sexta-feira, 7 de maio de 2021

Sobe para 28 número de mortos em operação policial no Jacarezinho

Yahoo, Redação Notícias

sex., 7 de maio de 2021

Familiares de vítimas seguram velas em protesto contra violência policial no Jacarezinho

A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou nesta sexta-feira mais três mortes em decorrência da operação deflagrada na favela do Jacarezinho, na zona norte da capital fluminense, na véspera, elevando para 28 o total de óbitos na ação mais letal já deflagrada pelas forças de segurança na cidade

Os corpos das três vítimas foram retirados da comunidade nesta sexta e, segundo a polícia, também seriam de homens com ligação com o crime organizado na favela, assim como outras 24 vítimas fatais da operação. Um policial também morreu durante a operação. 

"A inteligência confirmou todos os mortos como traficantes. Eles atiravam para guardar posição, para matar. Tinham ordem para confrontar", afirmou o chefe da Polícia Civil, Alan Turnowski, a jornalistas. 


Moradores protestaram na comunidade nesta sexta-feira e rejeitaram a versão da polícia de que todos os mortos eram envolvidos com o crime. 

 "Houve gente que já estava rendida, pediu para se entregar e foi morta... teve policial que matou na rua, na frente de crianças e idosos", disse uma moradora, que não quis se identificar. 

 

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A Defensoria Pública e o Ministério Público do Rio de Janeiro abriram uma investigação sobre a atuação da polícia na ação no Jacarezinho.  


Sangue cobre o chão e uma cama dentro de uma casa durante uma operação policial contra traficantes de drogas na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, Brasil, quinta-feira, 6 de maio de 2021. Pelo menos 25 pessoas morreram, incluindo um policial e 24 suspeitos, de acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio. (AP Photo / Silvia Izquierdo)

 "Operações de enfrentamento ao crime organizado são necessárias, mas devem ser feitas com inteligência e planejamento. Salientamos que o norte permanente da atuação das forças de segurança deve ser a preservação de vidas, inclusive a dos próprios policiais", afirmou o MP em nota. 

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu nesta sexta-feira esclarecimentos ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), e a outras autoridades estaduais sobre as circunstâncias da operação. 

Em ofícios, Aras determinou que as autoridades prestem informações em cinco dias úteis a respeito da ação policial e alertou para o fato de que pode haver responsabilização se ficar comprovado que houve descumprimento de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que limita a realização de incursões policiais em comunidades do RJ enquanto durar a situação de calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-19. 

 policial. A favela se tornou um campo de batalha na quinta-feira, com inocentes atingidos e moradores assustados.

Em pronunciamento, o governador afirmou que conversou com Aras e com o ministro Edson Fachin, do STF, e determinou total transparência ao processo de apuração das circunstâncias da operação, mas ressaltou que "a reação dos bandidos foi a mais brutal já registrada em todos os tempos, com armas de guerra para repelir a ação do Estado". 

"Em nenhum lugar do mundo a polícia é recebida com fuzis e granadas quando vai cumprir seu papel", afirmou. "Tenham certeza que o governo do Estado é o maior interessado em apurar as circunstâncias dos fatos", acrescentou. 

ONU pede investigação

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do escritório de Direitos Humanos, pediu que seja feita uma investigação independente sobre a operação.

Rupert Colville, porta-voz dos Diretos Humanos da ONU, classificou que há um histórico de uso “desproporcional e desnecessário” da força por parte da polícia. “Pedimos que o promotor conduza uma investigação independente e completa do caso de acordo com os padrões internacionais”, disse Colville durante entrevista coletiva em Genebra, na Suíça.

“A força só deve ser usada como último recurso e a polícia não tomou medidas para preservar as evidências na cena do crime”, declarou o porta-voz da ONU.

Poças de sangue nas ruas

Entidades como a Defensoria Pública, a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj foram até o Jacarezinho para ouvir os moradores.

“O primeiro choque inicial foi a quantidade de sangue nas ruas”, relatou a defensora pública Maria Júlia Miranda. “Eram muitas poças. Relatos de violação de domicílio e de mortes neles. Muitos muros cravejados de bala, muitas portas cravejadas de bala.”


Policial morto

Entre os 25 mortos, 24 eram civis e um era policial, André Leonardo de Mello, que teria levado um tiro na cabeça. Em post no Facebook, a Secretaria de Polícia Civil afirmou que Frias "honrou a profissão que amava e deixará saudade".

por Rodrigo Viga Gaier, da Reuters

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