Nota Política do Comitê Regional do PCB – Bahia
O final do ano de 2021 bem como o início de 2022 têm sido marcados por uma tragédia humanitária na Região Sul da Bahia que já colocou mais de 130 municípios em situação de emergência, em decorrência da presença de fortes enchentes, bem como deslizamentos e barragens rompidas.
O denominador comum da tragédia encontra
responsabilidade direta na lógica do Capital, e no Estado submetido a seus
interesses, promovendo uma ocupação do espaço que coloca a população
trabalhadora em situação vulnerável.
Ainda que eventos
climáticos extremos sejam de notícia amplamente conhecida e documentada, a
afirmação costumeiramente difundida nos veículos de informação da grande mídia
insiste em uma narrativa de “acidentes”, “tragédias naturais” e joga para a
“imprevisibilidade do Clima” a responsabilidade pelos episódios dramáticos de
chuvas que já vitimaram 26 pessoas e deixaram mais de 30 mil baianos
desabrigados, além de mais de 60 mil baianos desalojados, dentre os mais de 700
mil atingidos pelas Chuvas.
Na região Sul da
Bahia, cidades como Ilhéus e Itabuna, além de municípios vizinhos estão entre
os pontos mais atingidos, deixando milhares de famílias ilhadas, ou em situação
de forte vulnerabilidade. Em Itabuna, o Rio Cachoeira chegou a subir 9 metros,
colocando diversas regiões da cidade com água até próxima aos telhados. Em
Ilhéus as enchentes no Rio Almada atingiram fortemente diversos bairros,
deixando mais de 8 mil desalojados, diversas regiões ilhadas, sendo nas zonas
rurais alguns dos quadros mais dramáticos de isolamento e desabastecimento. As
chuvas na cidade chegaram a inundar até o aeroporto da cidade trazendo peixes
para a pista.
Apesar de algumas limitações, a capacidade humana de previsão de eventos climáticos avançou nos últimos tempos a ponto de fornecer boa capacidade de evacuações e medidas protetivas. Entretanto, a grande questão reside na lógica de ocupação urbana e na utilização dos recursos naturais promovidos pelo capitalismo. O encarecimento do terreno urbano, somado à ausência de políticas de moradia de larga escala, vem sendo dois dos principais fatores que levam à população trabalhadora a ocupar regiões de risco, como encostas ou próximas às margens dos rios, quando não ocupando trechos de suas margens e até mesmo invadindo em certos casos a superfície desses corpos, construindo palafitas e outros tipos de moradias precárias.
Ademais, a utilização indevida dos recursos naturais vem
promovendo amplo desgaste ambiental nos rios, que em grande parte se vêem
assoreados, desprovidos de suas margens e matas ciliares, quando não
completamente comprometidos ao serem transformados em esgotos urbanos, sendo
muitos destes tamponados e completa ou parcialmente cobertos. À utilização
indevida dos recursos hídricos se soma a ausência de políticas ecológicas
eficazes voltadas para ocupação urbana, como a manutenção das redes de drenagem
e cobertura vegetal.
A tragédia aqui relatada e ora vivida pela população baiana se mostra portanto como uma tragédia humanitária de responsabilidade direta do capitalismo e do estado burguês, responsável pela organização social de nossas cidades. Em resposta à tal situação a auto-organização dos trabalhadores e trabalhadoras tem dado mostras de alguns embriões de alternativas, em primeiro lugar pautadas na solidariedade para com as famílias atingidas. A militância do PCB e seus coletivos presentes na região têm operado iniciativas de organização, como a Campanha SOS Sul da Bahia e a Brigada Poder Popular, que vem arrecadando recursos, seja em doações de dinheiro ou até em bens físicos, no entanto, o maior resultado vem sendo o reforço na auto-organização da classe trabalhadora em favor de seus interesses.
O princípio da solidariedade de classe vem se mostrando como um ponto de
partida importante para a sensibilização do povo trabalhador, que passa a se
reconhecer em suas condições, ao mesmo tempo em que experimentam as formas de
organização que expressam a força que a união de nossa classe possui em lidar
com as tragédias ocasionadas pelo capitalismo e pelo poder público submisso.
Tais iniciativas educam pouco a pouco em nossa classe nos caminhos que nos
levarão à superação da própria ordem capitalista, com a reorganização de nossa
sociedade pautada em novos princípios, onde a organização da vida humana, do
espaço social, possa estar em harmonia com o espaço natural.
Partido Comunista
Brasileiro – Bahia
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