Presidente Lula destacou que é necessário enfrentar o problema das mudanças climáticas de forma global
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa durante conferência climática da ONU COP28, em Dubai 01/12/2023 (Foto: REUTERS/Thaier Al Sudani)
247 - Confira, abaixo, a
íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na
Primeira Sessão do Segmento de Alto Nível para Chefes de Estado e Governo da
COP 28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, nesta sexta-feira (1).
Íntegra do discurso.
"É uma grande responsabilidade estar aqui em Dubai hoje.
Estamos diante do que talvez seja o maior desafio já enfrentado pela humanidade.
Em vez de unir
forças, o mundo trava guerras, alimenta divisões e aprofunda a pobreza e as
desigualdades.
O caminho desta
COP28 à COP30, no Brasil, ditará nosso futuro.
Aqui faremos o
primeiro balanço global do Acordo de Paris.
Na COP 29,
definiremos um novo objetivo quantificável de financiamento.
E em Belém
formularemos nossas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
O último relatório
do IPCC é categórico sobre o perigo de um aumento na temperatura global
superior a um grau e meio.
A meta do Acordo de
Paris, de mantê-lo entre um grau e meio e dois, já é insuficiente para conter o
aquecimento global em nível seguro.
Temos um problema
coletivo de inação, outro de falta de ambição.
As NDCs atuais não
estão sendo implementadas no ritmo esperado.
E, mesmo que
estivessem, não conseguiriam manter a temperatura abaixo do limite de um grau e
meio.
O Brasil ajustou
sua NDC e se comprometeu a reduzir 48% das emissões até 2025 e 53% até 2030,
além de atingir neutralidade climática até 2050.
Nossa NDC é mais
ambiciosa do que a de vários países que poluem a atmosfera desde a revolução
industrial no século XIX.
Mantemos o firme
compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030.
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Já conseguimos
reduzi-lo em quase 50% nos 10 primeiros meses deste ano, o que evitou a emissão
de 250 milhões de toneladas de carbono na atmosfera.
Mas muitos países
do Sul Global não terão condições de implementar suas NDCs, nem de assumir
metas mais ambiciosas.
Os mais vulneráveis
não podem ter que escolher entre combater a mudança do clima e combater a
pobreza. Terão que fazer ambos.
O princípio das
responsabilidades comuns, porém diferenciadas é inegociável.
Ameaçá-lo vai na
contramão de qualquer noção básica de justiça climática.
Essa noção demanda
que sejam cumpridas as obrigações de financiamento, de transferência de
tecnologia.
É inaceitável que a
promessa de 100 bilhões de dólares por ano assumida pelos países desenvolvidos
não saia do papel enquanto, só em 2021, os gastos militares chegaram a 2
trilhões e 200 bilhões de dólares.
No Brasil, a
emergência climática já é uma realidade.
A Amazônia está
atravessando, neste momento, uma seca inédita.
O nível dos rios é
o mais baixo em mais de 120 anos.
Nunca imaginei que
veria isso no lugar onde estão os maiores reservatórios de água doce do mundo.
Mas o futuro da
Amazônia não depende só dos amazônidas.
O desmatamento em
todo mundo só responde por 10% das emissões globais.
Mesmo que não
derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia poderá atingir seu ponto de não-retorno
se outros países não fizerem sua parte.
O aumento da
temperatura global poderá desencadear um processo irreversível de savanização
da Amazônia.
Os setores de
energia, indústria e transporte emitem muitos gases do efeito estufa.
Temos que lidar com
todas essas fontes.
É por isso que o
Brasil está propondo a Missão 1.5 – uma missão coletiva que vai nos manter na
trilha do um grau e meio.
Nos dois anos até a
COP30, será necessário redobrar os esforços para implementar as NDCs que
assumimos.
E, em Belém,
precisamos anunciar NDCs mais ousadas e garantir os meios de implementação
necessários para concretizá-las.
Os países em
desenvolvimento requerem incentivos positivos para promover medidas de ação
climática alinhadas às suas prioridades de desenvolvimento.
A mitologia
indígena diz que o rio Amazonas nasceu das lágrimas da Lua.
A Lua teve de abrir
mão do seu amor pelo Sol para que a Terra não fosse destruída pelo calor.
Se não deixarmos
nossas diferenças de lado em nome de um bem maior, a vida no planeta estará em
perigo. E será tarde demais para chorar.
Muito
obrigado".
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