domingo, 14 de setembro de 2025

"A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis", publica Lula no New York Times

Em texto dirigido a Trump, presidente Lula reafirma disposição para negociações comerciais com os Estados Unidos

14 de setembro de 2025



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - 26/08/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Por Guilherme Levorato

247 - “A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis.” Foi com essa afirmação que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu o artigo publicado neste domingo (14) no The New York Times. No texto, Lula defende a legitimidade das instituições nacionais e alerta que nenhuma decisão externa poderá interferir  na democracia brasileira.

O artigo é um recado direto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Lula rebateu os argumentos apresentados por Washington e afirmou que a medida carece de justificativa econômica, revelando motivações políticas voltadas à proteção de Jair Bolsonaro (PL). 

Críticas à tarifa americana

Segundo o presidente brasileiro, os EUA acumulam um superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil nos últimos 15 anos. Ele lembrou ainda que quase 75% das exportações americanas entram isentas de tarifas no país. “O aumento tarifário imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas também ilógico”, escreveu.

Lula citou relatos de que o vice-secretário de Estado, Christopher Landau, teria admitido a empresários brasileiros que as tarifas seriam parte de uma estratégia para buscar impunidade a Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por liderar uma organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado no Brasil.

Defesa das instituições democráticas

O presidente destacou a atuação recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que confirmou condenações de envolvidos nos atos golpistas. “Tenho orgulho do STF por sua decisão histórica, que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito”, afirmou. Lula lembrou que as investigações revelaram planos para assassinar autoridades e até um decreto que visava anular as eleições de 2022. 

Tecnologia, economia digital e meio ambiente

Lula também contestou as críticas americanas sobre a regulação de empresas de tecnologia. Ele afirmou que não há perseguição, mas aplicação igual da lei para todas as plataformas, nacionais ou estrangeiras, com o objetivo de combater crimes digitais, desinformação e discurso de ódio.

O artigo defendeu o sistema de pagamentos instantâneos PIX, que promoveu a inclusão financeira de milhões de brasileiros, e ressaltou o compromisso ambiental de seu governo. Nos últimos dois anos, o Brasil reduziu em 50% o desmatamento da Amazônia e confiscou ativos milionários usados em crimes ambientais. 

Apelo ao diálogo

Apesar das críticas, Lula reforçou que o Brasil continua aberto à cooperação com os Estados Unidos. Ele recordou que a relação entre os dois países ultrapassa dois séculos e não deve ser prejudicada por diferenças ideológicas.

“Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, escreveu, encerrando o artigo com uma lembrança de discurso feito por Trump em 2017 na ONU, no qual o próprio líder americano exaltava o princípio da soberania nacional.

Com esse tom, Lula reafirmou que a parceria entre Brasil e Estados Unidos só poderá prosperar se baseada no respeito mútuo e na cooperação entre duas grandes democracias.

Leia o artigo na íntegra:

A democracia e a soberania brasileiras são inegociáveis

Luiz Inácio Lula da Silva - New York Times, 14 de setembro de 2025

Decidi escrever este ensaio para estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos. Ao longo de décadas de negociação, primeiro como líder sindical e depois como presidente, aprendi a ouvir todos os lados e a levar em conta todos os interesses em jogo. Por isso, examinei cuidadosamente os argumentos apresentados pelo governo Trump para impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

A recuperação dos empregos americanos e a reindustrialização são motivações legítimas. Quando, no passado, os Estados Unidos levantaram a bandeira do neoliberalismo, o Brasil alertou para seus efeitos nocivos. Ver a Casa Branca finalmente reconhecer os limites do chamado Consenso de Washington, uma prescrição política de proteção social mínima, liberalização comercial irrestrita e desregulamentação generalizada, dominante desde a década de 1990, justificou a posição brasileira.

