ESTADÃO - Breno Pires
© Marcos
Oliveira/Agência Senado - 9/8/2019 A
sede do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília
BRASÍLIA — Em novo
revés para o governo, o Tribunal
de Contas da União (TCU) mandou suspender oito licitações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e Parnaíba (Codevasf) para a compra de máquinas e
equipamentos pesados com recursos de emenda de relator-geral do Orçamento, o
mecanismo do “orçamento secreto”. A medida cautelar, assinada pelo
ministro-substituto Weder de Oliveira, foi determinada após a área técnica do
tribunal identificar sobrepreços de R$ 11,1 milhões em pregões da estatal, que
totalizam R$ 121,5 milhões.
A investigação da corte de contas foi aberta após o Estadão revelar que o governo de Jair Bolsonaro criou o mecanismo de “toma lá, dá cá” para aumentar sua base de apoio no Congresso. Bilhões de reais foram distribuídos para um grupo de deputados e senadores indicarem o que fazer com o dinheiro sem qualquer critério técnico ou transparência.
A decisão do TCU
atinge os processos de compra de mais de cem equipamentos pesados, dos tipos
motoniveladoras, tratores de esteira e escavadeiras hidráulicas. A área técnica
do TCU encontrou indícios de sobrepreços de até 63% nas compras da Codevasf,
estatal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional entregue por
Bolsonaro ao Centrão. A decisão de suspender as contratações já está valendo,
mas será submetida a referendo em sessão do plenário do tribunal amanhã.
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É a primeira vez que o TCU aponta sobrepreço nas licitações envolvendo o orçamento secreto, caso que ficou conhecido como “tratoraço” por envolver a compra de tratores. Até agora, o TCU só havia abordado as emendas de relator-geral sob o viés da falta de transparência, tema que motivou uma recomendação ao governo federal no acórdão que tratou das contas da Presidência no ano de 2020.
Antes, a Controladoria-Geral da União (CGU) já
havia apontado sobrepreço de R$ 142 milhões em mais de uma centena de convênios
e em uma licitação bilionária da pasta do Desenvolvimento, chefiada pelo
ministro Rogério Marinho. A análise do TCU, porém, focou na Codevasf, e não
analisou os contratos e licitações realizados diretamente pelo ministério.
As licitações
suspensas pelo TCU já foram finalizadas e estão em processo de execução, quando
é feito o pagamento às empresas fornecedoras. O tribunal pediu que a Codevasf
informe quais equipamentos já foram entregues. Ao mandar parar as compras, o
ministro Weder de Oliveira disse haver “risco de graves prejuízos aos cofres
públicos”.
Microempresa
Entre a vencedoras
dos pregões em que o TCU identificou sobrepreço estão a JND Representações LTDA. Como o Estadão mostrou em maio, trata-se
de uma microempresa com capital social de R$ 50 mil, aberta em 2018, sediada em
um apartamento residencial, que faturou R$ 11 milhões em licitações da
Codevasf.
Outra empresa é
a XCMG Brasil Indústria,
que, como mostrou o jornal em agosto, vendeu máquinas com sobrepreço também à
administração direta do Ministério do Desenvolvimento Regional, e depois aceitou
reduzir em R$ 100 milhões os valores para fornecimentos de máquinas.
As licitações foram
feitas pela sede da Codevasf,
em Brasília, e por três Superintendências Regionais, localizadas em
Petrolina-PE, Penedo-AL e Bom Jesus da Lapa-BA, que são chefiadas por
apadrinhados políticos, respectivamente, do líder do governo no Senado,
Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur
Lira (Progressistas-AL), e do deputado Arthur Maia (DEM-BA), relator da PEC da
reforma administrativa em tramitação na Câmara.
Procurada, a
assessoria de imprensa da Codevasf disse que a estatal não havia sido
notificada da decisão do TCU até a noite de ontem. A reportagem também enviou
e-mails para as empresas JND e XCMG, que não responderam.
EM TEMPO: O governo Bozo é um exemplo de "honestidade" a toda a prova. Que acha?
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