ESTADÃO - Reuters
© Divulgação/Governo
do Estado de SP Dimas Covas,
presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos
Bandeirantes
SÃO PAULO - O Instituto Butantan pode atrasar entregas da CoronaVac, vacina contra a covid-19 feita em parceria com o
laboratório chinês Sinovac, ao Ministério da Saúde por falta de insumo farmacêutico ativo (IFA) importado
da China. O presidente da instituição, Dimas Covas, atribuiu o possível atraso
à a postura do governo Jair Bolsonaro em relação ao país asiático.
Bolsonaro insinuou em discurso,
na quarta-feira, 5, que o novo coronavírus, causador da covid-19, pode ter sido criado
pela China como parte de uma "guerra bacteriológica", nas palavras do
presidente. Recentemente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em uma
reunião, que ele não sabia que estava sendo gravada, que o coronavírus teria
sido criado por chineses.
Em entrevista
coletiva para marcar a entrega de uma remessa de 1 milhão de doses da vacina ao
Programa Nacional de Imunização (PNI) do ministério, Covas afirmou que o atraso
na chegada do IFA não se deve a problemas na produção da Sinovac, que envia a
matéria-prima ao Brasil para o Butantan envasar doses da vacina, mas à demora
na autorização de envio pelo governo chinês.
Dimas Covas disse
que as declarações recentes contrárias à China vindas de autoridades do governo
federal têm dificultado a liberação das remessas de IFA pelo governo chinês.
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"Embora a
Embaixada da China no Brasil venha dizendo que não há esse tipo de problema, a
nossa sensação, de quem está na ponta, é de que existe dificuldade. Uma
burocracia que está sendo mais lenta que o habitual e autorizações com volumes
cada vez mais reduzidos. Isso obviamente tem impacto, essas declarações têm impacto
e nós ficamos à mercê dessa situação", disse.
"Nós temos que
entregar até o dia 14 o restante - que vai totalizar 5 milhões de doses - do
IFA de 3 mil litros e, após isso, não temos mais matéria-prima para
processar... Pode faltar? Pode faltar, e aí nós temos que debitar isso
principalmente ao nosso governo federal, que tem remado contra."
Apesar das
insinuações feitas por Bolsonaro, criticadas por parlamentares como o
presidente da CPI da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), e o presidente da
Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), uma
investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que a origem mais
provável do novo coronavírus foi um mercado em Wuhan, na China, e que o vírus
pode ter passado de um morcego para um outro animal que o transmitiu a humanos.
Também presente na
entrevista coletiva, realizada na sede do Butantan na zona oeste de São Paulo,
o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro, cobrou que
o recém-nomeado ministro das Relações Exteriores, Carlos França, atue para
desfazer o que chamou de "profundo mal-estar" gerado pelas
declarações do presidente e para liberar o IFA tanto para o Butantan quanto
para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também usa matéria-prima importada
da China no envase da vacina da AstraZeneca.
"Ele é o chanceler.
Ele é quem tem que falar com o embaixador da China no Brasil. Ele é quem tem
que falar com o embaixador do Brasil em Pequim e tomar providências. Até agora
eu não vi, não ouvi e não tive nenhuma informação de medidas tomadas pelo
Ministério de Relações Exteriores", disse Doria.
Novas entregas
O Butantan esperava
para a primeira quinzena de maio a chegada de um lote de 6 mil litros de IFA da
China, mas Covas disse que a expectativa é que somente 2 mil litros cheguem ao
País até o dia 13.
Ele afirmou que na
semana que vem o Butantan prevê entregar 3 milhões de doses da CoronaVac ao
Ministério da Saúde e alertou que, uma vez processado o lote de 3 mil litros,
equivalentes a 5 milhões de doses, que chegou em 19 de abril, o Butantan não
terá IFA para envasar doses.
Com a entrega desta
quinta, o Butantan enviou 43,05 milhões de doses da CoronaVac ao PNI.
De acordo com dados
do Ministério da Saúde, a CoronaVac responde atualmente por 75,3% das vacinas
contra covid-19 já aplicadas no Brasil.
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