domingo, 30 de novembro de 2025

Gripen da FAB dispara míssil e derruba drone na costa do Rio Grande do Norte

Lançamento ocorreu durante exercício militar

Caça Gripen (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)

 


 





Por Guilherme Levorato

247 - A Força Aérea Brasileira concluiu com êxito o primeiro disparo real do míssil europeu Meteor a partir do caça Saab Gripen, marco importante no programa de modernização da defesa aérea do país. A operação ocorreu na quinta-feira (27).

De acordo com a Folha de S. Paulo, o lançamento ocorreu durante o exercício BVR-X, em andamento desde 17 de novembro em Natal (RN). O teste faz parte do processo de certificação do Gripen, programa cujos avanços e desafios vêm sendo acompanhados pela imprensa especializada e pela própria FAB.

O míssil Meteor, avaliado em cerca de R$ 12,4 milhões por unidade, foi lançado contra um drone Mirach 100/5, fabricado pela italiana Leonardo, que simulava manobras de uma aeronave subsônica. Considerado o armamento ar-ar mais avançado de sua categoria, o Meteor permite engajamento além do alcance visual e pode atingir o alvo a velocidades superiores a quatro vezes a do som.

Segundo a Força Aérea, detalhes técnicos como distância entre o caça e o alvo não foram tornados públicos. Ainda assim, o exercício é apontado pela corporação como um divisor de águas no preparo operacional. “O lançamento foi o cenário perfeito para verificar e testar como o binômio Gripen e Meteor são eficientes na guerra aérea moderna e contra qualquer tipo de vetor”, afirmou o comandante da Base Aérea de Natal, brigadeiro Breno Diogenes Gonçalves, em declaração ao site oficial da FAB.

O Meteor integra o pacote de armamentos previstos para o Gripen adquirido pelo Brasil em 2014. A FAB comprou cem unidades do míssil, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (Sipri), ao custo aproximado de € 200 milhões — cerca de R$ 1,2 bilhão na cotação atual. Apesar disso, a Força não divulga oficialmente o número de armamentos adquiridos nem valores pagos.

A operação com o Meteor ocorre após a conclusão, no início de novembro, dos testes de reabastecimento em voo do Gripen utilizando aeronaves KC-390 da Embraer. A expectativa é que, finalizada essa etapa e o teste do canhão alemão de 27 mm previsto para ocorrer em breve no litoral do Rio de Janeiro, o avião esteja certificado para emprego em combate real em 2026.

O programa Gripen, porém, enfrenta atrasos significativos. Pelo cronograma original, todas as 36 aeronaves deveriam ter sido entregues até 2024, incluindo 15 unidades fabricadas na linha de produção instalada na Embraer, em Gavião Peixoto (SP). Agora, a previsão é de conclusão total apenas em 2032.

Em meio às lacunas operacionais provocadas pela aposentadoria iminente dos AMX, a FAB negocia a aquisição temporária de até 12 unidades da versão anterior do Gripen, a C/D, atualmente em uso na Suécia. Contudo, a forte demanda internacional pelo caça — impulsionada pelo interesse da Ucrânia — e as tensões envolvendo a Rússia têm levado Estocolmo a ser cautelosa em relação à liberação de suas aeronaves.

O Gripen adquirido pelo Brasil pertence à geração E/F, modelo também selecionado por Suécia, Tailândia e Colômbia. Parte dos aviões colombianos será produzida no complexo industrial brasileiro operado conjuntamente pela Saab e pela Embraer. Já o Peru avalia a compra do caça, embora a instabilidade política prolongue a decisão.

Além do Meteor, outra arma integrada ao Gripen brasileiro é o míssil teuto-italiano Iris-T, voltado para combate de curto alcance guiado por infravermelho. A FAB, no entanto, não informou quando este equipamento será testado nem a quantidade adquirida. Estimado em € 380 mil por unidade, o Iris-T complementa o arsenal de defesa aérea de última geração que o país começa a incorporar.

EM TEMPO: Convém lembrar que foi nos governos Lula e Dilma que as Forças Armadas aumentaram sobremaneira sua capacidade logística. Ok, Moçada!

sábado, 29 de novembro de 2025

“Palestinos continuam morrendo sob fogo israelense”


ODIARIO.INFO

Entrevista de Francesca Albanese para Olga Rodríguez – podcast «Donde callan las armas» (Onde as armas se calam)




Francesca Albanese conquistou a admiração dos milhões que, mundo afora, se solidarizam com a causa palestina. Os seus relatórios, realizados no cumprimento do mandato que lhe foi atribuído pela ONU, constituem uma implacável denúncia dos crimes do sionismo e da cumplicidade internacional que não só apoia, financia e arma, como permite que permaneçam impunes. Publicamos esta sua importante entrevista quando o Conselho de Segurança da ONU aprova uma Resolução que, para muitos defensores da causa palestina, não garante que seja finalmente colocado um fim a esta tragédia. Basta ver o papel que nela é atribuído aos EUA, um dos seus maiores responsáveis.

A figura de Francesca Albanese está na mira do governo de Donald Trump. Os seus relatórios sobre os crimes israelenses contra a Palestina incomodam Telavive e a Casa Branca, e as suas investigações sobre a cumplicidade de empresas e Estados ocidentais também não foram bem recebidas em muitas capitais europeias.

Washington aplica sanções contra ela desde antes do verão, o que a impede de viajar para os Estados Unidos ou receber pagamentos de entidades ou cidadãos americanos, entre outras coisas. Ela é a primeira relatora na história das Nações Unidas a receber este tipo de penalização, também aplicada contra o Tribunal Penal Internacional.

Essa animosidade contrasta com o grande apoio social que Albanese reuniu em nível global. Ela limita-se a fazer o seu trabalho – investigar o que acontece na Palestina – e a cumprir o mandato atribuído pela ONU. Ela fala sem medo a linguagem do direito internacional, com um compromisso firme, e já prepara um novo relatório, que se centrará nas torturas e abusos sexuais contra a população palestina.

Recém-chegada da África do Sul, atende-nos nesta entrevista por videoconferência desde a Itália, realizada para o podcast «Donde callan las armas» (Onde as armas se calam), do Centre Delàs de Estudios por la Paz, que foi ao ar em plataformas e no elDiario.es. Nela, lembra que, já em Janeiro de 2024, o Tribunal Internacional de Justiça alertou para o risco de genocídio em Gaza. Desde então, se não antes, os países tinham a obrigação de tomar medidas.

O seu último relatório, publicado recentemente, intitula-se «Genocídio em Gaza: um crime coletivo» e nele ela pede aos Estados que suspendam as suas relações e alianças com Israel.

É isso mesmo. Nele, argumento que, sem o apoio diplomático, político, militar, econômico e comercial de muitos Estados, Israel não teria conseguido atingir esse nível de impunidade, nem teria tido a capacidade de aumentar a violência contra os palestinos, passando de um apartheid colonial de colonatos para um genocídio.

Os Estados membros permitiram que Israel continuasse a construir colonatos para deslocar à força os palestinos da terra que supostamente é para a sua autodeterminação, para o seu Estado soberano e independente. Como é que esse Estado poderia se materializar enquanto Israel continuava a construir colonatos, deslocando à força os palestinos durante meio século e prendendo milhares todos os anos?

Israel nunca prestou contas por nada. Mesmo agora, após a morte de pelo menos 70.000 pessoas, entre elas mais de 20.000 crianças, os líderes israelenses continuam a ser recebidos com total impunidade. Israel continua a ser membro das Nações Unidas, participa do Campeonato Mundial de Futebol e é recebido na Bienal de Veneza. Não há qualquer consequência.

Há um nível de impunidade e aquiescência perante os crimes de Israel que criou o ambiente perfeito para que o Estado sionista continue a cometer genocídio contra os palestinos, destruindo-os como grupo.

No seu relatório, solicita também a suspensão de Israel das Nações Unidas até que cumpra. Por que e como é que isso poderia ser feito?

Com vontade política. Estive recentemente na África do Sul e compreendi algo muito importante. Nelson Mandela dizia que «a nossa liberdade será incompleta sem a liberdade do povo palestino», porque a Palestina foi a última experiência colonial de colonização europeia. Foi isso que ligou a África do Sul ao apartheid: o colonialismo ocidental.

O povo judeu, após o Holocausto, em muitos casos, não tinha para onde ir. Mas mudaram-se para a Palestina não como migrantes nem como refugiados, mas como parte de um projeto que já tinha sido concebido para despojar a população nativa. E isto tem sido sustentado pelos países ocidentais, principalmente pelos Estados Unidos, que têm usado Israel.

Questiono a ideia de que Israel controla os Estados Unidos. Não, não, é o contrário. São os Estados Unidos que precisam de Israel.

Em que sentido?

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

The Guardian: apoio a Bolsonaro 'se desfaz como espuma' após prisão

Jornal britânico analisa reação tímida da direita e aponta erosão da força política do clã Bolsonaro após início da pena de 27 anos

28 de novembro de 2025



 

Bolsonaristas em frente a sede da Polícia Federal em Brasília (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

 



Por Guilherme Levorato

247 - A cena que marcou os primeiros dias de Jair Bolsonaro (PL) atrás das grades foi bem diferente das manifestações que marcaram sua trajetória nos últimos anos. Em reportagem publicada nesta sexta-feira (28), o jornal britânico The Guardian descreve a solidão que cerca o ex-presidente neste início de cumprimento da pena de 27 anos por tentativa de golpe.

Segundo a análise do The Guardian, apenas algumas dezenas de apoiadores apareceram diante da base da Polícia Federal em Brasília, onde Bolsonaro ocupa uma pequena sala usada como cela. Entre eles estava Arley Xavier, de 21 anos, que insistia em negar o fim do ciclo bolsonarista: “Não acabou. Ainda há muito que Jair Messias Bolsonaro precisa fazer no Brasil … Não, não acabou”, declarou o jovem, conclamando conservadores a irem à capital em protesto.

Durante seu governo, entre 2019 e 2023, Bolsonaro mobilizava multidões em cidades como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas a energia que antes impulsionava sua militância não apareceu desta vez. Com chuva e clima frio no Centro-Oeste, o ambiente ao redor do ex-chefe do Executivo refletiu desânimo e desarticulação.

A prisão de Bolsonaro e de cinco aliados — enquanto o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) fugiu pela Amazônia rumo aos Estados Unidos — não encerra a extrema direita brasileira, segundo a análise britânica. Seus seguidores ainda alimentam a esperança de um eventual indulto, sobretudo se um conservador vencer as eleições presidenciais do próximo ano. Apesar disso, o jornal destaca que a reação quase inexistente ao encarceramento surpreendeu até analistas experientes.

Um dos trechos centrais da reportagem cita o cientista político Christian Lynch, que avalia que o domínio da família Bolsonaro sobre a direita perdeu força: “Eu diria que a liderança da família Bolsonaro na direita está chegando ao fim e você poderia dizer que o bolsonarismo está chegando ao fim”, afirmou. Ele comparou a cena atual com o momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se entregou à polícia em 2018, recebido por uma multidão de apoiadores que o carregou nos ombros. Para Lynch, a diferença está na capacidade histórica do PT de organizar uma base sólida, algo que Bolsonaro nunca construiu de forma consistente. “O bolsonarismo é como espuma que se desfaz… A direita vai permanecer. Mas o bolsonarismo vai passar”, completou.

A análise também lembra que aliados próximos enfrentam seus próprios dilemas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive nos Estados Unidos desde fevereiro e pode ser preso se retornar ao Brasil, por causa de uma investigação sobre interferência no julgamento do pai. 

Brian Winter, editor-chefe da Americas Quarterly, afirmou ao Guardian que a atual fase é “muito perigosa” para a família. Segundo ele, Bolsonaro e seus filhos teriam cometido um “erro crítico” ao concentrar sua comunicação na ideia de perseguição política e ao pressionar Donald Trump — presidente dos Estados Unidos — a impor sanções ao Brasil. “A comunicação deles tem sido tão focada na própria vitimização … que fica a dúvida se deixaram de falar o suficiente sobre os desafios enfrentados pelos brasileiros. Talvez, como resultado, tenham perdido o contato com o povo”, avaliou.

A reportagem recorda ainda que prognósticos sobre o fim de lideranças políticas no Brasil costumam falhar. Lula, por exemplo, foi tido como politicamente morto após sua prisão injusta, mas retornou ao Planalto em 2022. O jornalista e escritor Bernardo Mello Franco destacou casos como o de Getúlio Vargas, deposto em 1945 e eleito novamente cinco anos depois. Mesmo assim, ele ponderou: “Não estou comparando Bolsonaro com Getúlio ou Lula, porque acho que ele é uma figura politicamente menor, em todos os sentidos”, observou, lembrando que as regras de progressão de pena podem permitir que Bolsonaro deixe a prisão em seis ou sete anos — ainda mais jovem que Lula hoje.

Já o comentarista Octavio Guedes, da GloboNews, avalia que o retorno político de Bolsonaro é improvável. Para ele, a “reação zero” à prisão mostra que o país vive uma fase “pós-Bolsonaro”, embora as ideias que marcaram o movimento permaneçam vivas e possam ser canalizadas por novas lideranças. Ele citou uma frase atribuída a Benito Mussolini: o líder fascista dizia não ter criado o fascismo, mas apenas extraído as ideias já presentes no inconsciente coletivo italiano — analogia que Guedes enxerga no bolsonarismo.

Dois dias após o início da pena, a promessa de uma reação expressiva se desfez tão rápido quanto a “espuma” que inspirou o título da análise britânica. Apenas um manifestante tentou se acorrentar a uma pilastra do Congresso — e acabou preso, numa cena que sintetizou o esvaziamento da força popular que um dia acompanhou o ex-presidente.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Governo faz apelo por manutenção de veto sobre regras de licenciamento ambiental para evitar retrocessos

O governo avalia que derrubar os vetos pode gerar “efeitos imediatos e de difícil reversão”

27 de novembro de 2025


 

Governo faz apelo por manutenção de veto sobre regras de licenciamento ambiental para evitar retrocessos (Foto: Tarciso Augusto/Semas)




247 - O debate sobre o futuro das regras de licenciamento ambiental ganha novo peso político nesta quinta-feira (27). O senador Davi Alcolumbre (União-AP), colocou em pauta a análise dos trechos vetados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A discussão ocorre em meio a tensões entre governo e Congresso, especialmente depois da COP30.

A movimentação legislativa reacendeu o alerta no Palácio do Planalto, que divulgou nota e reiterou que está aberto ao diálogo, mas empenhado em impedir o que considera um “retrocesso ambiental”. Segundo reportagem do G1, o governo avalia que derrubar os vetos pode gerar “efeitos imediatos e de difícil reversão”.

O embate ocorre em um contexto de crescente desgaste entre lideranças políticas. Na Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) rompeu alianças com o líder do PT, deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). No Senado, a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal intensificou divergências de Alcolumbre com o governo, ampliando fraturas com o líder Jaques Wagner (PT-BA).

A votação, anunciada por Alcolumbre como parte de um calendário previamente pactuado, também incluirá a análise de vetos relativos ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).

Vetos de Lula e disputas ambientais

Os vetos presidenciais atingiram pontos sensíveis, como o regime especial de proteção da Mata Atlântica e o processo de consulta a povos indígenas e comunidades quilombolas no reconhecimento de terras. O governo afirma que “os vetos foram estabelecidos com base em avaliações técnicas e jurídicas criteriosas, com a participação da comunidade científica, ouvindo diversos setores da sociedade”.

Segundo o Planalto, a manutenção dos vetos é fundamental para:

·         Preservar a integridade do licenciamento em todos os biomas e proteger a saúde da população;

·         Garantir segurança jurídica a empreendimentos e investidores;

·         Agilizar procedimentos sem comprometer a qualidade ambiental;

·         Assegurar direitos de indígenas e quilombolas.

Apesar disso, uma parcela significativa do Congresso articula para derrubar quase todos os 63 dispositivos vetados por Lula. Davi Alcolumbre se destaca entre os principais defensores da rejeição. 

A bancada do agronegócio também pressiona pela derrubada, sob o argumento de que flexibilizar o licenciamento pode destravar obras de infraestrutura e acelerar investimentos. A licença em discussão tem alcance amplo, podendo autorizar empreendimentos mesmo quando envolvem “significativa degradação do meio ambiente”.

Com posições polarizadas, a sessão desta quinta deve definir até onde irá a influência do governo na agenda ambiental e qual será o rumo das políticas de proteção ecológica em um período decisivo para a diplomacia climática brasileira.

EM TEMPO: A superação das nossas demandas climáticas dependem de um Congresso não dominado pela Direita e Extrema Direita.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

O escândalo do Banco Master



PELA ESTATIZAÇÃO DOS BANCOS SOB CONTROLE POPULAR!

Nota Política do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Na  terça-feira, dia 18/11, o povo brasileiro tomou conhecimento de uma operação policial contra uma organização criminosa que desviou bilhões de reais do Banco de Brasília e comprometeu outros bilhões de reais em recursos de fundos de previdência de municípios e do Estado do Rio de Janeiro. Como a sede desta organização criminosa se situa na Avenida Faria Lima, um dos endereços mais luxuosos do país, a operação da Polícia Federal prendeu vários criminosos do colarinho branco sem disparar um só tiro.

No centro da trama criminosa financeira está o Banco Master e seu proprietário e presidente, Daniel Vorcaro. Em 2018, Vorcaro adquiriu o que então tinha o nome de Banco Máxima (oriundo da corretora Máxima fundada nos anos 1970 e transformada em banco nos anos 1990), que já naquela época passava por dificuldades financeiras.

Vorcaro catapultou o crescimento do Master, que multiplicou seu patrimônio líquido 25 vezes em apenas cinco anos. Tal crescimento exponencial foi baseado em duas estratégias: oferecimento de rentabilidade acima do mercado e contatos políticos, especialmente no Centrão e na extrema-direita bolsonarista. Estes contatos facilitaram a participação do Master em oferta de crédito consignado e foram decisivos para a verdadeira relação incestuosa de autênticos “gêmeos siameses financeiros” entre o Master e o Banco Regional de Brasília, o BRB.

Desde 2022, já se sabia no mercado financeiro que o Master estava mal das pernas. Em 2024, ainda no governo Bolsonaro, estourou a denúncia de que gerentes da área financeira da Caixa Econômica Federal haviam perdido o cargo após barrarem uma operação “atípica e arriscada” que pretendia aportar R$500 milhões da Caixa Participações no Banco Master.

Nesta investigação de agora, o Banco Central e a Polícia Federal detectaram que o BRB transferiu R$16 bilhões para o Master, pelo pagamento de uma carteira de crédito fraudulenta que teria sido emitida originalmente por uma empresa de fachada – a Tirreno, de propriedade de um ex-funcionário do Master – sendo que o Master não pagou um centavo sequer por esta carteira. Como em março deste ano o Master negociava sua aquisição pelo BRB, a suspeita é de que este repasse esdrúxulo seria uma forma de venda dissimulada de parte do banco.

Na véspera da liquidação, Vorcaro anunciou estar negociando com a holding financeira Fictor e um consórcio de investidores dos Emirados Árabes Unidos a aquisição do Master com um aporte de R$3 bilhões. Vorcaro foi preso no aeroporto quando se preparava para embarcar num jatinho rumo à ilha de Malta; sua defesa alega que seu destino final era Dubai, para se encontrar com os investidores árabes.

A novela de negociatas tem mais um capítulo escabroso: o governo Cláudio Castro aportou R$ 960 milhões do RioPrevidência – fundo previdenciário dos/as funcionários/as aposentados/as do Estado do RJ – em três fundos de investimento do Banco Master, mesmo depois de vários ofícios do Tribunal de Contas do Estado desaconselhando as operações. Também a estatal CEDAE aportou mais de R$250 milhões em um único CDB; antes da liquidação do Master, a CEDAE tentou o resgate parcial deste investimento, sem sucesso. Certamente não é coincidência que a rede de relacionamentos políticos de Vorcaro na direita brasileira tenha estendido seus braços para o dinheiro administrado pelo governo estadual do Rio de Janeiro.

Como resposta à relação incestuosa entre o criminoso de colarinho branco do Banco Master e a direita política da Diretoria do Banco Regional de Brasília, analistas financeiros informam que o Banco Central estuda a federalização do BRB, uma espécie de “intervenção branca”. O PCB considera que tal medida é positiva, mas extremamente insuficiente.

Para o Partido Comunista Brasileiro, negociatas no sistema financeiro privado não são surpresa nem novidade. Desde que estourou o escândalo das ligações do crime organizado do PCC com os banqueiros da Faria Lima paulistana, tem ficado cada vez mais evidente que todo banco privado é, na sua essência, uma organização criminosa de colarinho branco.

Portanto, o PCB entende que devemos recuperar uma bandeira histórica que durante muito tempo foi defendida pela esquerda brasileira, mas que foi abandonada neste século por boa parte dos setores progressistas: a estatização do sistema financeiro sob controle popular! O caso criminoso do BRB demonstra que não basta estatizar os bancos: é preciso instaurar controle social e popular sobre o sistema financeiro.

PUNIÇÃO PARA OS CRIMINOSOS FINANCEIROS!

ESTATIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO SOB CONTROLE POPULAR!

Partido Comunista Brasileiro – Comitê Central

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Deu no New York Times: o Brasil desafiou Trump – e venceu

Maior jornal dos Estados Unidos reconhece a vitória do presidente Lula na guerra tarifária e na resistência às pressões após a prisão de Jair Bolsonaro

24 de novembro de 2025

Lula e Trump (Foto: Ricardo Stuckert)



 


 





Por Paulo Emilio

247 - A prisão de Jair Bolsonaro marcou um ponto de virada na relação entre Brasília e Washington. O episódio escancarou a limitação da influência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tentou, sem sucesso, intervir no processo judicial do ex-mandatário brasileiro. A análise, publicada nesta segunda-feira (24) pelo jornal estadunidense The New York Times, avalia que o Brasil conseguiu “enfrentar Donald Trump e vencer” ao não ceder às pressões do presidente dos Estados Unidos sobre a prisão de Jair Bolsonaro (PL).

