(Foto: VTV) |
Neste domingo, a
população venezuelana expressou em referendo amplo apoio à anexação de
Essequibo ao território de seu país
247 - Até então
desconhecida para muitos, a disputa em torno da região de Essequibo, localizada
na Guiana, envolvendo a Venezuela já tem mais de 180 anos e foi crucial para o
posicionamento dos Estados Unidos como potência mundial. Neste domingo (3), a
Venezuela realizou um referendo em
que constatou apoio amplo da população à anexação de Essequibo ao território
venezuelano. Entenda a disputa que já dura quase dois séculos:
A Disputa de
Limites da Venezuela, que teve início oficialmente em 1841, marcou um capítulo significativo
na história das relações internacionais na América do Sul. O conflito começou
quando o governo venezuelano protestou contra a suposta invasão britânica em
seu território, especialmente na região conhecida como Guiana Britânica (atual
Guiana), adquirida pela Grã-Bretanha em 1814 por meio de um tratado com os
Países Baixos.
O tratado em
questão não estabelecia um limite ocidental claro, levando os britânicos a
designarem Robert Schomburgk, um topógrafo e naturalista, para demarcar essa
fronteira. A pesquisa de Schomburgk em 1835 resultou na famosa "Linha
Schomburgk", que reivindicava aproximadamente 30.000 milhas quadradas
adicionais para a Guiana. Em 1841, a Venezuela contestou essa delimitação
britânica, alegando fronteiras territoriais estabelecidas na época de sua
independência da Espanha. A Venezuela afirmava que suas fronteiras se estendiam
até o rio Essequibo, o que equivalia a uma reivindicação de dois terços do
território da Guiana Britânica.
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O conflito
intensificou-se quando ouro foi descoberto na região disputada, levando a
Grã-Bretanha a buscar expandir sua influência, reivindicando uma área adicional
de 33.000 milhas quadradas a oeste da Linha Schomburgk, onde o ouro fora
encontrado. Em 1876, a Venezuela protestou formalmente, rompeu relações
diplomáticas com a Grã-Bretanha e apelou aos Estados Unidos por assistência,
baseando-se na Doutrina Monroe como justificativa para a intervenção dos EUA.
Nos 19 anos
seguintes, a Venezuela buscou repetidamente ajuda dos Estados Unidos,
instigando seu vizinho do norte a intervir por meio de arbitragem ou até mesmo
força. Embora os Estados Unidos expressassem preocupação, pouco fizeram para
facilitar uma resolução. Somente em 1895, invocando a Doutrina Monroe, o
Secretário de Estado dos EUA, Richard Olney, enviou uma nota exigente à
Grã-Bretanha, solicitando que a disputa de fronteira fosse submetida à
arbitragem. A Grã-Bretanha, sob pressão em outras partes do mundo, concordou
com a comissão de limites americana, e a Venezuela aceitou submeter-se à
arbitragem.
No entanto, em 3 de
outubro de 1899, quando a comissão emitiu sua decisão, determinou que a
fronteira seguiria a Linha Schomburgk, preservando a demarcação de 1835. A
Venezuela, desapontada, silenciosamente ratificou a decisão da comissão. Além
disso, o incidente da Disputa de Limites Anglo-Venezuelana teve um significado
mais amplo, marcando a afirmação de uma política externa americana mais voltada
para o exterior, especialmente no hemisfério ocidental. Internacionalmente, esse
episódio posicionou os Estados Unidos como uma potência mundial, indicando que,
sob a Doutrina Monroe, exerceria suas prerrogativas na América do Sul.
A Disputa de Limites da Venezuela (1895-1899) em uma linha do tempo:
1814: A
Grã-Bretanha adquire a Guiana Britânica (atual Guiana) por meio de um tratado
com os Países Baixos, sem definir um limite ocidental claro.
1835: Robert
Schomburgk, um topógrafo e naturalista britânico, demarca a "Linha
Schomburgk," reivindicando 30.000 milhas quadradas adicionais para a
Guiana Britânica.
1841: A Venezuela
contesta a Linha Schomburgk, reivindicando fronteiras estabelecidas na
independência da Espanha e afirmando seu território até o rio Essequibo.
1876: A Venezuela
protesta formalmente, rompe relações diplomáticas com a Grã-Bretanha e apela
aos EUA para intervenção, invocando a Doutrina Monroe.
1895: O Secretário de
Estado dos EUA, Richard Olney, envia uma nota exigindo que a Grã-Bretanha submeta
a disputa à arbitragem, invocando a Doutrina Monroe.
1895-1896: Cresce a tensão
entre os EUA e a Grã-Bretanha, com ameaças de guerra.
1896: O Congresso dos EUA
aprova a nomeação de uma comissão de limites.
1899: A comissão de
limites decide a favor da "Linha Schomburgk," preservando a
demarcação de 1835.
1899: A Venezuela,
desapontada, ratifica a decisão da comissão.
Impacto: A disputa marca a
ascensão dos EUA como potência mundial e a afirmação da Doutrina Monroe no
hemisfério ocidental, estabelecendo um precedente para a política externa
americana na região.
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