"O único golpe possível já está em andamento.
Foi o anunciado e previsível golpe do centrão", escreve Moisés Mendes, do
Jornalistas pela Democracia
16 de janeiro de 2022
Bolsonaro com políticos do PP, partido do
"Centrão". Da direita para a esquerda: Ricardo Barros, Ciro Nogueira
e Arthur Lira (Foto: Reprodução)
Não são poucos na grande imprensa os emissários dos
avisos dos generais de que nada vai acontecer se Lula vencer a eleição. É uma
espécie de habeas corpus preventivo (nos deixem fora dessa) tornado público
pelo jornalismo que se presta a levar recados. Temos um verão com um jogral de avisos. Os generais tentam passar a imagem de
que agora são legalistas, mas a essência encoberta do recado é outra. Estão
admitindo que não há como segurar um golpe imaginado e comandado por Bolsonaro.
Os militares não têm nem vontade nem força para aplicar e manter um golpe. E
talvez a vontade não exista porque sabem que não têm força, mesmo que golpes,
com seus mais variados formatos, sejam bichos imprevisíveis. Até porque ninguém sabe como seria um golpe hoje. O último e mais próximo de
nós, na Bolívia, foi um desastre. Não tentem fazer em casa o que os generais,
policiais, latifundiários e milicianos bolivianos fizeram em 2019. Os recados dos militares no Brasil pretendem deixar claro que, se Bolsonaro
seguir em frente, o projeto é apenas dele. Mas fica sempre a dúvida se, com a
mesma presteza dos que saltariam fora, há os que desejam continuar dentro.
É difícil medir a convicção dos que continuam ao lado de Bolsonaro até o limite
da loucura completa e de uma ruptura. Mas que ruptura? Foi para esses, e não só para Bolsonaro, que Lula escreveu no Twitter que “a
democracia brasileira sairá mais forte de 2022, e todos terão que aceitar o
resultado das eleições”. Dois movimentos pessoais recentes de figuras do meio militar oferecem
informações que chegam em primeira mão a Lula e depois a todos nós. São
movimentos que parte das esquerdas prefere pisotear.
As mensagens que passam são diretas e por isso mesmo incomodam os que se
consideram intérpretes espertos de gestos considerados traiçoeiros dos
militares. O general Fernando Azevedo e Silva e o almirante Antonio Barra Torres deram os
mais incisivos recados do ano. Azevedo e Silva, sem dizer nada publicamente,
aceitou ser o secretário-geral do Tribunal Superior Eleitoral.
Barra Torres, dizendo tudo, numa carta que pôs Bolsonaro de joelhos, desafiou o
sujeito a apontar a insinuada corrupção na Anvisa ou a se calar. Bolsonaro
acovardou-se de novo e se calou. Azevedo e Silva aceitou ser o muro militar cravejado de cacos de vidro do TSE
contra a possibilidade de golpe, porque conhece sua turma. Estarei aqui contra
os que atentarem contra as eleições, é o que ele manda dizer. E Barra Torres afronta Bolsonaro como almirante que manda um recado a um
tenente que apenas passou pelo Exército.
Não tem golpe porque não há como acreditar que Bolsonaro, um sujeito medíocre e
vacilante, possa ser um líder golpista. Nem milicianos seguiriam Bolsonaro. Golpes com a participação de milícias (des)organizadas falharam recentemente na
Bolívia, nos Estados Unidos e no Peru. E no Brasil as milícias fariam o quê?
Dizem que espalhariam o caos. Mas o que significa espalhar o caos? Avacalhar com a apuração nas eleições?
Atacar o Supremo e prédios de instituições? Sair às ruas tumultuando a vida nas
cidades? Atacar virtualmente tudo o que representa e defende a democracia? Disseminar
mais mentiras? Queimar pneus? Sequestrar? Matar?
O caos já é o próprio Bolsonaro, com sua ação destrutiva em todas as áreas. O
caos é produzido cotidianamente. Um golpe é outra história. O único golpe possível já está em andamento. Foi o
anunciado e previsível golpe do centrão. Bolsonaro já foi golpeado e subjugado
e será saqueado até as vésperas da eleição. Ao golpe do centrão é agregado agora o golpe dos militares que mandam avisos
aos jornalistas, anunciando que abandonaram o sujeito e tentando antecipar uma
trégua com Lula. Com o que sobrar de apoios civis e militares, Bolsonaro não conseguirá aplicar
um golpe nem no síndico do condomínio da Barra da Tijuca, se voltar pra lá
depois de derrotado e abandonado.
(*) Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora
Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
EM TEMPO: Está ruim a situação de Bozo e dos "Bolsominios". Como também está ruim a situação de Moro. Os dois caíram em desgraça em tão pouco tempo. É assim mesmo já dizia a sabedoria popular: "um dia é do caçador, outro dia é da caça".
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