sábado, 5 de abril de 2025

Vôos interrompidos: o que restou do projeto de soberania nacional da Pan Air ao Gripen

O Gripen não caiu por obsolescência. Foi abatido em pleno voo por interesses geopolíticos que encontraram, na Lava Jato, seu míssil mais eficaz

Caça Gripen (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


 

Por Reynaldo Aragon e Sara Goes –






Houve um momento, não muito distante, em que o Brasil ousou sonhar com soberania. Não apenas no discurso — mas nos sistemas, nos cabos, nos chips. Um projeto de país em que a defesa nacional não dependesse do humor de potências estrangeiras nem da assinatura de CEOs de multinacionais. Um projeto em que a Força Aérea voasse com aviões modernos construídos não só com metal e combustível, mas com ciência, pesquisa e soberania.

Esse projeto tomou forma no início da década de 2010, quando o Brasil optou por adquirir o caça sueco Gripen NG da Saab, dentro do programa FX-2. A decisão ia além da compra de aeronaves: previa a incorporação de tecnologia nacional, integração de armamentos desenvolvidos localmente, e fortalecimento da indústria de defesa brasileira — especialmente em sinergia com os países do sul global. O Brasil, como membro dos BRICS, apostava em um modelo de cooperação tecnológica entre nações não alinhadas à lógica militar da OTAN

O coração desse projeto era a Mectron Engenharia, empresa brasileira que desenvolvia sistemas de mísseis, radares e comunicação. Sob controle da Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), a Mectron participava do desenvolvimento do míssil A-Darter em parceria com a África do Sul, com o objetivo de armá-lo no Gripen nacional. Também era responsável por integrar datalinks brasileiros à aeronave. Era, enfim, uma tentativa real e concreta de criar um Gripen — com autonomia de decisão, operação e dissuasão.

Mas o ataque à soberania nacional não começou nos anos 2010.

Em 1965, a ditadura militar brasileira cassou arbitrariamente as operações da Panair do Brasil, companhia aérea fundada em 1929 e nacionalizada nos anos 1940, que até então era a maior da América Latina. A Panair foi muito mais que uma empresa de aviação: foi instrumento de integração nacional, com uma malha que conectava o Brasil profundo — inclusive o até então isolado Nordeste — às principais capitais do país e ao mundo. Suas aeronaves levavam engenheiros, projetos, equipamentos e autoridades para regiões que o Estado mal alcançava por terra. Ao cortar os voos da Panair, o regime militar não apenas entregou o setor aéreo a aliados econômicos: interrompeu um processo de costura territorial que dava ao Brasil a chance de se pensar inteiro, conectado e soberano.

A cassação da Panair foi o aviso: todo projeto de soberania que não se submeta será abatido em pleno voo.

Décadas depois, esse padrão se repetiria com novos nomes e métodos. A partir de 2014, a Operação Lava Jato passou a atuar como instrumento central da guerra híbrida contra o Brasil. O discurso anticorrupção serviu de cortina de fumaça para o desmonte das principais empresas de engenharia, petróleo e defesa do país. A ODT foi implodida. A Mectron, desintegrada. O projeto do míssil nacional, paralisado. A cadeia produtiva da soberania — rompida. 

Com a destruição desses pilares, abriu-se espaço para a entrada de atores estrangeiros em áreas estratégicas. E foi nesse vazio que Israel avançou.
A Elbit Systems, gigante bélica israelense, assumiu o controle de sistemas fundamentais da defesa brasileira através de sua subsidiária AEL Sistemas, com sede em Porto Alegre. Entre seus encargos, está o fornecimento do capacete com visor integrado, dos sistemas eletrônicos embarcados e da guerra eletrônica do Gripen. Ou seja: a aeronave que deveria representar a autonomia dos BRICS agora depende de uma potência estrangeira acusada de crimes de guerra, com alianças militares profundas com os EUA e a OTAN.


Essa dependência é mais que tecnológica. Ela é estratégica e diplomática. Porque o Brasil, mesmo sob forte pressão da sociedade civil, não pode romper relações com o Estado de Israel. Não pode, ainda que o mundo inteiro tenha visto — e denunciado — o massacre sistemático do povo palestino na Faixa de Gaza, onde mais de 30 mil civis foram assassinados em menos de seis meses. Mesmo diante do apartheid escancarado, das imagens de crianças carbonizadas, de hospitais destruídos, de jornalistas e funcionários da ONU executados — o governo brasileiro responde com recuos diplomáticos, silenciado pela dependência cibernética, tecnológica e militar. 

Romper relações com Israel hoje, ainda que justa e necessária do ponto de vista moral e humanitário, significaria enfrentar uma vulnerabilidade inaceitável no atual sistema de defesa nacional. Sistemas travariam. Dados seriam inacessíveis. Missões poderiam ser abortadas. É como se estivéssemos de mãos atadas, em nome de uma segurança que, no fundo, não nos pertence.

Essa condição colonial da era digital — em que a soberania se mede por controle de código-fonte e firmware — é o legado mais profundo da Lava Jato. Desmontou-se um projeto nacional em nome de uma falsa moralidade. Entregou-se a soberania a um Estado estrangeiro em nome de uma “blindagem” que cobra, em troca, silêncio diante do genocídio.

Agora, em 2025, há sinais tímidos de que o país tenta retomar as rédeas. O governo anunciou a estatização da Avibras, empresa de defesa com projetos de mísseis táticos e sistemas estratégicos de lançamento, ameaçada de falência após anos de abandono. Também foi anunciada a meta de elevar os gastos com defesa para 2,5% do PIB até 2030, com foco na reestruturação da indústria nacional e recuperação da capacidade de projetar poder com autonomia. Mas esses passos são ainda hesitantes diante do estrago feito. Não há reconstrução soberana possível sem revisão profunda da cadeia de dependências tecnológicas que hoje impedem o Brasil de tomar decisões plenamente livres — inclusive no campo da política externa.

O Gripen não caiu por obsolescência. Foi abatido em pleno voo por interesses geopolíticos que encontraram, na Lava Jato, seu míssil mais eficaz. No lugar dele, voa hoje um caça moderno, ágil — e submisso.

Investir em defesa é urgente. Retomar empresas estratégicas como a Avibras, antecipar a entrega de submarinos nucleares e ampliar o orçamento militar são movimentos fundamentais para um país que deseja afirmar sua soberania diante de um cenário internacional cada vez mais conflagrado. No entanto, há uma lição amarga que a história recente nos ensina: não há soberania militar possível sem soberania informacional. Os milhões investidos em mísseis, sistemas navais e aviões de combate podem ser revertidos contra o próprio país caso a infraestrutura institucional, científica e tecnológica nacional não esteja protegida de golpes, sabotagens e retomadas autoritárias.

 Uma extrema-direita no poder, alinhada a interesses estrangeiros, pode colocar em risco todo o conhecimento acumulado, transferindo tecnologias críticas para empresas externas ou desmontando novamente nossas capacidades estratégicas — como já ocorreu após a destruição da Odebrecht Defesa e da Mectron. Por isso, a reconstrução da soberania nacional exige, antes de tudo, um pacto político e civilizacional pela soberania informacional: investimento em ciência, em redes seguras, em autonomia digital e, sobretudo, na estabilidade das instituições democráticas. A soberania se constrói com aço, mas se mantém com código-fonte, com democracia, com infraestrutura cognitiva e com povo mobilizado. Sem isso, toda tecnologia é apenas um vetor de colonização potencial.

domingo, 30 de março de 2025

Atos pelo país contra anistia e pela prisão de Bolsonaro

Às vésperas dos 61 anos do golpe militar, movimentos sociais ocupam as ruas contra a proposta de anistia a golpistas do 8 de janeiro

30 de março de 2025

(Foto: Assessria do senador Humberto Costa)


 

 





247 - Neste sábado (29) e domingo (30), as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo realizaram manifestações pelo país contra a anistia aos presos pelo 8 de janeiro e pedindo a prisão de Jair Bolsonaro (PL).

