quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

"Armar a Guarda Municipal do Rio"? Para quais fins, com que meios logísticos e para quais modos táticos-operacionais?

 

"Não se deve improvisar ou fazer gambiarras com dispositivos estatais de controle social que cortam, ferem, deixam danos permanentes", alerta Jacqueline Muniz (Antropóloga e Cientista Política)

30 de janeiro de 2025



Viatura da Guarda Municipal do Rio de Janeiro (Foto: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL)



Recentemente, em uma entrevista a um jornal de grande circulação no Rio de Janeiro, eu disse que não se pode jogar na rua um GM nu, sozinho, com uma pistola no coldre, diante da vaga proposta do prefeito de criar uma “força de segurança municipal”. Mas por quê? Trago aqui uma lição básica aprendida, a duras penas, com a história de golpismos, violências e violações nas democracias ocidentais e, ainda, essencial para a sustentação do Estado Democrático de Direito.

A ilusão do improviso nas burocracias armadas - Não se deve improvisar ou fazer gambiarras com dispositivos estatais de controle social que cortam, ferem, deixam danos permanentes e podem, no limite, matar em nome de alguma interpretação particularizada da lei e da ordem. Bem, faz tempo que nossas mães já diziam isso com outras palavras quando nos ensinavam a não brincar com as facas de cozinha, as tesouras e o ‘trezoitão’ mal guardado do parente valentão.

É da natureza de qualquer meio de força dispor de autonomia discricionária para dobrar vontades, decidir e agir no momento presente dos riscos e perigos reais vividos por nós em nosso dia a dia. Porém, esta autonomia armada para intervir em tempo real, muito rapidamente, pode se perverter em uma autonomização do poder de polícia que se volta contra a sociedade, proprietária deste poder delegado, e contra o Estado, responsável por administrá-lo em seu nome.

É esta emancipação predatória que dá vida a uma autarquia armada sem tutela, faz surgir um governo policial autônomo ou uma “milícia”, segundo a fala popular, que transforma governantes eleitos em seus ventríloquos, converte parlamentares em seus moleques de recado, chantageia e rivaliza com a justiça, acua a cidadania e promove o ‘crime organizado’ à condição de padrinho político e parceiro empresarial.

O perigo de uma decisão política vaga sobre meios de força - A degeneração da autonomia do agente público armado para atuar em nosso nome em uma carta branca para ele fazer o que bem entende, segundo a sua própria razão, tem um ponto político de partida. A avenida para a corrupção política do mandato da GM começa a ser aberta quando se apregoa aos 4 ventos, mas de forma genérica, quase um teste de opinião, que vai “armar a Guarda”, ou melhor, ampliar a sua capacidade coercitiva. 

E, mais, sem sequer oferecer à sociedade uma ideia-chave que aponte para algum rumo de reengenharia organizacional ou um projeto de força que delimite o âmbito de atuação, o alcance da ação e os contornos do poder coercitivo da GM armada em relação aos outros meios de força atuantes no mesmo território (PMERJ, PCERJ, CBERJ, POLÍCIA PENAL, DPF, DPRF, Força Nacional, Forças Armadas).

É como dizer que se vai autorizar que a espada, por sua própria conta, amplie a extensão e a profundidade do seu corte para furar e sangrar o que julgar conveniente. Ah, como este tipo de coisa agrada bastante os senhores da guerra, os mercadores da proteção e os profetas do caos que adquirem poder, prestígio, dinheiro e votos com a política de insegurança pública no Rio!

Isto é um ‘faz-me rir’ para os alisadores de maçaneta de gabinete e os seguradores de pastas de autoridade que se transvestem de babás de políticos para transformarem a intimidade com o governante em favorecimentos pessoais. Isto é um faz-nos assustar porque espadas, uma vez autonomizadas, costumam cortar a língua da política à direita, ao centro e à esquerda e rasgar a letra da lei, tão logo ela tem seu poder coercitivo ampliado de forma populista e eleitoreira. Espadas autonomizadas costumam governar no lugar do governante e negociar mercadorias políticas com o crime organizado, como já se vê no Rio de Janeiro, nestas décadas de abandono intencional pelos políticos das éticas da responsabilidade e dos resultados produzidos.

Promessa de campanha descartável ou política pública real? - Cumprir uma promessa de campanha com apenas um anúncio preliminar e uma canetada normativa, não corresponde a se comprometer com uma política municipal de segurança e uma política para a GM que até mesmo inclua arma de fogo em sua já existente gramática de armamentos. É possível se livrar de uma promessa de campanha apenas com a publicidade de uma intenção anunciada, mas “impedida” pelo álibi modinha do momento, a “disputa de narrativa”. Mas, faz-se política pública para GM que se quer armada, seja ela conservadora, liberal ou progressista com debate público, formulação, planejamento e gestão participativas a partir da construção de um projeto.

Armar uma organização ostensiva de controle e regulação sociais vai muito mais além do que ir às compras no shopping center da segurança e adquirir uma remessa de pistolas 8 mm ou .40 já autorizadas pelo Estatuto das Guardas Municipais de 2014. E, como aqui se explicita, a prefeitura ainda não tem um projeto pronto sobre “armar a guarda” para apresentar para a sociedade carioca insegura e amedrontada que responda a questões centrais:

·         Por que armar a GM?

·         Para fazer o quê?

·         Onde e quando atuará?

·         Com que meios e táticas operacionais?

·         Como será controlado o uso da força?

·         Quais serão os custos envolvidos?

Até agora, o que se tem para a gente avaliar é uma confusa e vaga ideia apresentada de armar a maior GM do Brasil, com 7.312 funcionários, que já é armada com armamentos menos letais. Não se tem, ainda, como saber se uma notícia normativa do poder municipal vai virar uma proposta profissional, responsável, viável e adequada à realidade da segurança pública no Rio de Janeiro ou se vai ser mais um remendo eleitoreiro para a sociedade se posicionar na condição política vulnerável de refém do medo.

Hoje, o contra e o a favor “armar a GM” estão tão impressionistas e especulativos quanto o anúncio feito pelo prefeito. Não basta ir à loja e comprar umas pistolas e dar para o GM na praça e na porta da escola. Não se improvisa com burocracias coercitivas armadas porque a maior parte de suas ações são irreversíveis. Não se ressuscita quem foi morto. Não se elimina as dores da perda. Não se apagam os danos físicos e os traumas da violência armada, do tiroteio. Não se tem como pagar uma reparação total para as trajetórias destruídas pelo uso excessivo da força e a sua ingovernabilidade transformada em padrão operacional.

Muito serviço antes de armar a GM - Para que o GM não seja mais um agente da lei no Rio, com cabeça quente e dedo nervoso, que atira muito e atira mal, mais uma isca de tiroteios, mais um promotor de balas perdidas, mais um ímã de ocorrências violentas, mais um chamariz de carteiradas, será inadiável reestruturar toda guarda e não somente uma parte ou fração destacada de integrantes. E isso demora 4 anos, se começar hoje. E, claro, os efeitos só serão efetivos e sentidos para toda a cidade após 36 meses, em razão da necessidade de fluxo contínuo de preparo para o pronto-emprego do GM armado com segurança ocupacional e superioridade de método. 

O custo para capacitação em arma de fogo dos 7.312 GMs, apenas para o uso da pistola em cenário urbano, com tiro policial estático e dinâmico, seguindo o padrão internacional com o mínimo de 80 horas ou 3 meses de treino inicial e 10 horas de recapacitação anual, custará, por baixo, cerca de 15% do último orçamento da ordem pública. A este gasto se agrega o custeio do aumento de efetivo para um pouco mais de 12 mil GMs ao longo de 48 meses.

Para começar um projeto sério e consistente que permita à sociedade decidir se deve ou não “armar a GM-Rio” é preciso ter um pouco mais de trabalho. Mostra-se necessário dar conta de alguns pontos essenciais:

1.     Reestruturar o desenho organizacional da GM (C3IC);

2.   Redefinir e compatibilizar as atividades de policiamento ordinárias e especiais e suas coberturas     ostensivas;

3.     Especializar e ampliar a logística de apoio operacional (atividade-meio);

4.   Criar uma estrutura de pronta-resposta na emergência (chegar em menos de 10 minutos nas ocorrências);

5.     Provisionar o aumento gradual de efetivo.

6.     Combinar uma gramática de meios (armamentos letais e menos letais, EPIs, rádios, bodycam etc.).

7.   Implantar a doutrina de uso comedido da força em conformidade com as normas nacionais e internacionais (com procedimentos operacionais públicos e publicados).

8.    Criar um programa de capacitação continuada que contemple capacidade instalada de treinamento de tiro estático em stand e tiro dinâmico em cenários simulados, recertificação anual com o mínimo de 90% de acertos em tiros defensivos, treinamento contínuo, avaliação psicológica e relatório de conduta do uso da força.

9.     Implantar um sistema de supervisão entre pares e controles interno e externo com  monitoramento individual do uso da arma e do gasto de munição.

10.Desenvolver um sistema de prestação pública e regular de contas, com responsabilização e accountability individuais.

11.   Desenvolver um sistema de produção de informação e gestão do conhecimento.

Como se vê, diante desta pequena lista feita só com itens essenciais, há muito trabalho sério pela frente. Se o papo político de “armar a GM” é mesmo para valer, é bom começar a “caçar serviço” já. E já está tarde!

EM TEMPO: A GM pode ser utilizada para fins repressivo dos movimentos populares. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

João Campos amplia cargos comissionados e supera governo estadual em números

Reforma administrativa no Recife cria 423 novos postos comissionados, que agora somam 3.555; estratégia visa fortalecer base política para 2026



Raquel Lyra e João Campos (Foto: Hesíodo Goes/Governo de Pernambuco)

Por  Aquiles Lins



247 - A Câmara Municipal do Recife aprovou, na semana passada, uma reforma administrativa proposta pelo prefeito João Campos (PSB), que aumentou o número de cargos comissionados da gestão municipal para 3.555. Conforme reportado pela coluna Painel da Folha de S.Paulo, a quantidade supera os 3.378 cargos equivalentes no governo de Pernambuco, liderado por Raquel Lyra (PSDB), considerada uma possível adversária de Campos nas eleições estaduais de 2026.

Os novos cargos – 423 ao todo – foram criados para atender às demandas da administração e reforçar a base política do prefeito. Esse tipo de posição, usualmente ocupada por aliados políticos, tem como objetivo acomodar quadros estratégicos em um contexto de articulação eleitoral. Em nota, a Prefeitura do Recife afirmou que o impacto da reforma representa menos de 1% da Receita Corrente Líquida do município e ressaltou que a despesa com pessoal está no menor patamar histórico, correspondendo a 41,62% da receita.

Entre as novas nomeações estão ex-prefeitos, ex-vereadores e candidatos com desempenho relevante em eleições recentes. O petista Vinicius Castello, que perdeu a disputa pela Prefeitura de Olinda, foi designado secretário-executivo de Infraestrutura. Já Ana Célia (PSB), ex-prefeita de Surubim, assumiu o cargo de secretária-executiva de Planejamento e Articulação Social.

A gestão de João Campos defendeu que a reforma é parte de um redesenho administrativo voltado para atender às "novas demandas da cidade". “Tal quadro permite um redesenho para a nova gestão (2025-2028), com o objetivo de realizar ainda mais entregas para quem vive na cidade em um cenário de aceleração de entregas e composição das novas secretarias em áreas específicas”, afirmou a prefeitura em nota oficial.

A ampliação dos cargos comissionados também se insere em um cálculo político, visto que Campos busca consolidar alianças já de olho na disputa pelo governo estadual. Ao fortalecer sua base política com nomeações estratégicas, o prefeito dá sinais claros de que as articulações de 2026 estão em pleno curso.

EM TEMPO: Vale informar que esse tipo de reportagem não é devidamente divulgada na imprensa pernambucana. Porque será? 

 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

“Trump vai enfrentar forças internas e externas fortíssimas", diz Pepe Escobar

Analista geopolítico avalia que Donald Trump terá grandes dificuldades para deter a queda do Império

(Foto: Reuters | Brasil247)


Redação Brasil 247




247 – Em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, na TV 247, o analista geopolítico Pepe Escobar avaliou os desafios que Donald Trump enfrentará na presidência dos Estados Unidos. Segundo Escobar, a situação global e interna dos EUA se deteriorou significativamente desde o primeiro mandato de Trump, tornando ainda mais complexa a tentativa de conter o declínio do Império. “Trump vai enfrentar forças internas e externas fortíssimas, a começar por todos os silos de poder do deep state”, afirmou.

Escobar destacou que o grau de decadência do poder americano é visivelmente maior do que em 2017, quando Trump assumiu pela primeira vez. “O grau de decadência do Império hoje é muito maior do que quando ele assumiu pela primeira vez em 2017”, explicou. Apesar disso, o analista aponta que Trump continua apostando em uma retórica ousada. “As falas do Trump são espetaculares. Ele fala em destino manifesto interplanetário. É o retorno do excepcionalismo sem fronteiras”, declarou, ironizando a grandiosidade do discurso do ex-presidente.

No campo econômico, Escobar alerta para os impactos de uma possível guerra comercial que pode se intensificar já no início do próximo ano. “A guerra comercial vai estourar em 1 de fevereiro sobre Canadá e México, com tarifas de 25%. A União Europeia vai entrar numa segunda etapa”, afirmou, sugerindo que a estratégia de Trump pode agravar tensões comerciais globais.

O analista também avaliou o papel da América Latina nos planos de Trump, destacando possíveis consequências para a região. “O ataque de Trump ao canal do Panamá pode abrir espaço para a construção da ferrovia interoceânica na América do Sul, levando a produção brasileira ao porto de Chancay no Peru”, comentou, apontando para oportunidades estratégicas que poderiam surgir para o Brasil e países vizinhos.

Sobre a crise em Gaza, Escobar fez uma análise provocativa, argumentando que Trump pode enxergar o conflito como uma oportunidade de negócios. “Sobre Gaza, Trump pode transformar o genocídio numa oportunidade imobiliária”, disse, apontando para o pragmatismo agressivo do presidente.

Outro ponto levantado foi a busca de Trump por expandir a base de recursos energéticos do Império. “Trump quer claramente expandir a base de recursos do Império. Eles precisam de energia para alimentar a inteligência artificial. O tecnofeudalismo vai trabalhar claramente por Trump 2.0. Trump 2.0 é o novo estágio do tecnofeudalismo”, afirmou, sugerindo que os avanços tecnológicos, em especial no campo da inteligência artificial, estão profundamente ligados à geopolítica energética.

Por fim, Escobar avaliou que, mesmo em um contexto de confrontação, países como a Venezuela poderiam se beneficiar de negociações bem conduzidas. “Se a Venezuela souber negociar, é possível que eles cheguem a um acordo com Trump”, concluiu.

A análise de Pepe Escobar evidencia um cenário de grandes disputas políticas e econômicas no horizonte, com Trump tentando reconsolidar o poder americano em um contexto global de múltiplos desafios e resistências internas. Assista:

https://www.youtube.com/watch?v=MWMmLcKfS2g&t=1s

domingo, 26 de janeiro de 2025

As tarefas atuais dos comunistas sírios


 

Discurso do Secretário-Geral do Comitê Central do Partido Comunista Sírio, Camarada Ammar Bagdash, numa conferência de uma das organizações estrangeiras do Partido.


Queridos camaradas!

Sua conferência será realizada no final de uma série de conferências realizadas por todas as nossas organizações partidárias. No entanto, está ocorrendo em condições políticas que são radicalmente diferentes daquelas em que foram realizadas conferências anteriores. No país, na nossa pátria, na Síria, o governo mudou. Embora esta mudança tenha acontecido de forma rápida e à primeira vista possa parecer inesperada, foi o resultado da acumulação de fatores negativos nocivos que o nosso país tem enfrentado ao longo dos anos.

Desde o início deste século, e especificamente desde o anúncio da transição para a chamada “economia de mercado”, a natureza do sistema começou a mudar de bonapartista, isto é, um sistema manifestado no governo de um homem só, que principalmente atende aos interesses da burguesia burocrática e parasitária, mas ao mesmo tempo leva em conta os interesses de outras classes e grupos sociais, rumo a um sistema de governo dominado pela nova grande burguesia compradora síria, formada como resultado da fusão do burocrático e parasita. Esta transformação manifestou-se na redução gradual dos ganhos obtidos pelas massas nas últimas décadas.