Mas recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado. O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas. O aumento tarifário imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas também ilógico. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o nosso país, nem estão sujeitos a tarifas elevadas. Nos últimos 15 anos, acumularam um superávit de US$ 410 bilhões no comércio bilateral de bens e serviços. Quase 75% das exportações dos EUA para o Brasil entram isentas de impostos. Pelos nossos cálculos, a tarifa média efetiva sobre produtos americanos é de apenas 2,7%. Oito dos 10 principais itens têm tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão.

A falta de justificativa econômica por trás dessas medidas deixa claro que a motivação da Casa Branca é política. O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, teria dito isso no início deste mês a um grupo de líderes empresariais brasileiros que trabalhavam para abrir canais de negociação. O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro de 2023, em um esforço para subverter a vontade popular expressa nas urnas.

Tenho orgulho do Supremo Tribunal Federal (STF) por sua decisão histórica na quinta-feira, que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito. Não se tratou de uma "caça às bruxas". A decisão foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar. A decisão foi resultado de meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do STF. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022.

O governo Trump acusou ainda o sistema judiciário brasileiro de perseguir e censurar empresas de tecnologia americanas. Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil. É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra de ilegalidade, onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes.

Igualmente infundadas são as alegações do governo sobre práticas desleais do Brasil no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico, bem como sua suposta falha em aplicar as leis ambientais. Ao contrário de ser injusto com os operadores financeiros dos EUA, o sistema de pagamento digital brasileiro, conhecido como PIX, possibilitou a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações e estimula a economia.

Nos últimos dois anos, reduzimos a taxa de desmatamento na Amazônia pela metade. Só em 2024, a polícia brasileira apreendeu centenas de milhões de dólares em ativos usados em crimes ambientais. Mas a Amazônia ainda estará em perigo se outros países não fizerem a sua parte na redução das emissões de gases de efeito estufa. O aumento das temperaturas globais pode transformar a floresta tropical em uma savana, interrompendo os padrões de precipitação em todo o hemisfério, incluindo o Centro-Oeste americano.

Quando os Estados Unidos viram as costas para uma relação de mais de 200 anos, como a que mantêm com o Brasil, todos perdem. Não há diferenças ideológicas que impeçam dois governos de trabalharem juntos em áreas nas quais têm objetivos comuns.

Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta. Em seu primeiro discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2017, o senhor afirmou que “nações fortes e soberanas permitem que países diversos, com valores, culturas e sonhos diferentes, não apenas coexistam, mas trabalhem lado a lado com base no respeito mútuo”. É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos.

sábado, 13 de setembro de 2025

STF condena Bolsonaro e sua camarilha golpista



 

Nota política do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

A primeira turma do Supremo Tribunal Federal condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado ao patrimônio e deterioração do patrimônio público, decisão que representa uma vitória histórica do povo brasileiro. Pela primeira vez no Brasil um ex-presidente é condenado por crime de golpe de Estado, assim como diversos generais das Forças Armadas e um almirante. Este julgamento e a condenação de quem conspirou contra as liberdades democráticas e tentou implantar uma ditadura no país tem um caráter pedagógico fundamental, pois envia aos golpistas um recado explícito, por meio de medida exemplar representada na punição rigorosa para que a história não se repita. Tal fato representa um passo importante contra a impunidade histórica de golpistas no Brasil.

A decisão também atinge figuras centrais da conspiração: general Augusto Heleno (21 anos), general Braga Neto (26 anos), general Paulo Sérgio (19 anos), almirante Almir Garnier (24 anos), Anderson Torres (24 anos) e deputado Alexandre Ramagem (16 anos). Além da prisão, o STF definiu ainda uma série de medidas administrativas para os réus, como inelegibilidade, perda de cargos e mandatos e pagamento de indenizações. Ainda são cabíveis recursos, mas esse julgamento marca um divisor de águas na luta contra a extrema-direita e sua tentativa de instaurar uma ditadura no Brasil.

Bolsonaro e sua quadrilha acumularam um histórico de crimes e ataques contra o povo: centenas de milhares de mortes evitáveis durante a pandemia; as políticas de ódio, preconceito e perseguição a negros, mulheres, nordestinos e gays; os ataques aos trabalhadores e às trabalhadoras, à soberania nacional e popular e a colocação do Brasil novamente no mapa da fome; além da execução de um plano de golpe que culminou na depredação criminosa do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. A condenação do ex-presidente e de seus cúmplices é fruto direto da pressão popular e da resistência democrática, que impediram a consolidação do projeto neofascista no Brasil.

As sentenças também representam uma derrota política para o imperialismo estadunidense. De nada adiantaram as sanções impostas por Donald Trump, as ameaças de intervenção militar, o uso abusivo de leis extraterritoriais e as constantes provocações da embaixada dos Estados Unidos no Brasil. O país não se curvou às chantagens do imperialismo estadunidense e demonstrou que, mesmo sob intensa pressão externa, é possível punir aqueles que atentaram contra a soberania nacional e popular e tentaram implantar novamente uma ditadura no país.

Contudo, a luta está longe de ter sido encerrada. A extrema-direita segue ativa, articulando projetos de anistia no Congresso Nacional e conspirando contra as liberdades democráticas. Para garantir a prisão da camarilha criminosa, é fundamental colocar o povo em movimento. Propomos a construção imediata de uma Frente de Mobilização Popular, com sindicatos, movimentos populares, organizações da juventude e partidos de esquerda, para derrotar as tramas da direita tradicional, enfrentar a truculência neofascista da extrema-direita e resistir às ameaças imperialistas dos EUA.

Este momento histórico exige mais do que a punição dos golpistas: é hora de colocar na ordem do dia a pauta da classe trabalhadora, como o reforço do plebiscito popular; a redução da jornada semanal de trabalho para 30 horas sem redução de salários; a taxação das grandes fortunas; o fim das contrarreformas e a defesa dos recursos naturais do país. Somente a mobilização popular nas ruas, nos locais de trabalho, estudo e moradia é capaz de mudar a correlação de forças e abrir caminho para uma nova realidade, na perspectiva de um projeto de transformações econômicas, políticas e sociais, baseado no poder popular, na soberania nacional e popular, com vistas à construção do socialismo. 

Sem anistia para os golpistas!

Pelo poder popular e pelo socialismo!

Comissão Política Nacional do PCB

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

08 de Janeiro de 2023. Golpe Derrotado, Democracia Preservada

Carol Proner e Gisele Cittadino lançam coletânea com opiniões de especialistas para eternizar o mais grave atentado contra a democracia desde 1964

08 de Janeiro de 2023. Golpe Derrotado, Democracia Preservada (Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)


 





É com imensa alegria que apresentamos a coletânea intitulada “08 de Janeiro de 2023, Golpe Derrotado. Democracia Preservada” (Editora Publius). No momento em que este livro é publicado – lançamento nesta terça, dia 09/09, em Brasília –, o sistema de justiça brasileiro atua para responsabilizar os atos golpistas e criminosos que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 08 de janeiro de 2023.

Seguindo a tradição de anos anteriores, quando reunimos centenas de intelectuais para registrar ilegalidades e desestabilizações nos governos da ex-presidenta Dilma Rousseff e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste livro escolhemos reunir a opinião de especialistas para eternizar o mais grave atentado contra a democracia desde o golpe civil-militar de 1964.

Algumas vezes entendido como tentativa de golpe, golpe continuado, golpe urdido em muitas etapas, golpe premeditado e frustrado, o 08 de janeiro sempre será lembrado como o dia em que a democracia prevaleceu.

Os artigos desta coletânea reúnem opiniões de pessoas que, de modo fundamental, contribuíram para a defesa da democracia na última década, seja denunciando o impeachment sem lastro legal, seja esclarecendo a utilização do direito como arma de desestabilização política e econômica, ou desvendando o uso das fake news no avanço da extrema direita em eleições.

Individualmente ou em grupos jurídicos, os professores e advogados que participam desta coletânea sempre estiveram atentos às farsas que envolveram o saber jurídico como forma de realizar golpes entendidos como não tradicionais. Este grupo, também formado por lideranças políticas de enorme prestígio no governo brasileiro, foi determinante para defender o sistema eleitoral, denunciando os atos preparatórios na tentativa de usurpar a legitimidade das urnas nas eleições de outubro de 2022.

Os artigos, relatos testemunhais e outros de reflexão mais aprofundada nos fazem reviver a história com a precisão das lembranças recentes e incluem detalhes privilegiados de quem viveu o processo por dentro. O ataque aos edifícios dos Três Poderes, no dia 08 de janeiro, representa o acúmulo de atentados premeditados ao longo do mandato de Jair Bolsonaro, investigados pela Polícia Federal, denunciados pelo Ministério Público e responsabilizados pelo Poder Judiciário. A superação dos diversos ataques, que inclui a inculpação de agentes civis e militares, exige união entre as instituições para impedir a fratura e o atraso de um país que cumpre destino soberano de desenvolvimento.

Nosso trabalho coletivo, entendido como dever acadêmico, tem a finalidade última de registrar opiniões qualificadas e relatos em primeira pessoa, contribuindo para a memória histórica e para a justiça. O dia 08 de janeiro de 2023 restará eternizado neste e em outros livros de história pelas implicações políticas, jurídicas e sociais, a demonstrar que a democracia, entendida como processo de luta por direitos, precisa ser defendida constantemente.

SUMÁRIO 08 DE JANEIRO DE 2023. Golpe Derrotado, Democracia Preservada

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Divergência de Fux fortalece importância e independência do Supremo, afirma Kakay

“A unanimidade nem sempre é a melhor solução”, avalia o advogado criminalista

10 de setembro de 2025


 

Kakay e Luiz Fux (Foto: Diego Bresani/Divulgação | Gustavo Moreno/STF)





Por  Guilherme Levorato

247 - O renomado advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, avaliou positivamente a divergência expressa pelo ministro Luiz Fux no julgamento da tentativa de golpe de Estado que envolve Jair Bolsonaro (PL) e outros réus. Em declarações ao Brasil 247, Kakay destacou que o voto divergente de Fux reforça a importância do julgamento e a completa independência do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo Kakay, a posição de Fux, embora provavelmente seja vencida, só fortalece o papel da Corte. “O voto divergente do Fux só reforça a importância deste julgamento e a completa independência do Supremo Tribunal. Ele ficará vencido em um julgamento que garantiu todo o direito de defesa, e é nesta divergência que reside a beleza do direito”, afirmou o advogado, ressaltando que a diversidade de opiniões no STF é parte essencial do processo judicial e do sistema democrático.

Kakay também observou que a unanimidade em decisões judiciais nem sempre representa a melhor solução. Para ele, a pluralidade de visões e a liberdade para que cada ministro se posicione conforme seu entendimento contribuem para o fortalecimento da jurisprudência e para a riqueza do processo decisório. “A unanimidade nem sempre é a melhor solução”, destacou Kakay, enfatizando que a divergência entre os ministros é natural e saudável dentro do funcionamento do Supremo.

Ao comentar sobre a celeridade do processo, Kakay fez elogios ao trabalho do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. O advogado apontou que, com um réu preso desde novembro, a agilidade na condução do julgamento é crucial. "É necessário elogiar o ministro relator, Alexandre de Moraes, pois existe nos autos um réu preso desde novembro. O general Braga Netto poderia se insurgir contra qualquer demora", afirmou o criminalista, destacando a importância de manter a eficiência do julgamento, especialmente quando há réus em custódia.

No entanto, Kakay também questionou o fato de a divergência de Fux não ter sido levantada em outros processos já julgados pelo Supremo, sugerindo que essa questão poderia ter sido discutida de maneira mais ampla em decisões anteriores. “O que causa espécie é somente o fato de esta divergência não ter sido levantada nos diversos processos que já foram julgados”, disse o advogado.

Assista o vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=BXsyyRnwWTo

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

The Washington Post: No julgamento de Bolsonaro, Brasil confronta Trump e seu próprio passado autoritário

Bolsonaro enfrenta julgamento histórico no STF, em processo que testa democracia e gera tensão com Trump

01 de setembro de 2025.

