Assessor do
presidente Lula manifestou esperança de que a política externa de Trump se
apegue ao pragmatismo em vez do "idealismo excessivo"
11 de novembro de 2024
Assessor especial da Presidência, Celso Amorim
15/08/2024 (Foto: REUTERS/Andressa Anholete)
247 - Durante uma
conferência sobre paz realizada em Paris nesta segunda-feira (11), o
ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula (PT) para
assuntos internacionais, fez uma análise sobre as possíveis mudanças que o
segundo mandato de Donald Trump poderia trazer para as guerras na Ucrânia e no
Oriente Médio. Para Amorim, "surpresas" podem surgir na abordagem de
Trump em relação a esses conflitos, especialmente se ele adotar um
"realismo" pragmático, em vez de um idealismo excessivo.
“Curiosamente, estou esperançoso de
que essas mudanças que estão ocorrendo provoquem alguma mudança na cabeça das
pessoas também, e que se verifique que o equilíbrio, a paz, talvez seja mais
importante do que impor uma certa ideologia”, afirmou Amorim em entrevista à Folha de S.Paulo antes de participar do Fórum de
Paris pela Paz, evento que reúne anualmente políticos e representantes da
sociedade civil para discutir os grandes conflitos globais.
Embora tenha manifestado ser
simpatizante do Partido Democrata e tenha lembrado que o presidente Lula
'declarou voto' em Kamala Harris, Amorim destacou que é necessário procurar o
lado positivo em todas as situações. "Claro, esse ponto pode ser muito
pequeno, mas se você não se concentra nele, vale tudo. No caso de Trump, esse
ponto seria uma dose de realismo, que pode ser útil, em vez de um idealismo
excessivo", afirmou o embaixador.
Amorim observou, ainda, que Trump tem
uma tendência a respeitar "líderes fortes, que sabem que são fortes",
o que poderia facilitar o estabelecimento de um "diálogo de formato
diferente" — algo que ele classificou como um modelo
"kissingeriano", uma referência ao ex-secretário de Estado americano,
Henry Kissinger, que se destacou pela sua diplomacia pragmática durante a Guerra
Fria.
Após a vitória de Trump nas eleições
americanas, surgiu a especulação de que o republicano poderia propor um acordo
de paz entre Ucrânia e Rússia, incluindo a criação de uma zona-tampão
desmilitarizada separando os dois países. No entanto, essa ideia ainda não
encontrou apoio significativo na comunidade internacional.
Durante sua participação no Fórum de
Paris, Amorim também defendeu a "multipolaridade civilizada" no
cenário geopolítico mundial, destacando o papel do Brasil nas recentes cúpulas
dos Brics e do G20. "Um amigo me perguntou por que o Brasil se esforça
tanto pelos Brics. E eu disse: para reforçar o G20. Porque o G20 é o que há de
mais próximo de um fórum equilibrado. Um Brics mais forte torna o G20 mais
forte", explicou Amorim.
Embora o Brasil tenha reiterado sua
posição de condenar a agressão russa à Ucrânia, Amorim reconheceu que parte da
tensão também se deve à expansão da Otan no Leste Europeu, algo que a Rússia vê
como uma provocação. Ele citou o historiador Arnold Toynbee, que, já nos anos
1950, sugeriu que a Rússia tinha um argumento válido em relação à aliança
militar ocidental.
Sobre a possibilidade de uma futura
redução da presença militar americana na Europa, Amorim sugeriu que um Exército
europeu forte poderia ser viável. "Já dizia o [ex-presidente francês
Charles] De Gaulle, né? Falava da Europa 'dos Pirineus aos Urais'. Naquela
época não podiam entrar Espanha nem Portugal, por causa do Salazar e do Franco.
Agora pode ser 'de Cascais aos Urais' e ter uma paz na Europa", disse,
lembrando o contexto histórico da Europa pós-Segunda Guerra.
O Fórum de Paris pela Paz, realizado anualmente
desde 2018 em frente à Torre Eiffel, é uma iniciativa de uma ONG que conta com
o apoio de entidades da sociedade civil e do setor privado.
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