dom., 28 de março de 2021
EXTRA
Um grupo de militares que ajudou a
eleger o presidente Jair Bolsonaro em 2018 tem defendido a construção de uma
alternativa política para a disputa do Palácio do Planalto no próximo
ano.
O movimento, encabeçado por oficiais
da reserva, ganhou força depois da volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cena com a anulação de suas condenações
pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Caso consiga adesões, a articulação
pode abrir uma dissidência ao plano do atual presidente de buscar um novo
mandato. Na última disputa, os militares representaram um dos pilares do
projeto político de Bolsonaro.
Antes da presença massiva na gestão,
na qual ocupam cerca de seis mil cargos comissionados, integrantes das Forças
Armadas já vinham retomando o protagonismo político — quando foi presidente,
Michel Temer escalou os generais Sérgio Etchegoyen e Joaquim Silva e Luna para
o Gabinete de Segurança Institucional e o Ministério da Defesa,
respectivamente.
O GLOBO ouviu sete generais e um
coronel, todos da reserva, que defenderam a necessidade de uma terceira via.
Seis deles já ocuparam cargos no atual governo. Quatro se manifestaram de forma
reservada.
— O centro tem uma grande chance
agora, porque um grupo se perdeu na corrupção e outro não sabe governar. E para
que existe eleição? Para corrigir. Precisamos voltar à normalidade e ao
equilíbrio — diz o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da
Secretaria de Governo.
O também general Maynard Santa Rosa,
que ocupou a Secretaria de Assuntos Estratégicos até novembro de 2019, concorda
com o colega:
— O retorno do PT seria um retrocesso
inaceitável. Por sua vez, o atual governo não conseguiu honrar o próprio
discurso e cumprir o que todo mundo esperava.
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Na semana passada, o general da
reserva Paulo Chagas, que disputou o governo do Distrito Federal em 2018 com o
apoio de Bolsonaro, distribuiu um texto pelas redes sociais com o título
“Renovar é preciso”. Na mensagem, diz que o “Brasil está sem rumo e que “é hora
de construir uma terceira via”.
Chagas contou que resolveu escrever o
texto depois de uma discussão com outros quatro oficiais de alta patente do
Exército. A mensagem circulou entre militares no WhatsApp.
— O grupo de decepcionados com a
atuação do presidente é significativo — diz.
Um dos generais que se manifestaram
de forma reservada afirma que a preferência pela terceira via também encontra
eco entre os oficiais que estão hoje no comando das tropas. Militares da ativa
são proibidos de emitir publicamente opiniões políticas. Há descontentamento
com o desgaste que Bolsonaro tem imposto às Forças Armadas.
A nomeação de Eduardo Pazuelllo,
general da ativa, para comandar o Ministério da Saúde, e a forma como ele foi
tratado pelo presidente durante a condução da pandemia da Covid-19 provocaram
grande incômodo.
Algumas declarações do mandatário
citando as Forças Armadas também desagradaram. No último dia 19, por exemplo,
para contrapor medidas adotadas por governadores, Bolsonaro disse que o “meu
Exército não vai cumprir lockdown”.
Os militares insatisfeitos com o
governo se identificam com a Lava-Jato e criticam a decisão do STF de declarar
o ex-juiz Sergio Moro suspeito no julgamento de Lula no caso do tríplex do
Guarujá. O apoio ao ex-ministro da Justiça, aliás, é visto como uma
possibilidade.
— O Moro é uma das opções, ainda mais
num país que precisa de honestidade — diz Santos Cruz, que já recebeu convites
de partidos e não descarta candidatura.
O nome do ex-titular da Secretaria de
Governo é citado pelo general Francisco Mamede de Brito Filho, que foi chefe de
gabinete do Inep:
— Ele (Santos Cruz) também poderia
ser um bom candidato.
PT em alerta
O cientista político João Roberto
Martins Filho, organizador do livro “Os militares e a crise brasileira”,
considera que o grupo contra Bolsonaro nas Forças Armadas ainda é minoritário.
— O Santos Cruz tem que ser
acompanhado, já que está se lançando na vida política. E pode ser uma
alternativa, se houver rompimento com o Bolsonaro.
A presença militar no debate político
também é um foco de atenção do PT, que deseja retomar a relação com as Forças
Armadas — Lula pretende fazer, em breve, um pronunciamento direcionado aos
integrantes das tropas. Um aliado do ex-presidente diz que o partido teria que
encontrar uma forma de lidar com o grupo volumoso que ocupa cargos de confiança
na hipótese de voltar ao poder. Os generais Brito e Santos Cruz dizem que a
resistência ao PT é motivada, principalmente, pelos escândalos de corrupção.
— O Lula teve relação (com os
militares) e quer voltar a conversar. Não vejo porque estigmatizarem o PT. A
valorização dos profissionais e da infraestrutura militar nunca andou tanto
quanto no tempo do Lula e da Dilma — diz o senador Jaques Wagner (PT-BA),
ex-ministro da Defesa.
EM TEMPO: O ex-presidente Ernesto Geisel já dizia que Bolsonaro era um mal militar. Os militares se esquecem de dizer que no governo Lula eram felizes e não sabiam. Foi no governo Lula que se iniciou a compra de caças, submarinos, etc. Hoje, Bolsonaro não tem prestígio sequer para comprar uma peça de reposição de um caça. Como é aconselhável aprender a votar. Isso vale, também, para os militares, principalmente os mais graduados e teoricamente mais capacitados. Porém, o general Pazuello, ex-ministro da Saúde é muito fraco, apesar da patente.
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