Folhapress, IGOR GIELOW
sex., 17 de setembro de 2021
*ARQUIVO* SÃO
PAULO, SP, 17.01.2020 - O ex-presidente Lula durante reunião do diretório
nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), em São Paulo. (Foto: Zanone
Fraissat/Folhapress)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A
corrida eleitoral para a Presidência em 2022 está estagnada, com Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) mantendo larga vantagem sobre Jair Bolsonaro (sem partido)
na dianteira da disputa.
Os candidatos dos pelotões inferiores
também seguem onde estavam. A introdução de novos nomes candidatos à terceira
via contra o atual e o ex-presidente e o agravamento da crise política, que
culminou nos atos de cunho golpista de Bolsonaro no 7 de Setembro, também não
alteraram o quadro.
É o que aponta pesquisa feita pelo
Datafolha nos dia 13 a 15 de setembro, na qual foram ouvidos 3.667 eleitores de
forma presencial em 190 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou
menos.
O cenário geral sugere que o momento
de subida de Lula nas pesquisas, registrado ao longo deste ano, pode ter sido
estancado -assim como a desidratação de Bolsonaro, seguindo a mesma lógica.
O Datafolha fez quatro simulações de
primeiro turno, duas delas comparáveis com levantamentos anteriores, e duas
novas.
Nos cenários comparáveis, há
estabilidade em relação à rodada anterior feita pelo Datafolha, em julho.
Lula oscila de 46% para 44% e
Bolsonaro, de 25% para 26%, numa hipótese em que o candidato tucano é João
Doria (SP), que passa de 5% para 4%. Nesse cenário, Ciro Gomes (PDT) segue em
terceiro (de 8% para 9%), tudo dentro da margem de erro.
O petista vai de 46% para 42%, e
Bolsonaro se mantém em 25%, na simulação em que o nome do PSDB é Eduardo Leite
(RS) -que oscila de 3% para 4%. A diferença no cenário com o gaúcho é que Ciro
Gomes (PDT) pula de 9% para 12%.
Os novos cenários tampouco alteram a
equação. No mais fechado, só com Lula, Bolsonaro, Ciro e Doria, eles mantêm as
distâncias registradas em outras simulações.
No mais aberto, as notícias são
desalentadoras para os entusiastas de uma terceira via na disputa neste
momento, ainda mais após o ato fracassado contra Bolsonaro no domingo (12) em
São Paulo ter unido alguns dos postulantes ao Planalto.
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Os quatro primeiros colocados do
cenário fechado ficam onde estão, e um pelotão de nomes ventilados por partidos
e políticos recentemente se forma empatado tecnicamente com Doria.
São eles o apresentador José Luiz
Datena (PSL, 4%), a senadora Simone Tebet (MDB, 2%), o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (DEM, 1%), e o ex-ministro Aldo Rebelo (sem partido, 1%). O
senador Alessandro Vieira (Cidadania), que como Tebet tenta a sorte a partir do
palanque obtido na CPI da Covid, não pontuou.
Também de forma homogênea, os
cenários incluem cerca de 10% de votos brancos, nulos ou em nenhum dos
indicados.
A modorra tende a comprovar a
avaliação feita nos principais círculos políticos de que o jogo seguirá desta
forma, salvo alguma intercorrência grave, até o afunilamento das candidaturas a
partir de abril.
É nisso que apostam tanto o grupo de
Doria, no caso de ser confirmado nas prévias tucanas de novembro, quanto os
nomes que visam impulsionar Pacheco, com o cacique Gilberto Kassab (PSD) à
frente.
É uma esperança da centro-direita: a
de que o derretimento da popularidade de Bolsonaro possa inviabilizar o
presidente nas urnas e abrir espaço para um novo anti-Lula em outubro de 2022.
Para integrantes do centrão ora com
Bolsonaro, e mesmo do PSD afastado do Planalto, contudo, o petista surge como
uma hipótese de trabalho talvez mais provada --todos estiveram com Lula e Dilma
Rousseff (PT) em seus governos.
