quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Efeito Kirk: como um assassinato desencadeou a virada de Trump sobre Israel

 

Um tiro que atravessou fronteiras: o assassinato de Kirk transformou o epicentro do trumpismo e expôs a ruptura entre o sionismo político e ala “America First”

Por Reynaldo José Aragon Gonçalves (Jornalista Geopolítico)



Ativista e influenciador de extrema direita estadunidense, Charlie Kirk fala antes de ser alvo de um atentado a tiros, em evento na Utah Valley University, em Orem, Utah, EUA - 10/09/2025 (Foto: Trent Nelson/The Salt Lake Tribune via REUTERS)




A morte de Charlie Kirk, fundador do Turning Point USA e ícone da nova direita americana, detonou uma crise interna que já vinha latente: parte do movimento MAGA quer cortar o cordão financeiro e simbólico que une os EUA a Israel. Em meio ao colapso moral do genocídio em Gaza e à pressão internacional, Trump cedeu — e empurrou Netanyahu ao cessar-fogo. O caso Kirk é o gatilho que revelou a guerra civil dentro da própria direita global. 

O Disparo que Ecoou no Oriente Médio

O assassinato de Charlie Kirk, ocorrido em 10 de setembro durante um evento na Utah Valley University, ultrapassou rapidamente o território do crime político para se tornar um terremoto simbólico dentro do movimento MAGA. O episódio mobilizou a base trumpista, reacendeu disputas internas e forneceu ao governo dos Estados Unidos uma oportunidade de reconfigurar sua narrativa no exato momento em que a guerra de Gaza já se tornava um fardo moral e diplomático. A sequência foi meticulosamente administrada: a prisão imediata do suspeito, a comoção nas redes, e o gesto calculado de Donald Trump ao conceder postumamente a Kirk a Medalha Presidencial da Liberdade. O mártir estava criado, e com ele um novo enquadramento simbólico para o poder — o da pacificação performativa.

A mesma semana marcou a consolidação do cessar-fogo em Gaza, com Trump assumindo o papel de fiador do acordo e exercendo pressão direta sobre Benjamin Netanyahu. O premiê israelense resistiu, ausentando-se da cúpula realizada no Egito, mas o movimento já era irreversível: a pressão doméstica, a fadiga de guerra e a erosão internacional da imagem dos Estados Unidos exigiam uma virada de curso. A Casa Branca percebeu a janela e aproveitou o luto como instrumento político. A figura do presidente-estadista emergiu das cinzas da comoção, transformando um trauma interno em legitimidade externa.

Não se trata de afirmar que um assassinato em Utah causou, sozinho, a suspensão dos bombardeios em Gaza. O que ocorreu foi um acoplamento estratégico de causalidades: a tragédia de Kirk funcionou como acelerador simbólico dentro de um processo já em marcha. A fadiga social com a guerra, as fissuras no MAGA entre doadores pró-Israel e isolacionistas, e o colapso moral do Ocidente diante das imagens de Gaza criaram o cenário ideal para que Trump reinterpretasse o próprio papel. O disparo que silenciou um ícone da direita americana reverberou como uma licença política — o som que permitiu ao presidente mover-se da retórica de confronto para a coreografia da paz, não por convicção humanitária, mas por puro instinto de sobrevivência. 

A Guerra que Sairia do Controle

A guerra em Gaza, iniciada com a promessa de “erradicar o Hamas”, tornou-se rapidamente o espelho de um colapso moral global. O que o establishment político israelense e seus aliados no Ocidente acreditavam ser uma operação de “legítima defesa” transformou-se, aos olhos do mundo, em um genocídio transmitido em tempo real — uma sequência interminável de corpos, ruínas e crianças soterradas sob a justificativa da segurança nacional. A narrativa de “combate ao terror” perdeu tração. O prolongamento da ofensiva não apenas multiplicava as vítimas, mas corroía a imagem de Israel e dos Estados Unidos, que insistiam em respaldar o massacre com ajuda militar e veto diplomático no Conselho de Segurança da ONU.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

'Sionismo e fascismo querem calar críticos do genocídio palestino', diz Altman

Jornalista afirma que denúncia do MPF busca silenciar vozes críticas a Israel


'Sionismo e fascismo querem calar críticos do genocídio palestino', diz Altman (Foto: Brasil247)

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Redação Brasil 247

247 - O jornalista Breno Altman se manifestou neste domingo (12) após ser denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposto crime de racismo contra judeus. Em publicação nas redes sociais, Altman relacionou a acusação a uma tentativa de silenciamento de críticos do genocídio do povo palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza. A denúncia, formalizada no último dia 7 de outubro, foi motivada por uma notícia-crime apresentada pela Conib (Confederação Israelita do Brasil). 

Declaração de Breno Altman

Na postagem, Altman afirmou: “O Ministério Público Federal me denunciou, em 7 de outubro, por crime de antissemitismo e outros delitos, a partir de notícia-crime emitida pela Conib. Mais uma prova dos vínculos entre sionismo e fascismo, para calar vozes que se levantam contra o genocídio palestino".

O jornalista, que é judeu e crítico contundente do sionismo, sustenta que a denúncia não se trata de um debate jurídico, mas de uma tentativa de criminalizar posições políticas em defesa do povo palestino.

Contexto da denúncia

O Ministério Público Federal (MPF) acusa Altman de fazer publicações antissemitas em suas redes sociais. No entanto, tanto o jornalista quanto sua defesa afirmam que as críticas sempre foram direcionadas ao sionismo e aos dirigentes do Estado de Israel, não ao povo judeu.

A Polícia Federal já havia concluído anteriormente que as manifestações de Altman não configuraram crime, mas sim o exercício da liberdade de expressão. Mesmo assim, o procurador Maurício Fabretti decidiu prosseguir com a denúncia. 

"Vergonha institucional"

O advogado Pedro Serrano, que representa o jornalista, classificou a denúncia como um ataque à democracia e um grave precedente institucional. Segundo o jurista, a denúncia do MPF é uma "vergonha institucional" e um "ato de racismo travestido de persecução penal".

Para Serrano, a acusação tenta criminalizar opiniões políticas e transformar a Justiça em instrumento de censura: “Ao pretender criminalizar as críticas ao governo de Israel e a solidariedade de Breno Altman ao povo palestino, o procurador transforma o direito penal em instrumento de censura política e de repressão ideológica, em afronta direta à Constituição e ao Estado Democrático de Direito".

EM TEMPO: Convém lembrar que Altman é judeu. 

domingo, 12 de outubro de 2025

Jeferson Miola: Lula retoma ofensiva política e governo inicia novo ciclo virtuoso

Projeto de isenção do IR fortalece o governo e abre fase positiva para Lula


Jeferson Miola: Lula retoma ofensiva política e governo inicia novo ciclo virtuoso (Foto: Divulgação)

Por Dafne Ashton

247 - Em participação no programa Giro das Onze, da TV 247, o jornalista Jeferson Miola traça um panorama da atuação política recente do governo Lula, apontando para uma virada estratégica no cenário nacional. 

Miola destaca que o governo “teve que bater muito tambor, divulgar e proclamar essa enorme vitória para mais de 16 milhões de contribuintes” com a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$5 mil e a redução parcial para salários até R$7.350. Ele considera a aprovação por unanimidade — 493 votos favoráveis — um “algo inédito” na Câmara, atribuindo o êxito tanto à engenharia tributária concebida pelo ministro Fernando Haddad quanto à condução política de Artur Lira.

“Era um projeto com neutralidade fiscal, que não criava tributos novos, que autocompensava a renúncia com novas receitas sem alterar o sistema tributário nacional”, afirma Miola. Ele ressalta que Haddad conduziu a proposta de “maneira serena, didática e professoral”, o que tornou sua aprovação viável. Sobre a votação, acrescenta:

“Aliás, o grande beneficiário político dessa decisão de ontem é o governo, indubitavelmente”

Miola reconhece também o papel central do relator, deputado Arthur Lira, no processo. Apesar de criticar sua postura como “gangster” e suas negociações obscuras no Congresso, ele admite que o presidente da Câmara teve importância decisiva para viabilizar o projeto: “ele mostrou sua autoridade, sua força e seu poder dentro da Câmara dos Deputados”.

Uma mudança de postura como ponto de virada

Para o jornalista, o que mudou não foi tanto a correlação de forças numéricas — ele afirma que “numericamente nós temos a mesma realidade” —, mas a postura do governo e sua capacidade de iniciativa política. Em sua avaliação, entre os últimos dois meses e meio se consolidou “uma situação virtuosa” no plano político, impulsionada pela atuação comunicacional articulada pelo ministro Sidônio Palmeira e pela mobilização nas redes sociais.

Ele não é ingênuo com relação às dificuldades: o cenário eleitoral de 2026, segundo ele, se fecha com o governo em menor desvantagem numérica no Congresso, mas com uma narrativa pública reforçada pelo ganho de popularidade junto à base. Miola argumenta que a comunicação direta de Lula, sua presença midiática e o engajamento digital foram decisivos para reverter o quadro.

Ele sustenta que, em grande parte da estratégia oposicionista, “o lado de lá errou muito”, e que o governo reagiu estrategicamente a esses erros, lançando ofensivas políticas com pautas de consenso como a reforma do IR.

Perigos, limites e desafios para seguir em frente

Mesmo no momento de euforia, Miola faz ressalvas: o novo ciclo exige “responsabilidade” do campo democrático e recalibragem dos êxitos com projetos sustentáveis e qualificados para o Parlamento. Ele alerta que o governo hesitou em encaminhar o projeto de regulação das big techs ao Congresso — uma pauta estratégica para as eleições — e especula que a espera seria motivada pela necessidade de definir primeiro os desdobramentos do diálogo com os Estados Unidos.

Para Miola, 2026 trará um TSE menos garantista em relação à democracia, uma vez que Kassio Nunes Marques deve presidir o tribunal, com André Mendonça na vice-presidência. Ele afirma:

“Eles não têm absolutamente nenhum compromisso com a democracia. Eles relativizam tudo e defendem intransigentemente o direito da extrema direita de delinquir e falsificar a realidade nas redes sociais.”

No debate eleitoral, o jornalista considera que o governador Tarcísio de Freitas atua menos por escolha própria do que por imposição do bolsonarismo. Ele sugere que a candidatura de Tarcísio é parte de uma estratégia do bloco ultra-conservador para confrontar Lula em 2026, mesmo sabendo que qualquer opção competitiva terá de estar alinhada ao bolsonarismo — o que pode lhe retirar credibilidade eleitoral.

Por fim, Miola reafirma que o cenário democrático não está pacificado: segundo ele, “o jogo não acabou, está longe de acabar”. O ciclo virtuoso do governo exige constante ativismo político, mobilização social e decisões estruturantes para consolidar o campo democrático. Assista: 

https://www.youtube.com/watch?v=LPvfiMJm0Qg&t=12s

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Direita veta a taxação das Bets, dos Bancos e dos Bilionários

Deputados votaram para manter privilégios de uma casta a qual pertencem ou bajulam.

Por Reimont Otoni (Deputado Federal – PT/RJ)

10 de outubro de 2025

Discussão e votação de propostas legislativas - 08/10/2025 - Plenário da Câmara dos Deputados - Sessão deliberativa (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

 

É como diz a Lei de Murphy, “de onde menos se espera, daí é que nada sai”. O artigo da lei do humor cai como luvas nas mãos dos extremistas instalados no Congresso Nacional, uma bancada que vai desde os fascistas descarados aos mais escorregadios representantes do Centrão.

Após uma vitória antológica da isenção total do Imposto de Renda para os que ganham até 5 mil reais e isenção parcial para quem recebe de 5 mil a 7.300, a direita furiosa se vinga da pressão popular que a fez recuar e retira a contra-partida essencial para o equilíbrio das contas públicas – os extremistas votaram contra a taxação das Bets, dos Bancos e dos Bilionários.

Votaram contra o povo, contra o Brasil e comemoraram com gargalhadas e dancinhas, aos gritos de “chega de impostos”. Mentem descaradamente, ainda uma vez, debocham da verdade. A chamada Taxação BBB só atinge aqueles que faturam muito e não pagam impostos, ao contrário dos milhões de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. Além de ser indispensável para manter o equilíbrio da economia, a medida representa um passo histórico no caminho da justiça tributária, reduzindo a desigualdade que é a base da nossa sociedade. Eles sabem muito bem disso, votaram na intenção consciente de manter os privilégios de uma casta a qual muitos pertencem e outros bajulam em troca de favores.

A extrema-direita e seus cúmplices parecem ter perdido qualquer resquício de escrúpulo, qualquer pudor, qualquer vergonha. Querem obrigar o presidente Lula a recuar e forçar o governo a compensar a isenção aos mais necessitados com a retirada de verbas dos programas sociais, da Educação, da Saúde e da Previdência. Querem, indiretamente, sobretaxar o povo. Querem jogar Lula nas cordas. Não conseguirão.

Cada vez mais isolados e mais rejeitados pela sociedade, eles respondem com crescentes atos e manifestações de repúdio aos interesses da população, como se encarnassem o personagem Justo Veríssimo, do grande Chico Anysio, cujo bordão era “eu tenho horror a pobre”. 

Estão social e politicamente isolados, mas garantem a maioria no Congresso. Foram 251 os deputados e deputadas que escolheram manter os privilégios de elites que sempre defenderam e apoiados por uma articulação envolvendo Tarcísio de Freitas. A lista com os nomes e partidos desses contumazes traidores circula nas redes sociais, nos sites de notícias, em todas as plataformas. Vamos ajudar a divulgar, vamos abrir campanhas para que esses parlamentares não sejam reeleitos. 

Que eles sejam cassados pelo voto.  

O Congresso não pode ser e não é inimigo do povo. Mas alguns parlamentares (nesta legislatura, infelizmente, a maioria) são. Não dê o seu voto a quem conspira contra você.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Lula oferece a Trump a chance de fugir da mediocridade mundial

“O brasileiro é o novo rolo do fascista cansado da interlocução com as mesmas figuras de sempre”, escreve Moisés Mendes (Jornalista)


Donald Trump e Lula (Foto: REUTERS)


 






Trump nunca disse a Putin e Zelensky o que agora diz a Lula, apesar de ter sentimentos semelhantes em relação aos dois. Lula entra em outro departamento dos afetos do americano, porque lhe oferece novas pautas, novas brigas e a possibilidade dos desenlaces latinos imprevisíveis.

Trump quer Lula como seu novo rolo. Lula é mais artista do que os outros dois juntos. O brasileiro oferece a chance da novidade, o desafio de uma esperteza não só cerebral, mas intuitiva e poética, e a perspectiva de coisas surpreendentes.

Novos inimigos reanimam os cansados de guerra. Lula revitaliza Trump, que passa a desfrutar da inteligência única de Lula. Trump começou, com a primeira conversa, um duelo que pode até desencurvar seu corpo cansado.

Nenhuma ingenuidade alvissareira, movida pelo entusiasmo do primeiro telefonema, pode nos levar a pensar que Lula vai mudar Trump. Nada disso. Trump poderia ser um Biden se não fosse Trump.

O que Lula disse a Trump e o hipnotizou é que ele tem condições de enfrentá-lo. Tanto quanto Putin o enfrenta, como o mais fantástico estrategista do século 21. 

