Soldados israelenses se reúnem perto da linha de cessar-fogo entre a Síria e as Colinas de Golã ocupadas por Israel, 9 de dezembro de 2024 (Foto: REUTERS/Ammar Awad)
Caos geopolítico e massacres devastam a Síria, enquanto potências e milícias rivais disputam territórios, deixando um rastro de destruição e sofrimento humano
13 de dezembro de 2024
O modus operandi padrão do Hegêmona é
sempre Dividir para Dominar. Encurralado pela inexorável ascensão da
realidade multinodal (itálicos meus), eles perceberam a
oportunidade de reinicializar o Império, apostando tudo na criação do “Grande
Oriente Médio” delineado ainda na era Cheney.
O eixo de ferro dos neocons
straussianos, dos sio-cons e dos psicopatas do Velho Testamento de Tel Aviv é
dominado por uma obsessão tipo vale-tudo em destruir o Eixo da Resistência,
usando sua rede internacional de matadores sanguinários para espalhar caos e
guerra civil sectária por todo o Oeste Asiático. Nesse cenário ideal, eles
sonham em ferir mortalmente a cabeça da serpente: o Irã.
O Sultão Erdogan, desempenhando o
papel de otário útil, proclamou:
Um “período luminoso” para a Síria
acaba de começar.
De fato. Um período luminoso para os
Cortadores de Cabeça da Bandeira Negra e para os bombardeadores e invasores de
terras de Tel Aviv – se empanturrando com a carcaça da Síria.
Os matadores psicopatológicos do
Velho Testamento, com mais de 350 ataques, destruíram totalmente a
infraestrutura militar do antigo Exército Árabe Sírio (SAA), fábricas de
armamentos, munição, bases, jatos de caça, inclusive a base aérea de Mezze, em
Damasco, sistemas antinavio russos, os próprios navios (em Lattakia, próximo à
base naval russa) e posições de defesa aérea.
Resumindo: trata-se da
desmilitarização da antiga Síria pelo combo OTAN/Israel – sem nem ao menos um
pio vindo do mundo árabe e das terras do Islã, a começar pelos matadores da
Bandeira Negra que tomaram Damasco.
Some-se a isso as já clássicas
invasões/roubo, e a declaração oficial de Tel Aviv sobre a anexação definitiva
de Golan – que legalmente pertence à Síria, e cuja restituição foi exigida pela
ONU depois da guerra de 1967.
A blitzkrieg dos psicopatas do Velho Testamento - Paralelamente, a aviação turca bombardeou a antiga
base russo-síria em Qamishli, no extremo nordeste. O pretexto: evitar que os
curdos apoiados pelos Estados Unidos e outras tribos árabes se apoderassem das
armas. Para os russos isso talvez não tenha tido muita importância – uma vez
que houve tempo suficiente para evacuar ativos de grande valor do Leste do
Eufrates.
A Rússia deu asilo ao tremendo e
incorruptível Suheil al-Hassan – um sério candidato a principal especialista em
tática e estratégia militar do mundo de hoje. Os russos apostaram nele já em
2015 – e garantiram sua segurança pessoal. Ninguém na Síria tinha guarda-costas
russos – nem ao menos Assad. Ele foi o único comandante que de fato ganhou
batalhas durante os dez dias da Queda da Síria.
Em meio a uma torrente de pessimismo
catastrófico, o que vem ocorrendo, com a rapidez de um raio, é a OTAN/Israel
devorando a carcaça de uma nação morta e dividindo-a com um bando barulhento de
idiotas e fantoches – indo de salafi-jihadis falsamente esclarecidos a curdos
americanizados. Obviamente, o QI coletivo menor que a temperatura ambiente
impede essa turma de perceber que estão lutando pelo mesmo suserano.
Os capangas de Tel Aviv avançaram sua
blitzkrieg através das áreas periféricas de Damasco e talvez já estejam a
quinze quilômetros ao sul da capital, uma clássica jogada de lebensraum,
parte de seu projeto colonial, visando a obter influência máxima no flanco
libanês.
Essa situação é absolutamente crucial
e extremamente preocupante para o Eixo da Resistência: agora, a totalidade do
Sul do Líbano está exposta a um ataque maciço da ocupação israelense – uma vez
que as planícies férteis entre Chtoura no vale de Beqaa e Aanjar não apenas
abrigam valiosos recursos naturais, mas também oferecem uma rota direta para
Beirute.
Os escorpiões se voltam uns contra os outros - Paralelamente, os Bandeiras Negras tomaram Damasco.
Está havendo massacres de todos os tipos – incluindo o de líderes religiosos e
cientistas, mas principalmente de antigos oficiais do exército, ex-integrantes
da contraespionagem síria e até mesmo civis acusados de terem sido militares.
Sua Eminência, o Xeique Tawfiq
al-Bouti, filho do famoso xeique Muhammad Said Ramadan al-Bouti, que foi o imã
da venerável mesquita de Umayyad, foi assassinado em sua madrassa em Damasco.
Como seria previsível, os escorpiões
estão se voltando uns contra os outros, gangues terroristas rivais do Hayat
Tahrir al-Sham (HTS) exigem que os capangas de Jolani libertem seus comparsas
presos no Grande Idlibistão, e agora ameaçam atacar o HTS.
Em Manbij, terroristas apoiados pelos
turcos matam abertamente curdo-americanos em hospitais. O norte e o nordeste da
Síria estão atolados na mais total anarquia.
As tribos que se recusam a aceitar os
curdo-americanos e seu projeto de estado comunista e secular, e também se
recusam a se juntar à rede terrorista salafi-jihadi apoiada pelos turcos, agora
são taxados de “ISIS”, sendo devidamente bombardeados por jatos dos Estados
Unidos. Alguns talvez ainda sejam do ISIS: eles eram, antes de 2017, e ainda
existem remanescentes do ISIS vagando na clandestinidade pelo deserto.
O Exército russo posicionou seus
navios a oito quilômetros da base naval de Tartus. Isso não oferece total
segurança porque ainda podem ser alcançados por drones e artilharia, bem como
por pequenos barcos.
Para a aviação em Hmeimim é ainda
mais complicado. Moscou já mandou uma mensagem clara: se a base for tocada, a
retaliação será devastadora. O HTS, de sua parte, vem focando principalmente a
ocupação de Lattakia.
O futuro das bases russas permanece
um mistério: o desfecho dependerá de uma negociação direta e espinhosa entre
Putin e Erdogan.
Jolani, o novo Califa de fato de
al-Sham, não se tornará o Líder nessa fase inicial porque a maioria dos sírios
morre de medo dele, apesar de sua cuidadosamente encenada conversão à correção
política no estilo “estrada de Damasco”.
Ele nomeará a si mesmo “chefe
militar”. Um fantoche designado – Mohammed al-Bashir – conduzirá a “transição”
até março de 2025. É praticamente certo que al-Bashir será abominado por quase
todas as facções. Isso irá preparar o caminho para que o cortador de cabeças
arrependido Jolani dê um golpe de estado e assuma poder ilimitado.
Foi na Síria, em Antióquia, uma das
mais poderosas cidades do Império Romano, que os discípulos de Jesus foram
denominados “cristãos”, do grego christianos. Antióquia hoje é a
pequena cidade de Antakya, parte da Turquia. O Sultão Erdogan também sonha com
Alepo como parte da Turquia.
O grego era a língua desse pedaço do
Império Romano: o latim era usado apenas pelos ocupadores – militares e
administrativos.
A Igreja presidida pelo patriarca de
Antióquia se desenvolveu por toda a Síria, chegando até o Eufrates.
Será que o Ocidente Coletivo se
levantará em defesa dos cristãos sírios remanescentes quando os Bandeiras
Negras vierem para expurgá-los – o que certamente acontecerá? Claro que não. O
Ocidente Coletivo continua exultando com o fim do “ditador”, enquanto os
Bandeiras Negras e os abutres do Velho Testamento dançam em seu Baile do Vampiro
sobre o cadáver de uma nação.
Tradução de
Patricia Zimbres
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