“Com o desenvolvimento do julgamento desta semana, do núcleo articulador da tentativa de golpe de 8 de janeiro e Bolsonaro no banco do réu, esperamos que essa pauta tome ainda mais fôlego e que a gente consiga avançar tanto na disputa ideológica na sociedade quanto na pressão do judiciário para que Justiça seja feita”, afirma Daiane Araújo, a vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), que integra as frentes.

Na tarde deste domingo, os manifestantes se concentraram na praça Oswaldo Cruz e seguiranm em caminhada até o antigo Doi–Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna), principal centro de tortura da ditadura militar na cidade.

Lideranpças políticas como os deputados federais Guilherme Boulos, Ivan Valente, Lindbergh Farias e o parlamentar Antônio Donato, da Assembleia Legislativa de São Paulo, estiveram presentes no ato.

Boulos reforçou a importância do ato para a luta democrática e reafirmou a articulação para assegurar que o texto de anistia para golpistas não seja aprovado. 

"Essa semana a gente ficou ouvindo provocação da imprensa, da direita, dizendo que nosso ato ia ser esvaziado", afirmou Boulos. "Eu digo a vocês sem medo de errar, aqui hoje na avenida Paulista tem mais gente do que o ato golpista em Copacabana".

Os manifestantes também pediam a retirada do governo de Israel da Faixa de Gaza, e o fim da escala 6 X 1.

No Rio de Janeiro, entidades realizaram panfletagem e ações com cartazes pela cidade. Uma grande faixa foi estendida sob os Arcos da Lapa com a frase "sem anistia para quem ataca a democracia".

A bandeira foi retirada dez minutos por policiais militares poucos minutos depois de ser estendida. Em nota, a PM afirmou que a remoção foi feita por se tratar de um monumento histórico e cultural.

No Rio o ato está agendado para a próxima terça (1º de abril), em frente a sede do antigo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), no centro, com caminhada em direção ao Clube Militar, na Cinelândia.

No Recife, os manifestantes ocuparam o Parque Treze de Maio empunhando bandeiras e faixas com a anistia a golpistas. 

Em Belém do Pará, o ato aconteceu em frente ao Theatro da Paz. 

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, o ato se concentrou na praça da Independência, na avenida Afonso Pena. Cartazes com fotografias de desaparecidos e mortos pela ditadura militar foram levados pelos manifestantes.

Em Brasília, o ato no Eixão do Lazer teve cartazes contra a anistia e pela memória dos mortos na ditadura, com referências ao filme "Ainda Estou Aqui". Também houve bandeiras e cartazes a favor da Palestina e de um cessar-fogo na região.

  

quarta-feira, 26 de março de 2025

Bolsonaristas tentam ginástica retórica para explicar elogio de Trump ao sistema eleitoral brasileiro

Nesta terça-feira (25), Trump assinou um decreto que prevê mudanças no sistema eleitoral do país. O documento cita o Brasil como um bom exemplo de segurança nas eleições por causa da aplicação da biometria.

Por Octavio GuedesMatheus Moreira, GloboNews — São Paulo

26/03/2025

Trump muda regra eleitoral por decreto e cita Brasil como bom exemplo

O julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados por tentativa de golpe de Estado não é a única preocupação dos bolsonaristas nesta quarta-feira (26).

A notícia de que o presidente americano Donald Trump elogiou o sistema eleitoral brasileiro caiu como uma bomba entre os seguidores de Bolsonaro.

Nesta terça-feira (25), Trump assinou um decreto que prevê mudanças no sistema eleitoral do país. O documento cita o Brasil como um bom exemplo de segurança nas eleições por causa da aplicação da biometria.

A ordem é para que influenciadores bolsonaristas ocupem as redes sociais para fazer uma espécie de "desmentido". Eles não podem acusar Trump de ter errado ou mentido, então a solução é dizer que Trump elogiou apenas a identificação biométrica dos eleitores, mas não o sistema de voto eletrônico.

O difícil vai ser explicar por que uma justiça eleitoral cria um sistema para evitar fraudes na identificação dos eleitores, mas cujo objetivo é fraudar o resultado das eleições.

No entanto, apesar da ginástica verbal, os bolsonaristas já estão ocupando as redes para tentar minimizar o estrago que a declaração de Trump causou nas bases bolsonaristas e na narrativa que fundamenta a denúncia que está sendo analisada pelo STF.

Segundo a denúncia, o 8 de janeiro foi apenas uma consequência da construção de um discurso iniciado por Bolsonaro no dia 29 de julho de 2021.

A denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), dividida por capítulos, tem como primeira parte o título "A Construção da Mensagem".

A mensagem é da vulnerabilidade da fraude do sistema eleitoral brasileiro, que agora é elogiado pelo grande ídolo internacional do grupo bolsonarista, o presidente americano Donald Trump.

terça-feira, 25 de março de 2025

Defesas confirmam, foi golpe

'O que ficou evidente é que há um único responsável pelo plano de tentativa de perpetuação do clã no poder: o patriarca', escreve Oliveiros Marques (Sociólogo)

25 de março de 2025


 

Jair Messias Bolsonaro em julgamento da denúncia do núcleo 1 do inquérito do golpe (Foto: ROSINEI COUTINHO/STF)

Entre as inúmeras teses apresentadas pelos advogados de defesa dos acusados de integrar a organização criminosa que planejou e tentou executar um golpe de Estado, e que estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal, apenas uma prevaleceu no primeiro de dia de julgamento: a que confirmou a existência da tentativa de ruptura democrática, que teve seu ápice com os atos de 8 de janeiro em Brasília.

Nenhum dos defensores — salvo engano, nem mesmo o advogado daquele apontado como o líder da organização criminosa — contestou a espinha dorsal da acusação. Todos os nobres causídicos, figuras renomadas da advocacia brasileira, não contestaram o fato da existência da tentativa de golpe. O próprio Bolsonaro, que já admitiu ter gasto mais de R$ 8 milhões com sua defesa, viu seu advogado evitar qualquer contestação à narrativa central apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Diante disso, restou às defesas apenas tentar delimitar quem desempenhou papel de protagonista, quem foi mero coadjuvante ou figurante na trama golpista. E foi nesse ponto que o feitiço virou contra o feiticeiro. Não questionaram a existência da minuta do golpe, as operações Copa 2022 e Punhal, as diversas reuniões preparatórias do golpe, nem mesmo o conteúdo dito pelos atores nessas reuniões. Aliás, muitos dos advogados confirmaram todo o teor da denúncia.

Jair Bolsonaro, mestre em abandonar aliados pelo caminho — como já fez com Carla Zambelli, que caminha para se tornar presidiária, e no passado com Paulo Marinho, Gustavo Bebianno e tantos outros —, desta vez sentiu o gosto do abandono oportunista. Em silêncio, assistiu da primeira fila ao momento em que aliados o entregaram de bandeja.

O que ficou evidente, tanto no que foi dito quanto no subtexto do dito, é que há um único responsável pelo plano de tentativa de perpetuação do clã no poder: o patriarca. Bolsonaro, o pai, foi declarado culpado, não pelo Supremo Tribunal Federal, mas pelos advogados daqueles que um dia compartilharam consigo as aventuras passageiras do poder.

Pelo andar da carruagem, a condenação do ex-presidente parece apenas uma questão de tempo. Os ratos já farejaram o perigo e levantaram o focinho apontando para o mar. Hoje foi o sinal de abandono do navio. Surpresa nenhuma se, em breve, aparecer alguém arrependido por não ter feito um acordo de delação premiada. Sorte de Bolsonaro que a proposta de Augusto Heleno de instituir prisão perpétua no Brasil nunca foi adiante.

Assistam: https://www.youtube.com/watch?v=174IiOhPE7c&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg

https://www.youtube.com/watch?v=B0fOuEYqCtY&list=UU_M1ek8fhnDkz5C2zfkTxpg&index=5

segunda-feira, 24 de março de 2025

Trump e Putin ensaiam nova ordem mundial em meio ao colapso do Ocidente, diz Pepe Escobar

 

Em análise incisiva, Pepe Escobar revela os bastidores do telefonema entre os dois líderes e traça um panorama sombrio da decadência europeia

(Foto: Brasil247)


 

Redação Brasil 247





247 – Em mais uma de suas reflexões geopolíticas de fôlego, o jornalista e analista internacional Pepe Escobar mergulha nos desdobramentos de um episódio que, segundo ele, “pode mudar o curso do século XXI”: o telefonema entre Donald Trump e Vladimir Putin. A análise foi publicada no canal de Escobar no YouTube, com o título Putin-Trump e o declínio do Ocidente.

Transitando entre o lirismo inspirado por Bob Dylan e a crueza dos conflitos armados contemporâneos, Escobar tece um panorama global que conecta o colapso moral e político da Europa, o esgotamento do império norte-americano e a ascensão do Sul Global como ator central no reordenamento do planeta.

 Os europeus estão no menu, nós estamos no jantar”, resume Escobar, retomando a expressão que dá o tom à sua crítica: a completa irrelevância geopolítica das lideranças europeias diante da disputa entre potências reais — EUA, Rússia e, em breve, China.

O telefonema que o mundo aguardava

Segundo Escobar, o telefonema entre Trump e Putin, com mais de duas horas de duração, marca um ponto de inflexão. Embora as transcrições oficiais do Kremlin e da Casa Branca tenham apresentado versões diferentes — e silenciem pontos centrais —, Escobar aponta um tema essencial que emergiu: o pedido russo por um cessar-fogo nos ataques ucranianos à infraestrutura energética, especialmente à usina nuclear de Zaporíjia.

Esse código diplomático, diz Escobar, é mais do que um pedido técnico: é um alerta estratégico de Moscou a Washington. A conversa, no entanto, revela um movimento ainda maior: a retomada de um possível entendimento entre as duas superpotências nucleares, um novo arranjo que exclui deliberadamente a Europa.

A nova Ialta será entre EUA, Rússia e China. A Europa? Fora.” 

Europa em ruínas

Pepe Escobar dedica boa parte de sua análise a demonstrar o que considera o colapso ético e político da União Europeia, que segundo ele se tornou cúmplice ativa de genocídios no Oriente Médio e apoiadora de jihadistas “fantasiados de diplomatas”. Ele cita como exemplo o tratamento cordial dado em Bruxelas ao novo ministro das Relações Exteriores da Síria, antigo aliado de grupos salafistas no norte do país.

Estamos diante de uma elite europeia que legitima massacres e posa de civilizada. O que há é a celebração da barbárie.

A decadência europeia, explica o analista, não é nova. Ele a remonta à leitura de Oswald Spengler, autor de O declínio do Ocidente (1918), e a figuras literárias como T. S. Eliot, cujos “homens ocos” seriam hoje os tecnocratas europeus. 

O império contra-ataca... e se afunda

No cenário global, Escobar observa uma contradição central no comportamento do novo governo Trump: enquanto tenta encerrar a guerra na Ucrânia com um acordo com a Rússia, abre nova frente de guerra contra os houthis do Iêmen, os indomáveis combatentes do movimento Ansarallah.

Trump posa de pacificador na Ucrânia e de incendiário no Oriente Médio. Ele compra guerras e vende paz como produto de marketing.

A ofensiva contra os houthis, diz Escobar, é um erro crasso do império, que subestima inimigos resilientes. Os ataques americanos, realizados com apoio britânico, mataram civis, inclusive mulheres e crianças — fato ignorado pela grande mídia ocidental, que Escobar chama de “fragmentada e em dissolução”. 

Um mundo multipolar em gestação

A conclusão de Escobar é contundente: o Ocidente coletivo acabou. No lugar da dominação unipolar estadunidense, começa a se formar um sistema internacional “multinodal”, onde o Sul Global — América Latina, África, Ásia e parte do mundo árabe — deixa de ser espectador e passa a ser protagonista.

Rússia e China, nesse novo cenário, serão os principais pilares de uma nova arquitetura internacional, baseada na indivisibilidade da segurança e no respeito mútuo às esferas de influência.

Mas Escobar faz um alerta: “As elites russófobas da Europa farão de tudo para sabotar essa reaproximação entre Washington e Moscou. Elas precisam da guerra.

Enquanto isso, o Sul Global, agora fora do menu, prepara sua cadeira à mesa. Confira:

https://www.youtube.com/watch?v=nCtUxRHVxjY

domingo, 23 de março de 2025

Lula confirma visita à Rússia em maio e terá agenda bilateral com Putin

Viagem do presidente brasileiro foi confirmada por Celso Amorim

23 de março de 2025   



 

Presidente Lula e Vladimir Putin (Foto: Ricardo Stuckert/PR | Sputnik/Alexander Kazakov/Pool via REUTERS)


Redação Brasil 247

247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará a Rússia em maio deste ano, conforme confirmou o assessor especial Celso Amorim, em declaração reproduzida pela agência russa TASS. A visita oficial reforça o engajamento diplomático do Brasil em temas internacionais de grande impacto, especialmente na busca por uma solução negociada para a guerra entre Rússia e Ucrânia.

A confirmação da viagem ocorre no momento em que o governo brasileiro vem assumindo um papel cada vez mais ativo no cenário geopolítico internacional. Lula tem defendido reiteradamente uma saída diplomática para o conflito, argumentando que o mundo precisa de mais diálogo e menos polarização. O presidente já indicou que está disposto a conversar tanto com o presidente russo, Vladimir Putin, quanto com o ucraniano, Volodymyr Zelensky, além de outros líderes globais.

Desde o início do seu terceiro mandato, Lula tem buscado restaurar o prestígio internacional do Brasil, apostando na diplomacia multilateral, na reaproximação com parceiros estratégicos e em uma política externa voltada para a paz. A visita à Rússia deve ser mais um passo nessa estratégia, especialmente no contexto da presidência brasileira do G20 em 2024.

Diante desse cenário de prolongamento do conflito, a visita de Lula à Rússia pode ganhar ainda mais relevância. O presidente brasileiro tem buscado formar uma coalizão de países neutros que possam mediar um eventual cessar-fogo. A viagem pode abrir espaço para negociações multilaterais, inclusive no âmbito do G20, grupo que reúne as principais economias do mundo. No dia 9 de maio, celebram-se 80 anos de vitória sobre o Nazismo, em que o Exército Vermelho, da União Soviética, desempenhou papel decisivo.

sábado, 22 de março de 2025

“Trump 2.0 é uma guerra fria contra a maioria global”, diz Pepe Escobar sobre cessar-fogo na Ucrânia

Jornalista aponta manobra dos EUA para transformar derrota militar em vitória diplomática e alerta para resposta estratégica da Rússia

(Foto: Laura Aldana Brasil247 | REUTERS/Carlos Barria)


 

 



Por Dafne Ashton

247 - A proposta de um cessar-fogo na Ucrânia, articulada por uma delegação dos Estados Unidos durante uma reunião em Jeddah, na Arábia Saudita, tornou-se um novo ponto de tensão na geopolítica global. De acordo com o analista político e jornalista Pepe Escobar, que abordou o tema em seu canal no YouTube, Pepe Café, a iniciativa faz parte de um jogo de narrativa no qual Washington tenta vender uma "vitória" no conflito, apesar da realidade no campo de batalha indicar o contrário.

"Os Estados Unidos estão tentando transformar uma derrota militar absoluta em uma suposta vitória diplomática. O problema é que a Rússia não tem qualquer interesse em entrar nesse jogo", afirmou Escobar. Para ele, Moscou não aceitará um cessar-fogo de 30 dias nos moldes propostos, pois controla a ofensiva militar e tem todas as cartas na mão para ditar os rumos do conflito.

A iniciativa americana, aceita pelo governo de Kiev, foi apresentada como uma trégua temporária, possivelmente renovável. No entanto, a Rússia, que detém a vantagem estratégica na guerra, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto e aguarda um comunicado formal dos EUA antes de qualquer resposta. "Esse teatro de máscaras não engana ninguém em Moscou. A proposta americana é mais uma armadilha", analisou Escobar.

Rússia mantém cautela e avalia estratégia

Desde o início da guerra, o Kremlin tem reiterado que qualquer negociação deve ocorrer sob seus próprios termos. O presidente Vladimir Putin já deixou claro que a Rússia não aceitará soluções impostas pelo Ocidente, especialmente aquelas que não levem em conta a nova realidade territorial consolidada no conflito.

Segundo Pepe Escobar, essa cautela russa faz parte de um cálculo estratégico baseado na doutrina de Sun Tzu. "Os russos são mestres em esperar a oportunidade certa. Eles sabem que esse 'cessar-fogo' nada mais é do que um truque de Washington para tentar recuperar fôlego na guerra por procuração que travam contra a Rússia", afirmou o analista.

Para Escobar, os EUA estão pressionando Kiev a aceitar uma trégua porque as forças ucranianas estão exauridas e sofrem sucessivas derrotas. A operação fracassada em Kursk, na qual milhares de soldados ucranianos foram abatidos, expôs ainda mais a fragilidade da estratégia ocidental. "A Ucrânia virou um cemitério gigante, e a OTAN está desmilitarizada. O que resta agora é fabricar um 'empate técnico' para tentar salvar a narrativa", destacou.

Trump, os bastidores da política americana e o jogo das máscaras

Em sua análise, Pepe Escobar também destacou os interesses ocultos por trás da proposta de cessar-fogo. Ele apontou que Trump 2.0 está sendo impulsionado por três grandes eixos de poder nos Estados Unidos: Wall Street, a indústria pesada (especialmente os setores de energia e aço) e o chamado "tecnofeudalismo" do Vale do Silício, liderado por magnatas como Elon Musk.

"Trump precisa de um grande feito na política externa para se projetar como pacificador mundial e, quem sabe, até se vender como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Mas o Kremlin sabe que isso é uma grande farsa", explicou Escobar. Para ele, Moscou não será pressionada por esse tipo de jogada midiática e usará a proposta para desmascarar a hipocrisia ocidental.

Além dos interesses americanos, o jornalista ressaltou o papel do Reino Unido na equação. Segundo ele, Londres está apostando no general Valerii Zaluzhnyi, um nome ligado ao serviço de inteligência britânico, como futuro líder da Ucrânia. O objetivo dos britânicos seria manter sua influência no país e garantir o controle do porto de Odessa, um ponto estratégico no Mar Negro. "A Inglaterra quer um fantoche em Kiev para continuar operando seus esquemas de poder na região", observou Escobar.

Moscou e a resposta ao Ocidente

A principal questão agora é: como a Rússia responderá à proposta de cessar-fogo? Até o momento, o Kremlin declarou apenas que ainda não recebeu nenhuma comunicação oficial dos EUA. Nos bastidores, entretanto, tudo indica que a resposta russa será uma jogada calculada para desmontar a manobra de Washington.

"Os russos vão devolver a armadilha para Trump e sua equipe. Moscou sabe que um acordo nesses termos seria um presente para os Estados Unidos e um desastre para a Rússia", analisou Pepe Escobar. Segundo ele, a Rússia usará essa tentativa de trégua para expor a falta de credibilidade do Ocidente, que, ao mesmo tempo em que fala de paz, continua incentivando ataques contra alvos dentro do território russo.

Por fim, o analista político enfatizou que o grande jogo de poder entre Rússia e Estados Unidos ainda está longe de terminar. "O que estamos vendo agora é só mais um capítulo dessa guerra fria contra a maioria global. A resposta russa será um golpe de mestre, e os americanos vão se ver obrigados a recalcular sua estratégia mais uma vez", concluiu Escobar.

Com a crescente tensão no tabuleiro geopolítico, a resposta oficial de Moscou será determinante para os próximos movimentos dessa disputa global. O desfecho do chamado "cessar-fogo de Trump" pode definir não apenas o rumo da guerra na Ucrânia, mas também o equilíbrio de forças entre as grandes potências no cenário mundial. Assista: 

https://www.youtube.com/watch?v=-5XdA2_whRY

EM TEMPO: De qualquer forma as negociações de paz entre  Trump e Putin, favorece a população ucraniana e faz arrefecer a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial, temida por todos nós do planeta terra. Agora, na Ucrânia, os presos políticos precisam de serem libertados,  haver novas eleições, preservando as liberdades democráticas,  e o Zelensky precisa de ser julgado pelos crimes cometidos. Ok, Moçada!

quinta-feira, 20 de março de 2025

Tucker Carlson pede investigação sobre crimes de Zelensky, incluindo experimentações biológicas

Jornalista norte-americano acusa governo ucraniano de tráfico de armas e envolvimento com patógenos perigosos

(Foto: Reprodução)


 

 



 



Redação Brasil 247

247 – O jornalista Tucker Carlson, uma das figuras mais polêmicas da mídia conservadora dos Estados Unidos, defendeu uma investigação internacional sobre os crimes atribuídos ao presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky. Em publicação na rede X (antigo Twitter), Carlson afirmou que o governo ucraniano, com apoio do Ocidente, estaria envolvido em uma série de atividades ilegais, incluindo a venda de armas no mercado negro e a administração de laboratórios biológicos com patógenos de origem desconhecida. A informação foi divulgada pela agência Sputnik Brasil.

"Nos últimos três anos, com o apoio tácito de seus patronos ocidentais, o governo ucraniano cometeu um número notável de crimes graves", declarou Carlson. Segundo ele, armamentos enviados pelos Estados Unidos à Ucrânia estão sendo revendidos no mercado negro, abastecendo grupos como o Hamas, cartéis de drogas no México e facções na Síria.

O jornalista também apontou preocupação com as instalações biológicas operadas por Kiev, que, segundo ele, lidam com patógenos cujo destino e uso não são devidamente monitorados. "Só Deus sabe o que os ucranianos fizeram [...] Até mesmo as agências de inteligência dos EUA não têm certeza", disse. Carlson foi além e sugeriu que Zelensky deveria ser responsabilizado desde já. "Tudo isso é verdade e virá à tona algum dia. É melhor começar a culpar Zelensky agora mesmo", afirmou.

Acusações russas sobre armas biológicas

As alegações de Carlson coincidem com acusações feitas pelo governo russo desde o início do conflito na Ucrânia. De acordo com as Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica das Forças Armadas da Rússia, há evidências de que os Estados Unidos estariam conduzindo experimentos biológicos no território ucraniano, inclusive testando superbactérias resistentes a antibióticos.

Moscou afirma que os laboratórios ucranianos foram utilizados para desenvolver patógenos com potencial de militarização, uma prática que, segundo as autoridades russas, dribla as restrições da Convenção sobre Armas Químicas e Biológicas. No entanto, o governo norte-americano nega qualquer envolvimento em experimentações de natureza militar na Ucrânia.

As denúncias levantadas por Carlson reacendem o debate sobre o uso de armas biológicas em conflitos e a falta de transparência nas operações militares conduzidas no país do Leste Europeu. Resta saber se suas acusações gerarão investigações formais ou se permanecerão apenas no campo das declarações públicas.

quarta-feira, 19 de março de 2025

Autonomia de forças policiais é incompatível com a democracia, diz Lewandowski

Para o ministro, a independência das polícias poderia favorecer tentativas de golpe

19 de março de 2025

 

Ministro Ricardo Lewandowski 24/03/2024 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)








Por Bianca Penteado

247 – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, criticou nesta quarta-feira (19) a autonomia de forças policiais, defendendo que as corporações devem estar subordinadas aos governos. Para o chefe da pasta, a independência das polícias poderia favorecer tentativas de golpe.

“Ao meu ver, é incompatível com a democracia que corporações armadas tenham autonomia. Porque no limite podem mais que o Estado, e ninguém segura. Vimos isso com a Polícia Rodoviária Federal nas últimas eleições. Bloquearam todas as rodovias, e hoje seu responsável está sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal”, disse em reunião do Conselho Deliberativo da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais.

No comando do ministério, Lewandowski trabalha para a aprovação da PEC da Segurança Pública. Entre as medidas, a proposta busca incluir na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), além de ampliar as atribuições da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.

Ainda em janeiro, o governo ajustou o texto da PEC após críticas de governadores, garantindo que os estados tenham autonomia sobre suas forças de segurança. Na época, entretanto, Lewandowski declarou que permitir que os estados legislem sobre matéria penal contraria os princípios federativos.

EM TEMPO: A Guarda Municipal Armada é um perigo a toda prova, principalmente para os movimentos populares, os quais poderão ser reprimidos sob as ordens de alguns prefeitos.