As características mais importantes desta tendência são as alterações ao Código do Trabalho, à lei das relações agrárias, à redução do volume do ensino universitário público gratuito, bem como aos serviços médicos públicos gratuitos, entre outros. Uma das tendências mais perigosas tem sido a redução significativa dos subsídios à produção agrícola, o que levou a um enfraquecimento da segurança alimentar que tinha sido anteriormente alcançada. Esta ação também levou à migração em massa da população rural para as cidades e à formação de cinturões de pobreza habitados por pessoas socialmente marginalizadas que poderiam formar uma grande base de massa para qualquer movimento reacionário, e foi isso que realmente aconteceu. Além do enfraquecimento da produção agrícola, foram desferidos graves golpes na produção industrial.

Abriram-se as portas à importação de bens que competem seriamente com a produção nacional, o que levou à falência de um grande número de artesãos, que se juntaram objetivamente ao público insatisfeito com o regime. Quanto aos capitalistas industriais, há um número significativo deles que deram prioridade às atividades comerciais devido a obstáculos objetivos às atividades industriais, e alguns deles começaram a transferir o seu capital e atividades para o estrangeiro. Tudo isto aconteceu à luz das tendências econômicas liberais, que priorizaram os interesses dos grupos burgueses parasitas da produção.

Uma das ferramentas mais importantes para esse parasitismo é a expansão da esfera de serviços. O setor de investimento no petróleo e no gás era uma área desejável para o enriquecimento da classe dominante. Foram celebrados contratos de investimento injustos contra a Síria com partes nas quais representantes da junta no poder têm participação, por exemplo através, mas não limitado a, empresas que possuem nas Ilhas Cayman. Processo semelhante ocorreu no setor das comunicações celulares, onde foram celebrados contratos com empresas registadas nas Ilhas Virgens. Todos sabiam que essas empresas pertenciam ao bloco econômico da junta governante. A receita dessas atividades foi acumulada fora do país.

No contexto da reafirmação da abordagem liberal na economia, foram aprovadas numerosas peças legislativas, tais como permitir o funcionamento de bancos privados, criar um mercado de ações ineficiente, abrir universidades privadas, aprovar legislação destinada a atrair capital estrangeiro e expandir o âmbito da atividade privada. Juntos, estes fatores levaram ao descontentamento em massa no país, criando a base para o movimento de numerosas forças da oposição. Foi exatamente sobre isto que o nosso partido alertou no seu XI Congresso.

sábado, 25 de janeiro de 2025

EUA tratam imigrantes deportados como escravos em navios negreiros

Governo dos Estados Unidos confere tratamento desumano aos trabalhadores enviados de volta a seus países de origem

25 de janeiro de 2025


 

Brasileiros deportados pelos Estados Unidos (Foto: Reprodução X / Paulo Pimenta)

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Redação Brasil 247

247 – O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) denunciou o “flagrante desrespeito” aos direitos dos brasileiros deportados pelo governo dos Estados Unidos, em um comunicado divulgado pelo Ministério da Justiça. A Polícia Federal relatou que os brasileiros chegaram ao país algemados e acorrentados, sendo imediatamente liberados pelos agentes brasileiros. O voo, que tinha como destino Confins, em Minas Gerais, precisou fazer uma escala em Manaus devido a problemas técnicos.

A situação remete a um tratamento desumano, comparável ao dos navios negreiros que transportavam escravos no período colonial. Naquela época, homens, mulheres e crianças eram acorrentados e submetidos a condições degradantes durante longas viagens. Agora, séculos depois, imigrantes deportados enfrentam práticas que violam sua dignidade e direitos fundamentais. 

Desrespeito aos direitos humanos

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, destacou ao presidente Lula o “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”. Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou: “A dignidade da pessoa humana é um princípio basilar da Constituição Federal e um dos pilares do Estado Democrático de Direito, configurando valores inegociáveis”.

