terça-feira, 8 de abril de 2025

Herbicida 2,4-D: o veneno utilizado na Guerra do Vietnã que ainda reina na agricultura brasileira

O que está em jogo é a saúde dos agricultores, das comunidades que vivem perto de áreas de plantio e todos os consumidores

08 de abril de 2025

 


Por Adão Pretto Filho (Dep. Estadual pelo PT/RS)

 

Produtos com agrotóxicos (Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil)




Nos últimos anos, o Brasil se consolidou como o maior consumidor mundial de agrotóxicos, um título que nos envergonha e que não podemos mais ignorar. Entre os produtos químicos utilizados de forma intensiva, destaco o herbicida 2,4-D, cujos riscos para a saúde humana e para o meio ambiente são amplamente reconhecidos e comprovados. Esse composto, que já foi parte do famigerado “Agente Laranja” durante a Guerra do Vietnã, tem causado sérios impactos em nosso país, afetando não apenas trabalhadores rurais, mas também a biodiversidade e os ecossistemas.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica o 2,4-D como um produto altamente tóxico. Não é difícil entender por que essa substância recebe tal classificação. Dados da própria Anvisa revelam que, entre 2007 e 2015, foram registrados 619 casos de intoxicação pelo herbicida no Brasil. A grande maioria desses casos – cerca de 71% – envolveu homens que trabalham nas zonas rurais, expostos ao 2,4-D durante suas atividades diárias, especialmente nas pulverizações das lavouras.

No entanto, os perigos do 2,4-D não se limitam à intoxicação imediata. Estudos científicos mostram uma ligação clara entre o uso desse herbicida e o aumento de casos de doenças graves e crônicas, como câncer, doença de Parkinson e até distúrbios psicológicos, como a depressão. O impacto desse produto na saúde humana não deve ser subestimado, já que as consequências a longo prazo podem ser devastadoras.

Outro aspecto crucial que não podemos ignorar é o impacto ambiental causado pela deriva do 2,4-D. Quando esse herbicida é pulverizado nas lavouras, ele não permanece limitado à área onde ocorre a aplicação do veneno. A ação do vento pode levá-lo para regiões adjacentes, afetando ecossistemas inteiros e, muitas vezes, chegando até áreas urbanas. O resultado é a contaminação do ar, solo e águas de rios e lagos. Fauna e flora locais são severamente impactadas, com destaque para a morte de animais como frangos e peixes, que são extremamente sensíveis a essas substâncias químicas.

Até mesmo a viticultura, uma atividade agrícola tradicional, que faz com que o sul do Brasil seja reconhecido pela qualidade dos vinhos e espumantes, também sofre com os efeitos devastadores do 2,4-D. O mesmo efeito ocorre em pomares de laranjas e nas plantações de hortifruti. Esse herbicida prejudica a saúde das plantações de uva, comprometendo diretamente a qualidade da produção e, consequentemente, afetando a economia de diversas regiões que dependem dessa atividade. A utilização desenfreada desse produto coloca em risco a sustentabilidade de setores chave da nossa agricultura.

O uso do 2,4-D é autorizado no Brasil, mas é fundamental questionarmos: até quando vamos permitir que produtos tão tóxicos sigam sendo amplamente utilizados? Mais de oitenta agrotóxicos levam o 2,4-D em sua composição. Um absurdo!

O que está em jogo com a utilização deliberada do herbicida 2,4-D é a saúde dos agricultores, das comunidades que vivem perto de áreas de plantio e todos os consumidores que levam à mesa diariamente toneladas de alimentos contaminados por agrotóxicos. As evidências sobre os danos causados pelo uso excessivo de agrotóxicos são claras, e nossa dependência desses produtos coloca em risco tanto a saúde pública quanto o meio ambiente.

Em resposta a essa ameaça crescente, propus, no Rio Grande do Sul, a proibição do uso do 2,4-D, com o objetivo de proteger a saúde pública e o meio ambiente. A medida visa reduzir os riscos associados ao uso desse herbicida e promover alternativas agrícolas mais sustentáveis no estado.

É urgente que o debate sobre a liberação e o uso de agrotóxicos seja levado a sério. O Rio Grande do Sul foi devastado em 2024 devido às enchentes. O impacto ambiental de práticas como o abuso de agrotóxicos é gigantesco. Por isso, devemos priorizar políticas públicas que incentivem práticas de agroecologia, a produção sustentável e o uso de alternativas menos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. O Brasil não pode continuar sendo um líder mundial no consumo de agrotóxicos. Para revertermos esse cenário assustador, temos que ser radicais no combate ao uso de veneno em nossas plantações. Não temos mais tempo a perder

segunda-feira, 7 de abril de 2025

GLAUBER FICA! VAI TER LUTA!

 


 

Nota Política do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Nesta quarta-feira, 02/04, o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), relator do processo que tramita contra o deputado Glauber Braga dentro do Conselho de Ética da Câmara Federal, recomendou a cassação do seu mandato socialista.

Num relatório esdrúxulo e distorcido, desconsiderando toda a argumentação objetiva da defesa e das testemunhas arroladas no processo e atendendo aos objetivos da direita golpista, Paulo Magalhães cumpre o papel de testa-de-ferro de Arthur Lira , atentando contra os mais de 79 mil eleitores de Glauber.

O processo de cassação, todo viciado e já pré-montado, vem num momento em que o bolsonarismo está na defensiva, com o genocida prestes a ser preso e ao mesmo tempo uma insatisfação pública cada vez mais crescente com o orçamento secreto. Glauber tem o mandato mais firme e contundente contra os golpistas do 8 de janeiro e contra os roubos do orçamento secreto. Não por acaso o pedido de cassação por parte do relator vem exatamente neste momento.

Diante desse enorme ataque à classe trabalhadora do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil de maneira geral, o Partido Comunista Brasileiro vem somar forças e mobilizar o conjunto de nossa militância e dos nossos coletivos partidários na batalha pela manutenção do mandato do deputado Glauber Braga, um parlamentar que coloca toda a sua energia, política e recursos a serviço das lutas dos trabalhadores e da construção do poder popular, desde as emendas participativas até às audiências públicas, projetos apresentados e discursos, dentro do Congresso e principalmente nas ruas. Glauber tem seu mandato em sintonia com os melhores interesses da classe trabalhadora, por isso é tão odiado e atacado pelos representantes dos patrões e capitalistas brasileiros.

Os mesmos que defendem a manutenção dos roubos de dinheiro público com o orçamento secreto, que são contra o fim da escala 6×1, que defenderam a PL do estupro, que defendem o ladrão de jóias, que lutam pela anistia aos golpistas e bandidos agora tentam cassar um mandato popular, combativo e socialista.

Não passarão!

Estaremos firmes, presentes em todas as mobilizações e, junto com a força das organizações populares e de luta, não permitiremos a cassação de Glauber!

Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

 

 

sábado, 5 de abril de 2025

Vôos interrompidos: o que restou do projeto de soberania nacional da Pan Air ao Gripen

O Gripen não caiu por obsolescência. Foi abatido em pleno voo por interesses geopolíticos que encontraram, na Lava Jato, seu míssil mais eficaz

Caça Gripen (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


 

Por Reynaldo Aragon e Sara Goes –






Houve um momento, não muito distante, em que o Brasil ousou sonhar com soberania. Não apenas no discurso — mas nos sistemas, nos cabos, nos chips. Um projeto de país em que a defesa nacional não dependesse do humor de potências estrangeiras nem da assinatura de CEOs de multinacionais. Um projeto em que a Força Aérea voasse com aviões modernos construídos não só com metal e combustível, mas com ciência, pesquisa e soberania.

Esse projeto tomou forma no início da década de 2010, quando o Brasil optou por adquirir o caça sueco Gripen NG da Saab, dentro do programa FX-2. A decisão ia além da compra de aeronaves: previa a incorporação de tecnologia nacional, integração de armamentos desenvolvidos localmente, e fortalecimento da indústria de defesa brasileira — especialmente em sinergia com os países do sul global. O Brasil, como membro dos BRICS, apostava em um modelo de cooperação tecnológica entre nações não alinhadas à lógica militar da OTAN

O coração desse projeto era a Mectron Engenharia, empresa brasileira que desenvolvia sistemas de mísseis, radares e comunicação. Sob controle da Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), a Mectron participava do desenvolvimento do míssil A-Darter em parceria com a África do Sul, com o objetivo de armá-lo no Gripen nacional. Também era responsável por integrar datalinks brasileiros à aeronave. Era, enfim, uma tentativa real e concreta de criar um Gripen — com autonomia de decisão, operação e dissuasão.

Mas o ataque à soberania nacional não começou nos anos 2010.

Em 1965, a ditadura militar brasileira cassou arbitrariamente as operações da Panair do Brasil, companhia aérea fundada em 1929 e nacionalizada nos anos 1940, que até então era a maior da América Latina. A Panair foi muito mais que uma empresa de aviação: foi instrumento de integração nacional, com uma malha que conectava o Brasil profundo — inclusive o até então isolado Nordeste — às principais capitais do país e ao mundo. Suas aeronaves levavam engenheiros, projetos, equipamentos e autoridades para regiões que o Estado mal alcançava por terra. Ao cortar os voos da Panair, o regime militar não apenas entregou o setor aéreo a aliados econômicos: interrompeu um processo de costura territorial que dava ao Brasil a chance de se pensar inteiro, conectado e soberano.

A cassação da Panair foi o aviso: todo projeto de soberania que não se submeta será abatido em pleno voo.

