O GLOBO - Mariana Muniz
qui.,
3 de junho de 2021
BRASÍLIA
— O ex-ministro da Defesa Celso Amorim, que ocupou a pasta no primeiro mandato
de Dilma Rousseff, classificou como "altamente preocupante para as
instituições brasileiras" a decisão do
Exército de arquivar processo que apurava a participação do general
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, em um ato político com o presidente
Jair Bolsonaro.
—
Não são só as Forças Armadas que têm sua integridade amaçada. São as
instituições democráticas. Como ex-ministro da Defesa eu lamento muito, porque
eu vi como nós discutíamos as coisas com seriedade quando havia uma objeção
séria das Forças Armadas a qualquer coisa tudo era sempre conversado,
negociado, eu nunca vi uma coisa assim, uma imposição. Nunca houve isso. Então
eu fico muito preocupado, muito triste — disse Amorim ao GLOBO nesta
quinta-feira.
Para
o ex-ministro da Defesa, que também chefiou o Itamaraty, a manifestação do
Exército de não ver "transgressão disciplinar" na participação do
general da ativa em um ato político colocam dúvida sobre a isenção das Forças Armadas que, segundo ele, são uma
instituição de Estado, e não de governo.
—
Obviamente deve ter sido uma ordem do presidente, por tudo o que se comenta, e
eu acho lamentável porque afasta aquilo que os próprios militares sempre
disseram, de que prezavam por princípio, que as Forças Armadas, o Exército, são
uma instituição de Estado e não de governo. Isso vai por água abaixo, acabou.
Virou uma instituição de governo — afirmou.
Na
avaliação de Amorim, é "altamente preocupante" quando as Forças
Armadas, em especial o Exército, deixam as regras, o regulamento, de lado
"para acomodar certos interesses". Ele explica que Forças Armadas são
uma força de última instância.
—
Elas não podem arbitrar nada. Mas poderiam, por exemplo, se houver uma situação
como ocorreu nos Estados Unidos, no Capitólio, convocado pelo Supremo ou pelo
Congresso, o Exército poderia agir, uma vez que ninguém pode confiar no que vai
fazer a Polícia Militar. Com essa atitude agora, esse poder de última instância
fica afetado — observou.
No
dia 23 de maio, Pazuello participou e discursou em um ato feito por Bolsonaro após um passeio de
moto no Rio de Janeiro. O procedimento administrativo foi aberto porque
militares da ativa não podem se manifestar politicamente.
Na semana passada,
Pazuello apresentou sua justificativa oficial e afirmou que o ato não era
político-partidário porque que Bolsonaro “não é filiado a nenhum partido e que
não há campanha em andamento no país”. O argumento foi reforçado pelo
presidente, que, sem se referir ao procedimento, disse no mesmo dia que o ato
não teve "viés político".
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