Yahoo Notícias, Matheus Pichonelli
sex., 25 de junho de 2021
Apoiadora do
ex-presidente Lula participa de ato contra Bolsonaro em Brasília. Foto: Ueslei
Marcelino/Reuters
Se as eleições fossem hoje, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria eleito para um terceiro
mandato no primeiro turno com 49% dos votos.
É o que mostra uma pesquisa Ipec
(Inteligência em Pesquisa e Consultoria), instituto fundado por Márcia
Cavallari, ex-Ibope, divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo nesta
sexta-feira 25.
Reabilitado por decisão do Supremo
Tribunal Federal, que durante a semana jogou a última pá de cal em Sergio Moro, considerado
suspeito e parcial nos julgamentos da Lava Jato, o petista agora desponta como
favorito da corrida eleitoral em um momento em que ela não está mais tão
distante assim.
A partir de agora, o relógio corre a
seu favor.
Juntos, os possíveis adversários somam 42% dos votos válidos. Entre eles Jair Bolsonaro, com 23%. Divulgada no mesmo dia em que um deputado de sua base promete implodir a República, seja lá o que isso significa, a pesquisa é antes um retrato do que um alerta apresentado ao candidato à reeleição. A perda de musculatura do presidente é resultado direto da deterioração de seu governo, aprovado apenas por 24% dos entrevistados. Não é pouco, mas hoje seria insuficiente para reverter o ranço dos 49% que o consideram ruim ou péssimo.
Hoje, 66% dos eleitores desaprovam a
forma como ele administra o país.
Essa desaprovação se reverte no índice mais preocupante para o Planalto em toda a pesquisa: o número de pessoas que dizem não votar no presidente de jeito nenhum (62%). É praticamente o mesmo índice dos que querem votar em Lula (61%) em 2022. A rejeição ao petista vem caindo desde que as decisões de Moro, antes aliado e hoje desafeto do presidente, foram invalidadas.
Antes um fã declarado do ex-juiz de
Curitiba, Bolsonaro já não tem nem Moro nem a estrutura da Lava Jato,
desmontada pelo procurador-geral da República escolhido por ele fora da lista
tríplice do MPF, para acusar o adversário. Um recuo significaria reabilitar o
ex-ministro da Justiça que hoje o acusa de intervir na Polícia Federal em favor
dos filhos suspeitos. Um verdadeiro nó.
Em vez disso, Bolsonaro prefere
apostar no discurso de que é vítima do sistema. O sistema eleitoral, que pode
referendar sua derrota em breve, o jurídico, que reabilita seus inimigos, o
viral, que impede o país de voltar à normalidade pós-pandemia, e até o dos
gigantes da tecnologia que freiam a sua máquina de produção de ódio e fake
news.
A expectativa é que ele siga dobrando
a aposta na radicalização. Por isso aposta no caos, uma justificativa para
apertar os cintos com uma sonhada (por ele) intervenção capaz de interromper
uma corrida em que larga em desvantagem.
Na véspera da pesquisa, Bolsonaro
virou notícia ao pedir a uma criança para tirar a máscara, item de proteção
atacado diariamente pelo presidente que prefere estimular aglomerações,
boicotar as medidas de isolamento e acusar a ineficácia das vacinas.
Pois é justamente a compra acelerada
de um lote suspeito de vacinas indianas que está no centro de uma grave
suspeita de corrupção envolvendo o seu governo. Mais uma.
Na semana, foi Ricardo Salles quem precisou ser abandonado na estrada da boiada para não afundar o governo ainda mais nas investigações sobre supostas falcatruas no Ministério do Meio Ambiente. Sem o discurso de combate implacável à corrupção, Bolsonaro começa a corrida até 2022 como um pit-bull banguela. A dentadura se perdeu ao longo de três anos.
O capitão tem apoio consolidado ainda
em segmentos influentes, como os ligados a segurança e religiosos, além de
investidores interessados no saldão de privatizações que Paulo Guedes tenta
lançar como cenouras na testa dos compradores interessados. O governo promete
também abrir a caixa de bondades turbinando o auxílio-emergencial e ampliando o
Bolsa Família com outro nome.
Fará isso enquanto seus bombeiros oficiais correm para apagar o incêndio da compra suspeita das vacinas, alvo da CPI da Pandemia. Nem todo mundo do governo, porém, tem razões para lamentar a pesquisa Ipec. Entre os aliados responsáveis por dar sobrevida ao governo em troca de cargos e nacos do orçamento paralelo possivelmente há quem enxergue no quadro desolador para o presidente uma oportunidade de negócios.
A permanência no barco avariado ficou
mais difícil. E mais cara.
Gente graúda que não acredita na
conversão nem na viabilidade eleitoral de Bolsonaro e que, ao mesmo tempo, não
está disposta a ver Lula atravessar a rampa tem na consolidação do quadro
sucessório uma justificativa para medidas até ontem consideradas drásticas.
Diante da possibilidade de Bolsonaro
afundar antes do primeiro turno, sem um candidato à direita viável para tirar
votos do hoje concorrente favorito, não devem ser poucos os que topam encerrar
mais cedo a passagem caótica de Bolsonaro & Família pelo Palácio do
Planalto.
A solução Hamilton Mourão tiraria
Bolsonaro da disputa e transformaria uma até aqui improvável terceira via em
postulante anti-Lula com menos rejeição em 2022.
Hoje Bolsonaro tem mais desafetos e
aliados abandonados na estrada do que amigos dispostos a se queimarem com ele.
A corrida para a sucessão está longe. Mas não tão
longe que não possa ser encurtada.
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