sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

O leilão das escolas estaduais em São Paulo



 










Um ataque ao direito à educação

Nos dias 29 de outubro e 04 de novembro, o Governo de São Paulo, nas figuras de Tarcísio de Freitas e Renato Feder, venderam mais um serviço público na Bolsa de Valores, dessa vez concedendo à uma empresa privada a construção, administração e manutenção de dezenas de escolas públicas do estado. De acordo com a concessão, a empresa vencedora do 1° leilão, Consolare (a mesma que administra os cemitérios privatizados da capital), receberá por mês R$11 milhões dos cofres públicos para prestar estes serviços por 25 anos.

Logo após a concessão das primeiras escolas, no dia 29 de outubro, a APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) entrou com uma liminar interrompendo parcialmente a implementação do programa. De acordo com o sindicato, o edital desconsidera o princípio constitucional da gestão democrática, desrespeitando a integração necessária entre a administração do espaço físico escolar e as funções pedagógicas, resultando em uma terceirização indevida de atividades essenciais ao serviço público de educação. A liminar foi derrubada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo no dia 31 de outubro e no dia 4 de novembro o segundo leilão aconteceu.

Os dois dias de leilão contaram com grande participação de professores e alunos, que protestaram contra a concessão das escolas públicas. No dia 04 de novembro, Tarcísio mandou a Força Tática reprimir estudantes e professores que se manifestavam. Ações violentas contra a comunidade escolar são recorrentes no governo de Tarcísio Freitas, que vem adotando um tratamento hostil contra seus opositores, perseguindo sindicatos e movimentos estudantis. A política de desmonte da educação e de ataque a classe trabalhadora também é um contínuo no governo estadual: a plataformização do ensino, que corrói a qualidade e desumaniza o processo de aprendizagem, já é uma realidade.

Ao mesmo tempo em que privatiza a construção de escolas por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP), o governador tenta retirar R$ 10 bilhões da educação (em valores atuais). Ao invés utilizar estas verbas para construir novas escolas ou para reformar aquelas que estão em péssimas condições, o governo escolhe entregar o valor à iniciativa privada, promovendo lucro para as empresas e diminuição da qualidade do ensino e do trabalho para a classe trabalhadora.

Para nós, o leilão das escolas estaduais de São Paulo é um ataque à soberania popular, porque entrega a estrutura da educação nas mãos de empresas privadas; é uma violação do direito à educação pública e gratuita e, sobretudo, mais um passo para transformar a educação em mercadoria, priorizando o lucro em detrimento das pessoas.

A Unidade Classista (UC), a União da Juventude Comunista (UJC), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e todos os seus coletivos defendem uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos. É urgente a mobilização contra os retrocessos impostos por Tarcísio e Feder.

Organize-se!
Defenda a Educação Pública, os profissionais da educação e o conjunto de direitos conquistados pela classe trabalhadora!

Coordenação Estadual da União da Juventude Comunista em São Paulo

Movimento por uma Escola Popular em São Paulo

Fração APEOESP da Unidade Classista

https://ujc.org.br/privatizacao-das-escolas-sp/

domingo, 12 de janeiro de 2025

Quaquá afirma que irmãos Brazão são inocentes e diz que esquerda passa a mão na cabeça da família Bolsonaro

Washington Quaquá (Foto: Reprodução / TV 247)


Em entrevista à TV 247, o prefeito de Maricá explicou por que defende a inocência dos irmãos Brazão no caso Marielle: “não há nenhuma prova no processo”


 


Redação Brasil 247

Por Marcelo Macedo Soares, da Agenda do Poder – Sempre polêmico e sem papas na língua, o prefeito de Maricá e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, voltou a defender os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, presos acusados de serem os mandantes do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco. O petista criticou parte da esquerda, que, segundo ele, está “passando a mão na cabeça da família Bolsonaro” e também a atuação da Polícia Federal no caso.

“Estamos vivendo tempos de pragmatismo e lacração. Pra mim, que sou fundador do PT, que saí de uma favela aos 14 anos pra fundar o PT, seria muito mais cômodo ficar quieto. Política não é carreira, política é convicção. Recebi a família do Brazão. Quem pediu para tirar a foto fui eu, disse que ia postar justamente para criar essa discussão sobre a inocência deles”, afirmou Quaquá, em entrevista à TV 247 na tarde desta sexta-feira (10).

Quaquá disse que quando os irmãos Brazão foram presos, ele não acreditava que eles eram culpados, mas que, depois de ler o processo, passou a ter certeza de que Domingos e Chiquinho Brazão não mandaram matar Marielle Franco.

“O miliciano Girão (Cristiano, ex-vereador do Rio) ficou durante 18 horas numa churrascaria da Zona Oeste do Rio. Ele era sócio do Ronnie Lessa. Ele forjou uma reunião com um empresário de são Paulo, forjou uma consulta com um médico do Rio de Janeiro em cima da hora, isso está provado no inquérito da polícia. Um dia depois do assassinato, o Ronnie Lessa ligou para a casa do Bolsonaro e pediu para entrar e fazer uma reunião com o Carluxo (Carlos Bolsonaro). Ronnie Lessa é amigo do Bolsonaro, amigo do Carluxo. O Domingos Brazão não tinha problemas com a Marielle. Quem tem amor à memória de Marielle deveria querer que o verdadeiro mandante pagasse por isso. Estão passando a mão na cabeça da família Bolsonaro e do vagabundo do Ronnie Lessa”, disse Quaquá.

As reações à sua fala

O prefeito de Maricá também comentou as reações após sua postagem com a família de Domingos Brazão, principalmente da irmã de Marielle, a ministra Anielle Franco, e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Sobre a primeira-dama Janja, que também se manifestou, Quaquá disse que não iria comentar por respeito e amor ao presidente Lula.

“Sobre a esposa do presidente eu não comento porque eu amo o Lula, e em respeito a ele, eu não falo sobre ela. Da Gleisi não poderia se esperar outra coisa. É a maneira dela de fazer política, que eu não concordo e já falei pra ela. E a Anielle eu não sei quem é. Conheci depois que a irmã foi brutalmente assassinada”, observou.

Sobre as críticas que vem recebendo de integrantes da esquerda, Quaquá disse que não está se importando e que vao continuar defendendo o que acredita.

“A esquerda brasileira quer me esculhambar porque eu defendo os irmãos Brazão. Chiquinho é uma dama e o Domingos é uma das maiores cabeças políticas do Rio de Janeiro. Essa atitude de esculhambar as pessoas dessa esquerda de classe média brasileira é a mesma do fascismo do bolsonarismo. A realidade e a verdade são os critérios da ciência, da vida e da política. Tô cagando pra eles, vou defender o que acredito, vou defender a verdade. Mude do PT quem quiser. Entrei no PT com 14 anos de idade, favelado, e nunca vou sair do PT. Todos que falaram entraram no PT depois de mim. Vou frustrar aqueles poucos que querem que eu saia do PT. Eu não vou sair”, garantiu Quaquá. Assista:

sábado, 11 de janeiro de 2025

Suspeito de chefiar ataque a assentamento do MST em Tremembé é preso, diz Polícia Civil

Criminosos invadiram assentamento do MST em Tremembé, interior de SP, e assassinaram três pessoas (Foto: Reprodução/TV Globo)

Suspeito foi identificado por vítimas hospitalizadas e por testemunhas, pois ele e os demais criminosos não cobriram o rosto durante a invasão

11 de janeiro de 2025

Por  Guilherme Paladino

247 - A Polícia Civil prendeu neste sábado (11) um homem de 41 anos suspeito de liderar o ataque ao assentamento Olga Benário, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Tremembé, interior de São Paulo, informa o portal g1. A investida criminosa, ocorrida na noite de sexta-feira (10), resultou na morte de três pessoas e deixou cinco feridos.

Segundo o delegado seccional de Taubaté, Marcos Ricardo Parra, o suspeito foi identificado por vítimas hospitalizadas e por testemunhas, pois ele e os demais criminosos não cobriram o rosto durante a invasão. O homem, que já era conhecido na comunidade, confessou a participação no crime durante depoimento e está colaborando com as investigações, indicando o paradeiro de outros envolvidos.

“Ele confessou o crime. Não só confessou, como ele está indicando onde podem ser encontradas as demais pessoas (que participaram do ataque). Além de confessar o crime, ele foi reconhecido por algumas das vítimas e testemunhas. A gente trabalha na condição de certeza da participação dele”, afirmou o delegado.

