(Foto: Reprodução) |
"Projeto
atende aos interesses da indústria armamentista e amplia no horizonte o risco
ao estado democrático de direito", diz Florestan Fernandes Jr.
Está em discussão
na Câmara dos Deputados uma Proposta de Emenda Constitucional para criação da
Polícia Municipal, em substituição às Guardas Civis municipais. Até a última
terça-feira, a PEC já contava com 172 assinaturas de parlamentares ali
incluídas, desde integrantes da “bancada da bala” – comumente associada ao
bolsonarismo, até mesmo alguns parlamentares da base do atual governo.
A ideia do autor da
PEC, deputado federal Sargento Portugal (PP-RJ), é enquadrar as guardas
municipais no artigo 144 da Constituição Federal, que dispõe sobre as
categorias do serviço público responsáveis pela área da Segurança Pública.
Se a PEC for
aprovada, 1256 municípios no país passariam a ter suas próprias “Polícias
Municipais”, com autonomia e poder de policiamento armado. Uma espécie de
“descentralização” da segurança pública que, no discurso dos autores da PEC,
visa “desafogar” o sistema de segurança.
Em uma
contabilidade simples, teríamos uma força policial estimada em 130 mil homens,
que somados aos 498.310 policiais militares da ativa[1], resultaria em um
efetivo policial de 628.310 policiais armados. Um policial para cada 426
brasileiros, perfazendo um contingente bem maior que o das forças armadas, com
seus 360 mil militares na ativa.
Um projeto que
claramente atende aos interesses da indústria armamentista e que amplia no
horizonte o risco ao estado democrático de direito. Neste ponto, a história recente
nos dá provas de que as polícias têm se tornado um ambiente quase hegemônico de
politização e, insufladas e arregimentadas por políticos da extrema direita,
deram demonstrações claras de apoio ao projeto golpista de Bolsonaro.
Foram recorrentes
os casos de manifestações políticas de policiais militares da ativa, embora o
regulamento da corporação proíba expressamente esse ativismo. Toda essa
“partidarização” bolsonarista ficou muito clara na falta de ação da PM do
Distrito Federal durante os atos terroristas do 8 de janeiro. Naquele dia, em
meio à destruição das sedes dos três poderes, muitos PM foram flagrados fazendo
selfies com os golpistas. Lembro ainda do motim da PM do Ceará, em 2019,
durante a gestão do governador Camilo Santana (PT). Um movimento de paralisação
ilegal que só se encerrou após ter culminado com um tiro no peito do senador
Cid Gomes.
Esses eventos que
citei exemplificativamente, induz a uma pergunta: Com mais de meio milhão de
policiais armados e com a mente permeável a discursos golpistas, quem precisaria
do apoio das forças armadas para dar um golpe de estado?
Seria esse o melhor
caminho para combater a expansão da criminalidade?
A questão é muito
complexa e não comporta soluções simplistas. Penso que, mais do que expandir o
efetivo e, como pretende a PEC, tornar o controle das polícias difuso (ou seria
descontrole?), o combate ao crime organizado passa necessariamente pela
qualificação dos agentes de segurança, pela sofisticação das inteligências, da
integração da rede de comunicação entre as várias polícias do país.
[1] Fonte: anuário do Fórum Brasileiro da
Segurança Pública (2022)
EM TEMPO: Guarda Municipal armada vai reprimir bastante o movimento político dos servidores municipais e do movimento popular de um modo geral. Já pensou um Prefeito repressor com uma Guarda Armada?
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