domingo, 29 de dezembro de 2024

PSOL se fortalece como opção de esquerda em 2026

Partido rompeu com aliança governo-oposição e, dessa forma, abriu espaço para construção de nova correlação de forças no campo da esquerda.

Por César Fonseca (Repórter de política e economia)e política e economia, e

29 de dezembro de 2024


 

 





Reunião de parlamentares do PSOL com o ministro Flávio Dino para abordar suspensão de emendas parlamentares (Foto: Divulgação/Twitter oficial Sâmia Bomfim).

A ação do Partido Socialista (PSOL) de encaminhar mandado de segurança ao STF, providência contra a balbúrdia da oposição conservadora e corrupta no Congresso – capitaneada pelo Centrão, comandado pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira(PP-AL), arregimentando direita e ultradireita contra o governo Lula, brecando governabilidade – aponta a nova vanguarda de esquerda que tende a crescer frente ao PT, em 2025, com vistas às eleições de 2026.

O partido governista, junto com a oposição, participou indiretamente das irregularidades condenadas pelo ministro Flávio Dino, do STF, que mandou suspender a distribuição dos recursos correspondentes às emendas parlamentares, no valor de R$ 4,2 bilhões, ao arrepio da lei. A advocacia da Câmara, solicitada a responder porque não apresentou atas das comissões que liberaram o dinheiro, bem como não esclareceu, devidamente, quem as autorizou, argumentou que agiu em comum acordo com o governo, para respaldar seu procedimento.

Vale dizer, governo e oposição agiram, combinadamente, de modo que sua atuação estaria seguindo as determinações legais alegadas pela advocacia parlamentar, contestadas pelo ministro Dino. Os ministérios da Fazenda, do Planejamento e a Casa Civil, argumentaram os advogados da Câmara, assinaram em baixo do que o presidente Arthur Lira determinou, de modo que havia entendimento de Executivo e Legislativo, como se isso fosse a condição sine qua non para a liberação dos R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares solicitadas pelos líderes das comissões.

O ministro Dino, portanto, em seu ato de autonomia na defesa do STF de punir irregularidades, condena, implicitamente, os dois poderes, tornando-os cúmplices perante a opinião pública. Para aprovar o pacote fiscal do governo, houve o entendimento da direita e ultradireita, coordenadas pelo Centrão, liderado por Lira, pois, do contrário, não seriam aprovadas as medidas restritivas orçamentárias exigidas pela Faria Lima, como antídoto à especulação que levou o dólar a R$ 6,30, virando a economia de cabeça para baixo, sinalizando anarquia política.

Com o câmbio, artificialmente, descontrolado pelos especuladores do mercado financeiro, forçando inflação a fugir da meta de 4,5% e a justificar ação do Banco Central a puxar a taxa de juro Selic para 12,25%, o governo apavorou-se e apressou-se em atender os dois lados: de um lado, os parlamentares, liberando as emendas, mesmo de forma irregular, ferindo a lei, como protestou o ministro Flávio Dino, e, de outro, o mercado, na sua voracidade por mais juros, sobreacumulando riqueza financeira nas mãos de 0,1% da população, em prejuízo da maioria.

Revelou-se, portanto, uma combinação mortífera entre os dois poderes para aprofundar o processo de concentração de renda e consequente desigualdade social que inviabiliza o desenvolvimento com melhor distribuição da riqueza nacional.

DECISÃO POLÍTICA PROGRESSISTA - Foi nesse contexto de insubordinação do Legislativo e do Executivo combinados contra a Constituição que o PSOL entrou com representação do Supremo Tribunal Federal como último recurso de luta política ideológica contra os dois poderes aliados para liberação das emendas parlamentares, como pré-condição conservadora para aprovação do pacote fiscal.

A representação do PSOL encontrou no ministro Flávio Dino o personagem que colocou em movimento a resistência do STF em defesa da Constituição contra os desmandos do Legislativo, conduzido por Arthur Lira. O PT e aliados perderam oportunidade histórica de reagir em defesa dos interesses populares. O PSOL rompeu com a aliança governo-oposição, formada para aprovar o pacote, e, dessa forma, abriu espaço para construção de nova correlação de forças no campo da esquerda, para se transformar, como crítico do PT e aliados, em alternativa política.

A aliança de conveniência Executivo-Legislativo, para liberação das emendas parlamentares, como condição para aprovação das restrições orçamentárias, que afetam programas sociais e o arrocho no salário mínimo, de modo a atender a Faria Lima, passa a ser o alvo dos que pregam o caminho da esquerda mais autêntica, para sintonizar-se com a população afetada pelas medidas neoliberais.

A social democracia petista que se rendeu aos conservadores de direita e ultradireita abre espaço, como aconteceu, recentemente, na França, para uma esquerda mais radical, que pode ser expressa na ação política do PSOL de recorrer ao STF contra Lira, abrindo novo contexto para as forças progressistas, a partir de 2025, como novidade política.

O PSOL, portanto, cria novas circunstâncias políticas com as suas providências ao STF, que se revelou a instância máxima, com o ministro Dino, capaz de brecar a balbúrdia legislativa. Dino expôs, claramente, estar o Legislativo brasileiro completamente desmoralizado sob o comando da direita e ultradireita, liderado pelo deputado Lira. O legado do parlamentar alagoano se revela desastroso, tal qual a herança deixada pelo governo fascista do ex-presidente Jair Bolsonaro, tornado inelegível por oito anos pelo STF.

O sucessor de Lira manterá o procedimento desastroso para acelerar ainda mais o desastre?

EM TEMPO: É importante que as lideranças do PSOL não migrem para o PT, uma vez que agindo dessa forma estaremos bem próximo do  caminho da "perdição". Exemplo: Marcelo Freixo

Jimmy Carter se opôs a Geisel e ajudou a derrubar a ditadura militar no Brasil

Ex-presidente dos EUA expôs violações de direitos humanos do regime brasileiro, enfraqueceu sua legitimidade internacional e incentivou redemocratização

29 de dezembro de 2024

Jimmy Carter (Foto: REUTERS/Amr Abdallah Dalsh)


 

Por Guilherme Paladino




247 - Durante seu mandato presidencial, entre 1977 e 1981, Jimmy Carter, falecido aos 100 anos neste domingo (29), desempenhou um papel importante na fragilização da ditadura militar brasileira (1964-1985), ao adotar uma política externa centrada na defesa dos direitos humanos. Essa abordagem, inovadora para a época, gerou tensões com o então presidente do Brasil, general Ernesto Geisel, e contribuiu para o isolamento do regime militar no cenário internacional.

A relação entre Carter e Geisel foi marcada por conflitos abertos. A administração norte-americana utilizou relatórios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e de organizações não governamentais para denunciar práticas de tortura, desaparecimentos forçados e repressão política no Brasil. Essas críticas foram amplamente divulgadas em discursos oficiais dos EUA, irritando profundamente o regime brasileiro, que acusava Washington de interferência em seus assuntos internos.

Em resposta às denúncias, Geisel adotou uma postura de resistência, mas também reconheceu que o fortalecimento do regime dependia de uma transição controlada para a democracia. Sob pressão internacional e enfrentando uma crise econômica interna, o general iniciou o processo de abertura política, descrito como “lento e gradual”. Essa estratégia visava preservar o controle militar enquanto acomodava as crescentes demandas por redemocratização.

Corte de auxílio militar e isolamento diplomático

Uma das principais ferramentas de Carter para pressionar o regime brasileiro foi o corte na cooperação militar. A restrição à venda de equipamentos e ao treinamento de oficiais brasileiros enfraqueceu a capacidade do Brasil de sustentar sua legitimidade no plano internacional. Essas medidas também destacaram a mudança de postura dos Estados Unidos em relação às ditaduras militares, antes vistas como aliadas essenciais na contenção do comunismo durante a Guerra Fria.

A política de direitos humanos de Carter teve um impacto significativo dentro do Brasil, fortalecendo movimentos de oposição como a Campanha pela Anistia. A postura dos EUA incentivou ativistas e setores democráticos a pressionarem o regime por reformas políticas e maior respeito aos direitos civis. Essa pressão interna, aliada ao isolamento diplomático, ajudou a acelerar a erosão do suporte ao regime militar. 

Legado

Apesar da reversão parcial dessa política pelo sucessor de Carter, Ronald Reagan, que retomou relações mais amistosas com regimes autoritários, o impacto de Carter foi significativo. Sua administração expôs as violações de direitos humanos do regime brasileiro, enfraqueceu sua legitimidade internacional e incentivou movimentos internos pela redemocratização.