Ainda conforme Parra, a principal hipótese para a motivação do crime está relacionada a uma disputa por um lote dentro do assentamento. O delegado explicou que o assentamento tem regras internas para admitir novas pessoas, e o conflito teria surgido devido à falta de concordância na comercialização de um terreno.

“Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, relatou Parra.

O delegado detalhou que o grupo foi ao local inicialmente para intimidar, mas, diante da resistência dos assentados, houve um confronto envolvendo armas brancas e de fogo. O embate resultou nas mortes de Valdir do Nascimento, conhecido como Valdirzão, Gleison Barbosa de Carvalho e Denis Carvalho.

Foram apreendidas armas brancas, como foices e facas, armas de fogo e um carro, todos encaminhados para a perícia. O material será analisado para identificar digitais e outros vestígios que possam ajudar nas investigações.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Globo de Ouro para Fernanda Torres mostra que crimes da ditadura não podem ser esquecidos nem anistiados

Ainda Estou Aqui resgata a memória de Eunice Paiva e nos mostra que anistia é a pior solução para os que assassinam e subvertem a democracia, diz Aquiles Lins



 

Fernanda Torres vence prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro 2025 (Foto: Reprodução)

 


A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro de melhor atriz pelo filme Ainda Estou Aqui transcende a celebração de um feito histórico para o cinema brasileiro. O prêmio é, acima de tudo, um convite à reflexão sobre a importância de preservar a memória e buscar justiça pelos crimes cometidos durante a Ditadura Militar brasileira.

Na obra dirigida por Walter Salles, Fernanda interpreta Eunice Paiva, advogada e viúva do deputado federal Rubens Paiva, morto sob tortura em 1971 após ser sequestrado por agentes do regime. A premiação não apenas reconhece o talento de Fernanda Torres, mas também dá visibilidade a uma história que o Brasil ainda luta para enfrentar. Eunice Paiva simboliza a resiliência em meio à dor e a busca incansável por justiça, mesmo diante de um Estado que se recusou a reconhecer seus crimes por décadas. O discurso de Fernanda Torres ao receber o prêmio reflete a força da arte como resistência. A atriz dedicou a premiação à mãe, Fernanda Montenegro, que há 25 anos venceu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro com Central do Brasil, também dirigido por Walter Sales.

A celebração de Ainda Estou Aqui em uma premiação internacional como o Globo de Ouro é um lembrete de que a cultura pode ser uma ponte para revisitar o passado e iluminar os erros que não podem ser repetidos. Enquanto o país não se comprometer plenamente com a justiça e a reparação, as feridas da Ditadura continuarão abertas.

O reconhecimento internacional do filme, impulsionado pelo talento de Fernanda Torres e pela coragem das histórias que ele conta, é um passo importante para que o Brasil não se esqueça de seu passado e para que a sociedade reforce seu compromisso com os direitos humanos e a democracia.

Importância da memória

A Ditadura Militar brasileira (1964-1985) deixou um rastro de violência que ainda ecoa na sociedade. Apesar das inúmeras evidências de tortura e assassinatos políticos, a Lei da Anistia de 1979 blindou os responsáveis de qualquer julgamento, legando-nos uma ferida aberta que impede o país de avançar plenamente na consolidação de sua democracia.

Nesse contexto, trabalhos como o de Marcelo Rubens Paiva e produções cinematográficas como Ainda Estou Aqui desempenham um papel crucial. Eles dão voz às vítimas e às famílias, preservando memórias que o tempo e a negligência institucional tentam apagar. Mais do que relatos históricos, são lembretes da urgência de um debate nacional sobre a responsabilização de quem violou direitos humanos.

Instituída em 2011 pela presidente Dilma Rousseff, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) documentou graves violações contra os direitos humanos cometidas pelo regime militar, identificando responsáveis e resgatando histórias de centenas de vítimas. Embora seu relatório final tenha sido um marco, os avanços na reparação às famílias e na responsabilização dos agentes da repressão permanecem tímidos. O caso de Rubens Paiva, cujo corpo jamais foi encontrado, expõe as lacunas de um país que ainda convive com os fantasmas do autoritarismo. Sua história só veio à tona oficialmente mais de 40 anos após sua morte, revelando o impacto do silêncio e da impunidade na consolidação da verdade histórica.

