brasil, sendo uma clara afronta ao que determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2004. O governo Bolsonaro deixa clara a sua intenção de destruir toda a política indigenista brasileira, com o esvaziamento da FUNAI e a inoperância da demarcação das Terras Indígenas.
Para além desses ataques, Bolsonaro defende uma política integracionista, isto é, entende o índio como um segmento em estágio transitório à chamada “civilização”. Essa defesa, além de discriminatória e preconceituosa, significa um retrocesso imenso na política indigenista, sendo inclusive um desrespeito à própria Constituição Federal de 1988, que diz que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” (art. 231).

Maduro pede ao presidente do Senado brasileiro apoio para restabelecer relações




Em carta a Davi Alcolumbre, Maduro sugere que o Senado seja "porta-voz" para relação bilateral "amistosa e respeitosa”.
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Maduro pede que Senado seja porta-voz dos interesses de seu governo para “restabelecer uma relação bilateral amistosa e respeitosa entre nossas nações”.
O presidente daVenezuelaNicolás Maduro, enviou uma carta ao presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em que pede o apoio do parlamentar brasileiro para restabelecer “uma relação bilateral amistosa e respeitosa” entre os dois países e reabrir a fronteira venezuelana com o Estado de Roraima, segundo cópia da missiva obtida pela Reuters.
A correspondência foi entregue a Alcolumbre nesta quarta-feira (17) pelo senador por Roraima Telmário Motta (Pros), que se reuniu na segunda-feira com Maduro em Caracas. Telmário é presidente da subcomissão temporária da Venezuela, na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O fechamento da fronteira por Maduro vigora desde o dia 23 de fevereiro e impediu a entrada de ajuda humanitária organizada pelos Estados Unidos e apoiada pelo governo de Jair Bolsonaro. Esse bloqueio tem causado perdas diárias milionárias ao comércio na cidade fronteiriça de Pacaraima, onde os venezuelanos vinham se abastecer de alimentos e produtos de consumo.
Na carta a Davi Alcolumbre, com tradução juramentada, Nicolás Maduro inicia dizendo que a Venezuela é ameaçada “permanentemente pelo governo dos Estados Unidos com uma intervenção militar, ao mesmo tempo em que impõe à nossa economia um severo, arbitrário e injusto bloqueio, com o objetivo de forçar uma mudança de governo pela força”.
Maduro diz que o presidente Jair Bolsonaro “lamentavelmente” tem rompido com a tradição de relações de harmonia, fraternidade e respeito mútuo ao adotar “uma política inamistosa com a Venezuela e seu governo constitucional, violando sistematicamente o sagrado princípio de não interferência em assuntos internos dos Estados”.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Bolsonaro vai vender áreas da Petrobrás a preço de banana

Engenheiro: Fernando Siqueira

AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobras.

Guedes faz demagogia, mas quer entregar o pré-sal aos gringos e transferir o dinheiro aos bancos.

O engenheiro Fernando Siqueira, conselheiro eleito da Petros e diretor da AEPET afirmou que o governo Bolsonaro está cometendo um crime gravíssimo contra o patrimônio brasileiro ao anunciar a decisão de leiloar as áreas de Atapu, Búzios, Itapu e Sépia, da cessão onerosa da Petrobrás.



Ele denunciou que estas riquezas imensas estão sendo oferecidas ao capital estrangeiro por um preço de “banana”, ou seja, “por um preço infinitamente menor do que elas valem”.
“O governo pretende leiloar o excedente da Cessão Onerosa, obrigando a Petrobrás a repassar ao cartel internacional do petróleo quase 21 bilhões de barris descobertos por ela”, observou Siqueira. “Com a entrega, o Planalto espera arrecadar no máximo R$ 100 bilhões a título de bônus”, diz ele.
“Só que esses 21 bilhões de barris, ao custo de US$ 65 o barril, e com um custo total de produção por barril de US$ 25, renderá cerca de US$ 800 bilhões a quem se apoderar do petróleo, ou seja, ao câmbio de hoje, o lucro das multinacionais com a comercialização deste produto poderá chegar a R$ 3,2 trilhões”, explicou o engenheiro.
“Inicialmente, em 2010, o governo cedeu à Petrobrás o direito de exploração de 5 bilhões de barris de petróleo nas áreas da Cessão Onerosa, na Bacia de Santos. A Petrobrás pagou por isso R$ 74,8 bilhões”, esclareceu Siqueira. “Só que a Petrobrás descobriu na área um volume de petróleo muito maior. Ou, mais precisamente, 17 bilhões de barris a mais”, prosseguiu o diretor da AEPET.