No texto, o jornalista Jack Nicas, ex-correspondente do veículo no país, destaca como Trump utilizou tarifas comerciais e sanções diplomáticas para tentar impedir o avanço das acusações contra Bolsonaro. A ofensiva, porém, não alterou o rumo das instituições brasileiras, que seguiram adiante até a condenação e detenção do ex-mandatário brasieliro. 

A reação de Trump no sábado (22), ao ser informado da prisão de Bolsonaro, resumiu o desgaste de sua atuação. “Que pena”, disse. Questionado se teria sido avisado previamente, respondeu: “Não. Acho uma pena”. A frieza contrastou com o tom agressivo adotado meses antes, quando enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exigindo a retirada das acusações de tentativa de golpe atribuídas a Bolsonaro. Naquele momento, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou o ministro Alexandre de Moraes, numa escalada diplomática sem precedentes.

Mudança de cenário

A anaálise destaca que, cinco meses depois, o cenário mudou completamente. Bolsonaro, de 70 anos, foi condenado a uma pena de 27 anos  etrês meses de prisão, e Trump retirou parte das tarifas aplicadas ao Brasil após uma reunião cordial com Lula. Analistas citados pela reportagem observam que a pressão da Casa Branca pode ter tido efeito inverso, endurecendo a posição das autoridades brasileiras e ampliando a punição ao ex-mandatário.

A ofensiva comercial de Washington também provocou impactos internos nos Estados Unidos, elevando o preço de itens como carne bovina e café em um momento de forte cobrança por redução do custo de vida. Enquanto isso, Lula emergiu politicamente fortalecido, tendo enfrentado e superado o confronto diplomático com a principal potência global.

Outro desdobramento citado pelo jornal envolve Eduardo Bolsonaro, que agora enfrenta acusações criminais por tentar influenciar a Casa Branca em defesa do pai. Segundo especialistas, o episódio ampliou a percepção de interferência externa e acirrou a resposta das instituições brasileiras.

Prisão de Bolsonaro

Bolsonaro foi preso após autoridades detectarem que ele havia violado a tornozeleira eletrônica instalada durante o regime de prisão domiciliar. À polícia, afirmou ter tentado queimar o equipamento com um ferro de solda e, mais tarde, responsabilizou medicamentos que estaria tomando por supostas alucinações. Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e responsável pelo caso, determinou a prisão ao considerá-lo risco de fuga, destacando sua proximidade com a embaixada dos Estados Unidos — local onde poderia solicitar asilo. Reportagem do NYT revelou ainda que, no ano anterior, Bolsonaro chegou a dormir na Embaixada da Hungria em Brasília com o mesmo objetivo.

Apesar das ameaças iniciais de retaliação, a Casa Branca não avançou contra o Brasil após a condenação. Ao contrário: Trump aproximou-se politicamente de Lula. No discurso que fez na ONU, em setembro, ele improvisou elogios ao encontro que teve com o presidente brasileiro, afirmando que ambos tiveram “grande química”.

Encontro entre Lula e Trump

Já em outubro, antes de nova reunião bilateral, Trump foi questionado sobre Bolsonaro. “Eu sempre achei que ele era direto, mas…”, respondeu, interrompendo a frase. “Ele passou por muita coisa.” Após o encontro, centrou seus elogios apenas em Lula: “Ele é um cara muito vigoroso. Fiquei muito impressionado”, afirmou, desejando-lhe feliz aniversário pelos 80 anos completados naquele dia.

País soberano

Em seguida, Trump assinou a ordem executiva que retirou as tarifas mais pesadas sobre carne e café brasileiros, justificando a decisão pelo “progresso nas negociações” com o governo Lula. O gesto abriu espaço para novas tratativas, inclusive sobre acesso a reservas estratégicas de minerais críticos, algo que Washington tem buscado em países latino-americanos.

Apesar da distensão diplomática, os Estados Unidos mantiveram as sanções contra Alexandre de Moraes. A postura do ministro — que ordenou o bloqueio de contas em redes sociais de aliados de Bolsonaro e conduziu parte das investigações — é alvo de debates sobre os limites de sua atuação.Ao ser questionado, no domingo, sobre os comentários de Trump a respeito da prisão, Lula respondeu de forma contundente: “Trump precisa entender que somos um país soberano”.

EM TEMPO: Apesar de Trump não ser "outo 18", o certo é que a diplomacia brasileira com Mauro Vieira e Celso Amorim, é altamente capacitada e se equipara a Lavrov, da Rússia e a Ex-chanceler Alemã, a Ângela Merkel. Além do mais Trump costuma dialogar com quem detém o poder das "cartas" e não de "tornozeleira eletrônica". Ok, Moçada!

Entre a fuga e a farsa: o cálculo político por trás da tornozeleira

Estratégia bolsonarista transforma a destruição da tornozeleira em ato calculado para reacender mobilização política e tensionar as instituições.

Por Florestan Fernandes Jr (Jornalista)


Tornozeleira de Jair Bolsonaro (Foto: SEAP/Divulgação)


 







Ao tentar se desvincular da tornozeleira eletrônica, o aparelho responsável por emitir o sinal de monitoramento da sua localização, Jair Bolsonaro cometeu um ato extremamente grave. Não há a menor possibilidade de alegar desconhecimento. Utilizar um ferro de solda para danificar o equipamento poderia causar ferimentos sérios na própria perna, o que ele evitou com precisão calculada. Bolsonaro sabia exatamente o que fazia, assim como sabia que perderia o direito de permanecer em prisão preventiva domiciliar.