Por ora, Lula trabalha para que as
turbulências não se agravem a ponto, por exemplo, de haver hoje remota
possibilidade de o presidente sofrer um processo de impeachment. Bolsonaro é,
sob esta ótica, seu adversário ideal.
Neste momento, o petista segue sem
concorrência nas simulações de segundo turno. Bate Bolsonaro por 56% a 31%,
ante 58% a 31% anotados em julho.
Doria perderia de Lula por 55% a 23%
(56% a 22% em julho) e Ciro, por 51% a 29% --um cenário considerado bastante
difícil, já que o pedetista tem o mesmo público fiel das outras três eleições
que disputou (1998, 2002 e 2018), na casa dos 10%, mas trafega num espectro de
esquerda dominado pelo petista.
Nesta pesquisa, Ciro pontua melhor
entre pessoas com nível superior e entre os mais jovens (casa dos 14% nos
cenários especulados).
Para o PSDB, que pelo peso estadual e
o histórico de competitividade até o fracasso de Geraldo Alckmin em 2018 é um
partido em torno do qual giram articulações, a situação só é confortável na
também remota (hoje, como convém na política brasileira) de Doria enfrentar
Bolsonaro num segundo turno.
Neste caso, o paulista vence por 46%
a 34% (46% a 35% na rodada anterior). Mas a pesquisa mostra alguns dos gargalos
que afligem os estrategistas tucanos.
Nem Doria nem Leite têm penetração no
segundo mercado eleitoral do país, o Nordeste, que tem 26% da amostra da
pesquisa do Datafolha. Ambos giram entre 1% e 2% das intenções de voto por lá.
Para Doria, há lição de casa a ser
feita: em São Paulo, seu estado, ele registra de 7% a 10% das intenções de
voto. Leite, na região Sul onde vive, marca 8%. Não por acaso, nesta semana o
tucano lançou um ambicioso programa de obras e investimentos.
Lula faz jus à fama de rei do
Nordeste. Marca 61% das intenções de voto por lá, e enormes 42% quando a
pergunta é respondida de forma espontânea, sem a apresentação de fichas com os
nomes dos candidatos.
Nesta aferição, contudo, o quadro
geral é de estabilidade. A subida que Lula deu do começo do ano, quando marcava
21%, para 26% em julho, foi estancada. Ele chegou a 27%. Bolsonaro foi na mesma
linha, oscilando de 19% a 20%.
Lula tem suas maiores vantagens entre
os mais pobres (até 34 pontos sobre Bolsonaro), menos educados (31 pontos),
jovens (29 pontos) e mulheres (25 pontos).
Já o presidente tira sua força dos
mais ricos (42% a 23% de Lula) e, principalmente, no eleitorado evangélico. Sua
base de apoio desde a campanha de 2018, o grupo que soma 26% da amostra
populacional dá a ele 38% a 34% contra o petista numa simulação e 36% a 32% em
outra.
É um empate técnico, mas no limite da
margem de erro. Curiosamente, não reflete a erosão da popularidade do
presidente, que ganhou 11 pontos de reprovação entre os evangélicos neste ano,
chegando a 41% de avaliação negativa.
Tudo isso ocorre sob o forte impacto
da escalada autoritária de Bolsonaro, que culminou com os atos do 7 de
Setembro. De julho para cá, houve embate com o Congresso, tentativa de
impeachment de ministro do Supremo, blindados desfilando em Brasília para simular
apoio militar e o embate agudo com o Judiciário.
Tudo isso em tese entrou em um modo
de contenção após o recuo decorrente da intervenção do ex-presidente Michel
Temer (MDB), que arrancou uma promessa de armistício de Bolsonaro com o
ministro Alexandre de Moraes. Poucos creem que será duradouro, contudo, ainda
mais com derrotas políticas à sua espera.
Enquanto isso, o governo tenta sacar suas últimas
armas para tentar ganhar alguma popularidade, movimento focado na tentativa de
criar um Bolsa Família ampliado. Até aumento de imposto já entrou na dança,
dando medida do nervosismo no Planalto, que lida com inflação alta, risco de
estouro do teto de gastos e até o temor de um apagão.
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