Médico localizou estudo acadêmico que revela: facada única no abdômen muito raramente resulta em morte
29 de abril de 2025
Por Joaquim de Carvalho (Jornalista).
Jair Bolsonaro e Adélio Bispo (Foto: Reprodução |
Ricardo Moraes/Reuters)
Jair Bolsonaro transformou sua internação numa
novela, com vídeos diários, com direito à trilha sonora. Parece um drama
mexicano. Só que o roteiro tem problema.
Bolsonaro vincula Adélio a um movimento de
esquerda, o que é falso - Adélio tinha militância na rede social identificada
com a direita e defendeu pelo menos um projeto de Bolsonaro, o da redução da
maioridade penal.
E Bolsonaro também diz que escapou da morte por
milagre.
O fato é que um estudo acadêmico feito na
Inglaterra – informa-me um médico na condição de anonimato –, analisou mil
casos de facada única no abdômen e apenas um resultou em óbito.
As mortes ocorrem com facadas múltiplas. Estou
aguardando o médico me enviar o estudo para escrever outro artigo.
Segundo ele, há outros estudos com número menor de
casos -- 100 e 200 --, e o resultado é parecido. Para esse médico, a hipótese
do auto atentado tem lógica.
Se o objetivo era matar Bolsonaro, Adélio poderia
usar um revólver. Até porque ele tinha feito curso de tiro, dois meses antes,
no mesmo clube de Florianópolis frequentado por Carlos Bolsonaro, o .38, e no
dia em que este estava na cidade.
É possível que Carlos Bolsonaro estivesse no clube
este dia – ele nega, diz que ia para o .38, mas desistiu. Em entrevista a Leda
Nagle, Carlos disse que talvez isso tenha salvado sua vida. Adélio poderia ter
ido lá com objetivo de matá-lo.
Ora, isso não faz sentido. Até o dia em que fez o
curso, Adélio não tinha postado nenhuma mensagem agressiva a Bolsonaro.
Ele começa a se manifestar de maneira agressiva ao
então pré-candidato a presidente alguns dias depois do curso, entra no próprio
perfil de Jair Bolsonaro e, num comentário, diz que gostaria de encontrá-lo na
rua, para enfrentá-lo fisicamente.
Alguns poderiam dizer que ele teria ido a Juiz de
Fora justamente para ter esse encontro, dois meses depois. Também não faz
sentido. Em depoimento, Adélio diz que foi à cidade mineira para
experimentá-la.
Ele vivia até então num circuito restrito: Montes
Claros, onde nasceu, Uberaba, onde trabalhou como garçom, e Florianópolis, onde
também trabalhou como garçom e entregador e, perto dali, Camboriú, como
servente de pedreiro.
Segundo depoimento, só soube que Bolsonaro estaria
na cidade quando viu um outdoor. Ele, então, fotografou os locais por onde
Bolsonaro passaria, e foi até o Parque Halfeld, de onde o então pré-candidato
saiu para uma caminhada pelo calçadão.
Quem estava ali, perto dele? Carlos Bolsonaro que,
ao avistá-lo, se trancou no carro. Disse que ficou com medo. Medo por quê? Até
então, pela narrativa do próprio Carlos, Adélio era um desconhecido.
Se era desconhecido e despertou medo nele, o certo
a fazer não era correr, mas avisar um dos muitos seguranças ou policiais que
estavam ali, para revistá-lo ou prendê-lo.
Até porque já circulava na cidade um zum zum zum de
que Bolsonaro poderia levar uma facada, o que não é comum em termos de atentado
para valer.
Quem falou na possibilidade da facada foi o
segurança voluntário Hugo Alexandro Ribeiro. Em seu depoimento, a promotora
pergunta:
– O senhor pode observar o contato do senhor Adélio
com outras pessoas antes do evento da facada?
Hugo responde:
– Olha, como um dos organizadores da segurança
voluntária, antes do Bolsonaro chegar ao Parque Halfeld, fui informado que
tinha pessoas querendo dar uma facada no Bolsonaro. Na hora que o Bolsonaro
chega, de fato, eu estou com o tenente-coronel que estava no comando da
operação, no meio da praça, no Parque Halfeld. Então, foi onde eu consegui
chegar próximo ao Bolsonaro, na porta da Funalfa. Eu fui andando na diagonal.
Então, a princípio, como um dos coordenadores, era para eu recebê-lo, mas eu
não consegui. Porque eu fui fazer uma varredura e avisar a PM que eu tinha sido
informado que um ou outro ia dar uma facada no Bolsonaro.
A promtora indaga:
– Havia sido informado por quem?
Hugo:
– Um colega. O colega na rua me conhecia, sabia que
eu estava na segurança e ele disse: “Hugo, corre os olhos aí, perto da banca,
tem pessoas que falaram que vão dar uma facada no Bolsonaro. E um colega meu,
que estava na formação comigo, nós fizemos o pente-fino, identificamos pessoas
prováveis e passamos a informação para a polícia.
A promotora:
– O senhor prestou esse depoimento em sede policial
também acerca de outras pessoas que teriam dito que queriam esfaquear também o
candidato?
Hugo:
– Não, o único depoimento que eu prestei foi no dia
do ocorrido na Polícia Federal.
E o segurança voluntário, que tinha sido militar do
Exército, identifica a fonte da informação: Célio Félix, também segurança em
Juiz de Fora.
Hugo já não está mais aqui para entrevista. Ele
faleceu em 2021, aos 56 anos, quando estava trabalhando como segurança em um
condomínio. Segundo laudo médico, a causa da morte foi infarto.
Há várias pontas ainda soltas no caso, embora a
Polícia Federal tenha encerrado a investigação com a conclusão de que Adélio
agiu sozinho, um lobo solitário.
Não foi investigada a hipótese do auto atentado.
Bolsonaro expõe sua barriga todos os dias, e já a tinha apresentado ao público
antes mesmo do evento de Juiz de Fora.
Em 29 de abril de 2018, ao participar de um culto
evangélico no Encontro dos Gideões, em Blumenau, o pastor perguntou quem tinha
doença no estômago.
Bolsonaro já estava doente antes da facada ou suposta facada(Photo: Reprodução)
Cutucado por Michele, Bolsonaro levantou a mão e
recebeu oração de cura. É a evidência de que ele já estava doente, pois havia
interrompido duas vezes a campanha, para ser atendido em hospital.
Qual era a doença que Bolsonaro tinha? Tem a ver com as internações
presentes?
Assista aos vídeos:


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