Segundo o analista geopolítico, decisão de interromper os confrontos partiu de Tel Aviv após ataques iranianos comprometerem alvos estratégicos
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(Foto: Brasil247) |
247 – O cessar-fogo
anunciado após os bombardeios dos Estados Unidos contra instalações nucleares
iranianas não foi fruto de mediação equilibrada, tampouco de apelos humanitários.
De acordo com o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar, a trégua foi
imposta “por desespero de Israel”, que se viu à beira de uma catástrofe
econômica e militar diante da resposta coordenada do Irã.
A análise foi apresentada por Escobar
em seu programa Pepe Café, disponível no YouTube, no qual ele detalha os
bastidores da ofensiva e da negociação que levou ao recuo israelense. “A
pressão para um cessar-fogo veio de Israel em cima de Trump”, afirmou o
jornalista. “Eles estavam correndo o sério risco de ver sua economia paralisar
completamente em duas semanas.”
A ofensiva que saiu pela culatra
No dia 22 de junho, os Estados Unidos
lançaram um ataque contra três instalações nucleares iranianas — Natanz,
Isfahan e Fordow. A ofensiva foi vista como o prenúncio de uma escalada
perigosa, segundo Escobar, com potencial para desencadear uma guerra em larga
escala. A data escolhida, 22 de junho, coincide com o início da Operação
Barbarossa, ofensiva nazista contra a União Soviética em 1941 — fato que o
analista classificou como “altamente simbólico e provocativo”.
No entanto, a resposta iraniana
surpreendeu. Mísseis foram lançados contra a base militar norte-americana de Al
Udeid, no Qatar — considerada uma das mais estratégicas da região. “Foi uma mensagem
direta do Irã: nós podemos atingir qualquer base dos Estados Unidos no oeste da
Ásia, quando e como quisermos”, disse Escobar.
Ataques estratégicos e risco de colapso
Mais do que uma reação simbólica, os
ataques iranianos começaram a mirar centros nevrálgicos da economia israelense.
Entre os alvos citados por Escobar estavam a usina nuclear de Dimona, o porto
de Haifa, o aeroporto Ben Gurion, centros de pesquisa como o Instituto Weizmann
e a sede da empresa de defesa Rafael, considerada o equivalente israelense da
Lockheed Martin.
“Os mísseis iranianos mais avançados
começaram a cair sobre alvos econômicos estratégicos. Em questão de dias,
Israel poderia ver sua economia em ruínas”, relatou o jornalista. Segundo ele,
a taxa de interceptação do sistema de defesa antiaérea israelense caiu para
menos de 50%, com tendência de queda para 30%, 20% ou até menos. “Os estoques
de interceptadores estavam sumindo”, completou.
Rússia assume protagonismo, Trump tenta capitalizar
Escobar destacou que o papel decisivo
na contenção do conflito partiu de Moscou. Um encontro entre o ministro das
Relações Exteriores iraniano e o presidente Vladimir Putin, no Kremlin, teria
sido o ponto de inflexão. “O aiatolá Khamenei enviou uma carta pessoal a Putin,
o que demonstra o grau de confiança e urgência da situação”, explicou.
A partir dessa reunião, segundo o
analista, a Rússia assumiu protagonismo no processo decisório. “Foi a partir
desse movimento que os israelenses entraram em desespero e enviaram uma carta
formal ao Irã, pedindo o fim da guerra”, afirmou Escobar. A resposta de Teerã
foi categórica: “Acabamos a guerra quando decidirmos que ela deve acabar.”
Apesar disso, o presidente Donald
Trump — que autorizou os ataques de 22 de junho — tentou apresentar-se como
pacificador. “Ele viu uma oportunidade de posar como negociador de paz, depois
de quase iniciar a Terceira Guerra Mundial”, ironizou o jornalista.
Equilíbrio estratégico e nova postura iraniana
Segundo Escobar, o Irã saiu do
confronto fortalecido, mesmo com o alto custo pago. “O programa nuclear
continua intacto, o sistema de mísseis balísticos não foi atingido e o país deu
uma demonstração de força que impactou o Pentágono e a Casa Branca.”
Ele também destacou a mudança na
doutrina militar iraniana: “Deixaram para trás a postura dissuasiva e adotaram
uma estratégia ofensiva, com mísseis hipersônicos e capacidade de fechar o
Estreito de Ormuz, o que poderia colapsar o sistema financeiro global em questão
de dias.”
Implicações para os BRICS e o Sul Global
Escobar encerrou sua análise com um
alerta: “Esta é uma lição fundamental para os BRICS e para o Sul Global
inteiro. Um dos membros plenos do grupo, o Irã, foi atacado por um império e
conseguiu se defender com firmeza.”
A expectativa agora recai sobre o papel do Brasil
na presidência do bloco. “Será que os BRICS estarão à altura desse novo momento
incandescente da conjuntura internacional?”, questionou. Assista: