Por Joaquim de Carvalho (*)
O pacote criminoso de Sérgio Moro (Foto: Marcelo
Camargo/Agência Brasil)
Moro está no centro de dois escândalos: confessou
ter combatido o PT como juiz e protegeu o aliado Álvaro Dias, beneficiário de
doações do doleiro Youssef
Esta quarta-feira, 29.12.2021, pode ter selado o destino de Sergio Moro: seu
nome fora das urnas em 2022 e ele de volta para os EUA, onde estará protegido,
inclusive pelo contrato milionário com a Alvarez & Marsal, que beneficiou
quando era juiz.
Duas empresas que Moro quebrou com suas ações
judiciais, a OAS e a Odebrecht, viriam a ser administradas judicialmente por
esse escritório de advocacia norte-americano. Quando deixou de servir a
Bolsonaro como ministro, Moro assinou contrato com a Alvarez & Marsal.
A Folha de S. Paulo detonou o primeiro escândalo desta quarta-feira, ao jogar holofotes para um caso que já havia sido revelado em 2015, mas que, como tudo o que se referia a Moro e a seus aliados nessa época, foi devidamente ignorado pela velha imprensa.
Alberto Youssef havia assumido na CPI da Petrobras que fez doações eleitorais para Álvaro Dias, na campanha de 1998. Pelo menos parte delas constou da contabilidade oficial da campanha do senador, como mostrou a Folha.
Tanto Moro quanto Álvaro Dias se apressaram a
rebater a reportagem, com um discurso unificado: na época da doação, ninguém
sabia que Youssef era criminoso. Mentira: o doleiro que viria a ser conhecido
como “delator de estimação” do ex-juiz já tinha sido preso nos anos 80 por
contrabando.
O segundo escândalo foi detonado pelo próprio Moro,
na entrevista que deu para uma rádio do Mato Grosso. Ele confessou que, como
juiz, combateu o PT.
"Como é que a gente pode defender um governo desse? Com pessoas [com fome] da fila de ossos, um governo que foi negligente com as vacinas, um governo que ofende as pessoas, um governo que desmantelou o combate à corrupção. Tudo isso por medo do quê? Do PT? Não. Tem gente que combateu o PT na história de uma maneira muito mais efetiva, muito mais eficaz. A Lava Jato", disse Moro.
É claro que a intenção do ex-juiz não era admitir o
que até as pedras de Curitiba sabem: que ele agiu com objetivo político na
condução da Lava Jato e que, na verdade, o que sempre quis foi prender Lula e
tirá-lo da disputa eleitoral em 2018 e abrir caminho para a vitória de um
adversário do ex-presidente.
Mas, como não tem habilidade no manejo das
palavras, se entregou.
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Moro já foi declarado suspeito pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), mas a confissão dele agrava a conduta e cabe ao
Ministério Público tipificá-la. Tudo parece levar a um caso de venda de
sentenças.
A atuação política de Moro como juiz era evidente.
O candidato dele a presidente, como escrevi no início de 2018, era Álvaro Dias,
que havia trocado o PSDB pelo Podemos para disputar a eleição.
Como Álvaro nunca deixou de ser nanico na campanha,
os frutos do trabalho aparentemente criminoso de Moro foram colhidos por
Bolsonaro, que, através de Paulo Guedes, lhe ofereceu — quando um era
magistrado e o outro candidato — o Ministério da Justiça e a possibilidade de
nomeação para o Supremo Tribunal Federal.
Mais tarde, a disputa pelo controle da Polícia
Federal entre Bolsonaro e Moro acabou alterando a rota dos dois.
Ao que tudo indica, o Podemos, que é controlado
nacionalmente pela família Abreu e regionalmente no Paraná por Álvaro Dias,
passou a ser a legenda para os planos de poder de Moro.
Alvaro foi blindado na Lava Jato e, no único
depoimento que prestou depois de ser citado em mais de uma delação, Moro se
comportou como cordeirinho.
Nem ele nem o procurador designado por Deltan
Dallagnol para a audiência, o notório Diogo Castor de Mattos, fizeram
perguntas. Apenas o advogado de Álvaro fez indagações, e o senador,
naturalmente, negou que tivesse recebido recursos desviados. O caso morreu por
aí.
Sem toga e com poucas semanas de pré-campanha a
presidente, Moro aparece agora com as canelas metidas na lama e o que poderia
significar uma alavanca para o partido da família Abreu e de Álvaro Dias toma o
formato de um âncora ou de um fardo que nenhum político experiente quer
carregar.
Moro pode ir para a cadeia, e levar com ele a turma
que apontava o dedo para adversários políticos enquanto escondia os seus crimes
no armário. O ex-juiz poderá ser aconselhado a voltar para o abrigo de seus
amigos nos EUA.
(*) Colunista do 247,
foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos.
Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social
(revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br
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