Ato do dia 10/12 em Fortaleza (Ceará) |
A crise mundial do
sistema capitalista e o declínio do imperialismo dos Estados Unidos e seus
aliados têm produzido uma conjuntura mundial complexa, em que a lenta agonia da
velha ordem imperialista, tanto do ponto de vista econômico, quanto político,
monetário e militar, eleva a tensão internacional e produz conflitos bélicos,
sanções econômicas, estímulo a golpes de Estado, interferência na política
externa de diversos países, disputa por domínio de mercados e rotas de
comércio. Além disso, acentua a crise ambiental expressa nas profundas mudanças
climáticas, com aumento da temperatura em todo o planeta, alteração do regime
de chuvas, afetando a produção agrícola e a vida dos povos em várias regiões.
A guerra na Ucrânia
tem potencial para se transformar numa guerra mundial, principalmente após os
Estados Unidos e a União Europeia terem autorizado o uso de armas de longo
alcance no interior do território russo e a Rússia ter respondido que poderá
retaliar contra a medida, inclusive com o uso de armas nucleares. No epicentro
desse processo está em jogo a continuidade da hegemonia militar e política dos
Estados Unidos e da OTAN e os interesses da Federação Russa, com apoio da China
e mais recentemente da Coréia do Norte, países que buscam construir um contraponto
à velha ordem criada em Bretton Woods.
O genocídio em curso
contra o povo palestino, promovido pelo Estado sionista de Israel, os ataques
ao Líbano, os recentes conflitos na Síria e as provocações e sabotagens contra
o Irã são também parte do processo de ampliação da tensão que marca a crise do
sistema capitalista e acentua a beligerância do imperialismo em todo o mundo. A
vitória de Trump significa a continuação do apoio a Israel e sua política
colonial de anexação das terras palestinas.
Por outro lado, o
predomínio do dólar como moeda mundial está sendo cada vez mais contestado nas
relações econômicas internacionais. Muitos países da Eurásia e mesmo da América
Latina estão realizando cada vez mais negócios em moedas locais e há indícios
de que os BRICS poderão criar em futuro próximo um sistema de pagamento em
contraposição ao Swift (baseado no dólar dos EUA), na perspectiva de criação de
uma moeda própria para o comércio internacional desses países. Tal processo fez
com que, recentemente, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump,
ameaçasse impor tarifas de 100% sobre todos os produtos dos países que
deixassem de negociar em dólar.
A crise tem produzido
também a emergência da extrema-direita em várias regiões do mundo, inclusive na
América Latina, cujas forças têm articulado um movimento neofascista em nível
internacional, combinando velhas táticas e discursos típicos do fascismo do
início do século XX, como a xenofobia, o anticomunismo, o discurso de ódio, o
ataque às liberdades democráticas e às conquistas e direitos da classe
trabalhadora e dos setores populares, com a defesa e aprofundamento de
políticas neoliberais, os cortes nos investimentos públicos em áreas sociais e
o combate a qualquer modelo de regulação estatal sobre a economia.
Como o Brasil não é
um compartimento estanque no cenário mundial, deve ser impactado por essa
conjuntura de crise. Por sua dimensão continental, potencial econômico e
influência na América Latina, o Brasil é um dos países que o imperialismo busca
enquadrar na defesa de seus interesses, principalmente pelo fato de integrar os
BRICS e ser um dos principais parceiros comerciais da China na América Latina.
Em virtude disso, é possível ocorrer dias de tensão nas relações com os Estados
Unidos no próximo período, apesar das posturas do governo Lula no sentido de
manter boas relações com o centro do imperialismo.
Apesar da derrota
eleitoral da chapa presidencial de Bolsonaro e do seu projeto de aprofundamento
do modelo reacionário e ultraneoliberal no pleito de 2022, não podemos cair na
ilusão de que o neofascismo e as articulações da extrema-direita brasileira
foram totalmente derrotados. Ao contrário, o bolsonarismo segue forte e
presente no Congresso brasileiro, em vários governos estaduais e prefeituras
municipais, em setores das Forças Armadas e amplas camadas médias urbanas, além
de ter vencido a disputa eleitoral em mais de 500 municípios.
Esse cenário de retrocessos se torna ainda mais preocupante com as revelações do plano golpista de Bolsonaro e sua quadrilha. Esse plano minuciosamente articulado por setores das FFAAs e da segurança pública, teve também a participação direta de grupos de empresários, latifundiários, setores religiosos, da mídia e de parlamentares, além de blogueiros e influenciadores digitais, revelando um esquema que previa o assassinato dos recém eleitos presidente e vice, o ministro do STF Alexandre de Moraes, além de atentados e provocações de tumultos que justificassem a instauração de um estado de sítio e a ruptura institucional ainda em 2022.
O movimento da ultradireita brasileira segue
articulado e se alimenta ideologicamente, entre outras coisas, do avanço da
extrema direita mundial e das contradições do governo Lula, que tendem a manter
o grau de precarização social e o desgaste político junto às massas mais
pobres, descrentes da democracia formal e do modelo de governança vigente.
O mais problemático
nessa conjuntura nacional é que o governo Lula optou por um modo de
governabilidade que mantém a lógica de austeridade fiscal e os cortes de
recursos para áreas essenciais como saúde e educação, reduzindo a capacidade do
Estado em investimentos sociais, aumentando dessa forma as pressões privatistas
e o desgaste do governo, cuja política não consegue cumprir as expectativas
daqueles que o apoiaram nas últimas eleições. Esse processo contraditório abre
espaços para o sequestro da subjetividade da classe trabalhadora pelo discurso
panfletário e moralista que a direita e a extrema-direita fizeram durante o
processo eleitoral e passaram a assumir uma postura “antissistema” que deveria
ser a postura do campo progressista.
Em termos práticos, o
amplo leque partidário que alicerça o governo Lula, somado à opção pelo desarme
ideológico e a conciliação política por parte das forças do chamado campo democrático-popular
são sintomas do quanto a capitulação gera prejuízos à classe trabalhadora, seja
pelas políticas neoliberais expressas no arcabouço fiscal e no corte dos
investimentos públicos, seja pelas práticas antissindicais contra trabalhadores
e trabalhadoras antes, durante e após as greves. A prática de apassivamento da
luta de classes busca garantir a aplicação do pacto de governabilidade
sustentado pelas entidades que apoiam o governo Lula, reduzindo as
possibilidades de questionamento à ordem do capital e às medidas voltadas a
precarizar a vida dos trabalhadores, em favor dos interesses do capital.
Exemplo recente da política adotada contra a classe trabalhadora é o recente pacote com corte de mais de 70 bilhões de reais, que aprofunda a lógica neoliberal do Arcabouço Fiscal, promove mais desgastes e contradições sociais e prejudica de maneira direta trabalhadores, trabalhadoras, pensionistas e a população mais pobre. O governo reduziu a valorização do salário mínimo à chamada banda fiscal de 0,6% a 2,5%, resultando num enorme prejuízo para dezenas de milhares de trabalhadores/as, pensionistas e beneficiários das políticas sociais, tudo para agradar os banqueiros e especuladores que hoje dominam a política econômica do governo.
Para dourar a pílula amarga do pacote, o governo anunciou que vai
liberar da cobrança do imposto de renda aqueles que ganham até 5.000,00. Mas
isso pode ser apenas uma promessa, porque a medida foi enviada ao Congresso,
que poderá modificá-la, e o governo poderá lavar as mãos, colocando a culpa da
não aprovação nos congressistas.
Diante dessa
situação, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) entende que só as massas nas
ruas, com a organização e mobilização dos trabalhadores e das trabalhadoras nos
locais de trabalho e a juventude nos locais de estudo poderão mudar a
correlação de forças e abrir novas perspectivas para a luta social no Brasil.
Devemos nos preparar para o acirramento da luta de classes diante do
agravamento da conjuntura nacional e internacional e enfrentar com firmeza a
direita e a extrema-direita, exigindo a prisão de Bolsonaro e seus cúmplices e
combatendo suas ações em todos os campos da vida social, a exemplo da tentativa
de aprovação da PEC do estuprador.
É preciso resgatar a
referência antissistêmica da esquerda revolucionária, denunciar e combater as
políticas antipopulares dos governos federal, estaduais e municipais, lutar
pela construção da greve geral em defesa da redução da jornada de trabalho para
30 horas e contra a escala 6×1, disputando com trabalho de base e muita luta o
cenário complexo da conjuntura brasileira.
Pelo poder popular e
pelo socialismo!
Comitê Central do PCB
EM TEMPO: A conjuntura atual não facilita a mobilização popular. De qualquer forma é preciso relacionar os itens que são possíveis de melhorar numa situação bastante desfavorável para a classe trabalhadora. Além do mais, temos um Congresso Nacional, formado, em sua maioria, por parlamentares de Direita, Extrema Direta e Centro Direita. Aqui fica a dica de procurarmos, nas Eleições de 2026, aumentar a representação no Congresso de políticos progressistas.
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