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Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YouTube/Band Jornalismo) |
“É preciso ver
muito além da obviedade de que o avanço do extremista do PRTB ameaça o próprio
Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes
22 de agosto de 2024
Tem gente tentando tirar um peso das
costas com a tese segundo a qual Pablo Marçal cresce e agora empata com Boulos
e Nunes no Datafolha, em meio ao caos da campanha eleitoral em São Paulo, por
ser uma alternativa turbinada pelas elites que não apostam mais no prefeito. É mais uma conversa preguiçosa,
sustentada pelo mesmo argumento de que nossos problemas são provocados por
interferências externas que golpearam Dilma, encarceraram Lula e inventaram
Bolsonaro. Gente poderosa, mas de fora.
Marçal seria a invenção de uma
aliança da delinquência com grandes empresários, os mesmos que patrocinaram
Bolsonaro e que ficaram quatro anos com o sujeito porque queriam ter a proteção
de Paulo Guedes. Se Ricardo Nunes não funciona
direito, as elites inventam Marçal. É só chamar Paulo Guedes de novo, ou
anunciar que Roberto Campos Neto estará com ele na prefeitura, e tudo se
resolve.
Não é bem assim. Todos eles, desde o
Bolsonaro de 2018, são invenções internas, com alguma participação complementar
da direita mundial e seus muitos agentes. Mas todos foram gerados pelo Brasil
arcaico e, eureka, pelo povo. E aí está o problema que se apresenta
com Marçal para as esquerdas, para a velha direita engolida pela extrema
direita e agora também para o núcleo do bolsonarismo. Marçal é uma invenção do
povo.
Marçal é o assustador ponto fora da
curva do fascismo. Ele tem o que Bolsonaro nunca teve. O influencer conta com
um certo povo que o bolsonarismo nunca emocionou. Ele sensibiliza camadas da população
para muito além da classe média branca de tios e tias de meia idade do zap, que
formam o lastro do ativismo e da base social fiel e orgânica do
bolsonarismo. Marçal é um estágio acima desse
bolsonarismo envelhecido porque mexe com os sentimentos dos jovens que a
extrema direita não sensibilizou como pretendia.
Como as pesquisas informam, é o cara
do Instagram e do TikTok e de todas as redes, dominando tudo o que se move
nesse mundo de ódios, mentiras, difamações e crimes acobertados pelas big
techs. Essa é a audiência de Marçal e sua base política, que Bolsonaro nunca
teve com esse alcance no público com menos de 40 anos. Marçal repete aqui o fenômeno Javier
Milei na Argentina, que se sustentou entre a classe média suburbana, mais pobre
do que média, e entre quem tem menos de 30 anos. Os jovens desiludidos e
desorientados elegeram Milei.
O argentino antissistema, que se
apresentava com o glamour do economista de grandes grupos, teve o suporte dos
jovens para se eleger, porque chegou a eles de um jeito que o fascismo
brasileiro não conseguiu e que pode agora conseguir com Marçal. Não que Marçal e Milei sejam iguais,
porque Milei é a imagem do serviçal do poder econômico e Marçal é um
delinquente metido em golpes pela internet e em quadrilhas de traficantes.
Independentemente de onde saíram, ambos comovem os jovens. Marçal prosperou e
ficou milionário.
O fenômeno passa a ser um problema
para Bolsonaro, Tarcísio, Michelle, Malafaia e os que investem no futuro do
bolsonarismo pensando em 2026 ainda sob a tutela de Bolsonaro. Marçal, que não
integra a estrutura de comando ou liderança da extrema direita, é uma ameaça a
Bolsonaro como alternativa nacional. Tem 37 anos, escapou do cerco da
Justiça até agora, aperfeiçoou lacrações, cortes de vídeos e discursos, é rico
e afronta todos ao redor com a irresponsabilidade do cãozinho que entrou no
pátio dos cachorros grandes. Pode ser devorado por causa da arrogância. Mas não
o subestimem.
Marçal se anuncia como o
aperfeiçoamento da direita extremada com voto, a criatura que pode renovar o
fascismo com as virtudes que o brasileiro conectado ao bolsonarismo pede: o
pensamento raso da síntese simplória e agressiva, o currículo de criminoso, a
capacidade para difamar, o empreendedoris-mo, a fortuna, a adoração a Deus e à
família e mais o antilulismo e o antiesquerdismo.
Temos aí, como tivemos em 2018, um
sujeito com todos os predicados, agora aperfeiçoados e radicalizados, para
atender às demandas da família brasileira que se viciou em agressões,
negacionismo, racismo, golpismo e todo tipo de preconceito. Ele é o novo
estágio do que se iniciou há seis anos.
Marçal é o cara que resume a frase
repetida desde 2018 em quaisquer circunstâncias, por gente esperta, estudada,
formada ou imbecilizada, idiotizada e alienada que se dedica às várias formas
de fascismo exposto ou dissimulado: é hora de mudar. Ele é o Monark que deu certo. Se não for contido,
pode transformar Bolsonaro no Orkut da extrema direita. Marçal é a geração de
influencers fascistas cada vez mais perto de um projeto de poder.
Assista o vídeo onde se vê troca de acusações entre
Bozo e Marçal:
EM TEMPO: Todos nós, quer seja no Brasil ou no mundo, somos influenciados diariamente pela ideologia das Classes Dominantes, as quais estão alicerçadas no Capitalismo. Donde se pode observar que a Direita, a Centro Direita e a Extrema Direita são muito fortes e articuladas em quaisquer lugar do mundo. Daí a necessidade imperiosa do governo Lula ter uma política que eduque e politize as massas populares, como forma de Defesa do Estado de Direito e das Liberdades Democráticas.