Para pesquisadores, preservação é vital para conter aquecimento global
23 de outubro de 2025
Captura de carbono na Amazônia está em risco, diz
estudo (Foto: Divulgação/Polícia Federal )
Por Paulo Emilio
Camila Boehm, repórter da Agência Brasil - A Amazônia deixará de capturar 2,94 bilhões
de toneladas de carbono até 2030 se os governos de países amazônicos aplicarem
pouco ou nenhum controle sobre o desmatamento no bioma.
Caso persistam a manutenção das
atuais políticas ambientais e as recentes taxas de desmatamento na região,
ainda haveria perda na captura de carbono da ordem de 1,113 bilhão de tonelada
nos próximos cinco anos.
A conclusão é de levantamento da Rede
Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG), divulgado
nesta quinta-feira (23), formada por oito organizações da sociedade civil. A
rede engloba todos os países amazônicos, no entanto, para essa análise, foram
considerados Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.
Para os pesquisadores, a proteção das
florestas mais preservadas da região, principalmente em terras indígenas e
Áreas Naturais Protegidas é decisiva para conter o aquecimento global. Na
Amazônia, os territórios protegidos abrigam as florestas mais conservadas e com
menores taxas de desmatamento. Além disso, segundo a RAISG, tais áreas
concentraram 61% do carbono florestal capturado em 2023 em toda a região
amazônica.
“Estamos diante de uma contagem
regressiva ambiental: se não forem fortalecidas as políticas de proteção e se
não for reconhecido o papel central dos povos indígenas e das comunidades
locais, a Amazônia deixará de ser um aliado climático e se tornará uma fonte de
crise”, alertou Renzo Piana, diretor executivo do Instituto do Bem Comum,
membro da RAISG, em nota.
Entre as recomendações da rede figuram priorizar políticas que articulem ciência e saberes dos povos amazônicos e desenvolver modelos econômicos e tecnologias baseadas em baixas emissões de gases de efeito estufa, além de promover o uso sustentável de florestas e sistemas hídricos. É necessário, ainda, implementar estratégias que eliminem o desmatamento, incêndios florestais e o avanço de atividades ilegais e crimes ambientais no bioma.
Devastação histórica
Nas últimas décadas, segundo a RAISG,
a Amazônia já teve suas funções de combate às mudanças climáticas
enfraquecidas. Em 2023, suas florestas deixaram de capturar 5,7 bilhões de
toneladas de carbono em comparação com o ano 2000 - uma redução de 6,3%. “Entre
1985 e 2023, mais de 88 milhões de hectares de florestas que regulavam o clima
global foram transformadas em terras agropecuárias, urbanas e mineradoras”,
divulgou a RAISG.
Além disso, a organização aponta que
tais atividades não apenas fragmentaram as florestas, mas causaram um dano
silencioso às árvores remanescentes, afetando sua mortalidade, capacidade de
regeneração e processos de fotossíntese, que são fundamentais para a captura de
carbono.
O estudo divulgado hoje foi feito
dentro do projeto Ciência e Saber Indígena pela Amazônia, da RAISG e do
Woodwell Climate Research Center. Ele projetou três cenários futuros para as
reservas de carbono.
Para isso, os pesquisadores utilizaram a ferramenta de simulação Dinâmica Ego - plataforma de modelagem ambiental gratuita - e dados atuais de monitoramento por satélite, com o objetivo de orientar melhores políticas públicas.
Pior cenário
No primeiro cenário, a Amazônia
passaria a capturar 82,257 bilhões em 2030, em vez das mais de 85 bilhões de
toneladas de carbono capturadas em 2023, representando uma redução de 3,5%. “Isso
ocorreria caso os governos aplicassem pouco ou nenhum controle sobre o
desmatamento, permitindo o avanço descontrolado de atividades como agricultura,
pecuária, infraestrutura e mineração”, informou a entidade.
Para Mireya Bravo Frey, coordenadora
regional do Projeto Ciência e Saber Indígena pela Amazônia, cada tonelada de
carbono que se consegue manter nas florestas amazônicas é um investimento no
futuro do planeta.
“Fortalecer a proteção das Terras
Indígenas e das Áreas Protegidas significa conservar as maiores reservas de
carbono florestal do mundo”, ressaltou. No Brasil, os territórios protegidos
correspondem a 44% de toda a floresta bioma.
No melhor cenário analisado, em que os governos não promoveriam mudanças significativas nas políticas ambientais e as atuais taxas de desmatamento se manteriam constantes, as áreas florestais deixariam de capturar 1,113 bilhão de toneladas de carbono até 2030, em relação a 2023, ou seja, 2% a menos. Assim, mesmo que as políticas e condutas atuais dos governos fossem mantidas, haveria piora nos resultados de captura de carbono da região.
O que é a captura de carbono?
A Rede Amazônica de Informação
Socioambiental Georreferenciada (RAISG) explica o que é a captura de carbono
florestal e qual sua importância no contexto atual. “Durante a fotossíntese,
árvores e vegetação capturam carbono, um elemento do dióxido de carbono (CO₂) presente na atmosfera, e o retêm em raízes,
troncos e folhas. Dessa forma, ajudam a controlar esse gás de efeito estufa,
produzido em excesso principalmente pelo uso de combustíveis fósseis e pelo
desmatamento causado por atividades econômicas, como a pecuária.”
A captura de carbono ganha maior
destaque no contexto de agravamento da emergência climática. Especialista em
Sistemas de Informação Geográfica e Sensoriamento Remoto da RAISG, Jose
Victorio alerta que ter menos florestas equivale a ter menos reservas de
carbono na Amazônia, o que significa mais emissões poluentes para o mundo.
“Isso gera temperaturas mais altas no
planeta e eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, como secas,
inundações, florestas mais suscetíveis a incêndios e chuvas mais imprevisíveis.
Um cenário que compromete não apenas a biodiversidade e a cultura amazônica,
mas também a segurança hídrica e alimentar do planeta”, explicou.
No cenário intermediário, que
considerou uma regulação mais permissiva e que ocorreria se os países
amazônicos aplicassem políticas ambientais e marcos legais mais fracos do que
os atuais nos próximos cinco anos, o resultado foi também uma queda na captura
de carbono florestal.
Considerando esse contexto, haveria
uma mudança radical na função do solo, transformando grandes áreas de florestas
amazônicas e agroflorestas em terras agropecuárias, urbanas e mineradoras.
A Amazônia deixaria de capturar 2,294 bilhões de
toneladas de carbono em 2030 em relação a 2023, devido ao avanço do
desmatamento e da degradação florestal, uma redução de 2,7% nas reservas de
carbono.

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