Putin quer que todas as pessoas confiem nele enquanto tenta fechar o verdadeiro “acordo do século”
Por Andrey Korybko (Analista político
americano baseado em Moscou)
07 de março de 2025
![]() |
(Foto: Reuters) |
Alguns dos apoiadores da Rússia, no país e no
exterior, têm-se mostrado céticos em relação ao compromisso de Donald Trump em
manter conversações de paz com Vladimir Putin, mas este acaba
de elogiar a abordagem de seu colega, enviando-lhes assim uma mensagem. Putin
falava numa reunião do conselho de administração do Serviço Federal de
Segurança (FSB) quando disse que seus primeiros contatos com Donald Trump
e sua equipe “inspiram certas esperanças”. Afirmou ainda que os EUA agora compartilham
o desejo da Rússia de reparar suas relações e trabalhar na solução de grandes
problemas estratégicos do mundo.
Vladimir Putin continuou dizendo que “nossos
parceiros demonstram pragmatismo e uma visão realista das coisas, e abandonaram
numerosos estereótipos, as chamadas regras, e clichês messiânicos e ideológicos
de seus antecessores”. Ele então avisou o FSB de que “uma parte das elites
ocidentais ainda está empenhada em manter a instabilidade no mundo e estas
forças tentarão perturbar ou comprometer o diálogo recentemente reatado”.
Em seguida, encarregou-os de “utilizar todas as
possibilidades oferecidas pela diplomacia e pelos serviços especiais para
impedir tais tentativas”. Sua última missão merece mais atenção devido ao seu
significado. Para começar, sugere que Vladimir Putin e Donald Trump estão
realmente aproximando-se de um acordo inovador que pode ser descrito como uma
“nova détente” entre seus países.[1]
Continuando, o ponto seguinte é que algumas elites
ocidentais poderão tentar impedir essa “nova détente”, uma vez que
seja contrária a seus interesses. Ninguém sabe que formas isto pode assumir,
mas o aviso de Vladimir Putin sobre como podem tentar perturbar este processo
sugere provocações contra a Rússia e/ou a Bielorrússia, enquanto suas palavras
sobre comprometer o diálogo podem referir-se a vazamentos ou mentiras. O FSB
deve, em qualquer caso, evitar preventivamente estes cenários ou ter planos
para o que a Rússia deve fazer se eles se concretizarem.
Em terceiro lugar, os dois pontos anteriores
implicam a preferência de Vladimir Putin pelo apoio público de seus
correligionários ao que ele está tentando alcançar diante da resistência de
alguma elite ocidental ou, pelo menos, que não o desacreditem questionando suas
intenções ou as de Donald Trump. Em outras palavras, a interpretação
“politicamente correta” dos acontecimentos recentes é que a Rússia e os EUA
estão trabalhando sinceramente para resolver seus problemas em benefício do
mundo, e tudo o que questione esta visão será mal visto pelo Kremlin.
O quarto ponto baseia-se no último, levantando a
possibilidade de que o apoiador que desafiar a nova interpretação
“politicamente correta” dos acontecimentos recentes pode até ser suspeito de
operar sob a influência da elite ocidental dissidente. Isto poderia levar ao
“cancelamento” dos estrangeiros e à investigação dos nacionais, dependendo da
forma como suas próprias opiniões dissidentes são expressas. E, finalmente, o
último ponto é que Vladimir Putin quer que todas as pessoas confiem nele
enquanto tenta fechar o verdadeiro “acordo do século”.
Tradução: Fernando Lima das Neves.
Nota
[1] Os detalhes foram compartilhados nas cinco
análises seguintes:
3 de janeiro: “A diplomacia da energia criativa
pode lançar as bases de um grande acordo russo-americano”
13 de fevereiro: “Eis o que vem a seguir depois de
Putin e Trump terem acabado de concordar em iniciar conversações de paz”
14 de fevereiro: “Por que a Rússia pode reparar seus
laços com o Ocidente e como isso poderia remodelar sua política externa?”
15 de fevereiro: “O discurso de Vance em Munique
confirmou a previsão de Putin para o verão de 2022 sobre a mudança política na
Europa”
25 de fevereiro: “A coreografia diplomática da Rússia
e dos EUA na ONU mostra seu compromisso com uma ‘Nova Détente’”
EM TEMPO: O diálogo recente entre Trump e Putin é de fundamental importância para a paz mundial, evitando, assim, a Terceira Guerra Mundial.