Décadas depois, esse padrão se repetiria com novos nomes e métodos. A partir de 2014, a Operação Lava Jato passou a atuar como instrumento central da guerra híbrida contra o Brasil. O discurso anticorrupção serviu de cortina de fumaça para o desmonte das principais empresas de engenharia, petróleo e defesa do país. A ODT foi implodida. A Mectron, desintegrada. O projeto do míssil nacional, paralisado. A cadeia produtiva da soberania — rompida. 

Com a destruição desses pilares, abriu-se espaço para a entrada de atores estrangeiros em áreas estratégicas. E foi nesse vazio que Israel avançou.
A Elbit Systems, gigante bélica israelense, assumiu o controle de sistemas fundamentais da defesa brasileira através de sua subsidiária AEL Sistemas, com sede em Porto Alegre. Entre seus encargos, está o fornecimento do capacete com visor integrado, dos sistemas eletrônicos embarcados e da guerra eletrônica do Gripen. Ou seja: a aeronave que deveria representar a autonomia dos BRICS agora depende de uma potência estrangeira acusada de crimes de guerra, com alianças militares profundas com os EUA e a OTAN.


Essa dependência é mais que tecnológica. Ela é estratégica e diplomática. Porque o Brasil, mesmo sob forte pressão da sociedade civil, não pode romper relações com o Estado de Israel. Não pode, ainda que o mundo inteiro tenha visto — e denunciado — o massacre sistemático do povo palestino na Faixa de Gaza, onde mais de 30 mil civis foram assassinados em menos de seis meses. Mesmo diante do apartheid escancarado, das imagens de crianças carbonizadas, de hospitais destruídos, de jornalistas e funcionários da ONU executados — o governo brasileiro responde com recuos diplomáticos, silenciado pela dependência cibernética, tecnológica e militar. 

Romper relações com Israel hoje, ainda que justa e necessária do ponto de vista moral e humanitário, significaria enfrentar uma vulnerabilidade inaceitável no atual sistema de defesa nacional. Sistemas travariam. Dados seriam inacessíveis. Missões poderiam ser abortadas. É como se estivéssemos de mãos atadas, em nome de uma segurança que, no fundo, não nos pertence.

Essa condição colonial da era digital — em que a soberania se mede por controle de código-fonte e firmware — é o legado mais profundo da Lava Jato. Desmontou-se um projeto nacional em nome de uma falsa moralidade. Entregou-se a soberania a um Estado estrangeiro em nome de uma “blindagem” que cobra, em troca, silêncio diante do genocídio.

Agora, em 2025, há sinais tímidos de que o país tenta retomar as rédeas. O governo anunciou a estatização da Avibras, empresa de defesa com projetos de mísseis táticos e sistemas estratégicos de lançamento, ameaçada de falência após anos de abandono. Também foi anunciada a meta de elevar os gastos com defesa para 2,5% do PIB até 2030, com foco na reestruturação da indústria nacional e recuperação da capacidade de projetar poder com autonomia. Mas esses passos são ainda hesitantes diante do estrago feito. Não há reconstrução soberana possível sem revisão profunda da cadeia de dependências tecnológicas que hoje impedem o Brasil de tomar decisões plenamente livres — inclusive no campo da política externa.

O Gripen não caiu por obsolescência. Foi abatido em pleno voo por interesses geopolíticos que encontraram, na Lava Jato, seu míssil mais eficaz. No lugar dele, voa hoje um caça moderno, ágil — e submisso.

Investir em defesa é urgente. Retomar empresas estratégicas como a Avibras, antecipar a entrega de submarinos nucleares e ampliar o orçamento militar são movimentos fundamentais para um país que deseja afirmar sua soberania diante de um cenário internacional cada vez mais conflagrado. No entanto, há uma lição amarga que a história recente nos ensina: não há soberania militar possível sem soberania informacional. Os milhões investidos em mísseis, sistemas navais e aviões de combate podem ser revertidos contra o próprio país caso a infraestrutura institucional, científica e tecnológica nacional não esteja protegida de golpes, sabotagens e retomadas autoritárias.

 Uma extrema-direita no poder, alinhada a interesses estrangeiros, pode colocar em risco todo o conhecimento acumulado, transferindo tecnologias críticas para empresas externas ou desmontando novamente nossas capacidades estratégicas — como já ocorreu após a destruição da Odebrecht Defesa e da Mectron. Por isso, a reconstrução da soberania nacional exige, antes de tudo, um pacto político e civilizacional pela soberania informacional: investimento em ciência, em redes seguras, em autonomia digital e, sobretudo, na estabilidade das instituições democráticas. A soberania se constrói com aço, mas se mantém com código-fonte, com democracia, com infraestrutura cognitiva e com povo mobilizado. Sem isso, toda tecnologia é apenas um vetor de colonização potencial.