Jair Bolsonaro (Foto: Ton Molina/STF | Reprodução)



 


 




Por Guilherme Levorato

247 - O jornal norte-americano The Washington Post publicou nesta segunda-feira (1) uma análise assinada pelo repórter Terrence McCoy sobre o início do julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). O processo é descrito como um marco inédito na história do Brasil, país que já enfrentou mais de uma dezena de tentativas de golpe, mas nunca havia levado generais ou políticos a julgamento por atentar contra a democracia.

Segundo o veículo, Bolsonaro — figura mais popular da direita brasileira — é acusado de articular um plano para subverter a ordem constitucional após a derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. Ao lado dele, também respondem militares de alta patente, incluindo um almirante e três generais, todos negando as acusações e denunciando suposta perseguição política. 

O peso histórico do julgamento

Especialistas ouvidos pelo jornal norte-americano apontam que o processo representa um divisor de águas. Carlos Fico, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destacou: “Por décadas, estudei mais de uma dúzia de golpes e tentativas de golpe, e todos resultaram em impunidade ou anistia. Desta vez será diferente”.

A acusação sustenta que Bolsonaro não apenas questionou, sem provas, a legitimidade das urnas eletrônicas, mas também teria redigido e apresentado a militares um decreto para “corrigir” o resultado eleitoral. O documento previa ainda a possibilidade de prender e assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, segundo mensagens interceptadas pela polícia, lembra a reportagem. 

Reação internacional e confronto com Trump

A análise ressalta também a crescente tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos. O presidente norte-americano, Donald Trump, aliado de Bolsonaro, classificou o processo como uma “caça às bruxas” e impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, além de sancionar Moraes. Em entrevista ao The Washington Post, o ministro rebateu: “O Brasil não vai ceder à pressão. Todos aqui reconhecem e respeitam o poder militar e econômico dos Estados Unidos, mas o Brasil é independente e continuará independente”. 

O impacto interno e os fantasmas da ditadura

O julgamento ocorre em um país ainda marcado por silêncios históricos: a escravidão e a ditadura militar. Ao contrário de vizinhos como Chile e Argentina, que processaram responsáveis por violações de direitos humanos, o Brasil optou pela anistia em 1979. Para a historiadora Lilia Schwarcz, da Universidade de São Paulo, o caso atual tem forte simbolismo: “O Brasil carrega dois pactos de silêncio. É por isso que este processo é tão simbólico”.

A análise do Post lembra que, ao longo da história republicana, o Brasil sofreu 14 tentativas de golpe, metade delas bem-sucedidas. A mais marcante, em 1964, instaurou 21 anos de regime militar, período de censura, torturas e assassinatos reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade em 2012. 

Efeitos políticos e o futuro da direita

As audiências devem durar menos de duas semanas, com transmissão nacional, e podem redefinir a relação entre militares e política. Para o cientista político Matias Spektor, da Fundação Getulio Vargas, trata-se de um momento sem precedentes: “O país nunca colocou na prisão alguém que teve acesso ao aparato bélico do Estado. Isso é revolucionário”.

Pesquisas recentes indicam que a maioria dos brasileiros apoia a prisão domiciliar de Bolsonaro. Além disso, análises sugerem que sua base de apoiadores começa a se fragmentar. A socióloga Esther Solano, da USP, afirmou: “Os bolsonaristas começaram a perceber que Bolsonaro acabou politicamente. A possibilidade de prisão é muito alta”.

Ainda assim, especialistas avaliam que a extrema direita continuará atuante. Uma pesquisa de dezembro apontou que apenas 69% da população declarou apoio pleno à democracia, enquanto 8% afirmaram preferir uma ditadura e 17% disseram não ter preferência. Para Spektor, o fenômeno político criado por Bolsonaro deve sobreviver ao próprio líder: “O movimento vai se desgrudar da família Bolsonaro e seguirá em frente. Essa onda está muito viva no Brasil e nada sugere que diminuirá tão cedo”.

sábado, 30 de agosto de 2025

"Capa da Economist revela que Bolsonaro não interessa mais ao imperialismo", diz José Arbex Jr.