A questão central agora é entender qual era o objetivo político do ex-presidente ao orientar seu filho, Flávio Bolsonaro, a convocar uma vigília em frente ao condomínio onde vive. A Polícia Federal trabalha com a hipótese de uma tentativa de fuga para uma das embaixadas localizadas próximo à residência. Mas não se pode descartar um componente mais amplo: uma ação coordenada pelos estrategistas da extrema-direita norte-americana, que há anos atuam de forma sistemática nas campanhas e na manipulação da opinião pública em governos ultraconservadores da América Latina.

Não seria surpreendente se Steve Bannon, reconhecido como o “guru” da comunicação da extrema-direita global e influência constante sobre o bolsonarismo, estivesse por trás dessas ações articuladas pela família Bolsonaro. Em outubro e novembro, Flávio Bolsonaro se encontrou duas vezes com o irmão Eduardo, uma nos Estados Unidos e outra em El Salvador. São justamente eles os principais articuladores da estratégia para livrar o pai da condenação por tentativa de golpe de Estado contra a democracia brasileira.

O que foi discutido nesses encontros? Tudo indica que a convocação da vigília e a tentativa de destruição da tornozeleira integram um plano de mobilização dos bolsonaristas mais fiéis. Nos últimos meses, com a prisão domiciliar, Bolsonaro foi desaparecendo do noticiário nacional, perdendo centralidade política. As notícias que restavam se limitavam às visitas autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, geralmente de governadores em busca de apoio para 2026. Bolsonaro, por sua vez, evitava declarar qualquer apoio: tentava prolongar a aura de líder indispensável em um movimento que termina o ano sem um sucessor claro.

A reviravolta ocorre quando o próprio Flávio Bolsonaro, na última sexta-feira (21/11), grava e divulga um vídeo convocando a vigília. Em tom messiânico, mistura versículos bíblicos com incitações ao confronto contra a Justiça e o Estado Democrático de Direito. A partir disso, após pedido da Polícia Federal e parecer favorável do PGR, Alexandre de Moraes determina a prisão preventiva do ex-presidente, que é levado para a Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. O episódio recoloca Bolsonaro nas manchetes, recupera momentaneamente o espaço político que vinha perdendo e reacende o proselitismo que já dava sinais de esgotamento.

Ao ser levado para a carceragem da Polícia Federal, ele tenta retomar a velha narrativa de perseguido político, justamente a lenda que alimenta seu núcleo mais radical. Se essa estratégia funcionará, só o tempo dirá. Mas tudo indica que o poder de mobilização bolsonarista está se exaurindo, desgastado pelo cansaço, pelo excesso de escândalos e pela falta de novos protagonistas.

Como dizia meu saudoso amigo Carlos Chagas: vamos aguardar

sábado, 22 de novembro de 2025

Moraes cita plano de fuga e violação de tornozeleira ao ordenar prisão de Bolsonaro

Ministro do STF cita possibilidade de o ex-presidente buscar abrigo na embaixada dos EUA antes da prisão preventiva

22 de novembro de 2025



 

O ministro do STF Alexandre de Moraes durante o julgamento do Núcleo 4 da trama golpista (Ação Penal 2694) - 14/10/2025 (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

 



Por Luis Mauro Filho

247 - O ministro Alexandre de Moraes, do STF, fundamentou a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com base no risco de fuga e na violação de sua tornozeleira eletrônica na madrugada de sábado (22). 

Moraes relatou que o equipamento de monitoramento, usado por Bolsonaro desde julho, foi rompido às 0h08 de sábado (22). Para o ministro, a violação ocorreu em meio ao tumulto gerado pela vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em frente ao condomínio do ex-presidente, o que poderia ter sido utilizado como cobertura para uma tentativa de fuga.

Na decisão, Moraes registrou: "O Centro de Integração de Monitoração Integrada do Distrito Federal comunicou a esta Suprema Corte a ocorrência de violação do equipamento de monitoramento eletrônico do réu Jair Messias Bolsonaro, às 0h08min do dia 22/11/2025". O ministro acrescentou que "a informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho".

Outro ponto que pesou na determinação da prisão foi a avaliação de que Bolsonaro poderia tentar abrigo diplomático. Moraes observou que o condomínio do ex-presidente fica a aproximadamente 13 quilômetros da embaixada dos Estados Unidos, trajeto estimado em cerca de 15 minutos de carro. Ele afirmou ainda que Bolsonaro teria cogitado uma “fuga para a embaixada da Argentina, por meio de solicitação de asilo político àquele país”.

A Polícia Federal cumpriu o mandado de prisão preventiva na manhã de sábado (22), levando Bolsonaro da residência onde cumpria prisão domiciliar desde 4 de agosto à Superintendência da PF em Brasília. O deslocamento foi feito por um comboio com pelo menos cinco veículos, que chegou ao local por volta das 6h. A PF informou que agiu por determinação do STF, do qual Moraes é relator no processo que apura a trama golpista.

Aliados relataram que Bolsonaro apresentava soluços, mas se mantinha sereno no momento em que foi detido. Até a publicação desta matéria, sua defesa ainda não havia se manifestado publicamente.

Assista ao comentário:

https://www.youtube.com/watch?v=gkWrtmWOThY

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

População convoca manifestações e ‘povo pela antifacção’ bomba nas redes

Lideranças do campo progressista também criticaram o projeto que tem como relator Guilherme Derrite, ex-secretário de Tarcísio.

19 de novembro de 2025


 

Câmara dos Deputados e Guilherme Derrite (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

 

Por Leonardo Lucena

247 - Políticos do campo progressista e internautas foram às redes sociais convocar manifestações contra o projeto de lei antifacção (5582/2025), que tem como relator o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança Pública do governo do estado de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Na rede social X, a expressão ‘povo pela antifacção’ ficou entre os assuntos mais comentados na plataforma. Foram 370 votos favoráveis e 110 contrários. A medida será analisada no Senado após a aprovação.

De acordo com o senador Humberto Costa (PT-PE), “o Brasil precisa de investigação forte e de uma Polícia Federal com autonomia para enfrentar as facções”. “Mas enquanto o governo cria o PL Antifacção para combater o crime, a extrema direita tenta enfraquecer a PF e sabotar as investigações”.

Confira as reações nas redes sociais:

A proposta

O projeto, que no substitutivo da Câmara ganhou o nome de "marco legal do combate ao crime organizado no Brasil", tipifica várias condutas comuns de organizações criminosas ou milícias privadas e atribui a elas pena de reclusão de 20 a 40 anos em um crime categorizado como “domínio social estruturado”. Segundo a proposta, o favorecimento a esse domínio será punido com reclusão de 12 a 20 anos.

Segurança máxima

A proposição prevê, por exemplo, a apreensão prévia de bens do investigado em certas circunstâncias, com a possibilidade de perda desses bens antes do trânsito em julgado da ação penal. Também impõe restrições ao condenado pelos crimes de "domínio" ou "favorecimento", como proibição de ser beneficiado por anistia, graça ou indulto, fiança ou liberdade condicional. Dependentes do segurado não contarão com auxílio-reclusão se ele estiver preso provisoriamente ou cumprindo pena privativa de liberdade, em regime fechado ou semiaberto, em razão de ter cometido qualquer crime previsto no projeto.

Pessoas condenadas por esses crimes ou mantidas sob custódia até o julgamento deverão ficar obrigatoriamente em presídio federal de segurança máxima se houver indícios concretos de que exercem liderança, chefia ou fazem parte de núcleo de comando de organização criminosa, paramilitar ou milícia privada. Aquele que somente praticar atos preparatórios para ajudar a realizar as condutas listadas poderá ter a pena reduzida de um terço até a metade.

Controle de territórios

De acordo com o projeto, facção criminosa é a organização criminosa ou mesmo três ou mais pessoas que empregam violência, grave ameaça ou coação para controlar territórios, intimidar populações ou autoridades. O enquadramento valerá ainda quando atacarem serviços, infraestrutura ou equipamentos essenciais e se praticarem ocasionalmente “quaisquer atos” destinados à execução dos crimes tipificados no projeto.

Poderão também ser aplicadas, no que couber, regras específicas de apuração, investigação e obtenção de prova previstas para crimes de organização criminosa em relação aos crimes listados no projeto.

Polícia Federal

Uma das polêmicas mas primeiras versões de relatório apresentadas pelo deputado Derrite — foram seis no total — era a alteração na atribuição da Polícia Federal. O trecho que condicionava a ação da PF contra o crime organizado à concordância de governadores foi retirado na versão final.

A PF também continua responsável, com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, pela cooperação internacional nas esferas policial, judiciária ou de inteligência quando os crimes tiverem envolvimento com organizações estrangeiras. Acordos, tratados, convenções e princípios de reciprocidade internacionais serão observados para fins de investigação, extradição e recuperação de ativos, por exemplo.

Outro ponto em discussão é a destinação de recursos à PF por meio de fundos federais, como o Fundo de Segurança Pública e o Fundo Antidrogas. Ouvido pela CPI do Crime Organizado do Senado na terça-feira, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que, pela última versão do texto de Derrite, que terminou aprovado pelos deputados, haveria diminuição de recursos destinados à Polícia Federal em razão da repartição de fundos federais.

"Domínio social"

De acordo com o texto aprovado pelos deputados, será crime de "domínio social estruturado" a prática, independentemente de suas razões ou motivações, das seguintes condutas por integrante de organização criminosa, paramilitar ou milícia privada:

·         usar violência ou grave ameaça para intimidar ou constranger a população ou agentes públicos para controlar território;impedir, obstruir ou criar embaraços à atuação das forças de segurança pública, à perseguição policial ou às operações de manutenção da ordem utilizando-se de barricadas, bloqueios, incêndios ou destruição de vias;

·         impor, com violência ou grave ameaça, qualquer tipo de controle social para o exercício de atividade econômica, comercial, de serviços públicos ou comunitários;

·         usar explosivos, armas de fogo ou equipamentos para assaltar instituições financeiras, bases de transportadoras de valores ou carros-fortes ou mesmo para dificultar a atuação da polícia;

·         promover ataques, com violência ou grave ameaça, contra instituições prisionais;

·         danificar, depredar, incendiar, destruir, saquear, explodir ou inutilizar, total ou parcialmente, meios de transporte;

·         tomar ou sabotar aeronaves com exposição de vidas a perigo ou comprometendo a segurança da aviação civil;

·         sabotar ou tomar, total ou parcialmente, portos, aeroportos, estações e linhas férreas ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos e outras instalações de serviços públicos essenciais, como energia elétrica ou refinarias;

·         interromper ou acessar informações sigilosas para obter vantagem de qualquer natureza em sistemas de bancos de dados públicos ou serviços de comunicações governamentais ou de interesse coletivo;

·         empregar ou ameaçar usar armas de fogo, explosivos, gases tóxicos, venenos, agentes biológicos, químicos ou nucleares, expondo a perigo a paz e a incolumidade pública;

·         restringir, limitar ou dificultar a livre circulação de pessoas, bens e serviços, públicos ou privados, sem motivação legítima reconhecida por leis.