Mas Lula é o mais sedutor, o mais serelepe, o mais literário, o mais engraçado. Lula tira Trump da mesmice das outras guerras, das conversas medíocres com seus amigos e inimigos europeus e do bafo insuportável de Netanyahu.

Lula diz a Trump que atrações pessoais não vão se sobrepor às macroquestões econômicas, políticas e ideológicas e que ele respeita essa verdade.

Lula sabe que é impossível ver afetos repentinos falsos ou verdadeiros encobrindo gestos maiores que expressam todos os ódios em relação ao Brasil, às esquerdas e aos latinos. Trump sabe que Lula pensa assim e que vai para o jogo no que sobra de espaço de racionalidade. 

Trump poderá descansar um pouco a própria agressividade. Vai tirar dois ou três bodes da varanda. Cederá no detalhe para não perder o essencial, porque ele criou o jogo e as regras e determina quem avança e recua. Lula admite que é assim mesmo e que topa jogar, porque não há o que fazer.

Trump cede porque precisa afrouxar a corda, por pressão econômica interna, por calibragem de retórica e de blefes e porque não pode brigar com todo mundo o tempo todo. 

Trump vai pedir aos Bolsonaro que se acalmem um pouco. Eles terão que buscar forças em Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira. 

Trump precisa reacomodar seu tom de voz e se dedicar a Lula, enquanto enrola russos e ucranianos e finge querer parar a matança em Gaza. E que a família fique à espera de novos sinais mais adiante, se for preciso chamá-la de novo. 

Trump sabe que Lula defende um país e que Bolsonaro defende uma facção criminosa já condenada. Nem seus generais golpistas Bolsonaro defende. 

Trump continuará sendo o mesmo fascista perseguidor dos diferentes. Lula não vai humanizá-lo. Sabe que está num rolo. Que o esquemático Marco Rubio não estrague tudo.

EM TEMPO: Em resumo: Lula é mais habilidoso e "pop star". O presidente francês, Macron, já percebeu isso. Idem para Putin, Xi Jinping e agora Trump e  Zelensky. Quem quiser chorar, pode, faz bem a saúde em todos os aspectos. Convém lembrar que os diplomatas Celso Amorim e Mauro Vieira, são altamente capacitados para bem representarem o Brasil. Ok, Moçada!

domingo, 5 de outubro de 2025

Genocídio em Gaza: Rubio diz que Israel perde apoio global

Chefe do Departamento de Estado aponta a fragilização de Tel Aviv na arena internacional

05 de outubro de 2025

 

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio - 16/07/2025 (Foto: REUTERS/Umit Bektas)

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Redação Brasil 247

247 – O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, admitiu neste domingo (5) que o massacre em curso na Faixa de Gaza abala profundamente o prestígio e o apoio internacional de Israel, em meio a um crescente isolamento diplomático do regime de Tel Aviv. A declaração foi feita ao programa Face the Nation, da CBS News, e publicada pela agência Reuters, que detalhou a atuação norte-americana na ONU durante o conflito.

“Quer você ache que foi justificado ou não, certo ou errado, não se pode ignorar o impacto que isso teve na posição global de Israel”, afirmou Rubio, num raro reconhecimento público do desgaste do país diante da comunidade internacional.

O secretário respondia a uma pergunta sobre declarações do presidente Donald Trump, que criticou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e reconheceu a perda de apoio global de Israel. “Bibi foi longe demais em Gaza e Israel perdeu muito apoio no mundo. Agora eu vou restaurar todo esse apoio”, disse Trump em entrevista ao canal israelense Channel 12.

As falas refletem o colapso moral e político de um governo acusado por líderes e organizações internacionais de praticar genocídio contra o povo palestino. O conflito, que já dura quase dois anos, deixou mais de 67 mil palestinos mortos, em sua esmagadora maioria civis, segundo autoridades de saúde locais.

O isolamento dos Estados Unidos e a cumplicidade no genocídio

A Reuters lembra que, mesmo diante das atrocidades cometidas por Israel, os Estados Unidos têm usado seu poder de veto na ONU para impedir ações de cessar-fogo e proteção humanitária. Foram seis vetos em dois anos, todos com o objetivo de blindar o governo de Netanyahu de sanções ou condenações internacionais.

Na mais recente votação, em setembro, os EUA bloquearam uma resolução que exigia um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente, além do fim das restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza. Os outros 14 membros do Conselho de Segurança votaram a favor, isolando completamente Washington.

A posição norte-americana expôs a contradição entre o discurso de “direitos humanos” e a prática de conivência com o massacre. Até mesmo uma declaração condenando ataques em Doha, capital do Catar, só foi aprovada após os EUA insistirem em retirar o nome de Israel do texto.

A ONU denuncia, mas o genocídio continua

Com o Conselho de Segurança paralisado pelos vetos dos Estados Unidos, a Assembleia Geral da ONU passou a refletir o clamor global pelo fim do genocídio. As resoluções, embora não vinculantes, têm mostrado o isolamento crescente de Israel e de seu protetor norte-americano.

A mais recente, aprovada com 149 votos favoráveis e apenas 12 contrários, exigiu um cessar-fogo permanente e acesso irrestrito à ajuda humanitária. Em votações anteriores, os números foram igualmente expressivos: 120 países em outubro de 2023, 153 em dezembro de 2023 e 158 em dezembro de 2024 — um movimento cada vez mais contundente contra a guerra.

A realidade das ruas de Gaza, marcada por cidades arrasadas, hospitais destruídos e milhares de crianças mortas, contrasta com o silêncio cúmplice das potências ocidentais que continuam a fornecer armas e apoio político a Israel. 

Cresce o reconhecimento do Estado palestino

Em meio à devastação, cresce o número de países que reconhecem a Palestina como Estado soberano. Rubio reconheceu que, “devido à duração e à condução desta guerra”, potências como França, Reino Unido, Austrália e Canadá romperam o alinhamento automático com Washington e passaram a apoiar formalmente o reconhecimento do Estado palestino.

Em julho, França e Arábia Saudita lideraram uma conferência na ONU para estabelecer um roteiro de dois Estados, retomada em setembro com uma nova cúpula. No mês passado, a Assembleia Geral aprovou por ampla maioria uma resolução que respalda “passos tangíveis, com prazos definidos e irreversíveis” rumo à criação de um Estado palestino.

Apesar disso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insiste que “nunca permitirá um Estado palestino”, demonstrando total desprezo pela comunidade internacional. Seu governo, apoiado militar e politicamente por Washington, segue ampliando a ofensiva em Gaza e consolidando a ocupação de territórios palestinos.

A origem do conflito e a tragédia humanitária

O genocídio em Gaza começou em 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas em território israelense que matou 1.200 pessoas, segundo dados de Israel. Desde então, a resposta israelense ultrapassou qualquer limite moral ou jurídico, com bombardeios indiscriminados e punição coletiva contra a população civil palestina.

Logo no início da guerra, o secretário-geral da ONU, António Guterres, já alertava para a desproporção das ações israelenses. “O número de civis mortos mostra que há algo claramente errado nas operações militares de Israel”, afirmou. E acrescentou: “Não é do interesse de Israel ver todos os dias as imagens terríveis do sofrimento do povo palestino. Isso destrói o país diante da opinião pública global.”

Com dezenas de milhares de mortos, milhões de deslocados e uma infraestrutura em ruínas, Gaza tornou-se o símbolo contemporâneo da barbárie e da impunidade internacional. Enquanto isso, Washington e Tel Aviv seguem isolados, enfrentando o julgamento da história.

EM TEMPO: Convém lembrar que o governo de Israel manda agredir militarmente um povo desarmado com a anuência do governo dos EUA. Mas, contra o Irã a guerra no instante acabou porquê Israel começou a "levar madeira". É assim que a música toca em qualquer lugar do mundo. Por isso as manifestações de rua são bastante importantes quando se quer pressionar o Congresso Brasileiro.