ISTO É - Germano Oliveira
O pronunciamento de Bolsonaro em rede de rádio e televisão na noite desta quarta-feira, 2, foi estarrecedor. Uma verdadeira farsa. A começar pelo fato de que não expressou seus reais sentimentos. Esteve claro, desde o primeiro segundo de sua fala, que ele apenas lia no teleprompter algo escrito por assessores. Não foi, nem de longe, o que ele pensa e faz.
Ao começar
lamentando as mortes dos milhares de brasileiros mortos pela Covid – em razão, inclusive, de suas omissões e
negligências –, o ex-capitão assumiu o propósito de estruturar seu discurso com
base no sarcasmo. Ele deveria ter feito esse tipo de manifestação em março do
ano passado, quando a pandemia se intensificou e o Brasil atingia 201 mortes,
já prenunciando que enfrentaríamos a maior tragédia de nossa história. De lá
para cá, chegamos a 470 mil óbitos e, nesse interim, o mandatário apenas
tripudiou sobre a doença.
Disse, entre outras
insanidades, que nada poderia fazer, que não era “coveiro”, “sou messias, mas
não faço milagres”, “vai morrer quem tiver que morrer” e “vou comprar vacina na
casa da tua mãe”. A sociedade acompanhou chocada suas reações nefastas. Nada
fez para conter o avanço do vírus. Pelo contrário, estimulou sua propagação,
apoiou aglomerações, criticou o isolamento e combateu o uso de máscaras, entre
outras barbaridades contrárias à ciência.
Em sua fala na TV,
aliás, o ex-capitão voltou a condenar governadores e prefeitos que defendem as
acertadas medidas restritivas para evitar a expansão do coronavírus. Um
equívoco que nos coloca no centro da pandemia mundial. Todos os cientistas e
autoridades sanitárias do mundo inteiro já demonstraram que a contaminação só
vai ceder se houver medidas de distanciamento social, práticas de higiene
severas e vacina.
Continue lendo
Deve ser execrado
por todas suas teses do atraso, como a imunidade de rebanho ou que tudo não passaria
de uma “gripezinha”. Sua postura anticiência precisa ter um fim e esse tipo de
pronunciamento serve apenas para ele tentar aliviar sua barra na CPI da Covid. Afinal, certamente ele será responsabilizado no
relatório final da comissão de investigação pelo conjunto da sua obra,
considerada por todos como genocida. Dificilmente conseguirá reverter essa
imagem construída por meses de desatinos.
Mais sarcástico em
seu pronunciamento, contudo, foi dizer que agora incentiva a vacinação em massa
e que seu governo já disponibilizou 100 milhões de doses de imunizantes. Uma
clara distorção da realidade. Desde o início, o que ele recomendou mesmo foi a
farta distribuição da cloroquina, em substituição à vacina, o único remédio
reconhecido pelos imunologistas como capaz de controlar a pandemia.
Se hoje temos
vacinas, devemos ao Butantan, do governo de
São Paulo, que persistiu no projeto de produzir aqui a Coronavac e dar início à
vacinação ainda em janeiro deste ano. Se Bolsonaro não fosse o negacionista que
é, poderíamos ter iniciado a imunização em dezembro, antes do resto do mundo.
Graças a ele e seu general da Saúde, demoramos muito e muitas vidas se
perderam. Muita gente morreu graças a essa negligência.
Em outubro, quando
o Butantan ofereceu a vacina a Pazuello e Bolsonaro
mandou rasgar o contrato, tínhamos 120 mil mortes. Em janeiro, quando
efetivamente o governador João Doria deu início à vacinação, já havíamos
chegado a 400 mil óbitos. Esse é o tamanho da irresponsabilidade apurada pela
CPI. Afirmar agora que defende a vacina é de um oportunismo indecente.
Chama a atenção
também o fato de ele enaltecer nesse enfadonho pronunciamento que seu governo
está resolvendo a crise social, destacando o crescimento do PIB.
É verdade que o País pode até crescer 5% este ano, mas vale lembrar que no ano
passado levamos um tombo de 4,1%. Assim, estamos apenas nos recuperando da
gigantesca queda em 2020.
O que é pernicioso
é dizer que o País está alcançando melhorias sociais em razão disso. O
presidente se esquece que a alta no PIB não solucionará nossos problemas
sócio-econômicos e não amenizará a desigualdade descomunal que atingimos.
Afinal, a melhoria no PIB ocorre em cima do melhor desempenho das commodities,
como minério de ferro e agricultura, atividades altamente mecanizadas e que não
absorvem grandes contingentes de mão de obra.
Por essa razão, em
maio, registramos um desemprego recorde de quase 15 milhões de pessoas. É fato
que no governo Bolsonaro retornamos ao mapa da fome, com mais de 40 milhões de
miseráveis. Precisamos é que a política econômica gere maior distribuição de
renda e desenvolvimento para todos, com reformas que nos façam crescer de forma
consistente. Foram merecidos, portanto, os panelaços registrados em todo o País
durante sua fala na TV. O povo está cansado de inverdades e falsidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário