EXTRA - Gustavo Schmitt e Mariana Carneiro
ter., 11 de janeiro de 2022
A pauta econômica do PT é mais uma
aresta que precisa ser aparada para a concretização da chapa entre o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo Geraldo
Alckmin, em articulação desde o ano passado. O paulista demonstrou preocupação
com a proposta de revisar a reforma trabalhista de 2017, defendida por petistas
na semana passada. Antigos aliados de Alckmin têm classificado a ideia do PT
como um “retrocesso”. Presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann afirma
que a sigla deve ser enfática no discurso contra a reforma e o teto de gastos,
mesmo que isso assuste potenciais aliados, como o próprio ex-governador.
A nova ponta a ser arredondada para a
aliança entre o petista e o ex-tucano se soma a resistências a Alckmin em alas
do PT. O ex-presidente do partido Rui Falcão e o presidente estadual em São
Paulo, Luiz Marinho, são alguns nomes contrários ao acerto — internamente,
porém, Lula não terá grande dificuldade em levar o partido para a aliança.
Na semana passada, Lula parabenizou,
em uma rede social, o governo espanhol por reverter pontos da reforma
trabalhista de 2012 — inspiração para mudanças legislativas aprovadas por
Michel Temer em 2017. A Espanha restringiu o tempo de contratos temporários
para um ano e equiparou o salário de terceirizados ao de trabalhadores
sindicalizados. A sinalização incomodou políticos de partidos de centro, que
poderiam ser atraídos para o projeto petista, ainda que só no segundo turno,
mas que não apoiam a proposta.
Durante encontro com o deputado
Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade, ontem, Alckmin revelou
apreensão com a revogação da reforma trabalhista e lembrou que há preocupação
no mercado financeiro com a possibilidade de alteração do projeto. Segundo
Paulinho, Alckmin quis saber a avaliação das centrais sindicais sobre o
assunto.
— Afirmei ao Alckmin que não foi
tratado com Lula de revogar a reforma e nem de voltar o imposto sindical —
disse Paulinho.
Na campanha presidencial de 2018,
Alckmin afirmou que a reforma trabalhista “modernizou as relações de trabalho”
e se comprometeu a não mudar o texto. Na época, ele chegou a ser pressionado
por Paulinho a propor a volta do imposto sindical em troca de apoio do
Solidariedade, mas não cedeu. Então no PSDB, o ex-governador propôs só rever
pontos sobre trabalho intermitente e grávidas em ambientes insalubres.
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As declarações de Lula e de setores
do PT contra a reforma trabalhista foram mal recebidas por antigos aliados de
Alckmin. Enquanto aguardam que o ex-governador explique qual posição irá tomar
sobre a possibilidade de ser vice do petista, dizem que se Lula quer mesmo
acenar ao centro, não faz sentido fazer propostas que afugentam este campo.
— A reforma trabalhista é uma
conquista. Mudar seria um tiro no pé. Isso não é solução para o país — afirmou
o ex-presidente do PSDB de São Paulo Antonio Carlos Pannunzio, que avalia a
possibilidade de deixar o partido assim como fizeram outros aliados de Alckmin.
No que depender de Gleisi, o discurso
de Lula e do PT não deve mudar. Além da revisão da reforma trabalhista,
políticos de centro se incomodaram com a defesa que a parlamentar fez da
revogação da privatização de empresas de energia na Argentina. Embora não tenha
apresentado oficialmente um plano para a economia, Lula tem criticado, em
discursos recentes, o teto de gastos e a atual política de preços da Petrobras.
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mais cotados
Para Gleisi, a eleição deste ano é
diferente do pleito de 2002. Enquanto a primeira eleição de Lula foi de
composição política, esta será de posicionamento ideológico, na opinião da
dirigente. Gleisi afirma que o partido tem que dizer claramente o seu ponto de
vista sobre a economia, mesmo que isso afugente possíveis aliados, como
Alckmin:
— Ele conhece o que pensamos e o que
defendemos, nunca escondemos nossas posições — diz Gleisi.
Segundo ela, o PT quer mostrar, desde
já, que vai revogar o teto de gastos, a política de preços da Petrobras e a
reforma trabalhista:
— Não tem necessidade de carta ao
povo brasileiro, as pessoas já conhecem o Lula — afirma Gleisi, que completa: —
A única coisa que não vamos fazer é quebrar contratos, como o Bolsonaro fez com
os precatórios. O resto nós vamos fazer. E não tem mimimi do mercado. Um país
que não tem dívida externa, que tem este mercado consumidor não pode ter o povo
com fome e sem renda.
Discussão de plano
Nos próximos dias, economistas
petistas começam a desenhar o que deve ser o plano econômico de Lula, como
mostrou o colunista Lauro Jardim. Eles vão trabalhar em cima de um roteiro
elaborado pela Fundação Perseu Abramo no ano passado e conduzido por Aloizio
Mercadante. O documento já trazia duras críticas ao teto de gastos e propunha,
entre outras coisas, a tributação dos 1% mais ricos, ponto também defendido
pelo ex-ministro Guido Mantega, em artigo publicado pelo jornal “Folha de
S.Paulo”.
Além de afinar o discurso econômico para garantir a
aliança com Lula, Alckmin ainda precisa decidir a qual partido vai se filiar.
No encontro de ontem, Paulinho voltou a oferecer o Solidariedade como plano B.
O convite já havia sido feito em dezembro, mas o ex-governador tem dado
preferência ao PSB. O acerto entre socialistas e PT, no entanto, depende de
arranjos regionais e da discussão da federação.
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