A luta de Eunice Paiva não foi em vão. Hoje, familiares de vítimas de crimes cometidos pela Ditadura Militar já podem ir ao cartório e solicitar a retificação da certidão de óbito para constar que seus entes foram vítimas de “morte não natural, violenta, causada pelo Estado a desaparecido no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964”. Ainda Estou Aqui nos mostra que anistia é a pior solução para os agentes do estado que assassinam e subvertem a democracia.

Assista o comentário  sobre o filme: 

https://www.youtube.com/watch?v=E7J7uCedKys&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg

domingo, 5 de janeiro de 2025

Ataque especulativo e a chantagem dos rentistas


(*) Por Edmilson Costa*

Na semana relativa ao período de 16 a 20.12.2024 a oligarquia financeira, especialmente os rentistas em geral, realizaram um violento ataque especulativo contra o real, cujo resultado foi a elevação do preço do dólar para R$ 6,30, num movimento artificial com o objetivo de chantagear o Congresso e o governo por mais austeridade fiscal e aumento dos juros. Esse ataque ocorreu justamente no momento em que o Congresso discutia o pacote econômico elaborado pelo ministro Fernando Haddad e visava fazer com que os congressistas fizessem mudanças no documento com vistas a cortar mais gastos, atingindo justamente os setores mais pobres da população, de forma a que a rapinagem financeira pudesse desviar ainda mais recursos do fundo público para os rentistas.

O Banco Central, dirigido pelo bolsonarista raiz Campos Neto poderia ter realizado intervenção no mercado mediante operações de swaps cambiais[1] ou venda de dólar para deter o ataque especulativo no nascedouro (o Brasil tem reserva de U$ 360 bilhões, suficientes para deter qualquer movimento especulativo), mas o BC apenas lavou as mãos e só começou a realizar os leilões cambiais quanto o estrago já estava feito. O mais grave nesse processo é o fato de que o novo presidente do Banco Central Gabriel Galípolo e o presidente Lula resolveram chancelar a chantagem do mercado. Galípolo encontrou uma desculpa rasa, ao negar que não houve um ataque especulativo contra o real porque o mercado não age de maneira coordenada, e Lula convocou uma entrevista para dizer que não vai interferir na política do Banco Central na nova administração.

O que se torna estranho é o fato de Galípolo, um homem do mercado financeiro, que conhece bem as tramas dessa gente, ter tirado da cartola um argumento que não se sustenta. Ora, em um movimento especulativo não existe uma ação coordenada de 100% dos atores, isto é apenas uma tautologia. Mas no mercado financeiro, dominado pelos dez maiores conglomerados, basta a ação do núcleo duro para que os outros atores sigam o exemplo. E foi exatamente o que aconteceu. Os capas pretas da rapinagem financeira se movimentaram e o resto acompanhou. Simples assim: o argumento de Galípolo apenas livra a cara dos rentistas. E o presidente Lula, ao dizer que não vai pressionar o Bacen, mesmo sabendo que estão programados mais dois cavalares aumentos de juros, deu carta branca de antemão à especulação financeira. As consequências disso veremos em breve.

Mas o que é um ataque especulativo? É um evento em que os agentes do mercado (grandes fundos de investimentos, investidores institucionais ou especuladores em geral) decidem realizar operações coordenadas para desvalorizar a moeda nacional em relação à moeda estrangeira. Estes agentes vendem no mercado de câmbio grandes quantidades de reais para adquirir moeda internacional, no caso brasileiro, o dólar. Esse movimento aumenta a oferta de reais no mercado, pressionando sua desvalorização. Esta ação também pode ocorrer mediante a realização de contratos futuros, por meio dos quais os agentes apostam na desvalorização do real, pressionando a moeda nacional e, consequentemente, levando à valorização do dólar.

Os ataques especulativos ocorrem quando os agentes especuladores percebem fragilidades no governo e na economia ou apostam que o Planalto não será capaz de defender a moeda. Nessa conjuntura, criam um clima artificial de pânico, ampliado pelos meios de comunicação alinhados ao mercado, sempre que medidas governamentais não lhe agradem plenamente, como o recente pacote fiscal. Esse clima de pânico pode gerar um efeito manada envolvendo também as empresas, que buscam se proteger da desvalorização, o que amplia ainda mais a pressão sobre a moeda nacional. Mas o importante a ressaltar é que, com o ataque especulativo, a rapinagem financeira ganha muito dinheiro num prazo curto e ainda pressiona pelo aumento dos juros, com o que irá ganhar novamente mais dinheiro, num ciclo vicioso de permanente assalto ao fundo público.

Consequências da desvalorização do real

Antes da implantação da política neoliberal no início dos anos 90 com o governo Collor, poderíamos considerar o Brasil como uma economia com efetiva proteção à indústria nacional, mediante a Lei do Similar. A Lei do Similar taxava muito fortemente a importação de produtos estrangeiros desde que existisse similar fabricado no Brasil. Mas a radical abertura comercial da economia no governo Collor expôs a indústria nacional à concorrência estrangeira, o que levou à desarticulação e à quebra de vários ramos industriais. O governo FHC aprofundou esse processo e isso significou um maior coeficiente de importação de produtos em geral, insumos industriais, componentes, o que tornou vulnerável a balança comercial em função da importação desses produtos e quebrou vários setores da indústria brasileira.

Quais os problemas da desvalorização do real (e do aumento do dólar)? Esse processo encarece a importação de insumos, combustível, componentes e produtos em geral, o que vai pressionar os preços internos, uma vez que os empresários repassam os custos para os consumidores, resultando num aumento da inflação. A desvalorização também impacta no aumento dos custos de máquinas, equipamentos, insumos industriais e tecnologias necessárias ao crescimento econômico, tendo em vista que o departamento de produção de máquinas nacional não é capaz de suprir a demanda por equipamentos mais sofisticados necessários à modernização do parque produtivo. Ou seja, a desvalorização do real torna também mais cara a modernização do parque industrial, desestimulando os investimentos produtivos.

O aumento da inflação decorrente da desvalorização cambial afeta diretamente o custo de vida da população e corrói o poder de compra das famílias, especialmente dos mais pobres, que gastam a maior parte de sua renda com o consumo e são os mais prejudicados com o aumento dos preços. Esta é uma dinâmica perversa: enquanto os abutres financeiros ganham rios de dinheiro com a especulação e a desvalorização cambial, o que aprofunda a concentração de renda, os trabalhadores são os principais perdedores, porque são obrigados a reduzir seu consumo e padrão de vida, ampliando a desigualdade social.

A desvalorização cambial também aumenta o custo da dívida pública denominada em moeda estrangeira, agravando o déficit fiscal, limitando a capacidade de o Estado realizar políticas sociais e desenvolver infraestrutura, abrindo espaço para que a oligarquia financeira reivindique novos ajustes fiscais para garantir o equilíbrio da dívida. Além disso, o clima volátil pode estimular a fuga de capitais, o que, por sua vez, pode agravar ainda mais a depreciação cambial. Em outros termos, a saída de capitais enfraquece a moeda nacional e gera mais instabilidade econômica. Alguém pode argumentar que a desvalorização cambial vai beneficiar os exportadores porque torna os produtos nacionais mais competitivos no exterior. Esta é uma falsa visão, uma vez que a maior parte dos setores exportadores dependem de insumos importados.

O aumento dos juros e o desastre econômico

sábado, 4 de janeiro de 2025

Entenda a Operação Overclean, que atingiu o "Rei do Lixo" e desvendou esquema bilionário de corrupção em obras públicas

Operação Overclean revelou fraude de R$ 1,4 bilhão e se aproxima de políticos influentes

04 de janeiro de 2025


 

Marcos Moura, o "Rei do Lixo" (Foto: Reprodução/Instagram)

Por Guilherme Levorato



247 - A Operação Overclean, conduzida pela Polícia Federal desde 2023, revelou um esquema bilionário de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo contratos fraudulentos, licitações manipuladas e o uso de empresas fantasmas. A apuração, que já aponta possíveis conexões com políticos influentes em Brasília, expôs desvios de mais de R$ 1,4 bilhão, principalmente no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), segundo Mirelle Pinheiro, do Metrópoles. Em 2024, apenas a Bahia concentrou R$ 825 milhões desse total.

O esquema funcionava com alta sofisticação e era dividido em três núcleos. Alex Rezende Parente, apontado como o líder, coordenava as fraudes e organizava os pagamentos ilícitos. Ele contava com a colaboração de Fábio Rezende Parente, responsável pelas movimentações financeiras por meio de empresas fantasmas, e de José Marcos de Moura, conhecido como "Rei do Lixo", que ampliava a rede de influência política. Outro personagem central era Lucas Maciel Lobão Vieira, que gerenciava obras superfaturadas por meio da empresa Allpha Pavimentações.

