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Imagem gerada por IA (FEPAL) |
14 de março de 2025
O governo israelense e seus afiliados elaboraram uma estratégia multifacetada para desumanizar os palestinos e, por fim, legitimar sua terrível violência.
Por Ahmad Qadi*
FEPAL – Federação Árabe-Palestina do
Brasil
Desde o início de sua guerra genocida
contra Gaza, Israel reconheceu o espaço digital como um campo de batalha
crucial, tendo compreendido há muito tempo o poder das narrativas online.
Paralelamente aos seus esforços de destruição e limpeza étnica no terreno, o
país travou uma guerra digital implacável com o objetivo de silenciar a
narrativa palestina.
Empregando uma variedade de estratégias
para dominar o discurso digital, Israel investiu vastos recursos para suprimir
as vozes palestinas online. No entanto, apesar de suas extensas capacidades,
controlar a narrativa digital tem se mostrado muito mais desafiador, já que os
esforços para apagar as realidades palestinas online espelham suas ações no terreno.
Como uma tática-chave em sua guerra
digital, Israel implantou campanhas de desinformação para desacreditar os
palestinos, corroer a empatia por eles, deslegitimar suas reivindicações e
justificar seus ataques genocidas.
Campanha maciça de desinformação
Após o dia 7 de outubro de 2023, Israel
lançou uma operação de influência em grande escala e uma campanha de
desinformação para justificar seus ataques em larga escala contra civis e
infraestruturas palestinas na sitiada Faixa de Gaza. Simultaneamente, esses
esforços visavam deslegitimar as reivindicações palestinas por suas terras e
direitos, enquanto os desumanizava.
O Ministério dos Assuntos da Diáspora
de Israel financiou uma campanha secreta destinada a influenciar legisladores
americanos, particularmente democratas, direcionando a eles narrativas
pró-Israel. Esse esforço incluiu o uso de conteúdo gerado por inteligência
artificial (IA) em sites e plataformas de mídia social.
O governo israelense também foi
associado a campanhas que espalham islamofobia e sentimentos anti-muçulmanos
como parte de sua estratégia mais ampla de desinformação. O Ministério dos
Assuntos da Diáspora alocou aproximadamente US$ 2 milhões para essa operação de
desinformação, que buscava desumanizar os palestinos e espalhar alegações
falsas.
A OpenAI identificou e interrompeu
campanhas de desinformação envolvendo grupos israelenses que utilizaram IA para
gerar conteúdo, incluindo comentários curtos e artigos longos em vários
idiomas. Israel implantou ferramentas de IA e fazendas de bots para amplificar
a desinformação, com o objetivo de influenciar a opinião pública e desumanizar
ainda mais os palestinos.
Um desses esforços envolveu a empresa
israelense STOIC, que, com financiamento do Ministério dos Assuntos da
Diáspora, usou IA para produzir artigos e comentários em plataformas como
Instagram, Facebook e X (antigo Twitter). Essas narrativas geradas por IA foram
estrategicamente direcionadas a públicos no Canadá, nos EUA e em Israel. Para
amplificar o alcance dessas narrativas, o Ministério dos Assuntos da Diáspora
financiou uma operação secreta, aproveitando o conteúdo gerado por IA da STOIC
para moldar o discurso público e influenciar legisladores americanos, usando
ferramentas como o ChatGPT da OpenAI.
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Campanha manipulativa no YouTube
Paralelamente, o Ministério das
Relações Exteriores de Israel lançou uma campanha emocionalmente manipulativa
no YouTube, com o objetivo de desumanizar os palestinos.
A campanha foi analisada em um
relatório produzido pela 7amleh – O Centro Árabe para o Avanço das Mídias
Sociais, que concluiu que grande parte do conteúdo promovido era emocionalmente
carregado a ponto de violar os padrões da comunidade do YouTube.
A campanha apresentou uma onda de
anúncios gráficos projetados para provocar fortes reações emocionais dos
espectadores. Em apenas três semanas após o dia 7 de outubro, o ministério
criou 200 anúncios direcionados a países da Europa—como Alemanha, França,
Suíça, Bélgica, Reino Unido e EUA—alcançando milhões de espectadores. Esses
anúncios faziam parte de uma estratégia mais ampla para moldar as percepções
globais e desumanizar ainda mais os palestinos.
Um anúncio particularmente controverso,
conforme detalhado no relatório, ambientado em um cenário de arco-íris e unicórnios,
foi baseado em uma história infantil. O Google enfatizou que o anúncio foi
devidamente rotulado para garantir que não aparecesse ao lado de conteúdo
direcionado a crianças.
O texto do anúncio dizia: “Sabemos que
seu filho não pode ler isso. Temos uma mensagem importante para vocês, como
pais. Quarenta bebês foram assassinados em Israel por terroristas do Hamas
(ISIS). Assim como você faria tudo pelo seu filho, faremos tudo para proteger
os nossos. Agora abrace seu bebê e fique ao nosso lado.” A frase—“Fique ao
nosso lado”—pedia explicitamente apoio à ação militar israelense, mas o Google
não classificou o anúncio como incitação à violência ou violação dos direitos
humanos.
Influenciadores e plataformas de mídia
social
Ao mesmo tempo, influenciadores em
plataformas de mídia social foram contatados por e-mail e convidados a espalhar
propaganda israelense em troca de compensação financeira. Um influenciador do
TikTok compartilhou um e-mail oferecendo a ele US$ 5.000 para postar conteúdo
pró-Israel, além de “sessões de lavagem cerebral” para entender melhor a
situação. Embora o número exato de influenciadores contatados ou que aceitaram
a oferta permaneça desconhecido, é razoável supor que muitos o fizeram.
Paralelamente, Israel e grupos
pró-Israel pressionaram plataformas de mídia social para remover conteúdo
pró-palestino, silenciando jornalistas, ativistas e influenciadores por meio de
ameaças ou minando suas carreiras.
O Meta, por exemplo, tomou várias
medidas para censurar conteúdo pró-palestino, além de suas práticas existentes
que já visavam desproporcionalmente as vozes palestinas. Uma dessas medidas
envolveu a redução do limite de confiança para conteúdo palestino de 80% para
25%, o que significa que o conteúdo agora tinha maior probabilidade de ser
removido se fosse considerado potencialmente violador dos padrões da
comunidade. Essa mudança resultou em um aumento significativo na remoção de
conteúdo, de acordo com outro relatório produzido pela 7amleh.
Por outro lado, muitos grupos
pró-Israel ameaçaram ativamente ativistas e jornalistas pró-palestinos,
tentando prejudicar suas carreiras, manchar suas reputações e desacreditar seu
trabalho para obscurecer o que está acontecendo no terreno. Um exemplo notável
é o Honest Reporting, que enviou mais de 50.000 cartas a veículos de mídia no
Canadá desde outubro de 2023, visando jornalistas.
“Animais Humanos”
A disseminação de desinformação sobre a
guerra genocida israelense envolveu várias formas comuns de desinformação:
fotos e vídeos manipulados, alegações falsas, notícias falsas, reutilização de
conteúdo antigo, conteúdo fabricado, narrativas emocionalmente carregadas,
contas falsas e bots, conteúdo alterado, conteúdo fora de contexto e
engajamento de influenciadores e celebridades.
Israel empregou táticas notórias,
incluindo enquadrar o ataque de 7 de outubro a Israel de uma forma que o
descontextualizava historicamente, apresentando-o como um evento isolado, em
vez de uma consequência de décadas de colonização e repressão.
Israel tentou promover a narrativa de
que os palestinos atacaram Israel sem motivo, retratando-os como “animais
humanos” destinados à violência. Essa narrativa, propagada por políticos,
entidades e afiliados israelenses, alegava falsamente que os palestinos agiram
por desejo de eliminar os judeus, em vez de como uma reação a injustiças
históricas e ao cerco de muitos anos.
Ao mesmo tempo, enquanto Israel
trabalhava diligentemente para amplificar o impacto do ataque, mostrando a
destruição e as vítimas, precisava de justificativas mais fortes para fabricar
um consenso global para suas ações na Faixa de Gaza.
Para isso, Israel fabricou alegações
exageradas sobre a escala da violência contra israelenses durante o ataque de 7
de outubro, incluindo relatos falsos de “40 bebês decapitados”, “bebês em
fornos” e “estupros sistemáticos” de mulheres israelenses. Essas alegações
foram amplamente divulgadas sem verificação e adotadas por grandes veículos de
mídia em todo o mundo, antes que muitos deles as retratassem. Isso incluiu o
presidente dos EUA, Joe Biden, que inicialmente endossou a alegação antes de
reverter sua posição.
Outras falsidades foram fabricadas e
espalhadas durante as operações israelenses para justificar e legitimar ataques
a civis e instalações de saúde. Uma dessas alegações foi que um centro de
operações do Hamas estava localizado sob o Hospital Al-Shifa, ou que o Hamas
havia assumido o controle do hospital. Essas alegações visavam fornecer um
pretexto para os extensos ataques de Israel a instalações de saúde na Faixa de
Gaza.
Enquanto essas alegações falsas eram
projetadas para preparar o público e a opinião global para aceitar a limpeza
étnica e a destruição de comunidades inteiras, outra camada dessa campanha de
desinformação funcionava em paralelo, tentando branquear as ações de Israel ao
alegar que os palestinos estavam fingindo suas mortes e desacreditando as
vítimas.
Campanha “Pallywood”
A campanha “Pallywood” é um exemplo
proeminente de conteúdo retirado de cenas de atuação em diferentes contextos ou
períodos, alegando falsamente que cenas de morte foram encenadas.
Essa campanha não se limitou a usuários
comuns; um exemplo notável envolveu o porta-voz em árabe do escritório do
primeiro-ministro israelense, que compartilhou uma cena do Líbano, alegando
falsamente que era de Gaza. Outro vídeo sugeria que os palestinos estavam
fingindo suas feridas em Gaza, embora as imagens fossem na verdade de uma
reportagem de 2017 sobre um maquiador trabalhando em filmes palestinos e com
instituições de caridade. Numerosos outros exemplos foram circulados por
usuários israelenses ou pró-Israel para diminuir a empatia global pelos
palestinos.
A campanha de desinformação israelense
está profundamente entrelaçada com o genocídio no terreno. Sem uma operação de
influência tão vasta, Israel não teria tido a liberdade para realizar a
destruição de Gaza e suas comunidades.
O governo israelense e seus afiliados
elaboraram uma estratégia de múltiplas camadas para desumanizar os palestinos,
deslegitimar seus direitos e reivindicações, desacreditá-los, minar a
solidariedade, semear confusão entre ativistas e a mídia e, finalmente,
legitimar sua violência horrível.
* Escritor e defensor dos direitos
digitais da Palestina. Ele atua como gerente de documentação no 7amleh – The
Arab Center for the Advancement of Social Media. Seu trabalho se concentra em
censura digital, danos online e responsabilização de plataforma. Artigo
publicado em 07/03/2025 pelo The Palestine Chronicle.
EM TEMPO: Convém lembrar que o HAMAS é cria do governo de Israel e foi criado para combater a Autoridade Palestina.
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