A frase repetida à exaustão, tanto pelo comandante Tomas Paiva quanto pelo ministro José Múcio, “é preciso separar o joio do trigo”, caiu no vazio.
Por Denise Assis (Jornalista)
28 de julho de 2025
Militares e os atos golpistas (Foto:
Agência Brasil (Joedson Alves / Elza Fiúza))
Não foi mera decisão do ministro Alexandre de
Moraes, o motivo para que os oficiais do Exército, que depuseram nesta
segunda-feira, (28/07), na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) e
compõem o núcleo 3 dos réus acusados de cinco crimes, dentre eles, golpe de
Estado, se apresentassem sem a farda.
Nove entre os dez depoentes desta segunda-feira são oficiais do Exército, bem como no processo que corre no STF eles são maioria. Em conversas informais com o Comando, foi revelado ao ministro o quanto foi constrangedor ver o tenente-coronel Mauro Cid depondo fardado. E o quanto mais seria ver praticamente todos os depoentes do núcleo 3 - com exceção de Wladimir Matos Soares (policial federal) -, envergando o uniforme da Força. Ficar
A frase repetida à exaustão, tanto pelo comandante
do Exército, Tomas Paiva, quanto pelo ministro da Defesa, José Múcio, “é
preciso separar o joio do trigo”, caiu no vazio. O Exército Brasileiro viu o
nome da instituição despencar nas pesquisas de confiança da população, desde o
episódio de 8 de janeiro, e emergir das apurações que levaram ao banco dos réus
a fileira de oficiais, incluindo generais e ex-comandantes.
O que a sociedade atestou, em termos de despreparo,
de dificuldade em se expressar e do (des)nível intelectual dos inquiridos,
colou uma nódoa indelével no frontispício do quartel general. Impossível não
questionar que tipo de gente é essa que chega ao generalato às custas do erário
público, sabendo como ninguém trair os princípios militares, se dispor a
contrariar a Constituição e até montar planos de assassinato com todo o tipo de
arma e até mesmo envenenamento? Por essas e outras, não dá mais para
“desmisturar” o joio do trigo. A menos que se altere a formação para a
carreira.
Ficou patente que não foi apenas um “deslize
moral”. Foi, isto sim, falta de orientação adequada. Ensinamentos equivocados,
como os aprendidos pelo general Mario Fernandes, expostos em sua monografia à
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). Ali ficou claro que já é
hora de abandonar as orientações radicais de anticomunismo, sob pena de
virarmos todos nós, cidadãos brasileiros, alvo de seus fuzis e punhais
“verde-amarelo”. Sua dissertação discorre todo o tempo sobre como combater o
“inimigo interno”. Ou seja, a sociedade brasileira. E foi aceita. E ele foi
aprovado com elogios.
Ao confessar que sim, foi o autor do “Plano Punhal
Verde-Amarelo”, o general exibiu, mais uma vez, até onde pode ir um oficial do
Exército mal instruído. O general Fernandes foi formado dentro das fileiras da
instituição, e isto não se pode separar ou negar. É o joio junto com o trigo.
Mesmo os ditos “legalistas” estão perturbados com o
julgamento e o que o país assistiu. A esta altura, importa pouco ou nada, para
eles, o destino de Bolsonaro, dizem. A questão é o número de militares
envolvidos. Já dão como perdidos (expulsos) o tenente-coronel Mauro Cid, o
general Braga Netto e o general Mário Fernandes. A questão para os comandantes,
agora, é tentar salvar outros nomes, como o general Estevam Cals Theophilo. A
empreitada pode ser “missão impossível”. Basta lembrar que Theophilo é o
general que ao ver Freire Gomes deixar a conspiração e se negar a comandar o
golpe, se ofereceu para estar à frente das tropas, como consta da denúncia da
PGR. Bastava que Jair assinasse e ele cumpriria a ordem “fora da ordem”.
A certeza dos comandantes é a de que se surgirem
mais novidades e nomes que foram do Alto Comando seria muito ruim para o
controle deles. Não se conformam com a confissão do Mario Fernandes,
classificada por eles de “suicida”. O que esperaram? Que além de potencial
assassino se acovardasse? Alguns mais “espertos” do Alto Comando, comentam que
o general Fernandes confiou na “anistia”, com a ajuda de Trump, o que lhe deu
ousadia e "coragem" para virar chefe do bolsonarismo sem os
Bolsonaro.
Após o estrago e a incerteza sobre os
desdobramentos do atual quadro, a defesa de Mario Fernandes correu a
desmenti-lo, mas ele candidamente já havia detalhado o parto do seu plano. Como
quem aposta que o acaso vai lhe proteger enquanto ele andar distraído, contou
que o plano não passou de "pensamentos digitalizados". Foi como o
derramar de um copo d’água sobre o teclado. Como se os seus pensamentos
tivessem entornado sobre o computador os seus instintos mais primitivos.
Já passou da hora de os oficiais comandantes
repensarem os ensinamentos transmitidos para os que ingressam na carreira
militar. Enquanto começarem com: “Era uma vez um país ameaçado pelo comunismo,
e que foi salvo pelos militares”, pegam um caminho sem volta. A partir dessa
premissa são obrigados a continuar mentindo sobre o que já foi apurado à
exaustão por historiadores, jornalistas, acadêmicos de modo geral.
Precisam começar por: houve um golpe em 1964, que
derrubou um presidente eleito democraticamente e jogou o Brasil numa ditadura
sanguinária, tendo à frente a cadeia de comando que começava na presidência -
preenchida por ditadores -, e desaguava nos porões, lugar dos de menor patente.
Ali, pelas mãos de militares, corpos foram massacrados, reputações destruídas e
o futuro não existia. Agora que o temos em perspectiva, que permitam, pelo
menos, que o 8 de janeiro seja passado a limpo e os seus idealizadores,
punidos. O Brasil saiu do mapa da fome. Que saia também do mapa da mentira.
Para que não se esqueçam, os réus ouvidos hoje são: Bernardo Romão
Correa Neto (coronel), Estevam Theophilo (general da reserva), Fabrício Moreira
de Bastos (coronel), Hélio Ferreira Lima (tenente-coronel), Márcio Nunes de
Resende Júnior (coronel), Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel), Rodrigo
Bezerra de Azevedo (tenente-coronel), Ronald Ferreira de Araújo Júnior
(tenente-coronel), Sérgio Ricardo Cavaliere (tenente-coronel) e o único que não
é militar: Wladimir Matos Soares (policial federal).
EM TEMPO: O poder encanta as pessoas. Mas, não deveria encantar os militares das Forças Armadas, os quais são treinados e capacitados para enfrentarem e vencerem os desafios do cotidiano. O ex-presidente militar o general Ernesto Geisel já dizia que Bozo era um mal militar. O seu comandante, general Leônidas Pires, proibiu Bozo de visitar as dependências dos quartéis, pois o Bozo queria agitar a Caserna para aumento do soldo dos militares. Mas, Bozo era tão indisciplinado que pretendia jogar uma bomba para explodir o Adutora do Guandú no RJ. Por fim o Bozo foi expulso do Exército. Não entender isso é demais para os membros da carreira militar. Convém lembrar que o governo do ex-presidente dos EUA, Joe Biden, enviou uma Generala do Cone Sul, se reunir com o Alto Comando das Forças Armadas e dizer em alto e bom som que os EUA não apoiava Golpe Militar no Brasil. Insistir no erro em rasgar a Constituição e a Democracia, só faz desgastar a imagem das Forças Armadas. Por fim quero dizer que Trump é profissional e usa Bozo para combater o Brasil e o BRICS. Como já disse Trump: "manda quem tem as cartas".
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