Texto extraído do Blog do Magno Martins em 30.08.2021
Com edição de Ítala Alves
Por Adriana Fernandes*
Não foram a Caixa e o Banco do Brasil
que desembarcaram da Febraban. É a Febraban que está rompendo com a política
econômica do governo Jair Bolsonaro. A simbologia desse desembarque, após a
entidade assinar um manifesto da Fiesp pedindo medidas urgentes para o Brasil
voltar a crescer e gerar empregos, é notadamente política e grave para o
governo. Mas é também econômica, ao expor a insatisfação diante da escalada de
hostilidades entre as autoridades públicas e fazer a defesa de pontos básicos
institucionais que garantem o bom funcionamento da economia. Trata-se de uma
ação pública radical para os padrões da Febraban, que vê nesse ruído
institucional atraso para a recuperação econômica.
O movimento já estava a caminho
quando banqueiros assinaram, no início de agosto, um manifesto que conectou boa
parte da elite da sociedade civil em defesa do sistema eleitoral brasileiro
para dar um basta às ameaças do presidente à democracia, entre eles Pedro
Moreira Salles e Roberto Setubal, do banco Itaú Unibanco, e o CEO do Credit
Suisse Brasil, José Olympio Pereira.
Olympio chegou a dizer que a “fervura
aumentou e o sapo está na panela. Temos de pular enquanto é tempo”, em
entrevista ao O Globo, declaração que enfureceu a área econômica.
Do lado dos bancos públicos, a
decisão de romper com a Febraban, às vésperas de manifestações marcadas pelo
presidente no feriado da Independência de 7 de setembro, foi tomada porque o
governo viu no manifesto da Fiesp um ato político contrário a Bolsonaro, que o
é de fato, mas que deveria ter sido respondido de outra forma, se assim
quisessem. A realidade é que se configura ingerência política em bancos
públicos, que são empresas de Estado e não de governo.
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Nunca é demais lembrar que, no início
do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falava com orgulho que a
escolha dele para os bancos tinha sido de “porteira fechada”, em outras
palavras, uma administração altamente profissional e longe da interferência. Um
mito que foi se desfazendo em vários episódios ao longo do governo Bolsonaro e
que tem sua capitulação final na decisão de rompimento com a Febraban, ainda
não confirmada oficialmente, mas que teve apoio de Guedes. O presidente da
Caixa, Pedro Guimarães, é hoje um dos mais fiéis escudeiros de Bolsonaro e o
comando do BB foi trocado não há muito tempo para atender uma ordem do
presidente.
Para além do calor do momento, a
saída subserviente da Caixa e do BB da Febraban terá consequências. Dirigentes
da Caixa e do BB terão que dar explicações ao Tribunal de Contas da União.
Reportagem do Estadão, por sinal, já mostra que os bancos estão preocupados.
É bom que eles se preocupem mesmo
porque os bancos públicos não podem sofrer esse tipo de ingerência por razões
políticas, principalmente o BB, que é uma sociedade de economia mista, com
acionistas minoritários e ações negociadas em mercado fiscalizadas pela
Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A Caixa, que não conta com capital
aberto, tem sua gestão regulada pela Lei das Estatais.
Pouco tempo atrás, o ministro Bruno
Dantas do TCU, acatando pedido do MP junto ao Tribunal, suspendeu todo o uso da
verba publicitária do BB em sites, blogs, portais e redes sociais acusados de
espalhar fake news por orientação da Comunicação do Palácio do Planalto e
indiretamente do filho do presidente Carlos Bolsonaro.
Se a saída da Febraban foi aprovada
pelo board dos dois bancos, todos os diretores podem ser responsabilizados na
pessoa física pelo TCU com multa e até mesmo punição de ficarem inelegíveis
para cargos públicos.
Seria uma condenação não para agora
(provavelmente demoraria anos, com eles já fora dos bancos públicos), mas que
certamente traria danos para as carreiras desses dirigentes no setor privado.
Afinal, que política de compliance
(cumprimento das normas legais) de uma empresa ou banco do setor privado
aprovaria um nome de alguém condenado pelo TCU?
*Colunista do jornal Estado de S. Paulo
EM TEMPO: Evidentemente que o posicionamento da FEBRABAN é uma "ducha de água fria" na manifestação golpista que o Bozo está promovendo no dia 07.09.21. Será que Bozo não irá, deixando órfãos seus fanáticos seguidores?
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