EM TEMPO: O ex-presidente e general Geisel considerava Bozo como um "mal militar" e o seu Comandante Militar, general Leônidas Pires, proibiu  Bozo de visitar os quartéis do Exército. Perguntar não incomoda: de lá para cá, considerável parcela dos militares brasileiros, pioraram ou melhoraram sua capacidade de entender a geopolítica ao aderirem a uma armadilha golpista plantada pelo indisciplinado e arruaceiro  Bozo, mesmo com o alerta de uma Generala para o Cone Sul, isto é, América Latina, a qual  esteve no Brasil, em meados do primeiro semestre do ano de 2022,  a mando do governo Biden, para dizer, em reunião,  ao Alto Comando das Forças Armadas que os EUA, leia-se  CIA,  não apoiavam  aventura militar no Brasil. 


sábado, 28 de dezembro de 2024

O Brasil está novamente sob ataque e Lula será golpeado em várias frentes

À medida que 2026 se aproxima, o jogo fica mais claro e o alvo é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por Leonardo Attuch (Jornalista e Diretor do Portal 247)

28 de dezembro de 2024

Lula (Foto: Ricardo Stuckert/PR)


Assim como ocorreu em junho de 2013, o Brasil está novamente sob ataque.

O sintoma mais visível da nova guerra contra o País é o ataque especulativo contra o real, que parece estar sendo comandado pelos grandes fundos financeiros internacionais.

O objetivo claro deste ataque é desestabilizar o governo do presidente Lula, que fecha o ano de 2024 com excelentes números econômicos: o menor desemprego da série histórica e um crescimento do PIB que deve se aproximar de 4%.


Mas é exatamente por estar indo bem que Lula entrou na mira dos golpistas de sempre – os daqui e os de fora.

A tese é de que Lula não pode chegar forte demais em 2026. Na pior das hipóteses, para os golpistas, é claro, ele precisa necessitar da frente ampla para se eleger. Na melhor das hipóteses, para este mesmo grupo, o ideal é que ele não dispute a reeleição e o PT seja derrotado, abrindo espaço para a volta do projeto da extrema-direita, que hoje conta com três forças principais: a família Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas e o ex-coach Pablo Marçal, que, até agora, não perdeu seus direitos políticos e aparentemente não os perderá.

O ataque contra o real, no entanto, não é o único sintoma da guerra contra o Brasil. Um exemplo recente é a fake news disparada pela Folha de S. Paulo sobre o inexistente “rombo das estatais". Uma mentira que foi compartilhada pela Globopela família Bolsonaro e pelas redes da extrema-direita. O objetivo é criar no imaginário da população a ideia de que o PT estaria “quebrando o Brasil", quando o que ocorre é exatamente o contrário. Lula está reconstruindo o Brasil e retomando o desenvolvimento.

Mas, se é assim, por que então os grandes fundos internacionais e a mídia brasileira estariam atacando um governo que traz de volta a perspectiva do desenvolvimento econômico e social? A resposta é simples: no estágio atual do capitalismo, o grande negócio não é mais o desenvolvimento.

O grande negócio é a crise. É, por exemplo, a guerra direta, como ocorre na Ucrânia.

Ou também a guerra indireta, como ocorreu durante a Lava Jato, quando várias empresas brasileiras entraram em crise e foram forçadas a colocar à venda ativos valiosos, que foram assumidos por grupos ou fundos financeiros internacionais.

Quem melhor compreendeu essa nova lógica do sistema capitalista foi o professor Alysson Mascaro, da Universidade de São Paulo, que, não por acaso, foi cancelado sob a acusação de assédio sexual – uma das armas usadas pelo imperialismo para afastar os indesejáveis.

O presidente Lula, no entanto, não será atacado em 2025 apenas pelo capital financeiro e pelos grupos midiáticos que o representam. Já se forma, no Brasil, um novo ecossistema de comunicação, que atacará o presidente Lula também “pela esquerda". Para estes, Lula seria “neoliberal”, “bunda-mole", “rendido ao sistema financeiro” ou, na melhor das hipóteses, “excessivamente conciliador".

Assim funciona a máquina de destruição, pela lógica da dominação de espectro total. Se alguém estiver disposto a odiar o presidente Lula, poderá odiá-lo pela direita, pelo centro ou até mesmo pela “esquerda".

Ocorre que, no Brasil atual, só dois projetos políticos são viáveis: o representado por Lula, que reduz o desemprego e melhora as condições de vida da população, e o da extrema-direita, que pretende privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, além de fechar o BNDES. O resultado do segundo projeto, obviamente, seria a volta de uma parcela significativa da população brasileira à fila do osso e à pobreza extrema, como ocorre na Argentina de Javier Milei.

Nesta nova etapa da guerra contra o Brasil, só existem duas alternativas reais: ou se está com Lula ou com a extrema-direita.

Que cada cidadão brasileiro faça a sua melhor escolha.

Feliz ano novo!

Assista o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=VPiyiUVd_GY&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg&t=2s

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Combater a extrema-direita e os pacotes antipopulares!

 

Ato do dia 10/12 em Fortaleza (Ceará)



 





A crise mundial do sistema capitalista e o declínio do imperialismo dos Estados Unidos e seus aliados têm produzido uma conjuntura mundial complexa, em que a lenta agonia da velha ordem imperialista, tanto do ponto de vista econômico, quanto político, monetário e militar, eleva a tensão internacional e produz conflitos bélicos, sanções econômicas, estímulo a golpes de Estado, interferência na política externa de diversos países, disputa por domínio de mercados e rotas de comércio. Além disso, acentua a crise ambiental expressa nas profundas mudanças climáticas, com aumento da temperatura em todo o planeta, alteração do regime de chuvas, afetando a produção agrícola e a vida dos povos em várias regiões.

A guerra na Ucrânia tem potencial para se transformar numa guerra mundial, principalmente após os Estados Unidos e a União Europeia terem autorizado o uso de armas de longo alcance no interior do território russo e a Rússia ter respondido que poderá retaliar contra a medida, inclusive com o uso de armas nucleares. No epicentro desse processo está em jogo a continuidade da hegemonia militar e política dos Estados Unidos e da OTAN e os interesses da Federação Russa, com apoio da China e mais recentemente da Coréia do Norte, países que buscam construir um contraponto à velha ordem criada em Bretton Woods.

O genocídio em curso contra o povo palestino, promovido pelo Estado sionista de Israel, os ataques ao Líbano, os recentes conflitos na Síria e as provocações e sabotagens contra o Irã são também parte do processo de ampliação da tensão que marca a crise do sistema capitalista e acentua a beligerância do imperialismo em todo o mundo. A vitória de Trump significa a continuação do apoio a Israel e sua política colonial de anexação das terras palestinas.

Por outro lado, o predomínio do dólar como moeda mundial está sendo cada vez mais contestado nas relações econômicas internacionais. Muitos países da Eurásia e mesmo da América Latina estão realizando cada vez mais negócios em moedas locais e há indícios de que os BRICS poderão criar em futuro próximo um sistema de pagamento em contraposição ao Swift (baseado no dólar dos EUA), na perspectiva de criação de uma moeda própria para o comércio internacional desses países. Tal processo fez com que, recentemente, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçasse impor tarifas de 100% sobre todos os produtos dos países que deixassem de negociar em dólar.

A crise tem produzido também a emergência da extrema-direita em várias regiões do mundo, inclusive na América Latina, cujas forças têm articulado um movimento neofascista em nível internacional, combinando velhas táticas e discursos típicos do fascismo do início do século XX, como a xenofobia, o anticomunismo, o discurso de ódio, o ataque às liberdades democráticas e às conquistas e direitos da classe trabalhadora e dos setores populares, com a defesa e aprofundamento de políticas neoliberais, os cortes nos investimentos públicos em áreas sociais e o combate a qualquer modelo de regulação estatal sobre a economia.

Como o Brasil não é um compartimento estanque no cenário mundial, deve ser impactado por essa conjuntura de crise. Por sua dimensão continental, potencial econômico e influência na América Latina, o Brasil é um dos países que o imperialismo busca enquadrar na defesa de seus interesses, principalmente pelo fato de integrar os BRICS e ser um dos principais parceiros comerciais da China na América Latina. Em virtude disso, é possível ocorrer dias de tensão nas relações com os Estados Unidos no próximo período, apesar das posturas do governo Lula no sentido de manter boas relações com o centro do imperialismo.

Apesar da derrota eleitoral da chapa presidencial de Bolsonaro e do seu projeto de aprofundamento do modelo reacionário e ultraneoliberal no pleito de 2022, não podemos cair na ilusão de que o neofascismo e as articulações da extrema-direita brasileira foram totalmente derrotados. Ao contrário, o bolsonarismo segue forte e presente no Congresso brasileiro, em vários governos estaduais e prefeituras municipais, em setores das Forças Armadas e amplas camadas médias urbanas, além de ter vencido a disputa eleitoral em mais de 500 municípios.

Esse cenário de retrocessos se torna ainda mais preocupante com as revelações do plano golpista de Bolsonaro e sua quadrilha. Esse plano minuciosamente articulado por setores das FFAAs e da segurança pública, teve também a participação direta de grupos de empresários, latifundiários, setores religiosos, da mídia e de parlamentares, além de blogueiros e influenciadores digitais, revelando um esquema que previa o assassinato dos recém eleitos presidente e vice, o ministro do STF Alexandre de Moraes, além de atentados e provocações de tumultos que justificassem a instauração de um estado de sítio e a ruptura institucional ainda em 2022. 

O movimento da ultradireita brasileira segue articulado e se alimenta ideologicamente, entre outras coisas, do avanço da extrema direita mundial e das contradições do governo Lula, que tendem a manter o grau de precarização social e o desgaste político junto às massas mais pobres, descrentes da democracia formal e do modelo de governança vigente.

O mais problemático nessa conjuntura nacional é que o governo Lula optou por um modo de governabilidade que mantém a lógica de austeridade fiscal e os cortes de recursos para áreas essenciais como saúde e educação, reduzindo a capacidade do Estado em investimentos sociais, aumentando dessa forma as pressões privatistas e o desgaste do governo, cuja política não consegue cumprir as expectativas daqueles que o apoiaram nas últimas eleições. Esse processo contraditório abre espaços para o sequestro da subjetividade da classe trabalhadora pelo discurso panfletário e moralista que a direita e a extrema-direita fizeram durante o processo eleitoral e passaram a assumir uma postura “antissistema” que deveria ser a postura do campo progressista.

Em termos práticos, o amplo leque partidário que alicerça o governo Lula, somado à opção pelo desarme ideológico e a conciliação política por parte das forças do chamado campo democrático-popular são sintomas do quanto a capitulação gera prejuízos à classe trabalhadora, seja pelas políticas neoliberais expressas no arcabouço fiscal e no corte dos investimentos públicos, seja pelas práticas antissindicais contra trabalhadores e trabalhadoras antes, durante e após as greves. A prática de apassivamento da luta de classes busca garantir a aplicação do pacto de governabilidade sustentado pelas entidades que apoiam o governo Lula, reduzindo as possibilidades de questionamento à ordem do capital e às medidas voltadas a precarizar a vida dos trabalhadores, em favor dos interesses do capital.

Exemplo recente da política adotada contra a classe trabalhadora é o recente pacote com corte de mais de 70 bilhões de reais, que aprofunda a lógica neoliberal do Arcabouço Fiscal, promove mais desgastes e contradições sociais e prejudica de maneira direta trabalhadores, trabalhadoras, pensionistas e a população mais pobre. O governo reduziu a valorização do salário mínimo à chamada banda fiscal de 0,6% a 2,5%, resultando num enorme prejuízo para dezenas de milhares de trabalhadores/as, pensionistas e beneficiários das políticas sociais, tudo para agradar os banqueiros e especuladores que hoje dominam a política econômica do governo. 

Para dourar a pílula amarga do pacote, o governo anunciou que vai liberar da cobrança do imposto de renda aqueles que ganham até 5.000,00. Mas isso pode ser apenas uma promessa, porque a medida foi enviada ao Congresso, que poderá modificá-la, e o governo poderá lavar as mãos, colocando a culpa da não aprovação nos congressistas.

Diante dessa situação, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) entende que só as massas nas ruas, com a organização e mobilização dos trabalhadores e das trabalhadoras nos locais de trabalho e a juventude nos locais de estudo poderão mudar a correlação de forças e abrir novas perspectivas para a luta social no Brasil. Devemos nos preparar para o acirramento da luta de classes diante do agravamento da conjuntura nacional e internacional e enfrentar com firmeza a direita e a extrema-direita, exigindo a prisão de Bolsonaro e seus cúmplices e combatendo suas ações em todos os campos da vida social, a exemplo da tentativa de aprovação da PEC do estuprador.

É preciso resgatar a referência antissistêmica da esquerda revolucionária, denunciar e combater as políticas antipopulares dos governos federal, estaduais e municipais, lutar pela construção da greve geral em defesa da redução da jornada de trabalho para 30 horas e contra a escala 6×1, disputando com trabalho de base e muita luta o cenário complexo da conjuntura brasileira.

Em defesa dos direitos humanos e das liberdades democráticas!
Pelo fim da escala 6×1, redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais sem redução salarial!
Basta de violência contra as mulheres! Não à PEC do estuprador!
Sem anistia para os golpistas! Prisão para Bolsonaro e seus cúmplices!

Pelo poder popular e pelo socialismo!

Comitê Central do PCB

EM TEMPO: A conjuntura atual não facilita a mobilização popular. De qualquer forma é preciso relacionar os itens que são possíveis de melhorar numa situação bastante  desfavorável para a classe trabalhadora. Além do mais, temos  um Congresso Nacional, formado, em sua maioria, por parlamentares  de Direita, Extrema Direta e Centro Direita. Aqui fica a dica de procurarmos, nas Eleições de 2026,  aumentar a representação no Congresso de políticos progressistas. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Se decidir falar, “rei do lixo” pode implodir todo o comando do União Brasil e o grande esquema de corrupção com emendas





 



Marcos Moura, Davi Alcolumbre, Antônio Rueda e ACM Neto (Foto: Divulgação)

PF investiga rede ligada ao empresário Marcos Moura, conhecido como "rei do lixo", e políticos do União Brasil

18 de dezembro de 2024

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Leonardo Sobreira

247 - A investigação da Polícia Federal envolvendo o empresário Marcos Moura, conhecido como o "rei do lixo", expôs um suposto esquema de corrupção que pode abalar as estruturas do União Brasil e revelar um dos maiores escândalos políticos dos últimos anos. 

Moura, preso durante a Operação Overclean no dia 10 de dezembro, é apontado como o articulador de uma vasta rede de contratos fraudulentos em 17 estados brasileiros, movimentando cerca de R$ 1,4 bilhão nos últimos anos. Só em 2024, o grupo teria desviado R$ 800 milhões. Documentos apreendidos pela PF, incluindo R$ 1,5 milhão em espécie e dezenas páginas de planilhas detalhadas, reforçam as suspeitas de superfaturamento, lavagem de dinheiro e manipulação de licitações públicas.

O esquema, que teria como base contratos de coleta de lixo, dedetização e obras públicas, envolve lideranças do União Brasil, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o senador Davi Alcolumbre (AP). Moura, filiado ao partido e integrante da cúpula, teria utilizado sua empresa MM Limpeza Urbana para firmar contratos milionários com prefeituras governadas por aliados políticos. Somente em Salvador, ele  detém contratos de mais de R$ 1 bilhão. 

Além disso, as investigações indicam que emendas parlamentares também foram usadas para direcionar recursos a prefeituras e empresas ligadas ao grupo. Com a decisão sobre sua liberdade nas mãos da desembargadora do TRF1 Daniele Maranhão, a expectativa é de que um eventual acordo de colaboração premiada de Moura possa expor um esquema de corrupção de alcance nacional, envolvendo contratos públicos, desvio de recursos e conexões políticas que ameaçam implodir o comando do União Brasil, presidido por Antônio Rueda. 

Um dos pontos-chave que facilitam esquemas como este é a falta de transparência e rastreabilidade no uso de emendas parlamentares. Muitas vezes, os recursos dessas emendas são direcionados para prefeituras e empresas sem mecanismos robustos de fiscalização, criando brechas para fraudes e desvios de verbas. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A morte de uma nação: bandeiras negras, massacres e roubo de terras, enquanto os abutres devoram a carcaça da Síria


 



 







Soldados israelenses se reúnem perto da linha de cessar-fogo entre a Síria e as Colinas de Golã ocupadas por Israel, 9 de dezembro de 2024 (Foto: REUTERS/Ammar Awad)

Caos geopolítico e massacres devastam a Síria, enquanto potências e milícias rivais disputam territórios, deixando um rastro de destruição e sofrimento humano

13 de dezembro de 2024

O modus operandi padrão do Hegêmona é sempre Dividir para Dominar. Encurralado pela inexorável ascensão da realidade multinodal (itálicos meus), eles perceberam a oportunidade de reinicializar o Império, apostando tudo na criação do “Grande Oriente Médio” delineado ainda na era Cheney.

O eixo de ferro dos neocons straussianos, dos sio-cons e dos psicopatas do Velho Testamento de Tel Aviv é dominado por uma obsessão tipo vale-tudo em destruir o Eixo da Resistência, usando sua rede internacional de matadores sanguinários para espalhar caos e guerra civil sectária por todo o Oeste Asiático. Nesse cenário ideal, eles sonham em ferir mortalmente a cabeça da serpente: o Irã.

O Sultão Erdogan, desempenhando o papel de otário útil, proclamou:

Um “período luminoso” para a Síria acaba de começar.

De fato. Um período luminoso para os Cortadores de Cabeça da Bandeira Negra e para os bombardeadores e invasores de terras de Tel Aviv – se empanturrando com a carcaça da Síria.

Os matadores psicopatológicos do Velho Testamento, com mais de 350 ataques, destruíram totalmente a infraestrutura militar do antigo Exército Árabe Sírio (SAA), fábricas de armamentos, munição, bases, jatos de caça, inclusive a base aérea de Mezze, em Damasco, sistemas antinavio russos, os próprios navios (em Lattakia, próximo à base naval russa) e posições de defesa aérea.

Resumindo: trata-se da desmilitarização da antiga Síria pelo combo OTAN/Israel – sem nem ao menos um pio vindo do mundo árabe e das terras do Islã, a começar pelos matadores da Bandeira Negra que tomaram Damasco.

Some-se a isso as já clássicas invasões/roubo, e a declaração oficial de Tel Aviv sobre a anexação definitiva de Golan – que legalmente pertence à Síria, e cuja restituição foi exigida pela ONU depois da guerra de 1967.

A blitzkrieg dos psicopatas do Velho Testamento - Paralelamente, a aviação turca bombardeou a antiga base russo-síria em Qamishli, no extremo nordeste. O pretexto: evitar que os curdos apoiados pelos Estados Unidos e outras tribos árabes se apoderassem das armas. Para os russos isso talvez não tenha tido muita importância – uma vez que houve tempo suficiente para evacuar ativos de grande valor do Leste do Eufrates.

A Rússia deu asilo ao tremendo e incorruptível Suheil al-Hassan – um sério candidato a principal especialista em tática e estratégia militar do mundo de hoje. Os russos apostaram nele já em 2015 – e garantiram sua segurança pessoal. Ninguém na Síria tinha guarda-costas russos – nem ao menos Assad. Ele foi o único comandante que de fato ganhou batalhas durante os dez dias da Queda da Síria.

Em meio a uma torrente de pessimismo catastrófico, o que vem ocorrendo, com a rapidez de um raio, é a OTAN/Israel devorando a carcaça de uma nação morta e dividindo-a com um bando barulhento de idiotas e fantoches – indo de salafi-jihadis falsamente esclarecidos a curdos americanizados. Obviamente, o QI coletivo menor que a temperatura ambiente impede essa turma de perceber que estão lutando pelo mesmo suserano.

Os capangas de Tel Aviv avançaram sua blitzkrieg através das áreas periféricas de Damasco e talvez já estejam a quinze quilômetros ao sul da capital, uma clássica jogada de lebensraum, parte de seu projeto colonial, visando a obter influência máxima no flanco libanês.

Essa situação é absolutamente crucial e extremamente preocupante para o Eixo da Resistência: agora, a totalidade do Sul do Líbano está exposta a um ataque maciço da ocupação israelense – uma vez que as planícies férteis entre Chtoura no vale de Beqaa e Aanjar não apenas abrigam valiosos recursos naturais, mas também oferecem uma rota direta para Beirute.

Os escorpiões se voltam uns contra os outros - Paralelamente, os Bandeiras Negras tomaram Damasco. Está havendo massacres de todos os tipos – incluindo o de líderes religiosos e cientistas, mas principalmente de antigos oficiais do exército, ex-integrantes da contraespionagem síria e até mesmo civis acusados de terem sido militares.

Sua Eminência, o Xeique Tawfiq al-Bouti, filho do famoso xeique Muhammad Said Ramadan al-Bouti, que foi o imã da venerável mesquita de Umayyad, foi assassinado em sua madrassa em Damasco.

Como seria previsível, os escorpiões estão se voltando uns contra os outros, gangues terroristas rivais do Hayat Tahrir al-Sham (HTS) exigem que os capangas de Jolani libertem seus comparsas presos no Grande Idlibistão, e agora ameaçam atacar o HTS.

Em Manbij, terroristas apoiados pelos turcos matam abertamente curdo-americanos em hospitais. O norte e o nordeste da Síria estão atolados na mais total anarquia.

As tribos que se recusam a aceitar os curdo-americanos e seu projeto de estado comunista e secular, e também se recusam a se juntar à rede terrorista salafi-jihadi apoiada pelos turcos, agora são taxados de “ISIS”, sendo devidamente bombardeados por jatos dos Estados Unidos. Alguns talvez ainda sejam do ISIS: eles eram, antes de 2017, e ainda existem remanescentes do ISIS vagando na clandestinidade pelo deserto.

