Pelo fim da OTAN e da guerra – pela paz
e o socialismo na Ucrânia, na Rússia e em todo o mundo!
O conjunto de
operações militares especiais realizadas pela Rússia, desde a manhã do dia 24
de fevereiro, em território ucraniano, representa, nesse momento, o esgotamento
das tratativas diplomáticas de resolução do conflito que envolve Rússia e
Ucrânia e que tem, como razão primeira, a anunciada possibilidade de ingresso
da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN –, o que
colocaria em risco a segurança da Rússia, como alega o governo desse país.
As
operações foram precedidas por uma declaração do governo russo de
reconhecimento da independência das Repúblicas de Donesk e Luhansk, na região
do Donbass, como forma de proteger a população que vinha sendo bombardeada por
nova onda de ataques do regime ucraniano desde o começo da semana passada. A
maioria de sua população dessa região reivindica a autodeterminação e vem sendo
castigada há oito anos pelo regime reacionário de Kiev, quando um golpe
realizado naquele País, na esteira das chamadas revoluções coloridas,
transformou a Ucrânia num posto avançado dos interesses do imperialismo
estadunidense.
Como pano de fundo,
no entanto, está a pressão que vem sendo exercida pelo governo dos Estados
Unidos junto aos países que compõem a OTAN para expandir essa organização
militar aos países situados nas fronteiras russas, como a Ucrânia, e que desde
a queda da URSS já está presente em 14 países da região, com a clara intenção
de cercar militarmente a Rússia, conter o fortalecimento internacional do bloco
China-Rússia, que vem se constituindo como um claro contraponto aos interesses
do imperialismo estadunidense e seus aliados e sabotar o gasoduto Nordstream2.
A entrada da Ucrânia na OTAN traria a possibilidade da instalação, nesse país,
de mísseis de médio alcance com ogivas nucleares, o que é inaceitável para a
Rússia, pois colocaria em risco, alegadamente, a sua segurança estratégica.
Os Estados Unidos e
União Europeia querem a Ucrânia na OTAN para disputar com a Rússia o controle
dos recursos naturais e dos mercados euroasiáticos e disfarçam essas intenções
alegando defender a “democracia”, os direitos do povo ucraniano e a liberdade
dos países decidirem a quem se associar. A pressão dos EUA sobre a Rússia
também visa manter a supremacia global estadunidense, forjada ao longo da
chamada Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética capitaneavam,
respectivamente, os blocos capitalista e socialista, que mantinham alianças de
defesa militar – OTAN e Pacto de Varsóvia – e que atingiu seu apogeu após a
restauração capitalista na URSS.
Contudo, com o advento
da crise mundial de 2008, bem como o fortalecimento da presença internacional
chinesa e, em menor medida, russa, emergiram crescentes contradições no
interior do bloco imperialista ocidental, bem como o declínio dos EUA como
potência absoluta. Também a crescente hegemonia do imperialismo alemão sobre a
União Europeia e os impasses dessa aliança inter-imperialista são fatores a
levar em conta. Nesse sentido, a aproximação política e econômica da Rússia com
países europeus, ao longo das últimas décadas, intensifica as contradições
intercapitalistas na própria OTAN.
Esse é o caso da
Alemanha que, em aliança com Moscou, está na fase final da conclusão de um
gasoduto que permitirá a importação de gás natural da Rússia, resolvendo suas
necessidades energéticas e propiciando significativas receitas financeiras à
Rússia. É impossível compreender a crise atual sem levar em consideração o
esforço desesperado do imperialismo estadunidense para minar as relações entre
a burguesia russa e a burguesia alemã, conter a influência da primeira e minar
a soberania energética alemã.
Cinicamente, mesmo
com tantos atos de guerra e sabotagem à paz mundial, os Estados Unidos imputam
exclusivamente à Rússia a responsabilidade pelo belicismo na região – isso a
despeito das inúmeras guerras deflagradas pelo imperialismo estadunidense e
seus aliados nos últimos tempos: os casos dos ataques ao Afeganistão, à Líbia,
Iraque e Síria são apenas alguns dos exemplos das guerras de rapina recentes
promovidas por esse bloco para a garantia de seus interesses políticos e
econômicos no mundo.
O fim da União Soviética já teria sido suficiente para a
extinção da OTAN, mas o que se tem observado é o avanço belicista do
imperialismo estadunidense que, com sua fraseologia hipócrita sobre a paz, mantém
mais de 700 bases militares em praticamente todos os continentes, inclusive na
América Latina, além de estruturas de inteligência ativas por todo o mundo.
A Rússia de hoje não
é a antiga União Soviética socialista, cujo fim pôs por terra as muitas e profundas
conquistas dos trabalhadores soviéticos. A Rússia é, hoje, um país capitalista,
cujo governo atual tem pretensões expansionistas e exerce forte repressão
interna aos movimentos dos trabalhadores. A Ucrânia, após a extinção da URSS,
se desindustrializou e vive um quadro de pobreza crescente. Sua economia se
baseia em grandes grupos privados oligopolistas e seu governo atual tem viés neofascista, que incentiva um sentimento nacionalista
anti-Rússia.
O governo atual, de Zelensky, é sucessor da derrubada, em 2014,
por um golpe de inspiração fascista, do presidente Yanukovitch, que buscava
fortalecer os laços políticos e econômicos com a Rússia, e do governo seguinte,
de Poroshenko, um empresário fascista e corrupto. Há, no país, forte presença
de grupos fascistas ativos e forte repressão contra os sindicatos e os
comunistas. A população de origem russa é discriminada e o governo realiza
frequentes ações militares contra a população insurreta da região do Donbass.
Os interesses das
burguesias estadunidense e russa são evidentes nessa luta pela partilha do
mundo capitalista e a guerra não interessa aos trabalhadores. Denunciamos as
ações do imperialismo estadunidense, que atirou a região nas mãos do fascismo e
da reação, com o objetivo de consolidar sua influência global. Conclamamos os
trabalhadores dos países membros da OTAN a lutar pela
saída de seus países dessa aliança
inter-imperialista para a partilha do mundo: sem a dissolução da OTAN, um futuro de paz para toda a humanidade mundial é
inconcebível.
A única solução para
esse conflito, cuja escalada está longe de terminar, passa pela luta
independente da classe trabalhadora mundial contra o imperialismo dos EUA, da
OTAN e do sistema capitalista. Nenhuma burguesia de nenhuma nação trará
aos explorados e oprimidos do mundo a paz. Acima de tudo, apontamos para a necessidade da classe trabalhadora
ucraniana organizar-se para liquidar de uma vez o regime neofascista e
estabelecer no país um Poder Popular, tomando em suas próprias mãos a
iniciativa na luta por uma Ucrânia autodeterminada e socialista, avessa a todo
tipo de intervenção burguesa estrangeira! Reforçamos ainda a importância da
unidade dos trabalhadores russos e ucranianos para a superação do capitalismo e
a construção do socialismo em seus países, e dos trabalhadores de todos os
países para seguirem no rumo da revolução socialista em todo o mundo.
Trabalhadoras e trabalhadores do mundo,
uni-vos!
Comissão Política Nacional do Comitê
Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB).