'O que ficou evidente é que há um único responsável pelo plano de tentativa de perpetuação do clã no poder: o patriarca', escreve Oliveiros Marques (Sociólogo)
25 de março de 2025
Jair Messias Bolsonaro em julgamento da denúncia do
núcleo 1 do inquérito do golpe (Foto: ROSINEI COUTINHO/STF)
Entre as inúmeras teses apresentadas pelos
advogados de defesa dos acusados de integrar a organização criminosa que
planejou e tentou executar um golpe de Estado, e que estão sendo julgados pelo
Supremo Tribunal Federal, apenas uma prevaleceu no primeiro de dia de
julgamento: a que confirmou a existência da tentativa de ruptura democrática,
que teve seu ápice com os atos de 8 de janeiro em Brasília.
Nenhum dos defensores — salvo engano, nem mesmo o
advogado daquele apontado como o líder da organização criminosa — contestou a
espinha dorsal da acusação. Todos os nobres causídicos, figuras renomadas da
advocacia brasileira, não contestaram o fato da existência da tentativa de
golpe. O próprio Bolsonaro, que já admitiu ter gasto mais de R$ 8 milhões com
sua defesa, viu seu advogado evitar qualquer contestação à narrativa central
apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Diante disso, restou às defesas apenas tentar
delimitar quem desempenhou papel de protagonista, quem foi mero coadjuvante ou
figurante na trama golpista. E foi nesse ponto que o feitiço virou contra o
feiticeiro. Não questionaram a existência da minuta do golpe, as operações Copa
2022 e Punhal, as diversas reuniões preparatórias do golpe, nem mesmo o
conteúdo dito pelos atores nessas reuniões. Aliás, muitos dos advogados
confirmaram todo o teor da denúncia.
Jair Bolsonaro, mestre em abandonar aliados pelo
caminho — como já fez com Carla Zambelli, que caminha para se tornar
presidiária, e no passado com Paulo Marinho, Gustavo Bebianno e tantos outros
—, desta vez sentiu o gosto do abandono oportunista. Em silêncio, assistiu da
primeira fila ao momento em que aliados o entregaram de bandeja.
O que ficou evidente, tanto no que foi dito quanto
no subtexto do dito, é que há um único responsável pelo plano de tentativa de
perpetuação do clã no poder: o patriarca. Bolsonaro, o pai, foi declarado
culpado, não pelo Supremo Tribunal Federal, mas pelos advogados daqueles que um
dia compartilharam consigo as aventuras passageiras do poder.
Pelo andar da carruagem, a condenação do ex-presidente parece apenas uma
questão de tempo. Os ratos já farejaram o perigo e levantaram o focinho
apontando para o mar. Hoje foi o sinal de abandono do navio. Surpresa nenhuma
se, em breve, aparecer alguém arrependido por não ter feito um acordo de
delação premiada. Sorte de Bolsonaro que a proposta de Augusto Heleno de
instituir prisão perpétua no Brasil nunca foi adiante.
Assistam: https://www.youtube.com/watch?v=174IiOhPE7c&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg
https://www.youtube.com/watch?v=B0fOuEYqCtY&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg&index=5
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