6 de maio de 2021
Por Milton Pinheiro – membro do Comitê Central do PCB
Jornal O Momento –
PCB da Bahia
Bolsonaro, os
Militares e a Política – O cenário político brasileiro, para além da dramática
situação da Covid 19, está impactado pela constante ameaça ou blefe do agitador
fascista, Jair Bolsonaro, do uso das forças armadas para realizar operações ao
estilo de estado de sítio ou estado de emergência.
O Brasil encontra-se
afetado pela intensa e persistente crise econômica; o quadro da vida social nos
permite informar que o conjunto da população se encontra em profundo
esgarçamento do tecido social diante do gigante e perverso desemprego, com uma
crescente carestia que ataca os mais pobres, com a difusão da fome e miséria
que pode levar o país a um quadro de profundo caos social.
Essa condensação das
mazelas brasileiras, resultado do projeto elaborado pelo governo federal em
aliança com o consórcio burguês, estacionado no bloco do poder, pode tornar
imprevisível o sentido da política e da vida social. Tudo isto numa relação de
força que evidencia o protagonismo de frações da burguesia interna, que buscam
melhor posição na ordem do Estado brasileiro e numa situação que não tem
permitido que os trabalhadores e as organizações proletárias e populares vão
para as ruas e praças.
O presidente de
extrema-direita tem procurado estabelecer-se numa posição muito dúbia, que por
hora o coloca em consonância com as hordas neofascistas (a Covid 19 não tem
importância, o isolamento social é um crime, simpatia por desfechos
autoritários e golpistas, completo desrespeito ao mínimo da ordem
constitucional, armar o indivíduo para agir como se estivéssemos no estado de
natureza, etc.) e em outros momentos, opera tímidas sinalizações para com os
estratos conservadores da ordem estatal como forma de se garantir um mínimo de
governabilidade, ou, até mesmo, incentivar a ilusão dessa existência.
Continue lendo
Essa dupla face é a
linha tênue por onde se apresenta os projetos de caos controlado e golpe por
dentro das instituições que são articulados pelo complexo bolsonarista dentro e
fora do Estado brasileiro, ao tempo que exercita momentos de apaziguamento com
o parlamento e o STF como forma de contenção de danos. O sentido da política
para o presidente é a construção, no bizarro cenário da interlocução política,
de janelas de oportunidades para fazer testes de força e gerar um provável
estado de emergência ou até mesmo de estado de sítio.
Na plataforma de ação
do grupamento sediado no palácio do Planalto, encontra-se uma velha articulação
com um conjunto significativo de grupos reacionários estacionados nas forças
armadas. A operação passa por aprofundar a pauta do inimigo interno, avança
para benesses corporativas, alonga-se em melhor dotação orçamentária para
Exército, Marinha e Aeronáutica, exerce o fator cooptação através de
postos-chave na cúpula ministerial do governo de extrema-direita e adiciona o
balcão da pequena política com a nomeação de milhares de cargos comissionados
no governo federal.
Precisamos entender
que no Brasil pós-1945 diversos extratos das forças armadas foram convertidos a
uma posição reacionária. Com essa nova postura ideológica, a defesa da pátria,
diante do inimigo externo, foi delegada para plano secundário. Tudo isso se
desenvolveu com profunda modificação na composição política da tropa.
Elaborou-se um discurso de direita subserviente ao imperialismo estadunidense e
contra todos/as aqueles/as que lutavam em defesa de transformações sociais.
Com o governo do
agitador fascista, Jair Bolsonaro, a “politização” da tropa ganhou um
requentado discurso conservador, cujo conteúdo principal é gestão da política e
a posição de subalterno ao bloco burguês e seu consórcio internacional.
Bolsonaro movimentou, como cenário principal, contingentes importantes das
forças armadas para seu projeto burguês e golpista. Transformou essa burocracia
de Estado em um segmento privilegiado diante do conjunto dos trabalhadores
públicos da união e trouxe de volta o perfil saudosista do que é ser esse
agente que foi criado pelo golpe burgo-militar de 1964 e seus diversos
governos.
Temos, portanto, para
além do projeto de destruição do Brasil, para efetivar a sua noção de país
sobre os escombros do que existia, uma ação desenvolvida pelas hordas
bolsonaristas, fora e dentro do governo, que é colocar na cena da disputa
política (ao lado de Bolsonaro) as forças armadas. Se esse projeto de derrocada
das balizas formais da democracia já não fosse algo temerário, a
extrema-direita cooptou as forças públicas de segurança dos entes federados. A
PM, em especial, tem tido um importante protagonismo nesse ciclo de ações
neofascistas que está em curso.
Portanto, vivemos uma
quadra política complexa. A extrema direita está um passo à frente; a esquerda
revolucionária tem que conformar um amplo leque de unidade de ação para
enfrentar esse bloco na cena política, que o conjunto da classe trabalhadora
não conseguiu ainda desvelar, e operar a frente única proletária, popular e de
esquerda.
A disputa na luta de
classes tende a se acirrar, inclusive em virtude da imensa crise social que o
Brasil está passando e da gigante mortandade da Covid 19. Organizar a luta,
voltar a incidir nas ações de rua (com a devida proteção), perseverar na
auto-organização da classe trabalhadora e investir no trabalho de base é o caminho
que devemos trilhar para barrar o neofascismo, conter a extrema-direita e
avançar no projeto de poder popular na perspectiva do socialismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário