Yahoo Notícias, Ana Paula Ramos
Ex-presidente Lula
foi recebido pelo presidente da França, Emmannuel Macron, durante viagem à
Europa (Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula)
· Em viagem à Europa, ex-presidente Lula se encontro com líderes políticos europeus para "recuperar imagem" do Brasil no exterior
· Principal tema das conversas foi a agenda ambiental
· Recepção do petista na Europa pode influenciar na campanha eleitoral de 2022?
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou na última semana uma viagem pela Europa e se encontrou com líderes políticos e sociais do continente. A recepção do presidente francês Emmanuel Macron a Lula, com pompas de chefe de Estado, foi um sinal do prestígio do petista que chamou a atenção. Embora oficialmente o ex-presidente não tenha declarado a candidatura à Presidência da República em 2022, Lula tem articulado a busca de apoio na política nacional e internacional.
O petista afirmou que o foco da
visita é “recuperar a confiança” do país.
“Estou viajando para dizer ao mundo
que o que o Brasil tem de melhor é o povo brasileiro. O Brasil não se resume a
seu atual governante. Essa é a razão da minha viagem. Recuperar a confiança no
Brasil”, escreveu o petista, em suas redes sociais.
Lula iniciou a viagem pela Alemanha,
onde se encontrou com Olaf Scholz, atual vice-chanceler, ministro das Finanças
e provável sucessor de Angela Merkel. Em seguida, foi aplaudido de pé não
Parlamento Europeu em Bruxelas. Lula ainda se encontrou com o presidente da
França, a prefeita de Paris e o presidente de governo da Espanha, Pedro Sánches.
Mas qual o peso
político das viagens internacionais do ex-presidente para as eleições de 2022?
Em todas as conversas de Lula no exterior, as mudanças climáticas e a agenda ambiental estiveram presentes. A atuação do governo de Jair Bolsonaro na preservação do meio ambiente é uma das principais causas da péssima reputação do Brasil no exterior. E o tema da agenda ambiental pode ter impacto na campanha eleitoral de 2022. Na avaliação do deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, "a pauta ambiental obrigatoriamente estará presente na campanha eleitoral do ano que vem".
"A sustentabilidade deixou de ser moda para se tornar protagonista, sobretudo neste momento em que atravessamos", avalia. "A pressão internacional por uma postura mais sensata por parte do Brasil já começa a ser sentida. As mudanças climáticas estão batendo à nossa porta. Deixaram de ser coisa de 'ecochato' e agora todos percebem no cotidiano, como nos casos das queimadas e das nuvens de poeira que assustaram muito este ano". Segundo o parlamentar, os candidatos terão de fazer o 'dever de casa' sobre a agenda ambiental.
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"As equipes dos presidenciáveis precisam se preparar e se cercar de bons profissionais pois a temática tende a crescer durante o debate eleitoral. As propostas precisam ser práticas, sem pirotecnias. É um caminho sem volta", afirmou Agostinho, ao Yahoo! Notícias. De fato, a população tem percebido mais os impactos das mudanças climáticas e pode ser pauta da campanha eleitoral de 2022. Pesquisa PoderData deste mês mostra que o trabalho do governo na preservação do meio ambiente é avaliada como “ruim” ou “péssimo” por 48% da população brasileira.
Efeitos na economia
Presidente Jair Bolsonaro é considerado um pária internacional devido à política externa e descaso com meio ambiente (Photo by Massimo Di Vita/Archivio Massimo Di Vita/Mondadori Portfolio via Getty Images). Além disso, o desempenho na área ambiental já afeta também a economia - outro gargalo da administração Bolsonaro para a reeleição em 2022. União Europeia e Estados Unidos, por exemplo, avançam para banir a compra de carne e soja de áreas desmatadas.
Na política externa, por outro lado,
os ataques do presidente, de seus filhos e de integrantes do
governo à China dificultaram as negociações após um embargo à carne brasileira, com a perda de mais de US$ 5
bilhões de exportações para o país asiático.
Por isso, a visita de Lula à Europa
fez um contraponto à recente ida do presidente Jair Bolsonaro à reunião de
cúpula do G20, dias antes, também no continente europeu. O presidente não
conseguiu se encontrar com nenhum chefe de Estado, evidenciando o descrédito do
atual governo no exterior.
Sem comparecer à Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 26),
o governo brasileiro foi apontado no evento como um dos responsáveis pelo maior
desmatamento na Amazônia nos últimos anos. Na COP26, o ministro do Meio
Ambiente, Joaquim Leite, afirmou desconhecer os dados mostrando o maior
desmatamento na Amazônia para o mês de outubro da história.
Bolsonaro não tem uma boa relação com Macron e acusou o francês de tentar interferir na soberania nacional, pelas críticas em relação à condução da política ambiental brasileira e à situação da Amazônia. Dessa forma, o reconhecimento de Lula pela comunidade internacional também é um recado para investidores, empresários e para o agronegócio.
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