ESTADÃO - Rosângela Bittar
© Hélvio
Romero/Estadão Jair
Bolsonaro em 2017, então deputado federal pelo Rio de Janeiro (27/11/2017)
A ideia emergente
de que o Exército se deixou subjugar aos
caprichos de Jair Bolsonaro por
temor à ascensão de Lula até pode parecer elegante,
mas é falsa. O presidente pretende que seja entendida como alta política sua
retórica de envelhecidos bichos-papões. Nem sequer adaptou ao século em que
vive o repertório com que se elegeu e reelegeu deputado nos últimos 30 anos.
Acena com as ameaças puídas de invasão de comunistas e maconheiros. Até como
insultos, há muito superados pela sociedade. Os militares vergaram não por
esta, mas por outra razão.
Bolsonaro tirou do
seu caminho os líderes que tentavam preservar as
Forças Armadas como instituição de Estado e as atraiu para seu
domínio pessoal. Abrigo onde já estavam as polícias militares, a Polícia
Federal, a Polícia Rodoviária, as milícias, as agências de inteligência, todos
os estamentos de vigilância e segurança, os produtores e vendedores de armas e
munições. Uma associação que lidera como poderoso chefão de um sindicato
armado, cujo logotipo é a sugestiva mão com os dedos polegar e indicador
esticados em ângulo reto e três dedos dobrados.
O Exército, que se
sobressai entre as Forças, perdeu substância profissional e ideológica. Suas
lideranças se enfraqueceram, não mais tiveram o êxito anterior em missões civis
de desafiante complexidade. Como se viu na ocupação do Ministério da Saúde,
onde produziu um desastre.
O Alto Comando se
deixou vulnerável ao assédio histórico de Bolsonaro às patentes subalternas e
forças auxiliares. O comando se exerce por meio de instrumentos típicos da
mobilização trabalhista: salários, ampliação das prerrogativas, equalização das
vantagens, proteção em reformas das carreiras, ampliação dos postos de
trabalho.
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Não há nada mais no
horizonte, menos ainda governo. A meta a alcançar é uma ditadura. Abertamente
admitida pelos filhos do presidente. Tal projeto político pessoal e subversivo
tem o fim imediato de interromper a alternância de poder caso Bolsonaro perca a
disputa de 2022. Já está preparando,
em público, a acusação de fraude futura, ao modelo Trump, para anular
as eleições. Ao mesmo tempo que, numa espécie de plano B, turbina o Bolsa
Família para reconquistar a popularidade perdida e ter um desempenho que lhe
sirva de pretexto.
Na sequência, o
roteiro inclui desmoralizar instituições, já tendo obtido a capitulação das que
poderiam interromper sua marcha. Bolsonaro reduziu a Câmara dos Deputados a um
balcão, onde compra as mudanças de legislação de que precisa para enquadrar a
realidade à sua fantasia. Maneja sem esforço a Procuradoria-Geral da República.
Fidelizou setores produtivos, como o ruralista. Com método, vai ocupando
plenários decisivos. Amarra estatais e bancos públicos. Bolsonaro consome seu
mandato em atitude possessiva e onipotente.
Na sequência
cadenciada de demolições, ele aumenta agora o cerco ao Supremo Tribunal Federal. Recorre à velha teimosia acusatória:
o STF o impede de gerir a pandemia como quer, com seu renitente negacionismo
que colocou o Brasil no triste pódio dos campeões de mortes. Na verdade, o STF
o incomoda por outras razões, não confessadas. Como vetar nomeações impróprias.
Ou não se intimidar na instalação de inquéritos para investigar atos golpistas
que tornaram réus seus filhos, auxiliares próximos e deputados do grupo.
Bolsonaro quer
arquivar todas as investigações, sem julgamento. A resposta do Supremo Tribunal
Federal a este desejo indicará seu grau de resistência.
O presidente
insiste, ainda, em tirar dos Estados e municípios a gestão compartilhada da
pandemia, para ser ele a única instância de decisões sobre abertura irrestrita
do comércio. Alega o artigo 5.º, pelo direito de ir e vir, mas sonega o
principal preceito do dispositivo, que o Supremo deverá invocar: o direito à
vida.
*COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’ E ANALISTA DE
ASSUNTOS POLÍTICOS
EM TEMPO: O objetivo de Bolsonaro é destruir a democracia, mesmo limitada, dar um Autogolpe, ou seja, com ele no poder, com ou sem Guerra Civil. Está armando a população para que ela esteja pronta para lhe defender nas ruas. Acho que nós não merecemos ter um Presidente com essa índole má.
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