Produção de sal-gema (Foto: Freepik) |
Produto é usado na produção de soda cáustica e bicarbonato de sódio
4 de dezembro de
2023
Agência Brasil – Parte dos
moradores de Maceió vivem dias de tensão. Na última quarta-feira (29), a
prefeitura da capital alagoana decretou situação de
emergência diante do
iminente colapso em uma das minas de sal-gema exploradas pela petroquímica
Braskem no bairro do Mustange. É mais um capítulo de uma história que se
arrasta desde 2018, quando foram registrados afundamentos em cinco bairros.
Estima-se que cerca de 60 mil residentes
tiveram que se mudar do local e
deixar para trás os seus imóveis.
O risco de colapso
em uma das 35 minas de responsabilidade da Braskem vem sendo monitorado pela
Defesa Civil de Maceió e foi detectado devido ao avanço no
afundamento. A petroquímica
confirma que pode ocorrer um grande desabamento da área, mas afirma que existe
também a possibilidade de que o solo se acomode. Um eventual colapso geraria um
tremor de terra e tem potencial para abrir uma cratera maior que o estádio do
Maracanã. As consequências, no entanto, ainda são incertas. O governo federal
também acompanha a situação.
Mas o que é o
sal-gema? Diferente do sal que geralmente usamos na cozinha, que é obtido do
mar, o sal-gema é encontrado em jazidas subterrâneas formadas há milhares de
anos a partir da evaporação de porções do oceano. Por esta razão, o cloreto de
sódio é acompanhado de uma variedade de minerais.
Designado também
por halita, o sal-gema é comercializado para uso na cozinha. Muito comum nos
supermercados, o sal extraído no Himalaia, que possui uma tonalidade rosa
devido às características locais, é um sal-gema.
No entanto, o
sal-gema é também uma matéria-prima versátil para a indústria química. É
empregado, por exemplo, na produção de soda cáustica, ácido clorídrico,
bicarbonato de sódio, sabão, detergente e pasta de dente, enfim, na fabricação
de produtos de limpeza e de higiene e em produtos farmacêuticos.
Indústria
Inicialmente, a
exploração em Maceió se voltou para a produção de dicloroetano, substância
empregada na fabricação de PVC. Não por acaso, desde que inaugurou em 2012 uma
unidade industrial na cidade de Marechal Deodoro, vizinha a Maceió, a Braskem
se tornou a maior produtora de PVC do continente americano. Outras indústrias,
como a de celulose e de vidro, também empregam o sal-gema em seus processos.
A exploração de
sal-gema, como outros minerais, depende de licenciamento ambiental. A
exploração é fiscalizada pela Agência Nacional de Mineração (ANM). No mercado
internacional, o Brasil é um ator relevante. Segundo dados da ANM, foram 7
milhões de toneladas em 2002. O ranking do ano passado, no entanto, mostra que
os três líderes mundiais têm produção muito mais robusta que todos os demais:
China (64 milhões de toneladas), Índia (45 milhões) e Estados Unidos (42
milhões).
Em Maceió, a
exploração das minas teve início em 1976 pela empresa Salgema Indústrias
Químicas, que logo foi estatizada e mais tarde novamente privatizada. Em 1996,
mudou de nome para Trikem e, em 2002, funde-se com outras empresas menores
tornando-se finalmente Braskem, com controle majoritário do Grupo Novonor,
antigo Grupo Odebrecht. A Petrobras também possui participação acionária na
empresa, com 47% das ações, dividindo o controle acionário com a Novonor.
Atualmente, a Braskem desenvolve atividades não apenas no Brasil, como também
em outros países como Estados Unidos, México e Alemanha.
Escavação
A exploração em
Maceió envolvia a escavação de poços até a camada de sal, que pode estar há
mais de mil metros de profundidade. Então, injetava-se água para dissolver o
sal-gema e formar uma salmoura. Em seguida, usando um sistema de pressão, a
solução era trazida até a superfície. Ao fim da extração, esses poços precisam
ser preenchidos com uma solução líquida para manter a estabilidade do solo.
O problema em
Maceió ocorreu por vazamento dessa solução líquida, deixando buracos na camada
de sal. Uma hipótese já levantada por pesquisadores é de que a ocorrência tenha
relação com falhas geológicas na região. Consequentemente, a instabilidade no
solo levou a um tremor de terra sentido em março de 2018. O evento causou os
afundamentos nos cinco bairros: Pinheiro, Mustange, Bebedouro, Bom Parto e
Farol.
Com novos tremores
e o surgimento de rachaduras em casas e ruas, a Braskem anunciou o fim da
exploração das minas em maio de 2019. A petroquímica diz que já foi pago R$ 3,7
bilhões em indenizações e auxílios financeiros para moradores e comerciantes
desses bairros. Uma parcela dos atingidos busca reparação através de processos
judiciais. O caso também é discutido em ações movidas pelo Ministério Público
Federal (MPF).
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