"Pensem em alguém respeitado, isolado, sem voz, mas com ajudantes à disposição para servir-lhe, inclusive, em missões de contrainformação", sugere Denise Assis
23 de março de 2024
Mauro Cid durante depoimento na CPI dos Atos Golpistas
(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)
Enquanto a Polícia Federal busca o
“interlocutor” ou o destinatário das mensagens do ex-ajudante-de-ordem, Mauro
Cid (suspeitam que foram enviadas via WhatsApp), a nós, desprovidos dos
mecanismos de investigação dos profissionais, cabe atenção e, – nesse caso -,
conjecturas.
Olhando para o cenário da semana
passada, quando os áudios foram publicados pela Revista Veja, o que se tinha
era: Bolsonaro em desespero, tremendo a qualquer toque da campainha; seus
filhos dependurados dia e noite nas redes sociais detonando a PF, que na visão
deles perseguia o pai, e os seus aliados tentando emplacar versões nos seus
respectivos posts. Circulavam “verdades” como: Alexandre de Moraes está
transformando o processo “das mil e uma noites” (que é como eles se referem às
investigações do 8 de janeiro), em uma “Lava-Jato”.
Para os que se detiveram a ouvi-las,
não fica difícil concluir que suas falas cabem exatamente na “narrativa” em
voga no meio bolsonarista, quando vieram a público. Pura coincidência? O
conteúdo reforça o “autoritarismo” do ministro Alexandre de Moraes, a PF como a
“malvada” que ignora o que ele fala e conduz o seu depoimento para “onde quer”
e, de quebra, o “interlocutor” ouve algumas queixas sobre a sua piora de vida e
o enriquecimento do ex-presidente, sem olhar por ele, tão desvalido... (Nada
que comprometa a biografia de alguém. Seria mais ou menos como xingar Bolsonaro
de: “feio e bobo”).
Há quem especule se Mauro Cid não
teria dado uma de esperto, tentando, tal como na peça de Carlo Goldoni:
“Arlequim, servidor de dois amos”, servir a dois senhores. No caso, à Polícia e
à ala bolsonarista. (O texto de Goldoni retrata as confusões criadas por
Arlequim, um criado que, para viver e comer melhor, trabalha, ao mesmo tempo,
sem que um saiba do outro, para dois patrões).
Mas, depois de ter ganho o rótulo de
“delator”, o que no meio militar é ser condenado em vida, outra hipótese que se
coloca é a de ele ter caído em uma cama-de-gato. E com alguém muito importante
do outro lado da linha. Chamado a se explicar na PF, Cid respondeu – da forma
mais cândida -, que não se lembrava com quem havia falado ou, no dizer de seu
advogado, “desabafado”.
Como alguém que está em isolamento,
proibido de conversar com outras pessoas que não sejam as filhas, a mulher e o
pai, pode se esquecer com quem falou na semana passada? Impossível. A menos
que... Esse alguém seja um alguém tão alguém que não possa nunca ser
mencionado. É aqui que entram as conjecturas.
Vamos supor que o “destinatário” ou o
“interlocutor”, fosse uma pessoa acima do bem e do mal para as tropas.
Bingo!
Pensem em alguém respeitado, isolado,
sem voz, mas com ajudantes à disposição para servir-lhe, inclusive, em missões
de contrainformação ou “guerra psicológica adversa”. Como por exemplo, entregar
na Veja uma gravação considerada “útil” à sua causa. Imaginem nessa pessoa,
aquele líder intocável pelos grandes serviços prestados nos últimos anos, a
quem todos respeitam, atendem e, se pedir para você ligar, porque precisa
ouvi-lo, e tal como na canção de Isolda, “saber da sua vida” ... Claro que Cid
fragilizado iria ligar e dizer o que - ele sabe -, essa pessoa gostaria de
ouvir.
Suponham alguém com ascendência
paterna sobre ele, Bolsonaro e os demais que passaram pela Aman! Pensem em
alguém que, guardado em casa, é um poço de ressentimento e não hesitaria em
colher a espinafração de Cid e, num último ato de coragem, lançar na mídia,
assim, como quem envia um post para o X, as lamúrias e ataques de Mauro Cid.
Estaria, ao mesmo tempo, passando um “corretivo” no delator e “salvando” os
seus companheiros de farda, melando um processo que, certamente, aponta para
Bolsonaro e seus golpistas, o caminho da prisão.
Sem dúvida, um personagem acima de qualquer
suspeita...
EM TEMPO: A Delação Premiada não é uma prova, mas um meio de se chegar a prova. Tudo que o Mauro Cid disse foi comprovado e o depoimento dos Ex-Comandantes do Exército e da Aeronáutica, General Freire Gomes e o Brigadeiro Baptista Junior, simplesmente fecharam com o depoimento de Mauro Cid. Portanto, "prego batido, ponta virada". Agora, Mauro Cid, foi na onda dos "malaquias" e fez uma gravação desastrosa e mentirosa contra a PF e o ministro Alexandre de Moraes, caindo no abismo e na prisão ao tentar salvar o provocador Bozo. Portanto, foi uma armação preparada contra o Mauro Cid, o qual estava no regime semi-aberto com algumas regalias. Sendo assim, Mauro Cid ao tentar causar obstrução na investigação o levou a prisão.
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