Foto: Michel Jesus / Agência O Globo |
O GLOBO - Manoel Ventura e Martha Imenes
09/11/2021
Medida, que abre espaço para novo Auxílio Brasil, deve criar fila a perder de vista para quitar dívidas da União, inclusive com aposentados do INSS
PEC dos Precatórios vai à votação em segundo turno nesta terça-feira.
VEJA 5 EFEITOS DO AFROUXAMENTO DE REGRAS FISCAIS COMO O TETO DE GASTOS:
1 - Aumenta a desconfiança dos investidores. A Lei de 2017 manteve a expansão das despesas públicas limitada à inflação. Com sete anos de déficit público, mexer nessa âncora gera desconfiança no mercado. Investidores tendem a evitar alocar recursos em papéis e projetos no país com maior percepção de risco;
2 - Real se desvaloriza perante o dólar: Com a incerteza sobre se o governo vai conseguir equilibrar as contas, investidores estrangeiros evitam o Brasil ou tiram seus investimentos daqui. Aumenta a demanda por dólar em busca de proteção, impulsionando cotação;
3 - Inflação sobe: Com mais gastos públicos, aumenta a circulação de dinheiro na economia, um dos fatores que incentivam a inflação. Além disso, a alta do dólar bate direto na inflação ao tornar mais caros produtos importados ou com preços negociados no exterior, como alimentos e combustíveis;
4 - Juros sobem: Com a inflação subindo, o Banco Central é obrigado a elevar ainda mais a taxa básica de juros, que atualmente está em 6,25%. Isso deixa o crédito mais caro para as famílias — do rotativo do cartão de crédito ao financiamento da casa própria — e para as empresas;
5 - Economia gera menos empregos: Com a inflação corroendo renda e crédito mais caro, o consumo cai e as empresas investem menos em novos projetos para abrir mais vagas;
Outros precatórios, como de empresas que venceram ações contra o governo, também serão adiados:
— Isso vai gerar um efeito bola de neve, porque o que não for pago em um ano, vai passar para o ano seguinte. O acúmulo vai ser absurdo e vai chegar num momento em que vai ser impagável. A lógica no mercado é de calote, e calote na coisa mais segura que existe, que é uma decisão transitado em julgado — disse Fernando Facury Scaff, sócio do Silveira Athias Advogados e professor de Direito da USP.
Controle sobre emissão
O presidente da comissão de precatórios da OAB, Eduardo Gouvêa, corrobora esta avaliação:
— Os precatórios comuns não vão ser pagos nunca — afirma Gouvêa, que também aponta problemas na execução da PEC, caso ela seja aprovada:
— Como vai ser possível controlar a emissão de precatórios, sem saber quanto vai ser e o que vai ser pago de fato no ano? Não vai ter dinheiro para pagar nem a totalidade dos precatórios alimentícios.
A PEC ainda permite que um credor receba a vista, desde que aceite um desconto de 40% na sua dívida. Para especialista, muitos credores podem acabar aceitando receber um valor menor para evitar entrar nesta fila sem fim dos precatórios.
Além disso, o mercado de empresas que compram dos credores essas dívidas por um valor bem menor tende a crescer. Essas empresas podem usar o precatório para abater uma dívida junto ao governo.
— Hoje, as empresas buscam insistentemente os donos desses papéis para comprar os precatórios, muitas vezes induzindo os credores a acharem que nunca receberão, o que é uma inverdade. Com a aprovação da PEC, teremos, talvez, um movimento inverso: as pessoas procurando essas empresas para vender com medo de nunca receberem — avalia Diego Cherulli, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP).
Segundo
a advogada Cristiane Saredo, os mais afetados serão os precatórios
relacionados às verbas alimentares, normalmente devido a servidores e a
aposentados e pensionistas do INSS.
— Depois
de anos para ter seu dinheiro reconhecido na Justiça, o cidadão ainda terá que
esperar pela concretização do seu direito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário