ESTADÃO - História por Altamiro Silva Junior
Lula e Dilma durante posse da ex-presidente no
banco dos Brics. Foto: Ricardo Stuckert© Fornecido por Estadão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu,
em seu primeiro discurso na China, o combate à pobreza e as reformas de
organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional e afirmou que o Brasil “está de volta” ao cenário internacional
após uma “inexplicável” ausência. Mas o presidente foi além, questionando o
motivo pelo qual os países precisam do dólar para lastrear seus negócios.
“Toda noite me pergunto por que todos os
países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar. Por que não
podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que não temos o
compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda, depois que
desapareceu o ouro como paridade”, questionou o presidente na cerimônia de
posse de Dilma
Rousseff para comandar o Novo Banco de Desenvolvimento, também
chamado de Banco dos Brics – sigla formada por Brasil, Rússia, Índia, China e
África do Sul.
Mais tarde, Lula ouviu que o presidente da China Communications Construction Company (CCCC), Wang Tog, estaria disposto a criar mecanismos de troca direta entre o yuan, a moeda chinesa, e o real. O acordo seria uma forma de facilitar transações financeiras entre os dois países. No Brasil, a CCCC investe em obras de infraestrutura, como a construção da ponte Salvador-Itaparica. Lula foi acompanhado na reunião por ministros, incluindo o da Fazenda, Fernando Haddad, e cinco governadores, entre eles o da Bahia, Jerônimo Rodrigues.
Banco transformador
Lula disse, ainda, que o Banco dos
Brics “tem um grande potencial transformador”, pois “liberta os países
emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais”.
Além dos quatro novos membros que ganhou no passado recente – Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai –, Lula disse que “vários outros” estão em vias de adesão. “E estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo”, afirmou.
O fato de uma mulher comandar “um
banco global de tamanha envergadura” já é por si só “um fato extraordinário”,
disse Lula. “Mas a importância histórica deste momento vai mais além”, emendou,
falando que a ex-presidente do Brasil, que assume seu primeiro cargo público
desde que sofreu um impeachment em 2016, pertence a uma geração que nos anos 70
lutou para “colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro,
muitos deles com a própria vida”.
“As necessidades de financiamento não
atendidas dos países em desenvolvimento eram e continuam enormes”, disse Lula,
defendendo “reformas efetivas” das instituições financeiras tradicionais, como
uma forma de aumentar os volumes e as modalidades de empréstimos.
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Ao falar das reformas nos organismos
multilaterais, Lula citou a Organização
das Nações Unidas (ONU), além do FMI, Banco Mundial e cobrou que os
países emergentes utilizem “de maneira criativa” o G-20, o grupo dos países
mais ricos do mundo, com “o objetivo de reforçar os temas prioritários para o
mundo em desenvolvimento na agenda internacional”. Em 2024, o Brasil será o
presidente do G20.
Ainda sobre o Novo Banco de
Desenvolvimento, Lula disse que a instituição tem “um grande potencial
transformador” pois liberta os países emergentes “da submissão às instituições
financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato
para isso.”
No Brasil, os recursos do Banco dos
Brics financiam projetos de infraestrutura, programas de apoio à renda,
mobilidade sustentável, adaptação à mudança climática, saneamento básico e
energias renováveis, mencionou Lula em seu discurso.
Sete anos depois
Dilma voltou a ocupar um cargo
público sete anos depois de ter sido
afastada da Presidência em contexto político de perda de
governabilidade do Executivo. A ex-presidente teve o impeachment aprovado pela
Câmara e pelo Senado em um processo legal tendo como justificativa crime de
responsabilidade pela prática das chamadas “pedaladas fiscais” (atrasos de pagamentos
a bancos públicos) e pela edição de decretos de abertura de crédito sem a
autorização do Congresso. Na esteira da turbulência política, a gestão Dilma no
Planalto resultou numa grave crise econômica, com queda no PIB e desemprego em
alta.
Sabatinada pelas autoridades
estrangeiras e eleita mês passado para comandar a instituição, Dilma foi
candidata única, escolhida por Lula. O mandato dela vai até julho de 2025. Ela
substituiu o diplomata e economista Marcos Troyjo, que era da equipe de Paulo
Guedes. A ex-presidente deve ganhar cerca de US$ 500 mil (R$ 2,5 milhões) por
ano à frente da instituição, equivalente ao valor pago pelo Banco Mundial.
O banco dos Brics foi criado após
reunião de cúpula dos chefes de Estado, realizada em Fortaleza, em 2014, durante
o mandato de Dilma como presidente. Uma das intenções era ampliar fontes de
empréstimos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e instituições
multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Atualmente, a
carteira de investimentos é da ordem de US$ 33 bilhões
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