ESTADÃO - Eduardo Kattah e Marcelo Godoy
© FELIPE RAU/ESTADÃO
(4/5/2018) O governador
de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB)
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), trata com cautela o assunto, mas reconhece que as polícias militares estão sob influência da radicalização política. Crítico da retórica do presidente Jair Bolsonaro, ele afirma que tentativas de politização da corporação são alvo da investigação da ação da PM pernambucana na violenta dispersão do ato contra o governo federal no dia 29 de maio, no Recife. Na ocasião, policiais militares dispararam balas de borracha contra os manifestantes. Duas pessoas que nem participavam do protesto foram atingidas no rosto e perderam a visão de um dos olhos. O episódio levou Câmara a mudar o comando da PM no Estado.
“Não podemos ainda
admitir qualquer tipo de politização das nossas polícias. Isso também é uma
coisa que vem sendo verificada”, afirmou o governador em entrevista ao Estadão.
Câmara avalia que o
mais importante no momento é evitar aglomerações na pandemia e, por isso, seria
melhor que não ocorressem novas manifestações de rua, “seja do campo
progressista ou dos apoiadores do presidente”. Mas diz que o Estado vai
garantir o direito de protesto nos atos marcados para hoje. “Não
necessariamente temos de ir para a passeata. Podemos fazer o protesto e mostrar
a nossa indignação de outras formas.”
Leia, a seguir,
trechos de sua entrevista.
Queremos juntar o
máximo possível de quadros que queiram nos acompanhar no desafio de 2022, que é
muito claro: derrotar a iniciativa de reeleição do atual presidente e discutir
alternativas para o Brasil voltar a crescer e gerar empregos com as instituições
funcionando, sem ameaças e respeitando o estado democrático de direito, a
democracia e a Constituição.
- Para
2022, uma grande preocupação é em relação ao comportamento das polícias
militares. O sr. substituiu o comando da corporação após o fato do dia 29
de maio. Tem receio de algum tipo de movimento de insubordinação em razão
das eleições?
Os fatos que ocorreram no Recife no dia 29 de maio foram muito graves, fatos que estão sendo apurados. Já temos 16 policiais afastados. Houve a necessidade de substituição tanto do comandante da Polícia Militar quanto do secretário de Defesa Social. O enfoque que tem sido utilizado desde o início é que a gente não pode admitir o tipo de ato como o que foi feito, cenas como as que a gente viu não podem acontecer nunca mais em Pernambuco. Todo foco é ver o que realmente aconteceu e punir quem precisa ser punido e errou na abordagem e, principalmente, na reação ao que foi feito. Mesmo que haja algum tipo de justificativa para a ação da polícia, nada justifica a forma como ela atuou. É isso que a gente tem procurado com a investigação e com os processos.
E não podemos ainda admitir
qualquer tipo de politização das nossas polícias. Isso também é uma coisa que
vem sendo verificada. São casos que podem ocorrer que não refletem o
entendimento geral da tropa, mas existem, efetivamente, casos que a gente
precisa dar o devido tratamento e impedir, pois sabemos muito bem: quando há
algum tipo de politização, seja nas Forças Armadas ou nas polícias militares,
isso é um fato grave com consequências ruins.
- É
possível acontecer no Brasil algo semelhante à invasão do Capitólio, que
ocorreu nos EUA?
Em princípio, não,
mas precisamos estar atentos a tudo. Infelizmente a gente vê muitas ameaças nos
discursos oficiais. A cada dia sempre tem algum tipo de comentário, de
discurso, de iniciativa que preocupa a democracia e o estado de direito. O
próprio presidente dá exemplos muito ruins quando fala, seja em relação ao
comportamento ou em relação à pandemia. A visão que ele tem de mundo é
totalmente contrária ao que acredita que seja a resolução dos problemas
brasileiros. A gente tem de estar sempre atento em buscar formas que não
contaminem uma sociedade que, na realidade, precisa de oportunidades e mais
educação, saúde, emprego e geração de renda.
- Existe
uma influência bolsonarista nas PMs, mais especificamente na PM de
Pernambuco?
Evidente que a gente
ouve muita coisa. O próprio comportamento do governo federal em alguns assuntos
me preocupa, mas a gente também tem confiança no dever e na lealdade que as
polícias militares – e no caso a de Pernambuco – têm com seu povo. É uma
polícia que tem quase 200 anos, com serviços prestados importantes. Fatos como
os que aconteceram no dia 29 de maio, evidentemente, nos preocupam, nos
alertam, por isso essas investigações estão sendo feitas da forma mais
transparente possível para não minimizar nem maximizar atuações que possam ter
ocorrido de maneira incorreta. Justamente nesse olhar de que há por trás disso
algumas tentativas (de politização da PM), mas que o desejo da grande maioria é
não politizar essa atuação tão estratégica e necessária para a sociedade.
Continue lendo
- No sábado
passado, tivemos em São Paulo a motociata do presidente. Neste sábado
teremos novos atos de rua, desta vez, contra o governo federal. O sr. é a
favor de manifestações nas ruas em meio a esta grave pandemia?
Nossa recomendação
sempre foi evitar aglomerações. Nós estamos em um momento de pandemia difícil
em Pernambuco. Os números melhoraram na última semana, mas ainda são muito
preocupantes, apesar de todo o trabalho que foi feito, com a abertura de
leitos, o vírus ainda está circulando e tem muitas pessoas internadas.
Infelizmente, óbitos estão ocorrendo. Então, manifestações como essa, seja do
campo progressista ou dos apoiadores do presidente, o interesse nosso é que não
ocorressem. Agora, tivemos um exemplo importante no dia 29, que ela transcorreu
com muita tranquilidade. Apesar de os fatos finais terem sido muito graves, a
passeata respeitou o distanciamento social, as pessoas estavam protegidas com
máscaras e tinha distribuição de álcool. Foi uma forma também de protestar que
terminou se enquadrando dentro das normas sanitárias. A nossa recomendação era
que se evitasse (nova manifestação). Mas vamos garantir efetivamente o
direito de as pessoas protestarem.
- O
PSB, como partido, deve apoiar a participação nesses atos contra
Bolsonaro?
Não necessariamente
temos de ir para a passeata. Podemos fazer o protesto e mostrar a nossa
indignação de outras formas. A gente tem trabalhado com nosso partido aqui e
com outros da base aliada. Nós tivemos muitos partidos que no dia 29
recomendaram aos seus filiados que não participassem. Eu acredito que também
pode acontecer neste sábado (hoje) o mesmo entendimento.
- Como
o governo está agindo para que o episódio com a PM não ocorra novamente?
Já estão definidos
o roteiro, o que pode e o que não pode, os pontos de apoio, onde vai ter
presença da polícia... Está tudo pactuado. Isso devia ter sido feito antes do
dia 29, mas agora tem cinco secretarias estaduais envolvidas. Todos os
organizadores dessas manifestações foram convidados. Temos um pré-acordo e a
gente espera que seja respeitado, pois o que está sendo defendido é o direito
de vir e de se manifestar das pessoas. E que se faça isso de maneira segura,
respeitando as normas sanitárias.
EM TEMPO: Apesar de divergência política, a entrevista do governador é interessante, considerando sua posição política/administrativa de um estado da federação. Mas, o curioso é que a imprensa de PE, mesmo os Blogs não divulgaram alguma entrevista com o governador sobre um tema bastante complexo e perigoso que é a politização e milicialização das PMs em todo o Brasil. O prefeito do Garanhuns, Sivaldo Albino caminha em sentido contrário ao seu padrinho político, quando flerta com a militarização da Guarda Municipal.
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