O repatriamento de imigrantes ilegais ocorre com base em um acordo bilateral firmado em 2017, durante o governo de Michel Temer. Esse acordo permite o retorno de pessoas que, após processo judicial nos Estados Unidos, não têm mais direito a recursos e se encontram em situação irregular no país. No entanto, o governo brasileiro ressaltou que este voo específico não está relacionado às novas medidas migratórias adotadas pela administração de Donald Trump. 

Repúdio ao uso de algemas

O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, manifestou repúdio ao uso de algemas em voos de deportação de cidadãos brasileiros. “Não há motivos para que cidadãos brasileiros sejam algemados em voos de deportação. Fere a nossa soberania e a dignidade da pessoa humana, bases da nossa Constituição”, afirmou Messias em postagem nas redes sociais.

Ele elogiou a atuação do presidente Lula, do ministro Ricardo Lewandowski e da Polícia Federal no resgate dos brasileiros deportados. Segundo Messias, a decisão de proibir o uso de contenções humilhantes em situações de deportação demonstra o compromisso do governo com os direitos humanos e a dignidade dos cidadãos. “Que o ciclo de desenvolvimento inaugurado em 2023 gere oportunidades para todos os brasileiros”, completou. 

Acolhimento humanizado

A Polícia Federal informou que os brasileiros deportados chegaram algemados ao Brasil. A corporação recebeu a aeronave em Manaus após problemas técnicos, e os deportados foram imediatamente liberados das algemas “na garantia da soberania brasileira em território nacional e dos protocolos de segurança”.

Por determinação do presidente Lula e do ministro Ricardo Lewandowski, os agentes proibiram que os deportados fossem detidos pelos americanos novamente. Os passageiros foram acolhidos e acomodados na área restrita do aeroporto, onde receberam bebida, comida, colchões e acesso a banheiros com chuveiros.

Por determinação de Lula, uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) transportará os brasileiros para o Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. Eles serão acompanhados e protegidos por militares da FAB e policiais federais brasileiros. De acordo com relatos, os passageiros “choraram de emoção” ao saberem que seriam transportados pelo governo brasileiro.

A comparação com os navios negreiros

A comparação com os navios negreiros não é mero exagero retórico. Durante os séculos XVI a XIX, milhões de africanos foram transportados em condições desumanas, acorrentados e sem qualquer respeito à sua dignidade. Hoje, séculos depois, a imagem de imigrantes algemados e acorrentados em voos de deportação evoca um passado sombrio que muitos pensavam superado.

O governo brasileiro tem reforçado que, no âmbito do acordo de repatriamento, não devem ser incluídas pessoas que ainda possuam possibilidade de revisar sua sentença. Desde o início do novo mandato de Trump, as autoridades dos EUA informaram ter deportado centenas de imigrantes ilegais, incluindo 538 prisões de imigrantes de diversas nacionalidades, conforme mencionado pela Casa Branca. No entanto, o jornal Washington Post destaca que esses números são modestos em comparação com as metas do governo Trump para o controle da imigração.

O tratamento conferido aos imigrantes deportados pelo governo Trump não apenas viola os direitos humanos, mas também evoca um passado de opressão e desrespeito à dignidade humana. O governo brasileiro, ao acolher e proteger seus cidadãos, reafirma seu compromisso com os valores democráticos e a soberania nacional. Enquanto isso, o mundo observa atentamente as práticas migratórias dos Estados Unidos, que, em pleno século XXI, parecem retroceder a um tempo que muitos esperavam nunca mais reviver.

 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Lula deve ouvir chamado de Claudia Sheinbaum

Lula e Claudia Sheinbaum (Foto: Ricardo Stuckert / PR)


O gesto pode abrir um caminho de lucidez e solidariedade mútua no Continente, afirma Paulo Moreira Leite

23 de janeiro de 2025

 



Numa conjuntura marcada pela barbárie imperialista do governo Trump, até agora recebida com o silêncio temeroso da maioria dos países da América Central e do Sul, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, teve uma reação clara e direta.

Anunciou que pretende convidar o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, para uma conversa sobre a situação. A iniciativa merece aplausos imediatos e demorados.

Num país cuja diplomacia parecia ter modificado a própria bússola histórica, abandonando a prioridade latino-americana que chegou a marcar tantos momentos de um passado nem tão distante assim por uma submissãoe sem disfarces aos apelos e promessas vãs da potência imperial instalada do lado de lá do Rio Grande, o movimento de Sheinbaum constitui um gesto necessário na direção oposta. Mostra uma presidente capaz de entender a gravidade de uma nova situação e procurar respostas a ela.

O gesto pode abrir um caminho de lucidez e solidariedade mútua no Continente, num primeiro passo para modificar uma conjuntura que anuncia imensas dificuldades e nenhuma esperança realista -- pelo menos enquanto o trumpismo estiver a frente da principal força econômica, política e militar do planeta. .

Com uma história diplomática respeitada pela competência e capacidade de realizar movimentos compatíveis com interesses e necessidades de seus povos países, brasileiros e mexicanos só tem a ganhar com uma aproximação que pode enfrentar dificuldades como toda ação diplomática -- mas é benvinda, necessária e urgente.

Demonstra que o destino dos povos e países que habitam as áreas menos prósperas da civilização do século XXI, não está traçado com antecedência nem pode ser esculpido pela truculência trumpista, caminho inevitável para a barbárie e dominação de povos e países.

Alguma dúvida?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Na véspera de Trump, Irã e Rússia assinavam um acordo histórico

"Potências eurasianas Rússia e Irã lançaram um desafio à ordem global liderada pelos Estados Unidos e mandaram um aviso a Trump", escreve Pepe Escobar



O presidente russo Vladimir Putin e o presidente iraniano Masoud Pezeshkian se encontram em Moscou, Rússia, em 17 de janeiro de 2025. (Foto: REUTERS/Evgenia Novozhenina/Pool)




Timing é tudo em geopolítica. Nessa última sexta-feira, em Moscou, apenas três dias antes da posse do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, em Washington, os líderes de dois membros da primeira linha dos BRICS, o Presidente russo Vladimir Putin e o Presidente iraniano Masoud Pezeshkian, assinaram um Acordo Abrangente de Parceria Estratégica detalhado em 47 artigos, o dobro dos artigos do recente acordo Rússia/Coreia do Norte.

Essa parceria estratégica está agora gravada indelevelmente em pedra, no mesmo momento em que a gigantesca e impagável dívida do governo dos Estados Unidos atinge o montante sem precedentes de 36,1 trilhões de dólares, equivalente a 106.400 dólares por cidadão americano, e no mesmo momento em que a participação dos Estados Unidos na economia global, pela primeira vez, cai abaixo de 15%, segundo dados do Banco Mundial/FMI.

Em nítido contraste, a parceria estratégica Rússia-Irã visa a solidificar ainda mais o esforço conjugado das principais organizações multilaterais visando a organização do novo mundo multimodal: BRICS+, Organização de Cooperação de Xangai (OCX) e a União Econômica Eurasiana (UEEA).

Pode-se chamar a isso de um momento-marco no longo processo de integração da Eurásia hoje em curso. Ou, na intepretação de grande parte da Maioria Global, um desafio direto e soberano à moribunda “ordem internacional baseada em regras” imposta pelo Ocidente.

A ampla parceria estratégica Teerã-Moscou fortalece a cooperação nas áreas de segurança e defesa, colocando especial ênfase no desenvolvimento fluido do Corredor Internacional de Transportes Norte-Sul (CITNS), um eixo transeurasiano unindo Rússia, Irã e Índia, fortalecendo o Irã como como um importantíssimo nó de trânsito para o gás e as mercadorias russas vendidas a diversos parceiros afro-eurasianos.


 

Reescrevendo as leis da guerra assimétrica - É esclarecedor ressaltar a interpretação que o próprio Putin dá a essa parceria, a que ele chama de “documento divisor de águas”, que estabelece “metas ambiciosas” baseadas no “desenvolvimento sustentável”.

Ele acrescentou que Rússia e Irã estão alinhados no tocante à “maioria” das questões de política externa, ambos são países independentes e nações civilizacionais que “resistem a pressões externas e se opõem a sanções ilegítimas”.

O Chanceler iraniano Abbas Araghchi ressaltou que a parceria vem substituir o “unilateralismo por cooperação e respeito”, em um acordo destinado a fornecer à Rússia e ao Irã instrumentos para a construção de uma “nova ordem na qual a cooperação irá tomar o lugar da hegemonia, e o respeito substituirá a imposição”.

Agora, vamos ao cerne da questão. Embora o acordo não se configure como uma aliança militar formal, a parceria institucionaliza intercâmbio militar no nível mais elevado – desde exercícios conjuntos e desenvolvimento de armamentos a projetos de compartilhamento de inteligência.

É inevitável que Moscou venha a vender jatos de caça Sukhoi S-30 e mísseis Pantsir, Tok e Buk, além de sistemas de defesa S-400s (e, em um futuro próximo, S-500s) para a defesa aérea iraniana, ao mesmo tempo em que compra uma vasta gama de mísseis e drones fabricados no Irã. O intercâmbio na área de Inteligência Artificial também será fortalecido. Tanto o Irã quanto a Rússia estão na linha de frente da reformulação das regras da guerra assimétrica.

A parceria estipula que a Rússia fornecerá “assistência” ao Irã. Na prática, isso significa não apenas armamentos, mas também que Moscou defenderá Teerã contra ameaças diplomáticas, nas Nações Unidas e face a outras forças internacionais, minimizando os efeitos disruptivos das sanções econômicas.

E caso venha a acontecer um ataque contra o Irã, a Rússia, por todos os meios, se recusará a colaborar com o atacante: desde o não fornecimento de informações de inteligência até a não permissão de uso de território russo para ataques ou incursões.

A infraestrutura de energia é um pilar essencial da parceria, e terá como meta aumentar as chances do Irã em meio a uma economia interna em deterioração. A Rússia irá fornecer tecnologias de energia estado-da-arte a fim de desenvolver a vasta – embora ainda necessitando de modernização – infraestrutura energética iraniana, suas redes de dutos e o comércio de GNL (gás natural liquefeito) em constante expansão.

No dia da assinatura do acordo, o Ministro da Energia russo, Sergei Tsivilev, forneceu maiores detalhes sobre o novo acordo, com vigência de 30 anos, entre a Gazprom e a Empresa Nacional Iraniana de Gás (NICG), tratando de um gasoduto no Mar Cáspio, que incluirá o Azerbaijão, e provavelmente irá tentar convencer Baku a abandonar posturas regionais hostis. A Rússia irá cobrir os custos de infraestrutura e, essencialmente, fornecer gás ao Irã e a alguns outros países vizinhos.

O volume projetado de 55 milhões de metros cúbicos anuais à época da conclusão do projeto compara-se à capacidade dos Nord Stream gêmeos que abasteciam a União Europeia, clandestinamente sabotados pelos Estados Unidos, como revelado em 2022 pelo veterano jornalista investigativo Seymour Hersh.

Esse acordo energético é essencial para Teerã porque, embora detendo as segundas maiores reservas de gás de todo o planeta – 34 trilhões de metros cúbicos, menores apenas que as reservas russas – o país padece de falta de energia para uso interno, principalmente no inverno. A maioria das vastas reservas de gás iranianas não são exploradas devido às sanções dos Estados Unidos, que já duram décadas.

Aperfeiçoando o “laboratório do futuro” - No front geoeconômico, a Rússia e o Irã estão no centro de um dos principais corredores de conectividade do século XXI: o CITNS, que une três países BRICS (o terceiro sendo a Índia), que é imune a sanções e uma alternativa imensamente mais rápida e mais barata que o antes indispensável Canal de Suez.

O outro corredor é a Rota Marítima do Norte (RMNR), que cruza o Ártico, que os chineses chamam de Rota da Seda do Gelo, ou Rota da Seda Polar. A China define a si própria como um “estado próximo ao Ártico”.

EM TEMPO: A Rússia com seu poderio militar tem evitado a "Terceira Guerra Mundial". A guerra na Ucrânia foi provocada pelos EUA e a OTAN quando, em meados de 2014, deram um golpe no Presidente da Ucrânia, o qual era pró Moscou. É aquela "velha estória", quando se tem madeira muita gente corre. OK, Moçada!