A engrenagem do esquema - O modus operandi da organização incluía o aliciamento de servidores públicos, que eram atraídos por promessas de propinas e benefícios políticos. Esses funcionários facilitavam contratos fraudulentos e manipulavam processos licitatórios em favor do grupo.

Os recursos desviados eram lavados por meio de empresas de fachada, criadas exclusivamente para emitir notas fiscais falsas e justificar pagamentos. Além disso, as planilhas de custos dos contratos eram inflacionadas com itens desnecessários, resultando em superfaturamento significativo.

As obras frequentemente apresentavam qualidade inferior, com serviços incompletos ou mal executados. Para driblar fiscalizações, a quadrilha produzia relatórios fraudulentos e utilizava fotografias de outras construções como evidências de cumprimento de metas.

Impactos políticos e desdobramentos - A investigação trouxe à tona a magnitude do esquema, que já ultrapassou os limites da gestão pública para atingir figuras influentes do cenário político nacional. Com a atuação de José Marcos de Moura, que articulava contratos e apoio político, a organização conseguiu expandir sua rede de alcance.

A Polícia Federal continua aprofundando a investigação, que pode expor novos nomes e práticas similares em outras esferas. Especialistas afirmam que os desdobramentos da Operação Overclean devem provocar um efeito dominó, atingindo não apenas empresas envolvidas, mas também servidores e políticos que se beneficiaram do esquema.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

A queda da Síria e a contradição da multipolaridade


Décadas se passaram na Síria nas últimas semanas


A bandeira da Síria depois que os terroristas tomaram o poder (Foto: Amr Abdallah Dalsh/Reuters)

Por Maria Fé Celi Reyna A queda da Síria apanhou toda a gente de surpresa, independentemente da opinião que tinham sobre o governo de Bashar al Assad.

Inicialmente, a imagem dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia, do Irã e da Turquia, em Astana, transmitia a mensagem de que os dois aliados mais importantes da Síria tinham abandonado Al-Assad. As reações furiosas de muitos fora do Ocidente foram imediatas, rotulando ambos os países como traidores. Alguns também incluíram a China nas suas reações. Muitos se perguntaram se supostamente estamos num mundo multipolar, mesmo que seja incipiente, por que não intervieram?

No entanto, a multipolaridade não funciona assim. A ideia de um mundo multipolar é que existem pólos de poder no mundo que interagem entre si em questões económicas e culturais; ao mesmo tempo, a dinâmica política regional é respeitada. Outro valor fundamental é o da não intervenção nos assuntos internos. Décadas de hegemonia americana e séculos de colonização ocidental tornaram normal que um país vá aonde não é convidado.

Disputando opiniões sobre o território sírio 

Com o passar dos dias, jornalistas e analistas especializados na Ásia Ocidental começam a reconstruir os acontecimentos. Embora ainda existam muitas lacunas, sabemos agora que a queda da Síria se deveu a fissuras internas e regionais.

A posição estratégica da Síria significou que esta sempre foi uma pilhagem disputada pelos países ocidentais. Os EUA têm-nos na mira e, nos últimos anos, gastaram milhares de milhões de dólares a tentar derrubar o governo; No entanto, estes não foram os únicos.

Por um lado, os sonhos do presidente turco Recep Tayyip Erdogan de ressuscitar uma nova versão do Império Otomano levaram-no a financiar, abrigar e treinar grupos terroristas em territórios habitados por povos turcos ou que outrora fizeram parte do antigo império. Fizeram o mesmo com o Partido Islâmico do Turquestão na região autónoma de Xinjiang, na China, mas sem sucesso. A Síria faz parte daquilo que consideram a sua esfera de influência.

Quando começou a “guerra suja” contra a Síria , os países do Golfo Pérsico apoiaram e financiaram grupos wahabitas para tentar derrubar Assad. Hoje, o Qatar continua a financiar estes grupos, em coordenação com a Turquia, mas o país mais importante, a Arábia Saudita, mudou a sua política.

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MbS) e líder de facto do reino está a tentar implementar a mudança no país com a chamada Visão 2030. Um requisito essencial para alcançá-la é ter uma região estável e pacificada que inclua o território sírio.