Em entrevista ao programa Forças do Brasil, analista afirma que a revista britânica busca “outro representante” para os interesses externos no País

30 de agosto de 2025

Capa da revista The Economist (Foto: Reprodução)



 


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Redação Brasil 247

247 – O jornalista, professor e analista geopolítico José Arbex Júnior afirmou que a capa da Economist sobre o Brasil indica que “o Bolsonaro deixou de ser útil pro imperialismo”. A declaração foi feita neste sábado (30.ago.2025), no Forças do Brasil, ao vivo, na TV 247.

Logo no início, Arbex contextualizou a linha editorial da revista: “A Economist, ela sempre foi porta-voz do imperialismo britânico, é uma porta-voz liberal do imperialismo”. Para ele, a manchete apontaria menos para um “elogio” ao Brasil e mais para um reposicionamento de interesses: “O imperialismo está em busca de outros representantes de seus interesses aqui no Brasil”.

Disputa por herdeiros da extrema direita

Segundo Arbex, a família Bolsonaro “deixou de ser uma figura necessária” para a agenda externa e abriu-se uma disputa interna na direita por uma nova liderança: “Tarcísio está se candidatando, o Caiado está se candidatando”. A seu ver, a capa sugere “os caras estão se matando dentro da máfia” para tentar construir um nome competitivo contra o presidente Lula em 2026.

Donald Trump e o risco de escalada social nos EUA

Ao tratar do cenário norte-americano, Arbex reforçou que Donald Trump é o presidente dos Estados Unidos e segue central na arquitetura de poder: “O Trump continua sendo hoje o representante chefe do império. É ele”. Na avaliação do analista, porém, o país vive um quadro de tensão econômica e social que pode se agravar: “Esse cara vai levar os Estados Unidos para guerra civil”.

Arbex descreveu ainda uma base social irritada e um establishment que “espera para ver”, mencionando cidades tumultuadas, críticas ao financiamento de guerras e o avanço de candidaturas fora do eixo tradicional em grandes centros urbanos.

América do Sul no tabuleiro

Para o entrevistado, o enfraquecimento da hegemonia ocidental em outras regiões empurra o foco para a América do Sul — e especialmente para o Brasil, “joia da coroa” em recursos estratégicos e ator-chave dos Brics. Nesse contexto, ele alerta para pressões externas e para o uso de “quintas-colunas” internas, reiterando que o País deve redobrar a atenção sobre tentativas de tutela estrangeira.

Arbex sinaliza que a leitura da Economist não deve ser celebrada ingenuamente: “Nós temos que tomar cuidado com ficar louvando muito o que saiu na Economist, porque continua sendo um porta-voz do imperialismo”. Na sua interpretação, a capa não absolve Bolsonaro; apenas marca o esgotamento de sua utilidade para um projeto maior e abre a busca por um substituto alinhado. Assista:

Crédito da entrevista: Programa Forças do Brasil, TV 247, transmitido ao vivo em 30 de agosto de 2025.

Assista ao vídeo:

https://www.youtube.com/watch?v=6L11aCWfpI0&t=6s

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

EUA criticam Brasil por reação firme a Bolsonaro, diz autor de ‘Como as democracias morrem’

Steven Levitsky afirmou que STF atuou como “super-herói” contra ameaça autoritária, enquanto instituições americanas falharam em conter Trump

Steven Levitsky (Foto: Reprodução/Youtube)


 


 



Por Luis Mauro Filho

247 - O cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade Harvard e coautor do best-seller Como as democracias morrem, afirmou que os Estados Unidos punem o Brasil por adotar medidas que o próprio país deveria ter implementado para proteger suas instituições. A declaração foi feita durante um seminário no Senado Federal, promovido pelo senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), e foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.

Levitsky destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF) teve atuação decisiva diante das tentativas de ruptura institucional no governo Jair Bolsonaro. “A Corte Suprema americana atrapalhou os esforços de parar o Trump e o Supremo Tribunal Federal está agressivamente tentando processar Bolsonaro. Essencialmente, eles são super-heróis que ficaram de pé defendendo a democracia contra Bolsonaro”, afirmou.

Segundo o acadêmico, o contraste entre as respostas brasileira e norte-americana a líderes com agenda autoritária pode estar relacionado à ausência, nos Estados Unidos, de um trauma histórico que funcione como alerta. “A gente nunca perdeu a nossa democracia, a gente não tem experiência com autoritarismo. [...] Os brasileiros não têm essa ilusão, e isso poderá explicar por que o Poder político brasileiro respondeu de uma forma muito, muito mais séria a essa ameaça autoritária”, disse.

Para Levitsky, a defesa do regime democrático exige ação firme e não pode ser conduzida de maneira passiva. “A democracia não pode se defender. Ela não pode ser defendida passivamente”, concluiu.

domingo, 24 de agosto de 2025

As sete revelações bombásticas do celular de Bolsonaro

Muitas das mensagens e áudios tinham sido apagadas por Bolsonaro, o que revela um comportamento de quem sabe que está cometendo crimes

Por Elvino Bohn Gass (Deputado Federal – PT/RS)


Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)


 





O celular de Jair Bolsonaro, que a Justiça apreendeu no dia da tornozeleira, tem, ao menos, sete revelações bombásticas!

Primeiro, prova que Jair e seu filho Eduardo são culpados pelo tarifaço porque tramaram com Donald Trump para tentar coagir a Justiça brasileira no processo da tentativa de golpe de Estado. Eduardo chega a dizer que o tarifaço dos Estados Unidos, que arrebentou algumas empresas exportadoras, é um “bom momento” e sugere que o pai faça um agradecimento a Trump.

Também há mensagens de Jair pedindo orientação a um advogado ligado a Trump e, inclusive, cópia de uma petição contra o ministro Alexandre de Moraes lá nos EUA. Mais: Eduardo avisa, 15 dias antes, que a tal Lei Magnitsky seria aplicada contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. 

Ou seja, ele sabia! E ainda traz para a cena criminosa o Silas Malafaia, que aparece fazendo combinações como a trama deveria ser conduzida. Para a Justiça, Malafaia estava dentro da empreitada criminosa. Por isso, o pastor teve passaporte e celular apreendidos.

A segunda revelação é a prova de que Jair e Eduardo não estão nem aí para o pessoal do 8 de Janeiro. Eduardo fala em “anistia light”, ou seja, fica evidente que, para eles, não adiantaria nada aliviar as penas dos vândalos. E aqui se revela a grande mentira dos bolsonaristas: dizem que defendem “as velhinhas com a Bíblia na mão”, mas o objetivo real deles é livrar Bolsonaro da cadeia. A anistia que defendem é para ele!

Terceira revelação: Bolsonaro enviou mais de 300 vídeos e mensagens de whatsapp alimentando sua máquina de propaganda mentirosa, depois de ser proibido pela Justiça de fazer isso. Ele descumpriu as medidas cautelares.

Quarta revelação: Bolsonaro planejava fugir do país. Sim, no celular tem um pedido de asilo a Javier Milei, o presidente Argentina, de extrema direita como ele.

Quinta revelação: um dia antes de depor no Supremo, Jair Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões para a conta da esposa Michelle. E Eduardo também usou a mulher para escamotear dinheiro. Passou para a conta da esposa Heloísa repasses milionários que seu pai fez para ele nos Estados Unidos.

A sexta revelação é importantíssima: Bolsonaro teve acesso prévio à defesa do general Mário Fernandes, o autor do plano para matar Lula, Moraes e Alckmin, antes de o documento ser enviado ao Supremo.