Exceto nos dois últimos casos, se o agente praticar essas condutas mesmo sem fazer parte de organização criminosa, paramilitar ou milícia privada, a pena de reclusão será de 12 a 30 anos, sem prejuízo de penas correspondentes à ameaça, à violência ou a outros crimes previstos na legislação. Todas as demais restrições serão aplicáveis, como as relativas aos crimes hediondos e proibição de auxílio-reclusão. 

Aumento de pena

Quanto aos agravantes, ou seja, as situações de aumento de pena, o PL 5.582/2025 prevê o aumento de metade a dois terços da pena de reclusão de 20 a 40 anos, se:

·         o agente exercer comando ou liderança, mesmo que não tenha praticado pessoalmente os atos;

·         o agente, de qualquer forma, obter recursos ou informações para financiar essas condutas;

·         as condutas forem praticadas com violência ou grave ameaça contra polícia ou Forças Armadas, membro do Judiciário ou do Ministério Público, criança, adolescente, idoso, pessoa com deficiência ou qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade, ou mesmo se houver o envolvimento, coação ou aliciamento destes para praticar ou ajudar a praticar os atos;

·         houver conexão com outras organizações criminosas;

·         houver participação de funcionário público para a prática de infração penal;

·         houver infiltração no setor público ou atuação direta ou indireta na administração de serviços públicos ou em contratos governamentais;

·         houver emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum;

·         o agente recrutar ou permitir que criança ou adolescente faça parte desses atos;

·         as circunstâncias indicarem a existência de relações com outros países ou se o produto da infração penal for enviado ao exterior;

·         houver emprego de drones ou similares, sistemas de vigilância eletrônica, criptografia avançada ou recursos tecnológicos de monitoramento territorial, localização de operações policiais; ou

·         o crime for cometido para obter vantagem econômica com a extração ilegal de recursos minerais (garimpo ilegal) ou com a exploração econômica não autorizada de florestas e demais formas de vegetação, de terras de domínio público ou devolutas ou de áreas de preservação permanente e de unidades de conservação.

O julgamento de homicídios praticados por esses grupos, ou sua tentativa, será realizado por colegiado de juízes (varas criminais colegiadas), quando tiverem conexão com os crimes citados. Conforme o projeto, a prática desses crimes será motivo suficiente para decretar a prisão preventiva. 

"Favorecimento"

Quanto ao crime de "favorecimento do domínio social estruturado", ele será caracterizado somente pelo fato de aderir a ou fundar organização criminosa, paramilitar ou milícia ou mesmo apoiá-las de qualquer forma. Outros seis tipos de condutas tipificam esse crime, se relacionados ao "domínio social estruturado":

·         dar abrigo ou ajudar quem tenha praticado ou esteja em via de praticar as condutas;

·         distribuir mensagem para incentivar outra pessoa a cometer essas condutas;comprar, produzir ou guardar material explosivo ou arma de fogo para a prática dessas condutas;

·         utilizar local ou bem de qualquer natureza para praticar essas condutas;

·         fornecer informações em apoio a organização criminosa, paramilitar ou milícia que pratique essas condutas;

·         alegar falsamente pertencer a organização criminosa, paramilitar ou milícia para obter qualquer tipo de vantagem ou intimidar terceiros. 


C  Crimes hediondos

Os crimes de "domínio social estruturado", seus agravantes e o de favorecimento desse domínio são considerados crimes hediondos no projeto. Isso valerá ainda para quem praticar as condutas relacionadas ao "domínio estruturado" sem fazer parte de organização criminosa, grupo paramilitar ou milícia privada.

Atualmente, a Lei de Crimes Hediondos lista mais de 30 categorias de crimes de vários tipos considerados hediondos, para os quais também não podem ser concedidas anistia, graça ou indulto ou fiança, além de terem progressão de regime mais longa.

Para todos os crimes considerados hediondos pela Lei 8.072, de 1990, o texto aprovado pela Câmara aumenta o tempo de cumprimento de pena em regime fechado antes de o condenado ter acesso ao regime semiaberto, cumprindo as condições legais. Assim, o condenado por esse tipo de crime que for réu primário terá de cumprir 70% da pena em regime fechado, em vez dos 40% de hoje. No caso do reincidente, o mínimo de 60% em regime fechado passa para 80%. Quando a pessoa for reincidente e o crime hediondo resultar em morte da vítima, o percentual passa de 70% para 85%.

Se o réu condenado por crime hediondo com resultado de morte for primário, o total de tempo em regime fechado passa de 50% para 75% da pena. Igual mudança valerá para quem for condenado pelo crime de constituir milícia privada. Condenados por exercerem comando de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo também deverão cumprir 75% da pena em vez de 50%. Nesse caso, o PL 5.582/2025 proíbe o acesso à liberdade condicional. A proposta também prevê o feminicídio como novo caso nesse cumprimento de 75% da pena no regime fechado, também com proibição de acessar a liberdade condicional. 

Empresa

Quanto ao prazo para concluir o inquérito policial dos crimes listados na eventual futura lei, ele será de 30 dias se o indiciado estiver preso ou de 90 dias se estiver solto, ambos prorrogáveis por igual período.

Além disso, como consequência da condenação, o projeto prevê a suspensão, por 180 dias, do CNPJ de empresa constituída para realizar a receptação de produtos originários de crime. No caso de reincidência, o administrador da empresa não poderá exercer o comércio por cinco anos.

Também está no texto a proibição de voto para condenados em prisão provisória: Fica proibido para essas pessoas o alistamento de eleitor e o cancelamento de seu título eleitoral, se já o preso possuir esse documento (com agências Câmara e Senado).