O Exército russo posicionou seus navios a oito quilômetros da base naval de Tartus. Isso não oferece total segurança porque ainda podem ser alcançados por drones e artilharia, bem como por pequenos barcos.

Para a aviação em Hmeimim é ainda mais complicado. Moscou já mandou uma mensagem clara: se a base for tocada, a retaliação será devastadora. O HTS, de sua parte, vem focando principalmente a ocupação de Lattakia.

O futuro das bases russas permanece um mistério: o desfecho dependerá de uma negociação direta e espinhosa entre Putin e Erdogan.

Jolani, o novo Califa de fato de al-Sham, não se tornará o Líder nessa fase inicial porque a maioria dos sírios morre de medo dele, apesar de sua cuidadosamente encenada conversão à correção política no estilo “estrada de Damasco”.

Ele nomeará a si mesmo “chefe militar”. Um fantoche designado – Mohammed al-Bashir – conduzirá a “transição” até março de 2025. É praticamente certo que al-Bashir será abominado por quase todas as facções. Isso irá preparar o caminho para que o cortador de cabeças arrependido Jolani dê um golpe de estado e assuma poder ilimitado.

Foi na Síria, em Antióquia, uma das mais poderosas cidades do Império Romano, que os discípulos de Jesus foram denominados “cristãos”, do grego christianos. Antióquia hoje é a pequena cidade de Antakya, parte da Turquia. O Sultão Erdogan também sonha com Alepo como parte da Turquia.

O grego era a língua desse pedaço do Império Romano: o latim era usado apenas pelos ocupadores – militares e administrativos.

A Igreja presidida pelo patriarca de Antióquia se desenvolveu por toda a Síria, chegando até o Eufrates.

Será que o Ocidente Coletivo se levantará em defesa dos cristãos sírios remanescentes quando os Bandeiras Negras vierem para expurgá-los – o que certamente acontecerá? Claro que não. O Ocidente Coletivo continua exultando com o fim do “ditador”, enquanto os Bandeiras Negras e os abutres do Velho Testamento dançam em seu Baile do Vampiro sobre o cadáver de uma nação.

Tradução de Patricia Zimbres

quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

A autópsia da Síria: terror, ocupação e Palestina

"OTAN e Israel, que celebram a queda de Damasco, vão acabar tendo que lidar com mais do que esperavam", alerta Pepe Escobar

12 de dezembro de 2024

 
Retrato de Assad danificado após a queda do regime (Foto: Reuters)

A curta manchete definindo o abrupto e rápido fim da Síria tal como a conhecíamos seria: Eretz Israel se encontra como o neo-otomanismo. O subtítulo? Um ganha-ganha para o Ocidente e um golpe fatal contra o Eixo da Resistência.

Mas para citar a ainda onipresente cultura pop americana, talvez as corujas não sejam o que parecem.


Comecemos com a rendição do ex-presidente sírio Bashar al-Assad. Diplomatas do Catar, extraoficialmente, sustentam que Assad tentou negociar a transferência de poder com a oposição armada que havia lançado uma grande ofensiva militar nos dias anteriores, começando com Alepo, rapidamente seguindo em direção ao sul rumo a Hama, Homs, e tendo Damasco como alvo. Isso foi discutido em detalhe entre Rússia, Irã e Turquia a portas fechadas durante o último suspiro do moribundo “processo de Astana” para a desmilitarização da Síria.

A negociação de transferência de poder fracassou. Assad, portanto, recebeu do presidente russo Vladimir Putin a oferta de asilo em Moscou. Isso explica por que tanto o Irã como a Rússia imediatamente mudaram a terminologia quando ainda em Doha, passando a se referir à “oposição legítima”, em uma tentativa de distinguir os reformistas não-militantes dos extremistas armados que provocam destruição por todo o estado.

O Chanceler russo Sergey Lavrov – com uma linguagem corporal que revelava o grau de sua ira – literalmente disse: “Assad tem que negociar com a oposição legítima, que está na lista da ONU”.

Muito importante: Lavrov não se referia ao Hayat Tahrir al-Sham (HTS), os bandos de salafi-jihadistas ou jihadis-de-aluguel financiados pela Organização de Inteligência Nacional da Turquia (MIT), com armas bancadas por Catar e contando com o total apoio da OTAN e de Tel Aviv.