Por fim, a sétima revelação mostra que os diálogos entre Jair, Eduardo e Malafaia nem de longe são coisa de pai, filho e amigos, mas de quadrilheiros mesmo. Eduardo chega a mandar o pai “tomar no c...”, ameaça “dar porrada”. Malafaia, por sua vez, chama Eduardo de “babaca” e confessa ter “arrebentado” ele em áudios.

E é importante que as pessoas saibam: muitas dessas mensagens e áudios tinham sido apagadas por Bolsonaro, o que revela um comportamento de quem sabe que está cometendo crimes.

Bem, resta esperar a perícia no telefone de Malafaia. Mas pelo que já vimos, os bandidos golpistas continuam agindo... como bandidos golpistas. Eles foram indiciados em mais crimes e, portanto, a tendência de que a pena de Bolsonaro, que se imaginava de 43 anos de cadeia, pode acabar sendo muito maior.

Que se faça Justiça! É só o que espero. 

sábado, 23 de agosto de 2025

Trump usa navios de guerra para intimidar e ameaçar a América Latina, avalia o governo Lula

Percepção é de que Trump tenta emparedar governos que adotam postura independente em relação à Casa Branca. 

Lula e Donald Trump (Foto: ABR | Reuters)



 




Por Paulo Emilio

247 - O envio de navios de guerra norte-americanos para a costa da Venezuela é visto pelo governo brasileiro como uma tentativa explícita de intimidação da América Latina. Segundo integrantes do Executivo ouvidos pela CNN Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, busca transmitir um recado direto aos países da região: se necessário, estaria disposto a recorrer ao uso da força para conter governos que adotem políticas contrárias aos interesses ideológicos ou econômicos de Washington. Entre as nações mencionadas estão Brasil, Colômbia, México e Panamá.

O Brasil, que tem resistido a iniciativas de interferência externa, figura entre os alvos dessa ofensiva política. Colômbia e México, liderados por governos de esquerda, também mantêm atritos importantes com Trump. No caso panamenho, apesar do governo de direita, há forte preocupação na Casa Branca com a presença chinesa em torno do Canal do Panamá e com o fluxo migratório pela região do Darién, considerado uma das principais rotas de entrada rumo à América do Norte.

Fontes do governo brasileiro destacam que, apesar da retórica agressiva, não há expectativa de que a Casa Branca ordene, neste momento, uma ação militar direta contra a Venezuela de Nicolás Maduro. A estratégia estaria mais voltada a demonstrar poder, reforçando a presença estadunidense com fuzileiros navais e embarcações de guerra para manter a região sob influência de Washington. Essa postura é comparada por analistas à antiga Doutrina Monroe, formulada no século 19 para consolidar o controle dos EUA sobre o continente.

Ainda conforme a reportagem, um dos principais articuladores dessa política de pressão é o secretário de Estado Marco Rubio. Filho de exilados cubanos que se opuseram à revolução de Fidel Castro, Rubio mantém histórico de forte hostilidade contra governos progressistas na América Latina e tem desempenhado papel central no endurecimento da diplomacia da Casa Branca.

Na Colômbia, as divergências estão relacionadas ao combate à produção de cocaína e à imigração. O presidente Gustavo Petro, um dos principais líderes da esquerda latino-americana, tem sido vocal em suas críticas a Trump, o que acirrou ainda mais a relação.

No México, governado por Claudia Sheinbaum, o impasse se concentra na crise migratória e no fentanil, droga que se tornou uma das maiores emergências de saúde pública nos EUA. Washington acusa os cartéis mexicanos de controlar a produção e distribuição da substância e critica o governo local pela falta de ação. Trump e Rubio chegaram a ameaçar o uso das Forças Armadas para bombardear instalações ligadas ao narcotráfico no país vizinho. Já o Panamá segue na lista de preocupações de Washington por conta do papel estratégico do canal interoceânico e do aumento da influência chinesa na região.

De acordo com as fontes consultadas pela CNN, todas essas movimentações fazem parte de um pacote maior da Casa Branca para reafirmar que os Estados Unidos não admitirão políticas que tirem a América Latina de sua órbita de influência.