sáb., 19 de junho de 2021
BRASILIA, DF, BRASIL, 19-06-2021-: Protesto Fora Bolsonaro, organizado por entidades de esquerda, na esplanada dos ministérios. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
Milhares de manifestantes se reúnem
na manhã deste sábado (19) em diferentes cidades do país em protestos contra
o presidente Jair Bolsonaro. Entre os maiores
atos, estão os de Brasília, com manifestantes na Esplanada dos Ministérios, e
no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o protesto está marcado para as 16h, na
avenida Paulista.
As manifestações ocorrem no momento
em que o país se aproxima de 500 mil mortos pela Covid e menos de um mês após
os atos de 29 de maio, que atraíram milhares de pessoas. Os protestos nacionais
são pelo impeachment do presidente, por mais vacinas contra a Covid-19 e por
auxílio emergencial.
As manifestações são convocadas e
apoiadas por movimentos sociais, partidos políticos, centrais sindicais,
entidades estudantis, torcidas organizadas e grupos envolvidos em causas como
feminismo e antirracismo. A organização está centralizada no fórum Campanha
Nacional Fora, Bolsonaro.
A expectativa deles era de um volume
maior de participantes desta vez. A quantidade de organizações que endossam a
realização dos protestos e o número de cidades com atividades programadas
cresceram em relação ao final de maio.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro está enfrentando uma investigação sobre a má gestão da pandemia enquanto o país se aproxima do meio milhão de mortes causadas pelo COVID.
A polêmica decisão de sediar a Copa América 2021 em meio à crise do coronavírus é questionada por grande parte da população.
Em Brasília e no Rio, manifestantes
incluíram na pauta dos atos protesto contra a privatização da Eletrobras, que
deve ser aprovada na Câmara no início da próxima semana.
Na capital federal, o ato contou com
uma carreata que percorreu algumas vias principais da cidade até a concentração
para uma passeata. Indígenas de várias partes do país também se juntaram aos
manifestantes para condenar a omissão do governo na proteção desses povos na
pandemia e também em protesto contra a mudança na demarcação de terras.
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Ao contrário dos atos em favor do governo, os manifestantes não foram autorizados a descer para a praça dos Três Poderes e se concentram no gramado em frente ao Congresso Nacional.
O evento no DF colocou no mesmo carro de som parlamentares de diversos partidos de esquerda.
Discursam com palavras duras contra o
presidente, especialmente condenando a condução no enfrentamento da pandemia e
o autoritarismo do governo, parlamentares como os deputados federais Talíria
Petrone (PSOL-RJ) e Pedro Uczai (PT-SC) e o deputado distrital Leandro Grass
(Rede).
Também há diversas bandeiras de
partidos, como PT, PSOL e PC do B, além de inúmeras camisetas com a imagem do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na capital de Pernambuco, o ato
também uniu representantes de partidos à esquerda que disputam espaço na
corrida eleitoral de 2022, como PT e PDT. O estado e a cidade são governados
pelo PSB, que também teve representantes no ato.
O presidente brasileiro
Jair Bolsonaro está enfrentando uma investigação sobre a má gestão da pandemia
enquanto o país se aproxima do meio milhão de mortes causadas pelo COVID.
No protesto anterior, realizado no
dia 29 de maio, a Polícia Militar de Pernambuco atacou violentamente as pessoas
que protestavam pacificamente contra o governo federal.
Diante do desgaste político, o
governo estadual escalou agentes de conciliação para evitar qualquer tipo de
animosidade entre polícia e manifestantes.
OUTRAS
CIDADES
Até sexta-feira (18), estavam
confirmados atos em mais de 400 cidades de todos os estados brasileiros,
incluindo as 27 capitais. No exterior, a previsão era a de concentrações em 41
cidades, em países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Portugal,
Itália, Finlândia e Argentina.
No mês passado, segundo a
coordenação, houve no total movimentações em 210 cidades no Brasil —algumas,
assim como agora, tiveram mais de uma atividade. No exterior, o número também
foi menor: 14 cidades. No total, foram 227 atos.
A recomendação é que os manifestantes
usem máscara (preferencialmente do tipo PFF2), se possível levem máscaras para
doação, carreguem álcool em gel e mantenham o distanciamento social. Nos
protestos de maio, as orientações foram seguidas, mas houve registros de
aglomerações.
No sábado passado (12), Bolsonaro
participou na capital paulista de um passeio de moto com apoiadores, depois de
eventos semelhantes em Brasília e no Rio.
O presidente e auxiliares foram
multados pelo governo João Doria (PSDB) por não usarem máscara contra a
Covid-19 no evento. Motociclistas simpatizantes do governo também deixaram de
usar a proteção facial —item que os protestos da oposição dizem diferenciá-los
em relação aos dos bolsonaristas.
A Campanha Fora, Bolsonaro é composta
por frentes como a Povo sem Medo, a Brasil Popular e a Coalizão Negra por
Direitos, que reúnem centenas de entidades, entre elas MTST (Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto), UNE (União Nacional dos Estudantes), CMP (Central de
Movimentos Populares) e Uneafro Brasil.
Partidos de esquerda como PT, PSOL e
PC do B também integram a campanha. O PT, que apoiou com mais afinco na véspera
o ato anterior, desta vez decidiu entrar para valer na mobilização.
O ex-presidente Lula anunciou que
avalia comparecer, mas a tendência é que ele não vá. O envolvimento dele no
assunto tinha sido discreto em maio e assim continuou até meados desta semana,
quando se pronunciou em suas redes sociais sobre a possibilidade de ir.
PSOL, PC do B, PCB, UP, PCO e PSTU,
que já estavam participando ativamente da articulação, continuam envolvidas.
Além disso, outros partidos anunciaram apoio à iniciativa.
O Cidadania, que se apresenta como um
partido de centro, comunicou nesta semana sua adesão às manifestações, em nota
assinada pelo presidente nacional, Roberto Freire. Ele também afirmou que irá
comparecer.
Siglas como PSB, PDT e Rede
Sustentabilidade adotaram, institucionalmente, posição mais cautelosa —dizendo
que não estimulam a formação de aglomerações—, mas sem proibir a presença de
seus quadros. Com isso, núcleos e seções regionais desses três partidos
decidiram se juntar às manifestações.
Partidos de oposição a Bolsonaro mais
à direita ignoraram o tema ou simplesmente deixaram a decisão a critério de
cada filiado ou corrente interna.
Bolsonaro minimizou o impacto das
marchas contra ele em maio e lançou mão de uma estratégia para tachar a
iniciativa como evento de campanha de Lula. O adversário, que não esteve
presente, lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições de
2022.
Fora do ambiente partidário, a
mobilização somou a adesão das dez principais centrais sindicais, que ficaram
reticentes da outra vez, muito pela pressão de categorias profissionais que
demonstraram preocupação com a incoerência de se juntar às multidões e defender
o distanciamento social.
Na semana passada, o apoio às
manifestações foi deliberado em um fórum das centrais, que inclui CUT (Central
Única dos Trabalhadores), Força Sindical, UGT (União Geral dos Trabalhadores),
CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e CSB (Central dos
Sindicatos Brasileiros), entre outras.
O MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), que em maio preferiu manter discrição na fase de preparação
dos atos, desta vez incentiva a participação de seus integrantes.
O movimento Acredito, que prega
renovação política e está posicionado mais ao centro, também se integrou à
organização dos protestos. Já MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem Pra Rua),
que levaram a direita às ruas contra governos do PT e hoje se opõem a
Bolsonaro, mantiveram distância.
Ativistas envolvidos na convocação
deste sábado dizem que a chegada de novas forças e a esperada adesão de mais
manifestantes se devem à crescente insatisfação com o governo Bolsonaro, mas
também ao clima pacífico e organizado e às precauções sanitárias do protesto
anterior.
As principais bandeiras são o
impeachment de Bolsonaro, a vacinação ampla contra a Covid e o pagamento de
auxílio emergencial de R$ 600. As pautas foram definidas por centenas de
organizações, que têm buscado unidade de discurso e se blindado contra atritos
que comprometam a coesão.
Entre os objetivos, está ainda
expressar apoio à CPI da Covid, vista como caminho que pode levar à
responsabilização do presidente pelo agravamento da pandemia e servir de
impulso para a Câmara dos Deputados abrir o processo de deposição dele,
possibilidade tratada hoje com ceticismo.
Promover atos de rua em um cenário de
descontrole da Covid foi um dilema que provocou debate em setores da esquerda
nos últimos meses, mas a divergência de opiniões foi superada com as
convocações para o dia 29 que atraíram milhares de pessoas em cidades do Brasil
e de outros países.
O racha foi contornado diante do
diagnóstico, feito por líderes do chamado campo progressista, de que solucionar
as crises sanitária, econômica, institucional e política é inviável com
Bolsonaro no poder.
O CAMINHO DO
IMPEACHMENT
·
O presidente da
Câmara dos Deputados é o responsável por analisar pedidos de impeachment do
presidente da República e encaminhá-los;
·
O atual presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é aliado de Jair Bolsonaro. Ele pode decidir
sozinho o destino dos pedidos e não tem prazo para fazê-lo;
·
Nos casos
encaminhados, o mérito da denúncia deve ser analisado por uma comissão especial
e depois pelo plenário da Câmara. São necessários os votos de pelo menos 342
dos 513 deputados para autorizar o Senado a abrir o processo;
·
Iniciado o processo
pelo Senado, o presidente é afastado do cargo até a conclusão do julgamento e é
substituído pelo vice. Se for condenado por pelo menos 54 dos 81 senadores,
perde o mandato;
·
Os sete presidentes
eleitos após a redemocratização do país foram alvo de pedidos de impeachment.
Dois foram processados e afastados: Fernando Collor (1992), que renunciou antes
da decisão final do Senado, e Dilma Rousseff (2016).
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